• Clube das Cinco
Minha namorada sempre me falou pra assistir Skam. Por muito tempo, eu insisti para que terminássemos as séries que tínhamos iniciado antes de começar uma outra. Certo dia, resolvi ceder aos pedidos dela, ainda mais por ser uma de suas séries favoritas. Eu jurava que seria um negócio bem adolescente, com jovens bebendo e fumando ao som de músicas indie – mais ou menos como Skins ou Elite. Foi uma agradável surpresa notar que a obra norueguesa era bem diferente da estadunidense e a espanhola. Seu ritmo era mais fluido do que eu imaginava, e a narrativa não me soou nem um pouco pretensiosa, ao contrário de tantos outros exemplos do gênero. Nas primeiras cenas, o idioma naturalmente é peculiar aos ouvidos, e o estilo da trama pode gerar um pouco de estranheza. Com o tempo, no entanto, dá pra se acostumar tranquilamente e curtir a maratona.
Sinopse
Na cidade de Oslo, capital da Noruega, Eva vive um relacionamento turbulento com Jonas. Em sua escola, a garota está no primeiro ano do Ensino Médio, ainda sem saber em qual grupo de estudantes vai se encaixar. Na busca por sua própria identidade, Eva cruza o caminho de Vilde, Chris, Noora e Sana, quatro garotas de personalidade totalmente distintas e com aparentemente nada em comum entre si. Enquanto Eva carrega traços fortes de timidez, Vilde possui uma faceta inocente e ao mesmo tempo extrovertida, Chris carrega um humor ácido e escrachado, Noora ostenta uma ironia irredutível e um lado enigmático, e Sana não esconde seu jeito direto e despreocupado com as opiniões alheias. Juntas, as cinco garotas se veem inesperadamente formando um forte laço.
Crítica
Houve uma época em que as séries de televisão eram megalomaníacas a respeito da quantidade de episódios por temporada. Era mais do que comum temporadas com 20 episódios de 40 minutos cada. Hoje em dia, os canais e plataformas optam por temporadas mais curtas, instigando o espectador a ansiar, desejar, implorar por mais conteúdo. Tem gente que prefere o costume antigo. Eu não julgo, mas pessoalmente prefiro o formato atual. E foi justamente esse formato que me fez achar a primeira temporada de Skam uma delícia de assistir.
A obra tem seus clichês, isso é pra lá de óbvio. A maioria dos personagens não contém muitas camadas. Isso poderia ser um problema, mas calma lá. Se eu tô vendo uma série sobre adolescentes no colegial tentando encontrar seu espaço, eu não quero um drama excessivo no sentido de construção de personalidade. Além do mais, o fato dos personagens contarem com identidades definidas como se servissem a um propósito no enredo é justificado quando consideramos que a história se desenrola a partir do ponto de vista de Eva. Somente os seus problemas são verdadeiramente abordados. As outras pessoas nós conhecemos apenas na superfície, e isso faz sentido em Skam. Na mesma tacada, a série ainda faz com que a trama se torne extremamente fluida. A quantidade pequena de 11 episódios com cerca de 20 minutos cada possibilita que se maratone a temporada inteira em uma única madrugada – o meu caso – sem a experiência ficar cansativa.
A maneira com que Skam destrincha os acontecimentos nos aproxima do universo construído. Em relação às personagens principais, é curioso perceber que a Eva é provavelmente a menos carismática das cinco, mas em nenhum momento se mostra chata. Como a narrativa é dela, é como se mergulhássemos de cabeça em sua mente a fim de analisar o que transcorre no dia a dia, o que consequentemente torna Eva uma boa protagonista. As partes com o Jonas me irritaram um pouco e sua dupla com o Isak (e o Elias) me deixou incomodado, mas elas são assim intencionalmente. O que de fato me desinteressou foi a duração de certas cenas, as quais poderiam ter sido cortadas pela metade pra passar seu recado com mais eficácia. Em uma série tão dinâmica quanto Skam, isso acabou pesando.
Veredito
Não tem como assistir Skam e não recomendar pelo menos a primeira temporada pra quem está à procura de uma série fácil e gostosa de maratonar. A experiência se assemelha a comer pipoca no cinema, você nem percebe a quantidade que ingeriu até o momento em que o balde fica vazio. Quando me dei conta de que a temporada tinha se encerrado, não pude deixar de me satisfazer com a ausência de cansaço sentido. Tem séries que eu vejo dois episódios e já tô exausto, preciso dar uma parada. Skam é quase o antídoto desse veneno. É claro que a obra norueguesa possui alguns problemas de estrutura – cenas longas demais, personagens trabalhados na superficialidade e uma trama que, embora bastante fácil de se digerir, não é algo exatamente novo -, mas as qualidades são consideravelmente maiores e fazem a aposta valer a pena. Nota final: 4,2/5.
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Eu não gosto do Jonas e se você discorda de mim, pode discordar aí da sua casa. Mas sério, ele é muuuito chato, e um baita de um cuzão. Eu entendo que a Eva o traiu com o Chris naquela festa
e fala sério, quem resistiria àquele gostoso?, mas do jeito que o Jonas tava agindo, não dava pra culpá-la totalmente. Em vez de se mostrar compreensivo por ter escondido todo o rolê da maconha dela (e eu pensando que seria cocaína, heroína ou sei lá), gerando um efeito dominó, Jonas agiu como se ela fosse o monstro da situação. Isso sem falar do jeito que ele ficava quando tava com o Elias. Argh. - A Vilde parece ser aquela típica pessoa que nunca teve acesso a certos tipos de informação, e acaba não conseguindo mensurar algumas coisas que ela mesma diz. Dá pra ver que não é uma pessoa ruim, mas precisa urgentemente de bons conselhos. E ainda bem que ela não tava grávida daquele escroto do William.
- E for falar no William, amei a Noora batendo na cara dele com palavras e defendendo a Vilde no processo. Só não gostei do final da temporada, porque ficou bem óbvio que o William só pediu desculpas pra Vilde porque a Noora pediu. Pode ser que eu esteja errado, mas sinceramente acho que não é o caso.
- Confissão pra vocês: eu não gostei muito da Sana no começo. Nos primeiros segundos, dei umas risadas com seu jeitão, mas fui ficando cada vez mais transtornado com sua grosseria e seu autoritarismo na fala. Contudo, na reta final da temporada ela foi se soltando e acabou subindo bastante no meu conceito, ainda mais quando foi revelado que Sana tinha defendido a Vilde na festa.
- Eu quase esqueci de falar sobre a mãe da Eva aqui nas Observações Spoilentas, minha namorada que me lembrou. Mas acho que nem tem muito o que dizer, somente que deve ser complicado viver sozinha em uma casa com a mãe visitando a cada não sei quantas semanas. Não à toa a Eva se sentia tão solitária.
- Isso me lembra a amiga da Eva, a Ingrid. Dá pra entender o porquê dela ter ficado com raiva, né. Afinal de contas, a Eva foi uma talarica que roubou a namorado da amiga, e agiu sim de forma errada. Entretanto, foi bom ver que ambas resolveram a situação no diálogo, apesar de tudo. Não chegou a rolar porrada igual a (ex-)namorada do Chris quando ficou sabendo que a Eva o tinha beijado na festa.
- Eva terminando com Jonas, aleluia, aleluia! Acho que a separação vai fazer bem pros dois, de verdade. Tinham chegado em um ponto de desgaste meio irreversível, e nenhum me deu a impressão de que realmente queria continuar com aquele namoro.
- A Chris seduzindo o Isak foi perfeito, mas a gente sabe que não adiantou nada. Para surpresa de absolutamente ninguém, Isak tem interesse em homens: o seu histórico de pornô gay no celular é prova disso. E o tempo todo ele esteve apaixonado pelo Jonas, e não pela Eva..
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Eva Kviig Mohn
Noora é a que mais apresentou potencial de crescimento, Sana demonstrou uma força impressionante em suas convicções, Vilde cumpriu o papel de ingenuidade e Chris, o alívio cômico. Apesar de Eva não ostentar características tão marcantes quanto as de suas companheiras, a trama desenvolve suas dores e inseguranças de uma forma acertada, causando identificação com a protagonista em um nível muito acima das outras.
+ Melhor episódio: S01E10 (“Jeg tenker du har blitt helt psyko”)
Neste momento, ficou claro como a neve o tamanho da amizade semeada entre as cinco principais.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?