Drama, Séries

House of Cards: 1ª Temporada (2013)

• Planejamento a longo prazo

Eu finalmente tomei vergonha na minha cara. Pode-se dizer que de vez em quando eu vou na contramão de todo o resto do mundo. No momento que tá geral super empolgado com alguma coisa, eu não tô por dentro do assunto. Assim que todos param de se importar com o bagulho em questão, eu resolvo aterrissar com as minhas impressões. Todos os seres do universo assistiram a Mulher-Maravilha assim que saiu? Foda-se, vou assistir um ano depois! Cinéfilos consideram Scarface uma grande obra? Ainda nem vi, haha!
Pois é, com House of Cards era a mesma coisa. Carro-chefe da Netflix durante muitos anos, sua primeira e queridinha série original, a obra gerou comentários ao redor do globo e pra tudo quanto é canto você via alguém debatendo sobre as ações do tal Frank Underwood. Na crista dessa onda, eu tava deitado na praia. Agora, depois da última temporada ter sido concluída e a série encerrada, resolvi tirar meu tempo pra assistir. Antes tarde do que nunca, é o que dizem, né?
Antes de começar o pitaco, no entanto, quero deixar uma coisa bem clara aqui. O Kevin Spacey, ator que interpreta o papel principal, sofreu denúncias de abuso sexual de diversas pessoas. Não vou entrar nesse mérito porque não cabe a mim. Eu sou um simples pitaqueiro e tô aqui pra falar sobre séries e filmes do jeito mais idiota possível. Minha opinião sobre os atores como pessoas não vão ser expostas aqui, somente a dos atores como atores. Sei que muita gente acredita que não se pode separar o ser humano de sua arte, mas é exatamente isso que vou fazer, pois não quero arranjar polêmica desnecessária. Se tem uma coisa que aprendi recentemente, é que tô com cada vez mais preguiça de discutir na internet. Então vamo que vamo.

 

Sinopse

Frank Underwood é um político. Nós, como brasileiros, já temos uma pequena noção de que é um emprego no qual a honestidade é como a criatividade dos filmes do Adam Sandler: praticamente nula. Porém, não vou ficar aqui dando críticas sociais fodas. Frank é um congressista estadunidense que está prestes a ser promovido a um secretário fodão lá (eu não decorei os nomes dos cargos e tô pouco me fodendo pra isso, sinceramente), depois de ter apoiado o homem que se tornaria o presidente. Contudo, o soberano Garrett Walker não cumpre com sua palavra e opta por colocar outra pessoa no lugar que Frank tanto almejava. Um indivíduo normal ficaria frustrado pra caralho, verdade, mas nosso protagonista vai além disso. Ao lado de sua fria esposa Claire – a qual forma uma espécie de dupla dinâmica com seu marido – e seu assistente Doug Stamper, Frank não pretende deixar barato, dando início ao seu plano de sabotar o recém-nascido governo.

O cadáver e os abutres

Crítica

Sabe aquele tipo de filme ou série que logo nos primeiros minutos já deixa mais do que nítido que tem um roteiro bom? House of Cards é bem assim. O primeiro episódio tá entre os melhores pilotos que eu vi na minha vida. A primeira cena já joga na nossa cara que aquela ali não é uma obra qualquer, ela tem personalidade. Por meio da quebra da quarta parede, Frank conversa com o telespectador e faz comentários sobre a trama, explicando alguns aspectos e abordando fragmentos de seus próprios pensamentos. É uma estratégia surpreendente e que funciona deliciosamente bem. Outra coisa que impressiona logo no começo é a profundidade dos personagens. Além dos já citados, o deputado Peter Russo e a jornalista Zoe Barnes são ótimos, cada um com seu próprio e igualmente interessante arco.
Aliás, tá aí uma das grandes qualidades da primeira temporada: são diversos núcleos diferentes e nenhum deles é mais chato do que o outro, todos nos instigam a descobrir a conclusão. As atuações dão um peso ainda maior à história – todas com um show de interpretação. Em incontáveis momentos eu sorri de deleite só com uma olhadinha do Kevin Spacey pra câmera, porque sério, cada pequeno ato na série é calculado. Depois de assistir tanta coisa com enredo mais ou menos e atuações nada memoráveis, House of Cards surge como uma espécie de alívio. A obra não é frenética o tempo todo e alguns episódios possuem um desenrolar um pouco mais fraco que os outros, mas no geral é algo de muita qualidade.

Afinal, o Peter é Russo ou Estadunidense?

Veredito

Se por acaso você é um dos poucos alienados que nunca chegaram a começar House of Cards, isso aqui é pra você. Se uma trama política, personagens fortes e um roteiro muito bem escrito te agradam, não precisa ter dúvida: ligue logo a Netflix e comece o primeiro capítulo de uma vez. Agora, se por acaso tem um pouco de preguiça de maquinações envolvendo governos e presidências, essa série muito provavelmente não faz seu tipo. Ainda assim, assista pelo menos ao piloto. Se ele não te conquistar, não precisa nem continuar.

Só esse momento já conta com uma fotografia melhor que muita série por aí

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Olha, uma coisa é certa: se a primeira cena de algo é a de um personagem fazendo um monólogo enquanto mata um cachorro, saiba que pelo menos tem estilo ali. Isso não se pode negar.
  • Peter Russo, não sei o que dizer de você. Era um viciado fodido, teve a chance de dar a volta por cima, mas o destino não tava sorrindo ao seu favor. Eu não consigo nem descrever o que senti quando vi o Frank deixando ele no carro pra morrer. Velho, fazia tempo que eu não ficava tão chocado com uma série. Queria ser o Quatro-Braços do Ben 10 só pra poder aplaudir com mais afinco.
  • Pergunto-me se a Christina Gallagher vai continuar tendo relevância na segunda temporada. Uma coisa era ela com o Peter, mas será que conseguiria sustentar um arco sozinha?
  • Não sei o que pensar da Claire. No começo, eu gostava dela por causa de seu jeito calculista e dissimulado. Todavia, não curti muito as partes com o fotógrafo lá, o Adam Galloway. Mas uma coisa eu sei: quero ver mais sobre ela no futuro, é uma personagem forte. A situação com Gillian Cole foi um perfeito exemplo de “mexeu com a pessoa errada”.
  • Doug com uma estranha compaixão ao ajudar a Rachel foi algo legal de se ver. E ele é um bom coadjuvante.
  • Puta merda, confesso que tinha hora que eu não entendia porra nenhuma dos diálogos entre o Frank e o Remy Danton. Fui mais pelo contexto mesmo.
  • Nada como massagear o ego de um cara na política. Todo o plano de “entregar” a Filadélfia ao ex-vice-presidente Jim Mathews e assumir o cargo foi brilhante, sério mesmo.
  • Outra pessoa que eu não decidi ainda se gosto ou não é a Zoe. Eu aprecio a força de vontade dela, mas algo me incomoda e não sei dizer o quê exatamente. Ah, e deixo registrado aqui meu desprezo pela cultura jornalística de ir em busca de um furo a qualquer custo. Parece que nos EUA isso é mais evidente ainda.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Frank Underwood
Um ícone da televisão que teve uma introdução mais do que espetacular, toda sustentada por uma atuação de fazer cebolas chorarem de alegria.

Frankamente, que personagem foda

+ Melhor episódio: S01E01 (“Chapter 1”)
Como eu disse lá em cima, um dos melhores pilotos que eu já vi na minha vida.

Zoe 101

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).