• O poder da retórica
Duas “freiras” mórmons vão de porta em porta na tentativa de converter pessoas, até que um dia se deparam com um homem perigosamente questionador.
Herege é bem diferente do que eu imaginava. Pra mim, era mais um filme de terror com espíritos ou demônios, utilizando pessoas religiosas como vítimas. O enredo já estava praticamente desenhado na minha cabeça, mas fui bastante surpreendido à medida que a trama foi avançando.
A primeira hora de Herege é impecável. Eu sou suspeito pra falar, porque adoro filmes que se concentram nos diálogos e debatem questões provocadoras, ainda mais sobre algo tão expressivo como a existência – ou não – de Deus. As conversas de Reed, interpretado por Hugh Grant, com as freiras Barnes (Sophie Thatcher) e Paxton (Chloe East), me deixaram 100% preso ao filme.
Na segunda metade, o longa abraça o terror tradicional contemporâneo, digamos assim. Também continuei gostando do filme, mas bem menos do que antes. Há várias reviravoltas interessantes e uma boa construção de tensão, mas a mudança de identidade da história não me agradou tanto. É um bagulho bastante pessoal; se você prefere uma trama mais acelerada, com terrores mais expositivos, talvez isso não te atrapalhe.
Eu também gosto do terror explícito de vez em quando, mas a maneira como Herege foi construído me fez ter a ideia de que veria algo diferente. Mesmo assim, como eu já adiantei, o roteiro costura boas sequências e se mantém em um bom nível até o final. Além disso, os diretores Scott Beck e Bryan Woods utilizam muito bem o espaço reduzido da casa onde a história se passa.
Herege é um filme de terror que aborda uma série de debates de ideias, que evidenciam como uma retórica competente é meio caminho andado pro convencimento. As atuações são excelentes, sobretudo de Hugh Grant, que dá vida a um vilão assustadoramente real. Por outro lado, a narrativa fica no meio do caminho entre duas propostas distintas, a do horror psicológico e do medo visível, algo que pode ser considerado como um defeito.
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