Ficção científica, Séries

Doctor Who: 10ª Temporada (2017)

• Questões sociais

Se não gosta muito de mudanças, com certeza Doctor Who não é a série pra você. Os fãs dessa produção tão mutável já estão vacinados contra a dor da despedida, de uma forma diferente da existente em Game of Thrones, por exemplo. Em DW, os personagens não costumam morrer como em GoT, ainda que isso aconteça usualmente. No universo do Doutor, a gente precisa dar adeus para os atores e os personagens como eles são. Isso é o que faz a série ser algo tão único na televisão. Se você não gosta do protagonista, espere algumas temporadas que o ator vai mudar. Vocês sabem como é, porque se estão lendo o pitaco da décima temporada, é porque já assistiram às outras. Eu acho, pelo menos.
Em mais um capítulo da maratona de mudanças, desta vez não é com um novo Doutor que precisamos nos familiarizar. Depois de dois anos com a companhia de Clara, o Décimo Segundo Doutor, interpretado por Peter Capaldi, ganha uma nova companheira. A figura da vez é Bill Potts (Pearl Mackie), uma estudante com uma personalidade bem diferente das demais. Rose Tyler era aventureira e curiosa. Martha Jones, apaixonada e leal. Donna Noble, sarcástica e turrona. Amy Pond, calorosa e divertida. Clara, obstinada e protetora. Eu acho isso espetacular em Doctor Who, a diferença entre as personagens. Bill Potts chega com uma nova fórmula, cética e questionadora. Além disso, é a primeira companion lésbica desde a retomada da produção em 2005, um detalhe interessante da temporada de número dez.

 

Sinopse

O primeiro episódio da temporada traz de volta o Doctor e Nardole, o parceiro careca mais simpático das galáxias. Em uma incursão dentro de uma universidade, eles conhecem Bill Potts, uma aluna curiosa que acaba encontrando uma poça d’água peculiar. Assim, os participantes devem solucionar aquele mistério juntos, mesmo que hesitem no começo. Em seguida, Doutor e Bill viajam pra um planeta inabitado, somente com a companhia de robôs com expressões de emojis. Eles viajam também pra Londres de 1814, com o Tâmisa congelado, para uma mansão de um senhorio enigmático e uma nave espacial onde a única fonte de oxigênio são os trajes próprios do local. O primeiro núcleo contínuo se divide entre os episódios 6, 7 e 8, com uma teoria conspiratória de uns Monges bem malucos. Mais para o fim da temporada, são abordados o patriotismo britânico, a realidade da época dos romanos e os Cybermen, encerrando tudo com um especial que marca a despedida de Capaldi. Eu adoraria ter dado uma sinopse melhor de cada capítulo, mas faz tempo que assisti e não dá pra eu ficar recapitulando todas as vezes. No pitaco da décima primeira temporada, prometo que farei algo mais organizado.

Eu caminhando pelas calçadas da minha cidade

Crítica

Diferentemente das outras postagens, vou fazer a crítica de cada episódio separadamente, porque a trama de Doctor Who não costuma ser completamente linear – até porque é sobre VIAGENS NO TEMPO, não dá pra ser linear. Beleza, vamo lá. No primeiro episódio, as minhas impressões foram de que Bill parecia ser uma personagem bem legal e então veio a dúvida: será que eles conseguiriam tratar bem a sexualidade da nova companheira? Graças a Akhaten eles fizeram isso bem, porque várias outras mídias não conseguem trabalhar muito bem essa questão. Em Doctor Who, foi algo natural e que acrescentou muito à personagem. Gostei do segundo e do terceiro episódios, cada um com suas particularidades. O quarto foi o que eu mais gostei até então, com um clima de terror moderno. Já o quinto não foi lá essas coisas. Toda temporada tem uns mais fraquinhos mesmo, o que foi o caso. Em compensação, o sexto foi espetacular, me lembrou as histórias do Dan Brown. A continuação dele também foi muito boa, mas a conclusão foi um pouco decepcionante, resolvendo o problema de maneira mais fácil do que se esperava.
Segundo minhas anotações, o que eu menos gostei foi o nono. O décimo me agradou, me lembrando um pouco Vikings e o jogo The Witcher 3. O próximo eu curti ainda mais, e me emocionei bastante com o último da temporada regular. O especial foi bem feito e trouxe nostalgia, além de resolver alguns arcos que haviam ficado pelo caminho. Uma boa despedida de Capaldi, mas um dos discursos mais fracos de um Doutor.

Nardole em Tim: Sem Fronteiras – O Filme

Veredito

Não é a melhor temporada de Doctor Who, mas marca a maior química de Capaldi com uma companion. Ele só foi começar a combinar com Clara a partir da nona, e com a Bill ele se encaixou logo de cara. Algumas histórias foram muito boas, outras nem tanto. Na despedida do roteirista Steven Moffat, o trabalho foi bem feito, tratando de algumas questões realmente interessantes, como o preconceito e o respeito às diferenças. Capaldi, o meu Doutor favorito até agora, vai deixar saudades, mas minha expectativa por Jodie Whittaker está alta.

Daft Punk no começo da carreira

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • A referência à Clara no primeiro episódio foi bem triste, mas pelo menos o especial do Armistício fez com que nossos corações se aquecessem.
  • Sobre o planeta dos emojis: eu é que não gostaria de viver com os robôs Skynet novamente. Imagina, você tá lá curtindo a bad e do nada é eliminado. Não seria muito agradável.
  • No terceiro capítulo, que assisti enquanto tomava sorvete, gostei muito do discurso do Doutor contra o racismo, muito bem escrito. E finalmente a chave de fenda sônica foi totalmente útil durante um episódio inteiro. Já a questão do Monstro do Lago Ness no Tâmisa cumpriu a cota padrão de monstros acorrentados em DW.
  • Confesso que eu tava com saudades do papel psíquico kk
  • Foi massa de ver a tradução na legenda com o termo “whitewash“, quando “embranquecem” algo, como no fato de Jesus ser representado como um homem branco de olhos claros. Eles traduziram como “a história foi desbotada”.
  • Eu devia ter adivinhado que o que estava no cofre era a Missy no momento em que ela tocou uma melodia cômica no piano após o Doutor dizer que jovens foram comidos.
  • Quando o Doutor ficou cego eu fiquei “ah, pronto”. Pelo menos foi tudo solucionado no final.
  • Eu definiria o sexto capítulo, “Extremis”, como uma espécie de Matrix herege. Ver um Papa mulher, uma lenda criativa, monges assustadores, o retorno do Doutor como presidente do mundo, a burrice dos líderes das nações e um governante laranja foi muito bom, mas o fim do arco foi meio nhé. Achei meio preguiçoso como acabaram com a ameaça em um espaço bem curto, dava pra ter estendido a história por mais tempo. Normalmente uma boa narrativa possui origem, ascensão e ruína, desenvolvidas sem pressa, mas as duas últimas partes ficaram muito corridas. Uma pena.
  • Adoro o jeito como o Doutor pronuncia a palavra “history“, não sei por que.
  • Incrível ver de onde os estadunidenses herdaram seu tão bobo patriotismo. Impressionante como os britânicos também amam a sua pátria.
  • A série demonstrando a sexualidade dos romanos é um tapa na cara de muita gente por aí. Ainda bem que não atenuaram esse ponto em Doctor Who.
  • Engraçado como o primeiro CyberMAN foi uma mulher. Adoro essas ironias.
  • Bill ficando com um buraco no peito foi meio sem sentido, ninguém nem pareceu triste na hora.
  • Chorei pra caralho no último episódio, e foi muito bom ver o antigo Mestre de volta, ainda que todo mundo já estivesse esperando por isso. O Doutor lembrando-se de todas as companions e dizendo as falas das regenerações, a Missy sendo morta pelas costas, tanta coisa boa.
  • Esperava mais do discurso do Doutor em sua despedida. Foi legal, mas nenhuma lágrima desceu, como costuma acontecer. Ainda assim, ele fará falta demais. E ah, a aparição do David Bradley como Primeiro Doutor foi sensacional, aliás.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Doutor
O auge do Capaldi, uma pena que nem todas as histórias fizeram jus a ele. Sua química com Bill foi digna de nota.

Você fará falta, Doctor Disco <3

+ Melhor episódio: S10E06 (“Extremis”)
O último foi o mais emocionante, mas esse foi o mais original e com a premissa mais cativante.

O “querido diário” mais estranho que eu já vi

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).