• Os filhos de Ragnar
Algumas histórias conseguem se sustentar sozinhas sem seus personagens principais. Outras, não. Ainda existem aquelas que sequer possuem uma figura de protagonismo. Com a morte de Ragnar Lothbrok, a razão pela qual Vikings foi criada inicialmente, a série tinha pela frente um desafio imenso. É claro que a trama não girava apenas em torno do nórdico, até porque Lagertha, Floki e Bjorn eram outros nomes de peso na produção. Para não deixar o enredo desinteressante, as apostas ficaram claramente depositadas em Ivar, o Desossado, o filho mais inteligentemente perverso de Ragnar. A estratégia começou dando certo, com as atenções divididas em novos arcos, mas não por muito tempo. A quinta temporada de Vikings tem uma primeira metade boa e digna, mas uma segunda metade que ficou aquém do esperado.
Sinopse
A treta começou ainda na temporada passada, quando Ivar demonstrou que era um tanto quanto doidinho. O principal norte no qual a história foca é a divisão, uma espécie de guerra civil entre os filhos de Ragnar. Alguns deles começam a questionar a liderança imposta de Ivar, o que deixa o ambiente cada vez mais tenso. O conflito circunda basicamente as vidas de Ubbe, Ivar e Hvitserk, enquanto Bjorn se mantém concentrado ao lado de Halfdan em suas explorações, desta vez em regiões desérticas do globo. Floki, por sua vez, descobre uma nova terra e está determinado em povoá-la por acreditar que é um paraíso dos deuses; seu jeito violento foi dissipado e a experiência fez com que seu lado místico ganhasse força. Acho que não tem muito mais o que dizer na sinopse, porque qualquer informaçãozinha a mais poderia ser considerada spoiler. Vou finalizar por aqui, somente reforçando que essa temporada é a consolidação da história dos filhos de Ragnar, para o bem e para o mal.
Crítica
Legado é uma boa palavra pra definir a nova era de Vikings. O criador da série, Michael Hirst, afirmou que sua intenção sempre fora contar a saga de Ragnar e de seus filhos. Com isso, a sexta será a temporada de encerramento. Admiro os princípios dele em estabelecer uma meta e seguir firme nela, só não precisava ter aumentado o número de episódios pra 20. Sei que isso deve ter sido decisão do History Channel devido ao aumento de audiência e recursos da série, mas afetou drasticamente a qualidade.
As três primeiras temporadas se sustentam claramente na interpretação de Travis Fimmel na pele do viking mais lendário da história. A quarta é o desfecho do personagem e uma introdução dos novos caminhos que a série tomaria. A quinta tenta se apoiar nos filhos de Ragnar, mas eles não são tão interessantes quanto o pai. A primeira metade da temporada é boa e atraente. Como houve uma passagem de tempo longa, os personagens estão mais velhos e mais cascudos, com exceção de Lagertha e Judith, que parecem continuar na flor da idade. A gente percebe rapidamente que aqueles rostos que se tornaram tão familiares não são mais o centro das coisas, mas ainda assim seguem como pilares. A convergência de acontecimentos no décimo episódio foi bem trabalhada e me fez esquecer por um momento do saudoso Lothbrok. Não dava pra ficar lamentando a saída dele, era hora de dar uma chance pras novidades.
Fisgado, fui assistir à segunda metade da temporada animado, mas ela é bem mediana. Ivar passa de um personagem genial e lunático pra um fantoche com uma crueldade forçada e lampejos de esperteza. Floki não piora em si, mas seu núcleo é tão saboroso quanto uva passa no arroz. Sério, aquela história parece que não andava pra lugar algum, e várias vezes eu me perguntei qual era o sentido de estarem dando tanto tempo de tela pra aquilo. Sinto dizer, mas a Lagertha é outra que já perdeu o sentido faz tempo, ela não acrescenta mais nada no universo criado, dá a impressão de que tá lá somente porque os fãs gostam. A parte de Wessex, protagonizada por Alfred, o filho de Athelstan, tem momentos meio chatinhos e outros que chamam a atenção. No apanhado geral da temporada, os maiores pontos positivos foram Bjorn na primeira metade e Ubbe, o qual evolui absurdamente, na segunda.
Veredito
A quinta temporada segue o exemplo de sua antecessora, apresentando um desnível óbvio entre suas metades. Porém, agora a saída de Ragnar é sentida com mais força e o contraste dentro da história fica maior. A qualidade de Vikings cai e os personagens tendem a não funcionar como antes, muito por causa da quantidade exagerada de episódios, esticando a exibição – o primeiro episódio foi lançado no fim de 2017 e o último foi ao ar apenas no começo de 2019. O número de batalhas parece que é reduzido e a trama fica mais lenta, o que tira grande parte da identidade da série. O desfecho não me deixou nem um pouco ansioso pela temporada final, mas ainda vou assistir por respeito ao passado e pela curiosidade de saber como acaba. Sobre a nota, usei a mesma lógica de avaliação da quarta temporada, na qual eu peguei a média entre a primeira e a segunda metades e dividi. Como 3,5 Lelecos na minha escala do Pitacos equivale a uma nota de “mediana pra boa”, acho que é a maneira perfeita de definir essa etapa de Vikings.
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~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Eu simplesmente amo o fato de que cada filho herdou uma característica do pai. Bjorn pegou o lado guerreiro e aventureiro de Ragnar. Ivar ficou com a faceta inteligente e estrategista. Ubbe, com a sabedoria e a genuína curiosidade. Hvitserk, com os conflitos internos e um interesse por novas culturas, como mostrado com o Buda. O Sigurd, bem, deu nem tempo dele mostrar serviço direito, então a gente ignora.
- Heahmund na primeira metade: personagem com potencial, um padre no meio de nórdicos, impulsionado pelas suas habilidades bélicas. Heahmund na segunda metade: Deus salve Lagertha. Única coisa diferente que ele fez foi ter matado o outro bispo lá e depois ter morrido na guerra.
- Sobre a Astrid e o Halfdan morrendo: com ela não me importei tanto, mas poxa, eu gostava do Halfdan. E não consigo entender como que o Harald ainda continua vivo. É aquele famoso personagem fodido da vida que acaba sobrevivendo por acaso do destino.
- Gostaria que tivessem focado mais nos vikings desbravando o mundo, principalmente o Bjorn. A partir do momento em que a trama ficou presa somente em lugares fixos, ela começou a ficar chatinha. Pô, aquelas partes lá no deserto foram muito legais, saudades.
- Os vikings não têm muita regra quando o assunto é mulheres, né. O Ubbe acabou ficando com a Torvi, ex-esposa e mãe dos filhos de Bjorn. O próprio Bjorn é o maior cafajeste da Europa, mas agora deve dar uma quietada com a Gunnhild, pelo menos por um tempinho. Ivar “””engravida””” a Freydis, apenas pra matar ela depois (e que morte mais idiota, hein?). Margrethe, ex-esposa de Ubbe e de quem Hvitserk também gostava, morreu a mando de Ivar. Depois, Hvitserk ainda se apaixonou por uma mina aleatória que morreu cedo e eu nem lembrava o nome (pesquisei, é Thora). É muita coisa pra minha cabeça processar, confundo tudo.
- Lagertha de cabelo branco foi uma tentativa de mostrar que ela envelheceu? Porque se esse foi o caso, que coisa terrível. Todo mundo caindo aos pedaços, Floki parecendo um ancião (vou falar dele no tópico abaixo) e Lagertha e Judith firmes e fortes. Quando o feminismo for legalizado, cenas como essa serão comuns.
- Que trama mais bosta a do Floki na Islândia. Velho, eu já não tava mais me importando com aquele povo, só decorei o nome do Eyvind e de Helgi. Foi tenso quando geral morreu e quando Floki mandou o carinha lá tomar no cu e depois encontrou uma cruz debaixo da caverna. Aliás, ele morreu com a lava do vulcão ou nem? Porque eu não poderia me importar menos.
- Ragnar ficaria orgulhoso do Ubbe se batizando e fazendo sacrifícios pessoais pra beneficiar os compatriotas. E gostei pra caramba da relação entre o Ubbe e o Alfred, apesar de eu não ter curtido taaaanto o novo Rei de Wessex. O elemento que não me agradou foi porque ele desde o começo parece que tava predestinado ou algo do tipo, não pareceu natural. Só comecei a gostar dele quando cortou o cabelo.
- Ah, e pobre Aethelwulf, tantas formas de morrer e foi partir logo por causa de um zangão.
- R.I.P. Vidente, e vai se foder, Ivar.
- O único bom momento da Judith na temporada nem foi quando ela matou o próprio filho, Aethelred, foi em seus poucos momentos com a Lagertha. Fora isso, não me convenceu em nenhum momento. Ainda bem que se livraram dela. Ah, e é incrível perceber como eles morriam rapidamente quando acometidos por algo. Caroço no peito, morte instantânea. Faz a gente pensar no quanto a evolução da medicina é essencial pro ser humano.
- Magnus, o personagem mais inútil da história de Vikings. Apareceu e morreu sem fazer nada de relevante.
- Beleza, o Desossado matou o próprio filho que na verdade não era filho, mas o que será que tinha de “errado” com o bebê? Eu aposto em lábio leporino, mas não sei.
- O novo rei de Kattegat agora é Bjorn, que tá começando a se assemelhar MUITO com o Ragnar. Nesse quesito, pra mim atualmente tá no mesmo nível do Ubbe. Se ele fosse um pouco mais aberto a novas culturas e tivesse um pouquinho mais de cérebro em vez de somente músculos, seria o filho mais digno disparadamente. Isso me lembrou, que porra foi aquela do Rollo dizendo que Bjorn era filho dele? Não serviu pra porra nenhuma e não fez sentido algum.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Ubbe (menção honrosa a Bjorn)
É incrível como sempre parece que Bjorn vai ser o melhor personagem, mas ele nunca vinga porque acaba perdendo o fôlego. Isso acontece novamente e Ubbe rouba a cena de vez, principalmente porque ele carrega quase sozinho os últimos dez episódios.
+ Melhor episódio: S05E08 (“The Joke”)
A primeira metade da temporada foi consistente quase que por inteiro, com destaque para os momentos de ação representados aqui.
+ Maior surpresa: Bispo Heahmund
Ainda que ele tenha dado as caras brevemente no final da quarta temporada, considero-o como Maior Surpresa porque apareceu muito rapidamente naquela ocasião. Decepcionei-me com algumas partes específicas de sua jornada, mas Heahmund foi uma boa adição à série.
+ Maior decepção: Ivar, o
DesmioladoDesossado
Chato pra caramba. Foi incrível na temporada passada, mas não passou de um moleque mimado nesta.
+ Mais subestimada: Torvi (menção honrosa ao Halfdan)
Sempre leal, sempre presente, pouco valorizada. Às vezes nem a gente dá muita bola, mas ela tá sempre lá segurando a barra. Com Halfdan, o raciocínio é o mesmo.
+ Pior personagem: Judith
Pra mim ela morreu lá na terceira temporada, depois disso só ficou com pose de superior. Tédio.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?