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AnáliseRicardo #10 – Nimona é a junção perfeita entre medieval e tecnológico

• A união pelas diferenças

Há um bom tempo eu tinha me surpreendido com esse filme aqui. Acreditei que Nimona teria destaque nessas premiações como o Oscar e Critics Choice e tantos outros, mas no fim das contas, não teve.

Isso deveria me desanimar de falar sobre o filme, certo? O problema é que assim como a Nimona, eu não sou muito de comprar algo que está sendo imposto, então estou aqui para falar dela.

Com vocês, o filme da vez: Nimona.

Muito se comenta sobre a Annapurna Interactive ter salvo esse filme aqui. O longa tinha sido descartado pela Disney naquele famoso negócio entre a empresa do Mickey e a Fox. A Disney chegou até a dizer que não usaria nada que a BlueSky Studios tinha em produção, estúdio responsável por A Era do Gelo, Rio e alguns outros.

Após continuar a produção de um novo A Era do Gelo, nós conseguimos entender melhor o que eles estavam decididos a usar ou não. Afinal, Nimona está aí para mostrar as diferenças.

A primeira diferença está no cenário daquele reino. Meio medieval, meio tecnológico… eu confesso que essa parada me ganha demais. É muito difícil ver uma produção misturar coisas bem distintas assim e fazer com que isso dê certo. Mas aqui, além de funcionarem perfeitamente, ainda têm um poder narrativo bem forte: as diferenças.

As diferenças entre o discurso dos líderes que buscam um avanço tecnológico, mas não estão dispostos a mudar seus sistemas um tanto ultrapassados.

As diferenças entre o olhar de como alguns aspectos dessa própria tecnologia podem aproximar as pessoas, mas ao mesmo tempo o próprio olhar de como se aproximar é tampado diante das ações e falas.

É uma boa visão sobre como um sistema consegue impor seus preconceitos e perpetuá-los. Pode acreditar no que quiser, mas isso que eu tô falando vai bem além de um simples devaneio: está posto em tela.

Você quer um exemplo? Você vai encontrar no personagem do Ballister. O cavaleiro que deveria ser promovido a herói foi passado para trás por alguém que só podia ter feito o que fez pelo sistema.

Ele seria o primeiro cavaleiro não nobre, enquanto treinava ao lado de vários que eram nobres e estariam ali em busca desse título.

E, mesmo com esse cenário, Ballister não conseguia culpar a quem deveria culpar. Isso aí reflete mais para frente, em sua relação com a Nimona.

Nimona tem essa personalidade anarquista. Ela sempre vai ser a solução ou o fim da problemática, inclusive para o próprio Ballister. 

A personagem que dá nome ao filme é forte e tem um coração do tamanho do maior ser que ela pode se transformar, é uma personagem que abraça as mudanças e cria resoluções incríveis em pouco espaço e em pouco tempo.

E falando em coisas incríveis que Nimona nos traz, podemos destacar aqui também o trabalho de animação, desde os traços de seus personagens até os cenários que ganharam vida naquele mundo. Em aspecto de animação, Nimona vem como um dos principais trabalhos de 2023, para mim.

O que talvez não seja tão incrível assim no longa seja a sua montagem. Na edição de vídeo, meu trabalho, é imprescindível saber o momento de cortar a vibe. Aqui, após um cenário caótico, vem sempre um flashback para tentar aprofundar os personagens e dar mais contexto ao mundo atual.

Sim, eu entendo que ele propôs algo diferente, até para quebrar essa sensação de contos de fadas que o longa tem. Mas os clichês não são de todo ruins e, muitas das vezes, estão aí para ser utilizados.

Um exemplo que casa com o cenário de contos de fadas está em Shrek e em como ele conta a história no início, dando contexto e nos situando. Em Nimona, acredito que a escolha de jogar isso no meio do longa foi o que quebrou um pouco da experiência para mim.

Mas cá entre nós, Nimona é incrível e tem que estar na sua lista de animações para ver o quanto antes. Vai por mim, você não vai se arrepender.

Ballister e um tubarão

 

Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema

 

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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.

Publicado por Ricardo Gomes

O cara que mais perde tempo assistindo TV e escrevendo sobre, segundo Michelle (minha gata).