• Guerra Total
Por incrível que pareça, The Walking Dead me surpreendeu.
A única temporada realmente espetacular da série foi a primeira, com menos episódios e uma trama agonizante. A segunda também é bastante boa, com toda aquela temática da fazenda. A terceira tem o primeiro grande vilão realmente vilão, porque Shane é ainda hoje considerado por muitos quase como um anti-herói particularmente controverso. A quarta possui um começo bem lento, um meio de temporada incrível e alguns momentos isoladamente bons, mas com uma nítida queda de qualidade. A quinta começa interessantíssima, mantém o nível, mas cai, melhorando somente mais para frente. A sexta e a sétima foram as piores, mesmo curiosamente contando com o antagonista mais marcante dos quadrinhos, o sádico Negan. Teria como a oitava recuperar o fôlego?
Bom, vocês acham que eu começo com as qualidades ou os defeitos? Ah, vamo primeiro falar do que a temporada se trata. Depois do despertar da rivalidade de Rick e Negan, as comunidades anteriormente controladas pelo vilão decidiram se rebelar contra o tirano para que pudessem todos ter uma vida mais pacífica. A relação entre os dois pilares desta disputa é uma das mais interessantes a serem tratadas aqui. Por vezes, eles acabam sendo contrapartes um do outro, fazendo o telespectador pensar: “será que o Negan é tão ruim assim ou nossas opiniões são muito influenciadas pelo fato do Rick ser o protagonista?“. Pra mim, ambas as respostas estariam corretas. Se The Walking Dead tivesse sido produzida com o ponto de vista de Negan, talvez o analisássemos de maneira diferente. Porém, não podemos nos esquecer que ele cruzou pontos que Rick jamais cruzaria, como o abuso psicológico de basicamente todas as pessoas à sua volta e a necessidade de matar outras pessoas para a conquista de um poder e um controle maiores. É uma discussão interessante que a série traz.
Vários personagens crescem neste oitavo ano de TWD, como o Rei Ezekiel, imperador do Reino. Carol, Carl e Michonne perdem um pouco de força e Daryl se torna insuportável, com ações tão estúpidas que fico pistola em lembrar que ele segue como o favorito da maioria dos fãs. A verdade é que a oitava temporada é MUITO focada no duelo moral e literal entre Rick e Negan – todos os outros arcos possuem menos peso, ainda que alguns sejam bem executados. Apesar de toda esta batalha, o personagem mais surpreendente é alguém que ninguém esperava: Eugene. Você pode amá-lo, você pode odiá-lo. O fato que fica é que ele já se tornou um rosto emblemático no universo zumbi, muito por causa de seu jeito desagradavelmente arcaico, com palavras e frases que eu nunca vi na minha vida. Se você pegar um dicionário Aurélio e abri-lo aleatoriamente, provavelmente vai dar de cara com um verbete que Eugene usaria.
O ritmo da temporada é bem diferente do Padrão The Walking Deadiano, o qual não canso de mencionar aqui. Se você não sabe o que é, dê uma olhadinha aqui pra eu não encher esta crítica de algo que eu já falei antes e evitar de ser excessivamente repetitivo: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/04/06/the-walking-dead-5a-temporada-201415/. Esta fórmula despontou mais ou menos na quinta temporada, mas vestígios dela estiveram presentes antes mesmo dessa época. Aqui, temos algo diferente. Como tem uma fucking guerra rolando no universo da série, os produtores acertaram em não desperdiçar muitas cenas com coisas que a gente não tá querendo saber, tais como utilizar personagens terciários para encher linguiça. Os núcleos são bem estabelecidos e a ação acontece constantemente, ainda que os caminhos até ela permaneçam um pouco clichês. Os diálogos também continuam um ponto fraco, pois raramente uma conversa ou um discurso são inteiramente originais, principalmente em cenas mornas. Eu tô cansado de saber que a galera precisa fazer o preciso pra sobreviver, porra. Não quero mais ouvir falar de que eles não podem perder a humanidade, mesmo em um mundo daqueles. Não aguento mais o Negan falando pro Rick que eles não são tão diferentes. Já deu de toda temporada alguém assumir o posto de puritano para tentar evitar mortes e isso acabar dando alguma merda. Ainda que TWD tenha evoluído no seu ritmo de contar a história, não quer dizer que as repetições tenham desaparecido.
Temos também um diferencial além da mudança de narrativa. Toda a temporada caminha como se estivesse rumando para o final da série, com diversas pessoas conseguindo enfim uma sensação de paz e dilemas sendo resolvidos. Com todo o panorama criado ao final da season finale, seria perfeito se os responsáveis decidissem finalizar tudo no nono período de existência, mas não me iludo em pensar que eles vão fazer isso. Houve queda de audiência sim, só que The Walking Dead não deixou de ser lucrativo; é a galinha dos ovos de ouro da AMC. É até irônico pensar que a mesma produtora que distribuiu uma obra que soube exatamente quando terminar – Breaking Bad – teima em dar uma conclusão para o seu carro-chefe. Há alguns anos, saiu a notícia de que vão estender até pelo menos a 12ª temporada, quando claramente não existe mais pique para isso. A história ficou enjoativa, embora tenha melhorado um pouco com esta temporada, algo claramente influenciado por todo o clima de guerra. Sinceramente, TWD já passou da hora de acabar. Insistir nela é apenas uma prova de que as produtoras de séries estão pouco se fodendo para os fãs, cancelando incontáveis criações boas e deixando de pé aquelas que fornecem mais lucro. Sim, eu sei que isso é óbvio e que o mercado financeiro somente responde ao que a demanda maior pede. Ainda assim, peço aos roteiristas do fundo do meu coração: deem logo um final digno para The Walking Dead, que me rendeu tantas memórias boas, sendo uma parte importante da minha vida e da de muitos outros, sem dúvidas. Caso contrário, seria triste constatar que eu continuaria assistindo quase que pela obrigação proveniente da simples agonia de deixar coisas inacabadas.
{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}
{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}
{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Primeira regra de The Walking Dead: nunca dê trela demais para uma criança. Elas possuem uma tendência gigante de fazer merda.
- OITO MALDITAS TEMPORADAS E AINDA TEM GENTE QUE ACHA QUE “PERDOAR” É O CAMINHO CERTO PARA O FIM DE UMA GUERRA COMO AQUELA. DESCULPA, VATICANO, MAS JESUS VACILOU NESSA. Por outro lado, foi muita cuzagem o Rick e o Morgan terem matado aqueles Salvadores no estábulo, eles claramente tinham passado para o lado deles. Pura sacanagem.
- A Inacreditável Crônica da Grávida Sem Nenhuma Barriga, estrelando Maggie Rhee. E já que estamos comentando sobre coisas que não aparecem, alguém sabe onde diabos foi parar o Heath?
- Vamos para a lista oficial de mortes importantes da temporada, começando por Carl. O que foi aquilo? O que será que o ator fez de tão ruim para sair da série daquela maneira? Fiquei triste com a morte do filho de Rick, sempre pensei que fosse ser o grande sucessor do pai (pelo jeito vai ser assim nas HQs). Conseguiram ao menos dar uma morte digna para ele, embora com um pouquinho de enrolação, e introduzir um personagem interessante, Siddiq. Em segundo lugar, temos Shiva, que se sacrificou pelo bem do orçamento da obra, até porque TWD já provou que não consegue trabalhar muito bem com animais, vide o cervo da temporada passada. Em terceiro, temos Morales, um cara do primeiro ano de apocalipse que apareceu só pra morrer e mostrar pro Rick o tanto que o mundo tá desgastado. Em quarto vem o Eric, o namorado do Aaron. Coitado dele. Por fim, Simon partiu com saldo positivo, nos tendo proporcionado um cara muito bem interpretado pelo ator que fez o Trevor Philipps de GTA V, Steven Ogg.
- Acho legal as referências que a série faz a momentos anteriores, como o Daryl sufocando o Rick naquela lutinha entre parças, usando um golpe que havia sido aplicado lá na primeira temporada. Além disso, houve o detalhe do Morales, as comparações com Sophia, filha de Carol, e Henry, o garoto que ela meio que adotou, e outras coisinhas mais. Aliás, curiosidade: os atores que fazem Sophia e Henry são irmãos na vida real. Top demais, bicho.
- 99% das merdas que acontecem em The Walking Dead são porque alguém não seguiu o plano do Rick. Ah, como eu peguei ódio do Daryl e da Tara, mesmo que o Eugene tenha sido o grande responsável por aquela vitória dos Salvadores que proporcionou a fuga deles.
- Se TWD fosse uma série +18, certeza que naquela cena com o Rick no container da Jadis ele estaria pelado. E por falar nisso, ela faturou o prêmio de Zombie Killing da temporada, homenageando o filme Zumbilândia, foi pra quando ela atraiu os mortos-vivos pra aquele triturador de sucata. Muito foda. Pra coroar, ela ainda mitou/lacrou (depende de seu posicionamento político) ao se fingir de morta no lixão.
- Morgan matando aquele cara ao arrancar as tripas dele foi muito perturbador, puta que pariu.
- A visão do Padre Gabriel no episódio em que ele começou a ficar cego parecia um cu
- Ficou meio sem sentido aquela história do sangue de zumbi poder contaminar as pessoas. Depois de tanto tempo, só agora aquilo foi entrar em pauta?
- Gostei daquele Alden, o membro dos Salvadores que se “converteu”. Tô curioso pra ver mais dele.
- Só não entendo o porquê de ninguém ter metido um tiro na cabeça do Negan quando ele tava discursando no começo da temporada. Toda a guerra poderia ter sido encerrada ali. Agora, com ele preso, o que vai acontecer? Pelo jeito, Maggie tá putaça. Vamo ver o que a próxima temporada nos reserva. Só sei que aquela mulher estranha que ofereceu ajuda pra Hilltop tá com muita cara de vilã futura.
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
+ Melhor personagem: Rick Grimes
Como eu disse lá em cima, o embate moral entre o protagonista e o antagonista foi um dos pontos mais positivos da temporada, e nosso querido Rick brilhou mais uma vez. Eugene Porter foi o segundo melhor, me agradou bastante.
+ Melhor episódio: S08E08 (“How It’s Gotta Be”)
Com acontecimentos inesperados, ele fecha muito bem a primeira metade da temporada. Fiquei até pasmo quando me dei conta de que naquele momento a série não tinha perdido o ritmo e a qualidade dentro de seus próprios capítulos. Comemorei com rojões.
+ Maior surpresa: Padre Gabriel
Muitos personagens poderiam ter faturado este prêmio. Dwight e Ezekiel também me agradaram bastante, mas o padre foi o que mais evoluiu.
+ Maior decepção: Daryl Dixon
Chato e chorão, os seus pontos positivos surgiam quando estava junto de Rick. Quando afastados, Daryl foi um dos mais irritantes ao lado de Tara. Maggie e Carol caíram um pouco de nível, mas não chegaram a ser decepções. Daryl e Tara sim, mas como o arqueiro é um dos principais, o peso é bem maior.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?