Drama

Six Feet Under: 2ª Temporada (2002)

six feet under 2

• A culpa é sempre dos pais

Eu acho incrível como Six Feet Under trabalha o tópico das emoções. Cada personagem parece personificar sentimentos e comportamentos específicos. Acho que dava pra todos eles se encaixarem no universo de Divertida Mente. Ruth seria a Tristeza. Nate, o Medo. Keith, a Raiva. Lisa, uma nova personagem introduzida nesta temporada, a Alegria. Claire, o Tédio. David, a Vergonha. Rico, a Inveja. E por aí vai. Acredito que esse seja o grande diferencial da série: as pessoas são representadas de forma falha, como todo ser humano de fato é, por mais que tentemos negar.

 

Sinopse

Tanta coisa acontece na 2ª temporada e a história muda tanto ao longo dela que fica até difícil estabelecer uma sinopse, então vou ser meio genérico. Nate Fisher começa a lidar de maneira mais séria com a sua doença, enquanto seu irmão David tenta se aceitar de uma vez por todas para poder construir uma vida romântica saudável. Claire lida com problemas na escola e nos relacionamentos, e Ruth continua com o objetivo de se encontrar após a morte do marido.

Saldão do caixão!

Crítica

Eu não me lembro de cabeça de uma série que possui diálogos tão bons quanto Six Feet Under. Eu já falei sobre isso na minha crítica da 1ª temporada, mas nunca será o bastante ressaltar essa qualidade. É muito, mas muito raro uma obra audiovisual conseguir transmitir falas tão fortes de maneira tão natural, como se realmente fossem pessoas conversando em tela. Isso aqui segue sendo feito com maestria.

Em geral, o nível da 2ª temporada é muito parecido com o da 1ª, mas eu tentei não ficar fazendo comparações excessivas. É aquele negócio: em time que tá ganhando não se mexe. Não que a série faça mais do mesmo e caia na repetição, muito pelo contrário, o que importa é que ela não desaprende a fazer o que estava sendo bem executado.

Como é uma temporada longa, não no sentido de ter uma quantidade exorbitante de episódios, mas por dar a impressão de que não estamos assistindo a uma série e sim acompanhando de perto a vida da família Fisher, a trama passa por altos e baixos. Six Feet Under corrige alguns erros, como dar mais espaço pra Claire e Ruth, mas alguns dos arcos da temporada são um pouco tediosos e esticados até não poder mais.

É verdade que esse esticamento do enredo serve a um propósito, que só se torna claro no último episódio da temporada. Durante os 12 primeiros capítulos, eu fui ficando agoniado com algumas ações de personagens. Dava vontade de entrar na televisão e gritar pra que a galera expressasse melhor as suas emoções em vez de ficar escondendo tudo dentro de si. Essa inabilidade social e afetiva é lançada em uma panela de pressão, cuja tensão é liberada de uma vez no desfecho da temporada, como se uma barragem fosse subitamente rompida.

Talvez os “casos da semana” sejam um pouco inferiores na 2ª temporada em comparação com a 1ª, mas alguns são realmente tocantes e têm muito a dizer. Os problemas dos Fisher com a Kroehner me despertaram um certo desinteresse em determinadas cenas, e algumas partes do núcleo da Brenda me deram muita preguiça. No lado positivo, porque eu sou um cara otimista, todos esses aparentes defeitos possuem uma espécie de função narrativa, até mesmo aqueles momentos que parecem absurdamente lentos ou triviais.

A rabina inalcançável

Veredito

Depois de uma 1ª temporada de muita personalidade, Six Feet Under mantém as suas qualidades no 2° ano da produção, enriquecendo e adicionando ainda mais profundidade à trama como um todo. Alguns episódios são pontuados por histórias mais chatas, mas há um senso de unidade que envolve todos os personagens, através da complexidade humana que o roteiro faz questão de mostrar e valorizar.

Deus?

 

>> 1ª Temporada de Six Feet Under

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Vou começar pela Ruth. Adorei a maneira sarcástica com que a série tratou a questão de ela frequentar aquelas palestras que poderiam facilmente fazer parte do cronograma do Pablo Marçal. No final das contas, ela conseguiu tirar algo de produtivo daquilo, mas descartou o programa assim que percebeu os problemas por trás daquilo. E ainda bem que ela terminou com o Nikolai, pois não deveria nem ter começado. A Ruth usá-lo somente como parceiro sexual eu até conseguiria comprar, mas ele claramente não era um bom parceiro amoroso.
  • Certo, a Claire. Dei graças a Deus quando ela se livrou do namorado criminoso, Gabe. Porém, quando ela começou a sair com o Billy, me deu vontade de berrar pra ela tomar vergonha na cara. Eu acho muito louco como algumas pessoas sabem que certas coisas não fazem bem, mas isso parece fazer parte do motivo pelo qual elas anseiam por elas. Mas o importante é que ela se formou e vai tentar ser artista, né.
  • Beleza, assunto polêmico: noivado de Brenda e Nate. Eu achei muito inteligente como a série brincou com a nossa própria hipocrisia. Se apenas a Brenda tivesse traído o Nate, seria muito fácil culpar só a mulher. Mas a traição de Nate foi tão ruim quanto ou até pior, porque envolveu sentimentos antigos e culminou no nascimento de uma filha. No papel, ambos estavam errados, mas o comportamento da Brenda é que foi o diferencial. Enquanto o Nate estava demonstrando ter remorso e revelou toda a verdade à futura esposa, ainda que tenha demorado meses pra fazer isso, a Brenda fingiu que o noivo era o único errado da situação e o Nate só descobriu que ela também o traiu por acaso, sem sequer ela ter a decência de contar. E pra piorar, a Brenda nem contou que aqueles dois garotos não foram os únicos na lista dela! Aí não tem como defender. O Nate pode ter errado pra caramba, mas as atitudes da Brenda foram ainda piores.
  • Agora, pra falar de forma mais individual da Brenda, é um tópico muito difícil de comentar. Sim, a infância dela foi extremamente problemática, os pais parecem adolescentes eternamente deslumbrados e o irmão teve a pachorra de culpar a Brenda, a única pessoa que realmente cuidou dele na vida, por não saber interagir direito com outras pessoas. Essa combinação de fatores é capaz de acabar com a mente de uma pessoa, mas a Brenda também precisava assumir responsabilidades. Ela sabia que estava fazendo coisas erradas no relacionamento, e até por isso ficava toda hora buscando a aprovação da Melissa, que ela tão prontamente dispensou como se fosse uma pessoa qualquer.
  • Sobre o David, adorei como ele deixou de ser aquele cara tão certinho e gostei das histórias com o Keith e a Taylor, mas alguém precisa dar um jeito nessa agressividade do policial. Eu apoio que os dois fiquem juntos, mas o Keith muitas vezes passa dos limites.
  • Tem várias outras coisas que eu gostaria de comentar aqui nessa seção, como a homofobia do Rico e a forma pouco profissional com que ele trata os patrões, como se fossem colegas de infância, mas o texto já tá ficando grande demais. Então vou terminar com a pergunta: e o Nate? Estou escrevendo este tópico antes de iniciar a 3ª temporada, então não faço ideia do que vai acontecer daqui pra frente, mas fiquei com uma impressão muito grande de que o Nate morreu e vai “substituir” o pai naquelas cenas em que os personagens ficam conversando com os mortos. Será que vou acertar?

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Nate Fisher
Na 1ª temporada, eu gostei bastante do Nate, mas o desenvolvimento que mais me chamou a atenção foi do David. Na 2ª, muito porque passou a ver a morte na perspectiva de um passageiro, e não só como mero observador, Nate fica com o prêmio desta vez.

Quem não adora uma história de amor?

+ Melhor episódio: S02E13 (“The Last Time”)
A princípio, eu estranhei um pouco esse episódio porque parecia mais apressado do que os anteriores, mas é aqui que a realidade bate à porta dos personagens e temos uma conclusão que me fez ter pena de quem acompanhou a série na época do lançamento e não pôde começar a temporada seguinte logo depois.

Caramba, galera, mó clima de velório…

+ Maior evolução: Claire Fisher
Eu poderia colocar nesta categoria a Ruth e até a Brenda, que, querendo ou não, tiveram mais espaço pra trabalhar nesta temporada e renderam histórias cheias de camadas. Porém, acredito que o maior salto de qualidade ficou com a Claire, que passou de “filha mais nova dos Fisher” a uma jovem aspirante a artista com dores e dramas próprios.

EXPRESSEM SEUS SENTIMENTOS DIREITO!!!

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).