• Autodestruição constante
A única maneira de manter uma curva ascendente é interrompê-la antes que caia. Questão de gravidade. Depois de The 100 começar com uma primeira temporada OK e um pouco vergonha alheia, a história foi evoluindo, evoluindo, até que na quarta nem parecia a mesma série do início. Porém, em algum momento a trama perderia um pouco do pique, e o quinto ano tá aqui pra provar. Com um enredo menos criativo e com elementos “mais do mesmo”, a nova leva de capítulos fica um pouco abaixo de suas antecessoras, mas isto não quer dizer que não valha a pena.
Sinopse
Oh não, a Terra esteve no centro de um apocalipse mais uma vez! Clarke Griffin se sacrificou para salvar seus amigos, que se dividiram em duas frentes: a maior parte da galera se instalou em um bunker subterrâneo – nomes como Octavia, Abby, Kane e Jaha – e outra decidiu tomar residência em uma nave no espaço sideral – Bellamy, Raven, Murphy, Echo, Monty, Emori e Harper. Seis anos depois do evento conhecido como Praimfaya, uma galera desembarca no planeta com intenções não muito nobres, e são recebidas por Clarke – sim, ela tá viva! – e uma garota misteriosa chamada Madi. O local não é mais seguro e uma nova guerra está para acontecer.
Crítica
Seguinte, eu não vou me demorar muito nos personagens, porque todas as premiações que ficam na parte inferior da postagem foram preenchidas, então eu estaria sendo redundante aqui. Vamos focar mais na história como um todo. O primeiro episódio começa com uma proposta intrigante, mostrando uma Clarke solitária no mundo até que se depara com uma criança sobrevivente. As duas começam a desenvolver uma relação cativante, mas quando chega ao auge a série opta por avançar no tempo. Ok, pensei, eles devem focar em coisas mais importantes envolvendo os outros personagens.
Logo depois, um episódio inteiro centrado no período que o pessoal do bunker passou durante o isolamento. Aos poucos, a gente vê uma Octavia cada vez mais pressionada até ficar à beira da loucura, mas quando sua personalidade começa a realmente ganhar forma, a série opta por avançar no tempo. E são duas coisas que convergem em um problema recorrente em The 100. Alguns personagens conseguem evoluir de tal maneira que a gente sente que tudo o que aconteceu foi orgânico. Entretanto, a mesma produção pega alguns nomes e os molda para que encaixem em uma determinada intenção do roteiro, ignorando as suas próprias construções. O maior exemplo disso foi Jaha, o qual teve seu ciclo encerrado na primeira temporada, mas retornou sem motivo algum e acabou se tornando uma pessoa totalmente diferente. Poderia facilmente ter sido outro personagem.
Outro ponto negativo na quinta temporada é a originalidade dos núcleos. Com a Terra destruída e o Vale Raso como o único lugar habitável do planeta, eu esperava que as guerras fossem deixadas um pouco de lado e o enredo voltasse as atenções para a sobrevivência em si. Desde que os 100 jovens – não exatamente cem, mas ok – desembarcaram no solo, a série sempre teve como cerne as batalhas com outros humanos. Não seria mais legal lidarem com os perigos climáticos ou animais radioativamente modificados? Em vez disso, eles mais uma vez investem em disputas por território.
Mesmo com todos os defeitos, a quinta temporada de The 100 entrega muitas das qualidades que a gente já conhece. Os dilemas humanos, os desdobramentos, os dramas dos personagens que amamos. A conclusão é uma das coisas mais belas que eu já vi na televisão, e poderia facilmente ter sido uma series finale. A temporada não é empolgante, mas o seu fechamento me deixou ansioso pelas próximas incursões.
Veredito
A construção de personagens é a maior bênção e a maior maldição de The 100 há muito tempo, e na quinta temporada isto é mais do que evidente. Os roteiristas acertam em cheio em alguns – Bellamy e Monty são alguns dos destaques -, mas escorregam em outros, como Octavia e Miller. A história é convidativa e capta a atenção, eu pelo menos estava ansioso pra saber como tudo terminaria. Por outro lado, não é nada original se levarmos em conta o universo da série, um ponto a ser melhorado nos dois últimos anos. A cada aspecto negativo, um positivo se contrapõe. Contudo, os acontecimentos finais são tão acima da média que elevaram a avaliação da temporada a um nível além do que ela foi por inteiro. Nota final: 3,5/5.
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Será que depois de aproximadamente 3948304 tragédias pessoais, a Raven vai ter um momento de paz com alguém, mais especificamente o Shaw? Achei muito fofo o casal, e ele é um personagem muito bom. E quem shippa ela com o Murphy tem algum tipo de distúrbio. O Murphy combina com a Emori e ponto final. E já que mencionei os dois, eles não brilharam tanto na temporada, mas a parte dele tacando pedra no pessoal e causando uma batalha foi excelente.
- Abby e Kane inúteis. Sinceramente, se eles morressem do nada não fariam falta nenhuma. A única função da mãe da Clarke é ser médica, não tem um pingo de carisma. E o Kane de vez em quando tem seus momentos, mas quando inicia seu passeio pela bondade irreparável me dá um pouco de preguiça.
- Clarke nesta temporada começou foda, foi ficando chata, se tornou insuportável e terminou com potencial de melhora. Aquele argumento de “estou fazendo isto para te proteger” é a coisa mais egoísta do mundo. Eu entendo que queira poupar a Madi (Netflix, por que colocaste “Maddie”?) dos perigos, mas ela simplesmente ignorou todo o sofrimento dos outros e pensou só nas duas. E jurei que ela tacando os ovos no deserto daria alguma treta, mas tacaram o foda-se pra isso.
- As comandantes nada mais são do que androides, se formos parar pra pensar. Toda a “sabedoria” que elas têm é fruto, em sua origem, de um chip tecnológico de antes do apocalipse. E eu particularmente não gosto dessa ideia de que só porque uma pessoa tem sangue da noite ela precisa liderar. E se ela for insana?
- Vamo lá, a Octavia foi muito mal construída. Aquele tipo de transformação de personalidade precisa ser trabalhada por looongos episódios até ficar crível. Em vez disso, a série só falou lá que se passaram vários anos, que houve o Ano Sombrio e que precisaram fazer muita coisa pra sobreviver. Isso não é o bastante pra quem acompanhou a personagem até a quarta temporada. Quando expuseram a história lá do bunker sobre os canibais, fez mais sentido a mudança que aconteceu, mas ainda assim faltou cuidado. E se formos pensar bem, a Abby que foi a verdadeira vilã, criou uma tirana, pulou fora e quase fez o Kane morrer por ela.
- Diyoza foi uma boa adição, com várias camadas a ser exploradas. O McCreary, nem tanto. Puta vilão genérico, mas acabou funcionando. E eu tive muito a impressão de que a Clarke não o matou, espero estar errado.
- Não sei o que pensar daquele Vinson, o cara que gostava de matar pessoas e usava coleira. Acho que o ciclo dele foi encerrado antes que ficasse enjoativo e forçado.
- Morte do Jaha foi a coisa mais ridícula da série. Fizeram aquilo tudo dele causar todo o rolê antes de entrarem no bunker pra morrer no primeiro episódio em que aparece na nova temporada? Ainda reforça a minha ideia de que ele deveria ter morrido lá atrás, na Arca. Toda a sua trajetória posterior poderia ter sido a de outro personagem. E o mais engraçado disso tudo foi aquele Ethan, que os roteiristas esqueceram completamente. Colocaram ele pra levar um tiro lá no final, mas sem impacto algum.
- Monty se sacrificando foi muito Interestelar. Eu realmente não esperava que fossem ter coragem de fazer aquilo. Foi de longe a melhor morte de toda a série. Ele envelhecendo com a Harper dentro da nave, enquanto arranjava algum jeito de todo mundo sobreviver. O casal tendo um filho, o qual tô louco pra conhecer na sequência. E no final das contas, um fazendeiro salvou a humanidade. Poderia ter feito isso ainda lá na Terra, mas tentou de novo no espaço e deu certo. Vocês vão ser lembrados pra sempre, Monty e Harper. May we meet again.
- Não vejo a hora de conhecer o novo planeta. E a última cena com Clarke e Bellamy abraçados foi sensacional. Eu não sei se ainda quero vê-los juntos, não sei se a química daria certo. Acho que nesta altura do campeonato, o único jeito que daria certo eles romanticamente relacionados seria se isso acontecesse no último capítulo da série. Caso contrário, seria muito arriscado. E, sinceramente, eu gosto do Bellamy com a Echo.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Bellamy Blake
O mais sólido da temporada, de longe, muito longe. Sua barba lhe deu sabedoria e maturidade e suas decisões foram as mais sensatas entre os sobreviventes. Um ótimo e subestimado líder.
+ Melhor episódio: S05E13 (“Damocles – Part Two”)
Cara, eu não esperava que fossem fazer isto. Queimei bastante minha língua porque o que parecia ser o principal acabou sendo secundário, dando espaço pra ocorrências mais do que marcantes. Terminei o capítulo com lágrimas nos olhos, não me envergonho em admitir.
+ Maior evolução: Echo (menção honrosa a Indra)
Ela foi comendo pelas beiradas. Começou como uma personagem secundária e foi se tornando gradativamente mais importante sem a gente sequer perceber. Sua junção com o Bellamy deixou alguns fãs do famoso “Bellarke” furiosos, mas pra mim foi uma boa decisão do roteiro. Além disso, ela mostrou ser bastante corajosa e leal. Sobre a Indra, embora seja um pouco duro, teria sido melhor se ela tivesse morrido quando Pike assassinou geral na terceira temporada por razões dramáticas, mas a sua presença é justificada aqui e a personagem ganha força por demonstrar honra e enfrentar uma tirana.
+ Maior surpresa: Miles Shaw
Embora sua premissa seja bem clichê, o ator Jordan Bolger entrega uma interpretação carismática e sacramenta sua adição como algo positivo na temporada. Sua química com os outros personagens, principalmente Raven, é de se destacar.
+ Maior decepção: Octavia Blake
Se não fosse pelos últimos episódios, ela teria sido a pior personagem sem sombra de dúvidas. A série conseguiu explicar o porquê dela ter ficado tão diferente e corrigiu alguns erros de construção, mas ainda assim achei pouco para o tamanho da importância de uma das protagonistas, principalmente porque era uma das minhas favoritas.
+ Mais subestimado: Monty Green
Fiquei quase o tempo inteiro com a certeza de que Raven Reyes merecia este prêmio, mas Monty foi espetacular em sua própria discrição. Ele e Harper compõem um dos melhores casais de The 100.
+ Pior personagem: Nathan Miller
Ele sofre do mesmo mal de Octavia, mas ao contrário dela, seus dilemas não são nem um pouco explorados. Isso me decepcionou ainda mais porque ele havia ganhado mais espaço na temporada anterior e subitamente foi deixado de lado. Eu gostei pra caralho do que ele havia se tornado, então minha crítica fica para o modo com que o roteiro trabalhou este personagem.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?