• Abaixo à teocracia
No Teerã, um homem é promovido a delegado e sua família precisa tomar mais cuidado com quem se envolve no dia a dia. Quando ele perde a sua arma, a esposa e as filhas viram as principais suspeitas.
Filmes longos causam certa resistência no público geral. Eu não vou mentir e dizer que isso não influencia na minha decisão de assistir; eu entro sabendo que precisarei reservar um tempo extra do meu dia. Mas, se há história suficiente pra ser contada, como em Assassinos da Lua das Flores, sem problemas. Com 2h47 de duração, A Semente do Fruto Sagrado é um desses exemplos.
Essa produção alemã, que se passa no Irã, passa por muitas etapas. O filme começa como um choque geracional em que o catalisador é o uso do hijab. Depois, o tema passa a ser a relação turbulenta entre a mãe e as filhas da família principal. Somente perto da marca de uma hora, é que o enredo se volta pra um único assunto: o sumiço da arma de fogo do pai.
Pra quem tá acostumado com a narrativa de Hollywood, A Semente do Fruto Sagrado tem uma batida diferente. O diretor Mohammad Rasoulof quer que a gente conheça os personagens e crie nossas próprias opiniões. O pai da família fica nas sombras durante muito tempo, até que os holofotes se voltam pra ele quando o roteiro exige.
Eu tenho uma opinião definida sobre os questionamentos retratados, sobretudo a submissão de mulheres naquela cultura. Por isso, a experiência foi revoltante em vários momentos, e dava pra sentir a indignação das jovens da família crescer a ponto de virar embate com os mais velhos. A retórica e a discussão se tornam uma das bases de A Semente do Fruto Sagrado.
Há pouca coisa sobrando nas quase três horas. O filme acelera as coisas quando precisa, e pisa o pé no freio quando julga necessário. As interpretações são ótimas e a montagem é competente, com cenas pontuais de protestos reais.
A Semente do Fruto Sagrado é um filmão, e serve como um forte posicionamento contra ideologias que já deveriam ter ficado no passado. O terceiro ato é excelente, com um único porém: senti que faltou algo na conclusão. Não ficou incompleta, mas eu gostaria de ter visto mais.
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