Drama

Six Feet Under: 1ª Temporada (2001)

six feet under 1

• Mergulhados no formol

Todo mundo tem aquela lista de séries que despertam a curiosidade, mas que sempre vão ficando pra depois por causa da quantidade de lançamentos e de temporadas que ainda não foram assistidas. The Wire, Dark e Six Feet Under estão entre esses títulos, pra mim. Na época em que minha namorada estava fazendo estágio em outra cidade, me deu vontade de começar alguma série nova sozinho, e foi então que eu iniciei Six Feet Under. Demorei a terminar a 1ª temporada, não por ser ruim, longe disso, mas sim por conta da correria da vida mesmo. Enfim, consegui finalizar e estou aqui hoje pra falar sobre ela.

 

Sinopse

A família Fisher é dona de uma funerária. Por isso, a morte sempre esteve por perto. No entanto, quando ela atinge o patriarca Nathaniel, sua esposa Ruth e os filhos David, Nate e Claire se veem abalados, cada um à sua maneira, e precisam lidar de forma mais íntima com o assunto lúgubre que sempre fez parte do cotidiano deles.

O feitiço virou contra o feiticeiro

Crítica

Eu não esperava que uma série dramática sobre funerais fosse tão engraçada. Não no sentido de te arrancar risadas o tempo todo, mas Six Feet Under tem uma ironia constante e afiada e aposta na comicidade através das manifestações de pensamentos dos personagens. O roteiro brinca o tempo todo com a gente, e passamos a nos questionar se uma determinada cena mais inusitada de fato está acontecendo ou se é apenas fruto da imaginação de alguém.

A verdade é que Six Feet Under possui vários elementos dos quais eu não sou muito fã. Eu não gosto de quando séries nos enganam com uma possível sequência chocante, apenas pra anulá-la em seguida; eu não curto histórias em que personagens conversam com pessoas que já morreram, só pra representar da maneira mais óbvia possível os questionamentos internos daqueles personagens; eu não gosto muito do sistema de “casos da semana”, em que cada episódio tem um pequeno enredo fechado dentro da trama principal.

Six Feet Under faz tudo isso que eu citei acima, mas eu não consigo deixar de gostar. Eu sou uma cadelinha por séries bem escritas, e se essa aqui não se encaixa em tal categoria, não sei mais qual poderia se encaixar. A cada capítulo, você tem pelo menos umas duas ou três frases capazes de causar reflexão, sem parecer que o roteiro está nos dando palestra. Além disso, ela administra tão bem a sua narrativa que as alegorias complementam o conjunto, em vez de atrapalhar.

Os personagens também são uma joia de Six Feet Under. Há muita complexidade em jogo e é impressionante ver como eles começam a temporada e fazer o comparativo com o modo como eles terminam. É uma aula de estudo de personagem, sem enrolações, sabendo desenvolver com calma cada jornada em uma temporada que contém 13 episódios de durações que variam entre 50 minutos e uma hora.

A série é de 2001, então a estética é bem diferente, a começar pelo formato da tela, que é mais “quadrado” em vez de “retangular”. A princípio, me veio um pouco de sensação de estranhamento. Não que eu já não tivesse assistido obras assim, mas nunca tinha visto uma série nesse encaixe. No final das contas, isso não afeta em nada, só citei aqui como um detalhe extra. Em geral, é uma série que envelheceu bem, tanto na fotografia quanto na temática.

Inabalável relação fraternal

Veredito

Six Feet Under é uma série clássica da HBO que possui um elenco talentoso, uma narrativa inteligente, personagens cheios de nuances e um senso de humor único. A primeira temporada tem seus altos e baixos e alterna entre momentos incríveis e arcos morosos, mas a média é pra lá de positiva e fica a recomendação pra quem tá buscando um drama ácido e com muita coisa pra contar.

Só de boas, em contato com a natureza

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Eu simplesmente amo os momentos em que os personagens ficam imaginando coisas como o David diante de uma igreja cheia de homens pelados, a família performando musicais ou o Nate imaginando o que diabos o seu pai fazia naquele apartamento alugado. Inclusive, a minha teoria era de que o Nathaniel ia lá simplesmente pra ficar de boa com os botões dele, talvez fumando um cigarrinho verde e coisa e tal.
  • Desde o começo, eu gostei do Rico e o apoiei totalmente no assunto de buscar mais direitos no trabalho, até porque o cara claramente é acima da média. Mas, ao contrário da opinião de muita gente, eu gostei do detalhe de ele ser homofóbico. Não que eu goste de homofobia, pelo amor de Deus, mas acho que essa característica adicionou um tom de realidade muito grande à história, mostrando que pessoas “gente boa” podem muito bem ser preconceituosas sem que isso fique às claras. Além disso, acho que é algo com potencial de render uma boa trama futura.
  • Naturalmente, fiquei torcendo pro David ficar com o Keith, mas cês piram que eu gostei dos dois como amigos? O Keith tá sendo meio que uma espécie de mentor pro David e, embora eu não descarte a possibilidade de eles ficarem juntos lá na frente, neste momento tô gostando dessa outra dinâmica.
  • Incrível como eu tinha um pouco de tédio da Ruth e a mulher foi só subindo no meu conceito. No momento em que ela meio que cagou e andou pro Hiram revelando sobre seu amor secreto me deixou meio “oxi, xinga ele, pelo menos!“, mas depois ficou bem claro que o desprezo feriu muito mais o ego dele. E espero que ela não fique muito tempo com aquele florista russo, ele é esquisito (e problemático) demais.
  • Quando eu estava começando a ter esperanças de que a Claire conseguiria uma relação boa com o aprendiz do Tarantino, ele foi lá e assaltou uma loja. Tô até com dó de como ela vai reagir quando esse caso vier a tona, porque com certeza virá.
  • O que falar de Brenda e Billy, hein? Que negócio desconfortável. E mano, por mais que ele tenha distúrbios, ainda acho que uma boa parte disso é pura manipulação da parte do irmão. Mas que bom ator é o Jeremy Sisto. Em alguns momentos eu me senti tentado a dar uma nova chance ao personagem só pelo poder de convencimento do intérprete, então não dá pra julgar a Brenda totalmente.
  • Tópico reservado só pra eu reforçar o meu apreço pelas expressões faciais do Michael C. Hall, que interpreta o David. Sério, ele tem umas olhadas espetaculares. Aquela cena em que ele fica com a testa franzida depois de olhar pra uma imagem na igreja que parecia simular um sexo oral, no penúltimo episódio, me fez soltar uma gargalhada.
  • Como a vida é irônica, né? O Nate, que faz tudo da maneira mais saudável possível, é quem tá com uma doença degenerativa. Tomara que dê tudo certo!

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: David Fisher
Em diversas partes, o meu favorito foi o Nate (esquerda). Porém, se formos analisar friamente os personagens, David (direita) teve uma construção e evolução impressionantes, transformando-o na alma da série até aqui.

Parecidos como água e óleo

+ Melhor episódio: S01E12 (“A Private Life”)
O quarto capítulo foi aquele que me conquistou e me fisgou de vez, mas acredito que o penúltimo da temporada tenha sido o mais completo e impactante.

Dexter Morgan e seu mais novo ajudante

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).