Drama, Séries

Adolescência (2025)

adolescência

• Masculinidade tóxica

Fazia tempo que eu não me sentia tão impressionado com a técnica de uma produção audiovisual. Ok, eu estou sempre assistindo a filmes e séries com excelentes atuações e direções, efeitos especiais incríveis e histórias extraordinárias. Mas o que eu vi em Adolescência é algo sem precedentes. Como assim cada episódio foi realmente filmado em plano-sequência? Eu jurava que eram cortes escondidos, mas não. Pra melhorar, a minissérie vai além e entrega um conteúdo forte e socialmente relevante.

 

Sinopse

Aos 13 anos de idade, Jamie Miller é acusado de assassinato. A polícia o leva em custódia e diz ter provas irrefutáveis da culpa do adolescente. Será que ele realmente cometeu aquele crime terrível? Se sim, qual foi a motivação por trás daquilo tudo?

Relações de poder

Crítica

Adolescência anda por caminhos não muito comuns em obras que tratam de temática similar. O primeiro episódio é impecável no sentido de captar rapidamente a nossa atenção e subverter as expectativas a respeito da proposta da série. O gênero de “true crime”, cujas histórias são baseadas em crimes reais, normalmente tem o assassino como personagem principal. As vítimas frequentemente são notas de rodapé e funcionam quase como recurso narrativo da trajetória do criminoso.

Em certa altura, Adolescência simula esse mesmo cenário, tece críticas sobre como a sociedade valoriza muito mais o criminoso do que a vítima e pode até soar contraditória ao apostar no mesmo modelo, mas o ponto é exatamente esse. A garota assassinada no contexto da minissérie é mostrada brevemente em alguns vislumbres e a família dela sequer aparece. Ela vira uma coadjuvante da própria morte, porque o foco é justamente expor a hipocrisia humana e mostrar como a família de um criminoso também se torna alvo de sofrimento.

Pra não ficar batendo somente nessa tecla da direção e do estilo de filmagem, Adolescência tem muitas outras qualidades. As atuações são de cair o queixo. Vocês conseguem imaginar o nível de concentração que uma pessoa precisa ter pra sustentar um personagem por cerca de uma hora, sem perder a compostura? Isso me lembrou bastante a experiência teatral, mas até no palco temos mudanças de cenas. Aqui não, é tudo uma coisa só.

O enredo, como eu pincelei lá em cima, constrói bem o que deseja pintar. Adolescência é, acima de tudo, uma história sobre sofrimento e que passeia por temas fortes, como masculinidade tóxica, a maneira como adolescentes são facilmente influenciados e a falta de orientação proporcionada aos jovens, que estão cada vez mais expostos ao perigo nos tempos atuais.

As faces do desespero

Veredito

Adolescência transborda ousadia, com interpretações surreais e um texto cuidadoso e de força acachapante. Não é uma produção fácil de digerir, mas vale a pena por ser impressionante visualmente, e também por colocar luz em um assunto que tende a ser negligenciado. Como evitar que uma criança adorável se torne um adulto detestável? Como lidar com um sentimento de culpa que não necessariamente se justifica? Como seguir em frente?

Imagina se alguém tropeça aí e tem que começar a filmar tudo de novo

 

+ Melhor personagem: Eddie Miller
O ator Stephen Graham é co-criador da série e brilha nesse quesito, mas se destaca ainda mais por sua interpretação ao representar um homem fragilizado e um pai que se esforça pra ser otimista, mas está quebrado por dentro.

(insira aqui o meme do Fábio Jr. com a legenda “pai”)

+ Melhor episódio: E01 (“Episódio 1”)
Cada capítulo é um filme, e todos eles têm o mesmo nível. Se você acha melhor o segundo, entendo. Se o terceiro é o auge na sua visão, faz sentido pra caramba. Se o quarto termina tudo com chave de ouro e por isso merece crédito, concordo contigo. Eu escolhi o primeiro por ser capaz de nos dar um soco no estômago e criar a ambientação necessária pros episódios seguintes.

Elenco fenomenal

 

CURIOSIDADES

  • Cada episódio foi filmado em um único take, na técnica de plano-sequência. O primeiro capítulo deu certo na 2ª tentativa, mas o último precisou de 16 tomadas. O segundo chegou ao 13º take e o terceiro, ao 11º.
  • A série marca a estreia do jovem Owen Cooper, de 15 anos, no ramo da atuação. O terceiro episódio, centrado na sessão de seu personagem com uma psicóloga, foi o primeiro a ser filmado.
  • Em caso de algum erro nos diálogos, os atores continuavam a cena, a depender do tamanho da falha. Se o erro fosse muito grande, a tomada precisava ser completamente reiniciada.
  • Como os episódios foram construídos em planos-sequência, integrantes da equipe também atuaram como figurantes, pois seria mais difícil escondê-los na produção.

 

FICHA TÉCNICA

Nome original: Adolescence
Duração: 4 episódios
País: Reino Unido
Criadores: Jack Thorne e Stephen Graham
Diretor: Philip Barantini
Elenco principal: Stephen Graham, Ashley Walters, Owen Cooper, Christine Tremarco, Faye Marsay, Erin Doherty

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO

 

  • É sério que uma galera não entendeu que o Jamie é 100% culpado? Obviamente a gente inicia a série duvidando de que ele seria capaz daquilo, mas ao longo dos episódios a resposta ficou bem clara, né. Acho preocupante como as pessoas perderam a capacidade básica de interpretação.
  • Um dia, eu assistirei novamente essa série com a visão de que tudo foi gravado em plano-sequência. Acho que vou enxergar com outros olhos. Será que houve diálogos em que os atores erraram, mas continuaram e improvisaram? Com certeza. Uma possibilidade é aquela cena em que a professora se esquece de apresentar a policial pra classe.
  • Que sequência espetacular a do Jamie com a psicóloga. Ela conseguiu desarmá-lo totalmente sem ele sequer perceber, e deu pra ver os relances do garoto que tirou a vida de uma pessoa inocente pela primeira e única vez na série. Grande trabalho dos dois atores envolvidos. E que cara chato aquele funcionário que ficava toda hora querendo puxar assunto com a psicóloga, pqp.
  • É óbvio que quem mais sofre nessa história é a família da garota assassinada, mas também fiquei pensando bastante no quanto a vida da família do Jamie foi impactada. Eles meio que perderam um filho também, porque nada será como antes. Qual é pior, receber a notícia de que sua filha morreu ou de que seu filho adolescente matou alguém? Questionamento difícil, viu.

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).