• Mais um risco de Shyamalan
Opa, bão?
Eu confesso que preciso rever alguns filmes do Shyamalan. Tenho um pé atrás com muita coisa que vi, mas os últimos trabalhos deles me deixaram intrigado.
Em Tempo, eu gosto da proposta, mas não gosto do direcionamento final do longa.
Em Batem à Porta eu gosto demais, só acho que ele enrolou mais que precisava para contar a história.
Aqui em Armadilha é parecido com isso, mas o que eu posso afirmar nesses três últimos longas é que ele voltou a escolher muito bem suas premissas e ideias.
O marketing do filme trabalhou com a ideia de um serial killer em um show da Taylor Swift. É uma ideia legal, divertida, mas que não vai sustentar o filme inteiro e, provavelmente, vai desapontar quem foi para o cinema esperando só esse jogo de gato e rato em um espetáculo musical.
Um dos pontos que atrapalham o filme é justamente quando ele busca quebrar essa dinâmica, quando o pai e a filha saem do show e vão para outro ambiente.
Para mim, toda essa dinâmica é afetada por conta da montagem que buscava manter o ritmo através disso. É um pecado mortal? Lógico que não, mas mais uma vez um filme do Shyamalan parece estender o cenário mais do que precisava para contar a história. Ainda assim, os primeiros cenários e os últimos momentos de Armadilha são incríveis.
Eu destaco o final porque, para muitos que ouvi ou li as críticas, é um típico final explicador do Shyamalan. Sinceramente, a exposição de como os policiais chegaram até a informação de que o serial killer estaria no show, não só é um tico plausível como ainda serve de confirmação para quem ainda tinha lá suas dúvidas.
Acredito eu que o problema maior está no fato de ser falado muito mais do que mostrado. A mim, não incomoda tanto assim, mas para muitos esse pode ser que estrague o filme por completo.
Uma coisa não se pode negar quanto ao desfecho do filme: o close final de Armadilha é simplesmente espetacular.
Esse final me remete a duas coisas que foram as melhores do filme, sem sombra de dúvidas.
A primeira é o olho e o direcionamento que o Shyamalan tem para guiar seu filme. Ele parece saber onde nossos olhos querem estar nas situações e consegue nos colocar exatamente ali, como se conversasse conosco.
O segundo ponto e talvez o maior destaque do filme para mim está na atuação do Josh Hartnett, que performance incrível.
Eu conhecia o trabalho dele de 30 Dias de Noite, acho que muitos lembram, mas aqui é muito bom como ele passeia pelo carinha legal e o serial killer com uma suavidade muito convincente, até porque esconder esse fato de nós é impossível, então ele transforma isso quase em uma dança de personalidades. Principalmente na hora do show.
Isso, com esse direcionamento brilhante que tem o diretor para sua mise en scene, é um convite prazeroso para um bom ator brilhar.

É só elogios para Armadilha? Infelizmente não.
A exposição nos diálogos não me atrapalhou tanto quanto as conveniências que o filme traz nos seus primeiros momentos. Por mais que sejam boas, ficamos sempre com ideias valiosas e soluções baratas.
Sempre tinha alguém para falar algo que facilitasse sua escapada, ou um desatento que deixava esse cara entrar nos lugares ou mesmo roubar uns comunicadores da polícia.
Fazer o público se conectar com um serial killer para ver se ele vai conseguir escapar ou não é uma tarefa árdua, mas fazer isso com tantas conveniências pode ser o que deve tirar muita gente das salas de cinema nos primeiros momentos do filme.
Outro ponto negativo ainda está com a filha do diretor. Saleka Shyamalan interpreta a cantora que o serial killer e sua filha vão ao show. O que quebra é que ela parece não ter nenhuma “presença de palco” para interpretar essa cantora toda que o filme vende.
Ela até consegue entregar algo melhor na segunda parte, mas a minha falta de conexão com essa personagem no primeiro momento foi tanta que talvez seja esse o problema que deixou o segundo momento do filme mais chatinho.
Armadilha é instigante e divertido. Talvez seja um dos filmes que o diretor mais brincou com a comédia nesses últimos anos e isso mostra o quanto ele decidiu se arriscar mesmo nesse projeto. Eu admiro o Shyamalan por isso e, embora eu tenha me divertido mais nesse longa, acho que é um filmezinho medíocre que derrapa sempre após conseguir fazer o mais difícil.
Sem o Josh Hartnett no papel principal, acho que os contras seriam bem maiores do que os prós neste filme aqui.
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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e não necessariamente está alinhado às ideias dele.