Ficção científica, Star Wars

LelecoJedi #07, #08, #09 – Trilogia Atual (2015/17/19)

• Da nostalgia à decepção

Falo com tranquilidade que a criatividade de Hollywood está murchando. Nas últimas edições do Oscar, poucos filmes me impressionaram. Em várias obras recentes, dá pra perceber que as histórias não estão tão inspiradas, a inovação tenta vir no estilo de narrativa ou em uma nova abordagem técnica. A situação ficou ainda “pior” quando a grande indústria cinematográfica descobriu que a nostalgia gera lucro. E, se algo gera lucro tão facilmente, acaba não sendo preciso se esforçar em quesitos que normalmente seriam indispensáveis, como o enredo em si. No caso de Star Wars, a terceira trilogia apostou primeiramente na sensibilidade do coração dos fãs. Mas, no final das contas, isso não é o suficiente.

 

Episódio VII – O Despertar da Força – Matando a saudade

O fã de Guerra nas Estrelas que não se arrepiou logo no trailer não é fã de verdade ou tem uma pedra entre os pulmões. Quase duas décadas antes, foi possível apreciar um pouco mais do universo de George Lucas, mas agora o negócio era diferente. O elenco tinha rostos novos, claro, mas as presenças da Princesa Leia, de Han Solo e de Chewbacca estavam garantidas. E não eram outros atores interpretando os mesmos personagens, mas sim os próprios resgatando suas antigas identidades. Não tinha como ser melhor: o resgate do passado aliado a um presente e futuro promissores.
O Despertar da Força cumpre bem o seu papel. Cá entre nós, ele não precisava ter uma trama espetacular, só de trazer de volta Carrie Fisher e Harrison Ford, dois dos maiores ícones nerds da história, já era o suficiente. E de fato, o filme não tem uma história muito original. Rey é uma catadora de lixo com linhagem desconhecida. Morando num planeta quente chamado Jakku, ela se depara com um droide chamado BB-8 e um misterioso stormtrooper com o nome de FN-2187, que se apresenta como Finn e afirma ser da Resistência. Anos depois da destruição do Império, desta vez a República sofre com a ameaça da Primeira Ordem.
Dá pra ver por aí que Despertar é basicamente Uma Nova Esperança com um novo visual. Um(a) protagonista que não sabe muito sobre seus pais, nasceu em um lugar desértico e que possui uma inclinação pra Força; uma organização do mal querendo dominar a galáxia; um vilão que é quase um repaginado Darth Vader; tem até uma Estrela da Morte no bolo. As diferenças estão nas personalidades das novas adições. Rey é mais focada do que Luke. Finn ocupa o posto de companheiro e alívio cômico. O ritmo da obra está com a marca registrada da Disney, até os momentos de humor escancaram o gosto da empresa. É um filme que vale pela nostalgia, os efeitos visuais e o entretenimento, mas que poderia ter sido um pouco menos redundante. Melhor personagem: FN-2187. John Boyega faz um bom trabalho e entrega um personagem com camadas e que não é somente engraçado, mas também possui seus dramas. Rey também faz muito bem a sua parte.

Marta, Pelé e uma futurista bola de futebol

Episódio VIII – O Último Jedi – Desconstrução do heroísmo

Foi perfeitamente compreensível a tática de aplicar uma introdução mais pé no chão, mas a trilogia precisava andar pra frente, né. Tudo foi muito bonitinho no Episódio VII, mas o VIII tinha que ter algo a mais. Não dava pra se sustentar na mesma base, e O Último Jedi resolveu arriscar. Ao trazer Luke Skywalker de volta, muita gente esperava ver aquele herói bondoso e honrado da trilogia clássica, mas o diretor Rian Johnson tacou o foda-se. Vocês provavelmente notaram muitas vezes que hoje os mocinhos da ficção são bem diferentes de outrora, se distanciando de um ideal pra se aproximar do mundo real. Na missão de conseguir isso, o longa se adapta.
Depois de frear um pouco os planos da Primeira Ordem, a Resistência e seus aliados estão enfraquecidos. Apesar do ataque sofrido, os nazistas vilões continuam crescendo e emboscam a galera do bem, que passa a arcar com a necessidade de fugir para se reagrupar. Enquanto isso, Rey tenta convocar Luke pra ajudar na guerra, mas o experiente jedi não consegue parar de lutar com os fantasmas de seu passado.
O núcleo de Rey e Luke é bom, muito bom. É interessante de ver o balanço entre uma aluna ávida pelo conhecimento e um professor farto de ensinamentos. Os arcos dentro da nave da Resistência também são bons, mas Finn acabou sendo desperdiçado em algo sem muita função prática. Ele ganha uma nova parceira, Rose, que é uma personagem legal. O problema é que a parte envolvendo ambos é consideravelmente mais fraca que as cenas principais, com Kylo Ren sendo o grande destaque. O Último Jedi é um filme de forte personalidade, que peca um pouco em sua reta final e na distribuição das histórias. Escorrega em alguns encerramentos de ciclos, e brilha em outros. É uma obra definitivamente controversa. Melhor personagem: Kylo Ren. O conflito que o antagonista vive é de tirar o chapéu, algo que a saga não conseguiu fazer com Anakin na segunda trilogia. Maior evolução: Poe Dameron. O piloto é uma das melhores novidades e cresce muito. Maior surpresa: Holdo. Ela começa bem fraquinha, confesso, mas surpreende.

Alguém sabe o peso dele? Me pergunto quantos Kylos ele tem…………

Episódio IX – A Ascensão Skywalker – Resgate sem necessidade

A Disney estava em uma posição complicada. As recepções do Episódio VII foram majoritariamente positivas, mas no Episódio VIII houveram muitas reclamações de fãs. Aquilo fez com que surgisse um clima de cautela nos bastidores. Qual caminho era melhor seguir, o básico ou o arriscado? Optaram pelo primeiro, infelizmente. Após a ascensão de Kylo Ren e a sobrevida da Resistência, os dois lados puderam se reagrupar para tentar entrar em mais uma batalha, talvez a derradeira. O problema é que uma outra ameaça – um inimigo conhecido – aparece para deixar tudo ainda mais complicado, dando contornos dramáticos na guerra pela galáxia.
Antes de assistir no cinema, eu já tinha ouvido falar de diversas resenhas dizendo que A Ascensão Skywalker era decepcionante. Um dos meus críticos favoritos, Tiago Belotti, afirmou que não era um filme ruim, mas sim covarde. Fui ver o capítulo final sabendo da opinião geral, mas decidido a formar a minha própria. Porém, concordo com o consenso. O Episódio IX não tem charme e ostenta pouco brilho. A identificação que havia sido findada entre alguns personagens parece ter sido perdida. A relação entre Rey e Kylo não convence, as quebras de humor são desencaixadas e a decisão de ter trazido um antagonista antigo foi a pior coisa desde o romance entre Padmé e Anakin no Episódio II. O longa não conseguiu sequer fazer um tributo digno pra Carrie Fisher – a homenagem de Velozes e Furiosos para Paul Walker foi infinitamente superior, pra se ter uma ideia. Além disso, Rose foi praticamente esnobada, acabando com suas chances de evolução, e veio uma nova personagem praticamente na reta final sem um pingo de identificação com o público. A conclusão é xoxa (é assim que se escreve essa palavra?) e não empolga. É um filme de Tela Quente pra se assistir num domingo quando não tem nada melhor pra fazer – ele diverte, e só. Melhor personagem: Poe Dameron. Foi difícil escolher, e quase dei o prêmio novamente pra Kylo Ren, mas o piloto merece por tudo que fez no conjunto.

Definição de brotheragem acima ^

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: a arte utilizada na imagem principal do pitaco é de Brian Rood. Pesquisei no Google algumas fotos pra utilizar de destaque, e ela foi a minha favorita. Os créditos são todos dele, apesar de eu não fazer ideia de quem seja.

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO OS FILMES. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Incrível como as aparições de Han Solo e Lando Calrissian foram contrastantes. A primeira foi emocionante, entrando com seu eterno companheiro Chewbacca na saudosa Millenium Falcon. A segunda foi sem graça pra caramba. O ator parecia super empolgado, mas o roteiro tava numa preguiça colossal. Potencial desperdiçado.
  • É, de fato o Episódio 7 é igualzinho ao 4. Não poderiam ter sido mais originais, tinha que rolar uma nova Estrela da Morte? Tipo, poderiam ter feito bilhões de outras histórias. Literalmente bilhões.
  • Sobre a relação linda entre Luke e Kylo, fez sentido. Não sei por que tanta gente reclamou que aquele tipo de comportamento não era típico de Luke Skywalker. Pensa pelo lado dele, o cara é filho de um dos maiores terroristas da galáxia e precisou arcar com o peso de todo um legado em seus ombros. Quando percebeu que a cria de seu melhor amigo poderia seguir o caminho do mal, era natural que batesse o terror. Não justifica, é claro, mas é compreensível e uma das melhores coisas do Episódio 8.
  • E continuando no filme citado, foi muito inesperado o Snoke morrer daquele jeito, cortado ao meio no estilo Darth Maul. Foi um misto de sentimentos pra mim, fiquei bastante satisfeito com a coragem em eliminar o suposto antagonista principal logo de cara, mas temi que Kylo Ren não fosse um vilão à altura de sustentar o capítulo final de uma trilogia. E eu de fato tava certo, porque precisaram utilizar do artifício mais ridículo do mundo no Episódio 9.
  • Sim, tô falando do Palpatine 2.0. Vou dizer aqui no blog pela 593450394ª vez: eu simplesmente ABOMINO personagens que voltam dos mortos sem uma explicação plausível dentro da trama. Maaaano, não precisava. E aliás, ele foi a Maior Decepção do filme, só não coloquei ali em cima porque poderia ser spoiler pra quem não fazia ideia de que o Darth Sidious estaria presente. Foi um truque barato dos roteiristas, uma saída fácil depois de uma ousadia admirável.
  • Outro truque barato: a “morte” do Chewie. No momento em que a Rey explodiu a nave que transportava o wookie, eu fiquei em choque. A tristeza de um dos maiores personagens de Star Wars ter morrido começou a bater, mas senti orgulho da audácia, apenas pra depois ela ser estragada. Não que eu quisesse que ele morresse, mas a partir do momento que um filme me faz pensar que alguém importante se foi, voltar atrás demonstra fraqueza. Pelo menos deram um encerramento digno pro ciclo dele.
  • Voltando pro Episódio 7 e fazendo um paralelo com o restante da saga, achei o entrosamento entre Rey e Kylo um dos melhores elementos, ponto. Foi desnecessário aquele beijinho no final, Hollywood tem mania de querer botar casal em todo lugar sem necessidade. A ligação entre eles era claramente gigantesca, lábios se tocando não confirmaria algo que já era óbvio. Não que eu desaprove a ideia de eles terem nutrido um sentimento romântico um pelo outro, só não precisava daquele beijo. Ficou brega.
  • No Episódio 8, a cena da Holdo se sacrificando e partindo uma nave na velocidade da luz foi incrível. Quase tão incrível quanto a Leia usando a Força pra se recusar a morrer no espaço.
  • Ah, era muito melhor quando os pais da Rey não eram “ninguém”. Ela ser filha do Palpatine só mostra que a galáxia de Star Wars deve ser do tamanho de uma cidade.
  • Gostei muito do Yoda dando as caras. E gostei ainda mais de sua personalidade ter ficado mais parecida com a da série clássica, as memórias vieram mais fortes.
  • Pra encerrar, algumas coisinhas: eu não tinha enxergado nada além de amizade entre Finn e Poe inicialmente, mas depois de reassistir, preciso dizer que algo além podia perfeitamente ter acontecido; utilizar a Rose e colocar representatividade é ótimo, mas jogar a personagem fora depois não é bacana; deixar informações vitais de fora do filme pra serem explicadas depois, como o Finn querendo dizer pra Rey que era sensitivo à Força e o Lando encontrando sua filha perdida, demonstram uma total incapacidade de escrever uma trama decente; os momentos finais de Luke foram espetaculares, os da Leia nem tanto. É isso, espero que a próxima trilogia conserte os erros! E que BB-8 nos acompanhe.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Veredito
A terceira trilogia tinha tudo pra fazer bonito e tentar pelo menos chegar perto da saga original. Ela começou bem, escorregou um pouco no caminho e finalizou em queda. Como filmes de fantasia, eles não deixam de ser um bom entretenimento pra se assistir sem muitas pretensões. Como capítulos de Star Wars, o saldo final deixa a desejar pois a Disney acabou sendo muito conservadora, abusou do resgate de personagens antigos e não conseguiu sacramentar uma nova identidade. Por incrível que pareça, até a segunda trilogia teve mais personalidade em alguns aspectos. Os Episódios VII, VIII e IX valem a pena por causa do respeito ao que foi apresentado no último século, uma certa ousadia, os efeitos visuais e as aventuras. Entretanto, sempre vai ficar aquela sensação de que o produto poderia ter sido melhor.

Cê vê que o negócio é da Disney mesmo quando tudo parece mais colorido

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê acha dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).