Romance

Love, Victor: 3ª Temporada (2022)

love victor 3

• Romances em xeque

Que diferença foi ver esta série por meio de uma plataforma de streaming. Não tô fazendo propaganda não (mas se quiserem, tô por aqui), é porque as duas primeiras temporadas eu precisei assistir via sites clandestinos. O motivo? Não tinha Love, Victor em nenhum lugar licenciado, então como eu iria ver? A série é da Hulu, que não chegou no Brasil. Porém, quando a terceira e última temporada lançou todos os seus episódios, eles chegaram na Star+, que já tá por aqui em solo tupiniquim. Desta forma, eu pude ver os capítulos sem me confundir com uma legenda que traduzia “mi hijo” para “mijo”. Infelizmente, foi a temporada mais fraquinha da série.

 

Sinopse

Com quem será que o Victor escolheu ficar? Foi o Benji? Ou será que foi o Rahim? Você descobrirá nesta temporada! Vai ser difícil eu falar sobre os episódios sem mencionar a resolução desse conflito, mas não tenho escolha. Não vou estragar a experiência de vocês, que decidiram vir ler o meu humilde pitaco antes de conferir a temporada. Se você já viu todos os capítulos, ora pois, é só ir até a seção de Observações Spoilentas lá embaixo! Mas calma, vamos por partes. Só pra terminar essa sinopse aqui: além das repercussões do triângulo amoroso Victor-Benji-Rahim, que chamarei carinhosamente de Vicbenjim, temos a Lake descobrindo um novo lado de sua sexualidade, o início do relacionamento entre Felix e Pilar, a busca de Mia pela mãe e as questões afetivas de Armando e Isabel.

É assim que eu imagino os reencontros das turmas do Ensino Médio anos depois da escola

Crítica

Desde o início, Love, Victor sempre foi uma série fofinha. Para seu último ato, bastava manter essa estrutura e dar fim aos arcos que ficaram pendentes. Não é isso que acontece. O senso de objetividade do roteiro lamentavelmente foi pro espaço, e a trama pareceu andar como se a série ainda reservasse pelo menos mais uma temporada. Quando terminei o penúltimo episódio, olhei pro meu irmão, pra minha namorada e pros meus pais, que assistiram à série comigo, e questionei como é que o enredo acabaria com tanta coisa precisando ser resolvida na reta final.

Quer que eu adiante? Pois bem, as coisas são resolvidas de forma bastante apressada. Toda a temporada sofre com a dosagem mal feita. Pior do que isso, alguns personagens parecem sem propósito, como se não soubessem mais quem são ou o que estão fazendo ali. Sei que isso é uma coisa comum na adolescência, mas as constantes mudanças daqueles que apareciam em tela eram pra lá de repentinas. Em um episódio, um relacionamento estava bem. No outro, por causa de um motivo besta, tudo acabava. Não sei se é assim que o pessoal dos EUA enxerga relacionamentos amorosos, porque, aparentemente, pelo que a gente vê nos filmes e séries, poucos fazem concessões em prol da pessoa amada. Love, Victor reforça essa ideia de que o obstáculo em um relacionamento não é um mero percalço, mas sim um impedimento definitivo.

Isso me atrapalhou a comprar algumas histórias. Desculpa, mas toda a relação Lake-Lucy (o shipp delas seria Luke?) é mal trabalhada. Estava faltando um romance sáfico em Love, Victor, isso é bem verdade, e a Lake até poderia ter preenchido essa lacuna, mas não da forma que foi. Em um dia, ela estava namorando o Felix. No outro, eles terminaram. Em seguida, ela passou a se interessar por outra pessoa. De repente, descobriu que realmente se interessava por garotas. Tudo isso foi feito sem um pingo de cuidado. A Lake sequer pareceu ter ficado realmente em conflito com a sua sexualidade, estava mais com medo de como seria a reação da mãe. Não sou LGBTQIA+ pra dizer com toda a certeza, mas acredito que descobrir um novo traço da sua sexualidade deve ser desafiador, não?

O desenvolvimento do Victor, por outro lado, foi satisfatório. Ele foi um personagem sólido desde a primeira temporada. O carisma do ator Michael Cimino ajuda, mas a maneira com que o personagem foi escrito é que faz a real diferença. A transformação constante do protagonista soa genuína, e é possível entender todas as razões que fizeram-no chegar em pontos específicos da série. Ao mesmo tempo, Felix também brilha, justamente por ser um grande pilar na série, com o perdão do trocadilho.

No mais, Love, Victor perdeu parte da sua magia. O roteiro ficou dividido entre elaborar novas dinâmicas e finalizar aquelas que já tinha apresentado, deixando o resultado meio confuso. As viradas do enredo lembram muito o formato de novela, com términos, brigas e conflitos surgindo do nada com o único intuito de fazer a história andar. Não é como se a série construísse um arco para chegar em um lugar específico, ela simplesmente introduz, destrói, reconstrói e recomeça tudo outra vez.

Em sua última temporada, Love, Victor segue sendo uma “série de conforto”, isto é, aquela série pra assistir em um dia frio, tomando uma sopinha de frango com macarrão, enquanto se aconchega debaixo de uma cobertinha do lado de pessoas queridas. É aquele tipo de série pra deixar a mente vagar e se preocupar com um bobinho mundo ficcional em vez de se concentrar na dura realidade. De vez em quando, Love, Victor até se lembra de inserir temas mais pesados, mas o foco da última temporada está mais no amadurecimento da adolescência do que na sexualidade em si. Esse último assunto nunca desaparece, obviamente, mas já ultrapassou o patamar de antes.

A terceira temporada é feita de boas tensões, mas que acabam se resolvendo de maneira simplista. Quando acaba, fica na boca um sentimento agridoce, como se nosso cérebro perguntasse: “pera, acabou mesmo?“. A sensação de completude não é totalmente saciada, mas pelo menos é uma experiência leve e gostosa de acompanhar.

Acho que algumas aulas de reforço em Química teriam ajudado a ambas

Veredito

É comum ter a sensação de que uma série deveria ter acabado mais cedo. Um pouco menos comum é encontrar séries que deveriam ter acabado mais tarde. É o caso de Love, Victor. Quando olhamos pro panorama geral, dava tranquilamente pra ter contado toda a história em três temporadas. O problema é que os roteiristas deixaram muita coisa em aberto no final da segunda. Por isso, considerando que a temporada seguinte seria a última, os episódios deveriam ser quase todos voltados a um objetivo de encerramento. Em vez disso, a série continuou desenvolvendo novos temas e virou tudo de cabeça pra baixo a minutos do fim. Resumindo, é uma temporada com bons aspectos, mas que abusa da pressa e entrega um final um tanto quanto vazio. Nota final: 3,0/5.

A cara do professor logo antes de te mandar pra fora da sala por ficar conversando demais

 

>> 1ª Temporada de Love, Victor

>> 2ª Temporada de Love, Victor

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Eba, o Victor escolheu o Benji apenas pra eles terminarem logo depois! Mas, falando sério, quanto lenga-lenga esses dois, bicho. Pra mim, teria sido melhor que o Benji realmente tivesse se afastado e ido morar em outro lugar. Ele pra sempre seria o primeiro amor de Victor, mas claramente os dois não prestam juntos. Fazer o quê, né.
  • Pelo menos, deu pra ver um pouquinho mais de profundidade no Benji, com o flashback envolvendo o pai dele, que é o verdadeiro vilão da história. Sério, que maluco imbecil.
  • E por falar em família intolerante, temos o Rahim e o tio religioso. É tão complexo essa parada, não acham? Tipo, até onde a gente deve aceitar o pensamento retrógrado de uma pessoa mais velha simplesmente por ser de outra geração? Eu entendo que, em algumas situações, o choque cultural é muito grande e é preciso ter um pouco de malemolência. Por outro lado, não dá pra viver a vida fingindo ser quem não é. Muita gente mais velha adora falar que essa geração é excessivamente sensível e tudo mais, só que quem criou essa geração foram eles, pô. Ok, talvez eu tenha me deixado levar aqui, mas fica o desabafo.
  • Sobre o casal Felix e Pilar, eita parzinho sem rumo, hein? Por que foram acabar com o romance entre Felix e Lake? Era o melhor. Felix e Pilar não têm química, vocês que me perdoem. Sem falar nela ficando pistola porque ele não quis transar por medo de deixar os pais dela contrariados. Nada a ver.
  • A minha opinião sobre o casal Lake e Lucy é a mesma, sinceramente. Não vi química alguma entre os dois. Porém, ao contrário de Felix e Pilar, eu sinto que poderia até ter dado certo caso tivesse sido desenvolvido melhor e por mais tempo. Por isso, deixo esse pequeno parêntesis.
  • Vocês também acharam que a Mia ficou muito apagada nesta temporada? Pelo lado positivo, as coisas finalmente começaram a dar certo pra ela, depois de tanta desgraça. Por outro, foi tudo muito aleatório. Teve a trama com a mãe, o entrave com o Andrew, o conflito com o pai. A impressão que eu tive foi de que os roteiristas simplesmente não sabiam o que fazer com a personagem. Pelo menos ela e o Andrew são fofos juntos.
  • Nessa altura do campeonato, o único casal melhor do que Andrew e Mia é composto por Isabel e Armando. Depois de todos os problemas conjugais da temporada anterior, eles mereciam paz matrimonial. Sim, se pararmos pra pensar, é meio escroto eles ficarem bloqueando tanto a Pilar sem sequer ouvir o que ela tem a dizer (e depois os pais perguntam por que os filhos não confiam neles, né). Ainda assim, eu passo um leve pano pelo conjunto da obra.
  • Se eu gostei do Nick? Achei ele OK. No começo, era só um “fuckboy” genérico, mas cumpriu bem o seu papel narrativo de funcionar como transição pro Victor.
  • Um dos grandes defeitos desta temporada foi a falta do senso de união. Nas outras duas, as histórias estavam mais entrelaçadas. Nesta última, parecia que cada um residia em seu próprio mundinho. Poucas vezes, verdadeiramente interagiram entre si. Gostaria de ter visto a série costurar melhor as relações que se firmaram dentro do grupo, destacando, por exemplo, o antigo namoro de Victor e Mia e o quanto tudo mudou desde então.
  • Não tinha jeito mais simbólico de Love, Victor acabar do que com uma roda gigante e um casal feliz, né? Seguindo os passos de Love, Simon do princípio ao fim.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Felix Weston
O seu auge foi na segunda temporada, mas naquela ocasião a Isabel Salazar acabou tendo mais destaque. Na terceira, ele foi o melhor ao lado de Victor, mas acabei achando a presença de Felix mais impactante nas cenas em que aparecia. Afinal de contas, quem não gostaria de ter um amigo como ele?

Namoro santo 🙏

+ Melhor episódio: S03E05 (“Lucas and Diego”)
Nenhum episódio foi individualmente “uaaaau”, mas esse foi o que apresentou mais partes que trouxeram de volta as melhores características da série.

A plateia durante um show de comédia do Danilo Gentili

+ Maior evolução: Andrew Spencer
Se olharmos pro Andrew da primeira temporada e o Andrew da terceira, são pessoas completamente opostas. Além disso, os momentos em que eu mais me diverti e soltei arzinho pelo nariz foram justamente aqueles nos quais o Andrew fazia alguma zoeira idiota.

Namore alguém que te olhe como blá blá blá e coisa e tal

+ Mais subestimado: Rahim
Desde a segunda temporada, eu sempre achei o Rahim um personagem MUITO mais interessante do que o Benji. Aqui, ele elevou o seu potencial e também aparece entre as qualidades do ano de encerramento.

Espelho, espelho, meu, existe alguém mais elegante do que eu?

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).