Documentário, Séries

Last Chance U: 1ª Temporada (2016)

• A disciplina das jardas

Minha experiência com o futebol americano começou em 2017. Dois amigos meus me chamaram pra assistir o Super Bowl LI na casa de um deles. Acho que cheguei atrasado no dia, se não me engano os Falcons já estavam à frente no placar. Lembro nitidamente de não entender nada sobre o jogo e aos poucos aprender o básico pra curtir aquela virada maluca dos Patriots. O preconceito tinha sido quebrado e eu talvez desse uma chance pra aquele esporte tão diferente, sendo que eu sempre gostei somente de futebol. Na temporada seguinte, vi apenas duas partidas: a primeira e a última. Entre 2018 e o começo de 2019, passei a seguir páginas da NFL e a acompanhar as notícias, mas não assisti muita coisa. Decidi que torceria pro San Francisco 49ers. Na metade do ano passado, comecei a ficar bastante empolgado e dei ainda mais sorte da equipe que escolhi torcer ter feito uma excelente temporada regular, ostentando reais chances de se sagrar campeã no início de fevereiro – eu não fazia ideia de que isso aconteceria, até porque nos últimos anos eles não foram tão bem; foi como se a franquia simplesmente tivesse me escolhido, e não o contrário. Agora cada vez mais interessado no assunto, segui a dica do meu primo e comecei a acompanhar a série documental da Netflix sobre a bola oval.

 

Sinopse

Seja bem-vindo ao East Mississippi Community College (EMCC), na pequenina cidade de Scooba. Ela seria uma faculdade interiorana qualquer dos Estados Unidos se não fosse por um detalhe: o lugar abriga uma das equipes mais vitoriosas na história recente do futebol americano na modalidade, os EMCC Lions. A série, em formato de documentário, conta a trajetória do time comandado por Buddy Stephens na temporada de 2015. Porém, em vez de concentrar as atenções no lado esportivo do grupo, Last Chance U decide abordar as questões acadêmicas dos atletas, pois eles estão dentro de uma faculdade conhecida por ser a última oportunidade de muitos garotos com problemas de comportamento, notas ou faltas. É claro que os treinamentos e as partidas sustentam os episódios, mas a obra traz uma perspectiva diferente do habitual.

Regular white male who likes sports™

Crítica

Eu acho que adoro documentários. Meu pai, provavelmente a pessoa que mais me influenciou no mundo dos filmes, gosta de muita coisa, com exceção de musicais, terror e documentários. Por isso, passei muito tempo sem dar chance a esses gêneros, mas recentemente comecei a desbravar. As épocas de Oscar me ajudaram com isso, pois eu sempre tento acompanhar o máximo de títulos possíveis. Então, percebi que documentários me agradam e conseguem prender muito bem a minha atenção.
No primeiro momento, Last Chance U toma como missão contextualizar o espectador. Antes de botar em tela as nuances dos jogadores, a série faz a gente conhecer a cidade, a faculdade, a comissão técnica e até mesmo os habitantes de Scooba. Só quando a gente consegue ter uma ideia geral da locação é que o enredo nos entrega as personalidades dos atletas e o funcionamento deles como um time, apesar das motivações individualistas de muitos. Tanta coisa acontece quando o campeonato tem início que até parece roteiro de filme motivacional, o que torna ainda mais gostoso o conhecimento de que aquilo tudo é real. Tem hora que parece forçação pra deixar as coisas mais dramáticas do tanto que a trama parece uma epopeia.
A narrativa é fluida. Não é uma série que eu conseguiria maratonar porque cada episódio traz uma história que é semelhante ao capítulo de um denso livro. Ela demanda um tempinho pra gente absorver os acontecimentos, pelo menos na minha experiência. Talvez isso seja um problema de ritmo, porque Last Chance U me impele a assistir enquanto eu tô vendo, mas quando acabo um episódio não dá vontade de começar outro logo em seguida. Senti falta também de uma explicação melhor de como funciona a liga que os Lions participam, pois tive que pesquisar muita coisa por fora pra entender totalmente.

O talentoso e um pouco convencido quarterback

Veredito

Uma boa pedida pra quem gosta de entretenimento, uma ótima pedida pra quem gosta de documentários, uma excelente pedida pra quem gosta de futebol americano. Last Chance U é uma série que não abusa do melodrama ainda que apresente constantemente situações dramáticas, sabe bem como traçar uma linha de raciocínio envolvendo as partidas e os jogadores e conta com uma parte técnica muito eficiente, apoiada em uma trilha sonora agradável e uma cinematografia de qualidade. Enquanto assistia, eu genuinamente me apeguei aos personagens e fiquei até emocionado quando a temporada foi finalizada, e ansioso pelos próximos passos. Tá aí um outro acerto não tão conhecido da cada vez mais poderosa Netflix. Nota final: 4,5/5.

O competente e problemático running back

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Velho, não dá pra acreditar que aquilo não foi combinado, de tão foda que foi a campanha dos Lions. Começaram bem e depois tiveram uma derrota doída, acrescentando bastante drama à história e expondo como um revés pode afetar a rotina de um time. Deu também pra ver as atuações tendenciosas das zebras, triunfos esmagadores depois de sermões mais esmagadores ainda, e por fim uma briga generalizada que deixou a temporada no ápice da emoção. Normalmente, a gente vê obras sobre esporte com uma equipe ganhando de forma heroica ou perdendo na final e sendo aplaudida pelo esforço, mas Last Chance U é uma prova de que o mundo real pode ser muito mais cativante.
  • Sobre a disputa de quarterbacks, foi injusto todo o rolê com o Wyatt Roberts. Ele era muito mais focado, regular e constante do que o John Franklin III, que vivia basicamente de lampejos apesar de ter mais talento em suas melhores atuações. Contudo, um bom jogo na hora certa faz a diferença, e era óbvio que o Wyatt não ligava tanto pro futebol americano assim, ao contrário de seu companheiro.
  • Na função de running backs, incrível como o DJ Law não tava nem aí pras aulas. E é engraçado fazer o contraste com a situação aqui no Brasil. Não importa se um jogador não sabe escrever, por exemplo, o que vale é ele saber jogar com a bola nos pés. Por um lado, isso é legal porque proporciona um futuro pra muita gente que nunca teve oportunidade. Por outro, só escancara como o nosso país tá pouco se fodendo pra educação. Ai, se a gente tivesse um ensino público de qualidade…
  • Em relação a todo o rolê da briga, eu até concordaria com o Buddy acerca da galera agir como animais selvagens, mas realmente ele precisava ter analisado todo o contexto antes de dar bronca. Os adversários foram na maldade e conseguiram o que queriam, e poderiam ter literalmente assassinado o DJ lá no campo. E o pior de tudo é que a punição severa veio pros Lions – o que diabos eles deveriam ter feito? Ficado parados enquanto observavam um colega ser chutado covardemente? Belos critérios da organização das ligas universitárias dos EUA.
  • O Ollie foi meu favorito na temporada inteira, não tem jeito. Aliás, toda a linha de defesa esbanjou carisma. Mas além do Ollie ser um puta jogador, ver o entrosamento dele com a Srta. Wagner foi um deleite. Não vou negar que suei pelos olhos na despedida entre os dois.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Brittany Wagner
Ela não foi a minha favorita, mas sim Ollie, o cara em destaque na imagem do Melhor Episódio. Todavia, é preciso reconhecer sua importância e sua capacidade de aconselhar os atletas da EMCC Lions por tanto tempo e de forma tão competente.

A rainha no castelo masculino

+ Melhor episódio: S01E06 (“It Is What It Is”)
Eu gostei muito do segundo episódio por causa da condução da direção, mas o capítulo final é frenético e fez com que eu não conseguisse tirar os meus olhos do celular.

Quando eu ganho uma camisa que fica justa em mim

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).