• Ciclo de vingança
Uma adaptação não precisa ser 100% fiel ao conteúdo original. Repitam comigo: uma adaptação não precisa ser 100% fiel ao conteúdo original. Se você tem tanto apego assim por uma obra e deseja vê-la do jeitinho que ela é, te aconselho a não consumir uma releitura. Dito isso, a partir do momento que uma adaptação toma a decisão de alterar algo estrutural do conteúdo original, ela precisa ter a certeza de que essa mudança fará sentido ou ficará tão boa – ou às vezes, até melhor – do que aquilo visto antes. Infelizmente, não é isso que ocorre na 2ª temporada de The Last of Us.
Sinopse
Alguns anos após Joel exterminar os Vagalumes e salvar a vida de Ellie sem ela saber a verdade por trás desse ato, a dupla leva uma vida relativamente tranquila em Jackson. No entanto, algo parece ter se rompido entre pai e filha. Esse rompimento ganha contornos de tragédia quando um misterioso grupo, liderado pela sanguinária Abby, busca vingança.

Crítica
A 1ª temporada de The Last of Us foi muito competente ao pegar a base do primeiro jogo, manter a essência, adicionar situações, complementar outras e trazer uma visão diferente de uma mesma história. Na 2ª temporada, a série tenta repetir a mesma fórmula, mas acaba removendo partes quase imprescindíveis para o sentido da trama.
Eu não quero reduzir a minha crítica somente a comparações com o jogo, até porque são mídias diferentes. Acho que a estratégia de substituir a vingança cega do game pelo desespero da série poderia funcionar, mas a estrutura da 2ª temporada é bastante bagunçada. Após uma introdução que me fez torcer o nariz por descartar um poderoso elemento narrativo, a série até me motivou a deixar isso de lado após dois excelentes episódios em sequência. O problema é que é um conjunto pra lá de irregular.
Vamos falar de Bella Ramsey. Não, eu não tenho muitas críticas negativas à atriz. É inegável que a Ellie saiu da melhor personagem da 1ª temporada para uma protagonista que não consegue encontrar o seu tom dentro do enredo na 2ª. Isso, meus amigos, é culpa do roteiro. Ou vocês acham que a Bella Ramsey foi quem decidiu que a Ellie deveria agir como uma adolescente, mesmo com 19 anos de idade? E, pra aqueles que citam as diferenças da caracterização física entre a Ellie da série e do jogo, não vou nem perder meu tempo. Até porque a Bella da 1ª temporada capturou perfeitamente a alma da Ellie do primeiro jogo. A questão é que os roteiristas se esqueceram de que a Ellie não é mais uma garota de 14 anos na 2ª temporada.
Na parte dos cenários, construção de mundo, maquiagem, fotografia e efeitos sonoros, The Last of Us continua irretocável. O meu único porém é em relação à falta de infectados, assim como ocorreu na 1ª temporada. Aqui, eles parecem ainda mais ausentes, com exceção dos dois primeiros episódios. Eu sei que há uma mudança de dinâmica em que os seres humanos assumem os holofotes de vilania, mas em determinados momentos eu até me esquecia de que estava vendo uma série de “zumbis”. Com isso, parte do diferencial foi perdido.
A história da 2ª temporada oscila demais, e sem necessidade. Há algumas novidades, em relação ao jogo, que entendo como bem positivas – a psicóloga interpretada por Catherine O’Hara, a invasão em Jackson e um foco ligeiramente maior em Isaac estão entre elas. Contudo, a série opta por se distanciar do conteúdo original de modo que torna a história pior, e não diferente, como aconteceu na 1ª temporada. Além disso, ainda apressa alguns acontecimentos, perde tempo precioso com outros e tem bem menos sutileza do que sua antecessora.

Veredito
Eu sou fã de carteirinha do universo de The Last of Us. Eu tenho uma tatuagem de Joel, Ellie e uma girafa na minha perna, pra começo de conversa. Apesar dessa minha paixão, eu tenho maturidade suficiente pra entender que uma adaptação televisiva tomará caminhos diferentes do jogo. Porém, esses caminhos são às vezes mal trabalhados na 2ª temporada, que poderia ter sido beneficiada com um número maior de episódios, e alternam entre fragmentos de muita inspiração e genialidade, e outros de frustração e desapontamento. Ainda é uma ótima série, mas há uma clara queda de qualidade em comparação à 1ª temporada e um medo inexplicável de pesar a mão na desconstrução da protagonista.

+ Melhor personagem: Dina
Eu não dava nada por Isabela Merced no papel de Dina, apesar de ter gostado da atuação da atriz em Alien: Romulus, por exemplo. No primeiro episódio, ela me deu a impressão de que, assim como a Ellie, seria meio infantilizada, mas cresceu absurdamente ao longo dos episódios e pra mim roubou a cena no conjunto da obra.

+ Melhor episódio: S02E02 (“Through The Valley”)
Provavelmente o episódio mais intenso da série até o momento, com altas doses de tensão, adrenalina e surpresa.

CURIOSIDADES
- Ao contrário do jogo, a motivação de Abby na série é exposta logo na primeira cena da temporada. No game, nós só conhecemos as nuances de sua história depois de muitas horas de jogatina.
- Steven Yeun (Glenn, de The Walking Dead), Simu Liu (Shang-Chi, da Marvel), Ross Butler (Zach, de 13 Reasons Why) e Brian Tee (Ethan Choi, de Chicago Med) foram considerados para viver Jesse. Young Mazino ficou com o papel.
- Apesar de se distanciar do jogo em alguns momentos, The Last of Us segue emulando diversas partes icônicas do conteúdo original. Uma dessas cenas é a dança de Dina e Ellie, idêntica ao game.
- Bella Ramsey (Ellie), Isabela Merced (Dina), Kaitlyn Dever (Abby), Tati Gabrielle (Nora) e Ariela Barer (Mel) foram convidadas a estrelar a 3ª temporada de Euphoria, mas tiveram conflitos de agenda com TLOU.
FICHA TÉCNICA
Nome original: The Last of Us
Duração: 7 episódios
País: EUA
Criadores: Neil Druckmann, Craig Mazin
Diretores: Craig Mazin, Mark Mylod, Peter Hoar, Kate Herron, Stephen Williams, Neil Druckmann, Nina Lopez-Corrado
Elenco principal: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Gabriel Luna, Isabela Merced, Young Mazino, Kaitlyn Dever, Catherine O’Hara
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO
- Sério, por qual motivo a série decidiu mostrar a motivação da Abby logo de cara? Pra mim um dos maiores trunfos da personagem no jogo é fazer com que a gente crie um ódio por ela, que aos poucos muda de figura com a explicação por trás de seus atos. Ao sabermos logo de cara que ela tá atrás do Joel, perdemos o elemento surpresa quando eles se topam, e não consigo pensar em nenhuma explicação que justifique essa mudança importante na narrativa.
- Eu, naturalmente, já sabia o que aconteceria com o Joel, mas conversei com meu pai e ele continua chocado até hoje. “Como é que matam o cara desse jeito?”, ele me perguntou. “Que mulher cínica aquela, hein?”, disse ele, referindo-se à Abby. Toda a cena foi muito bem construída, temos de admitir. Sendo um pouco chato, eu acho que a morte por perfuração no pescoço me deu uma sensação mais anticlimática do que se tivesse sido outro golpe do taco, mas tudo bem. Não estou sendo sádico, juro.
- A sequência do Tommy enfrentando o Bloater foi sensacional. Eu fiquei com medo real do personagem morrer naquele momento, e acredito que tenha sido a cena mais tensa da temporada.
- Eu não me oponho totalmente à Ellie fazer brincadeiras aqui e ali, mesmo aos 19 anos de idade. Porém, a decisão de avançar a história em meses faz com que o peso da morte de Joel fique mais diluído, e não consigo entender como a Ellie tá constantemente de tanto bom humor em Seattle, ainda mais com a motivação de se vingar da Abby no processo. E eu gostei da química entre ela e a Dina, só acho que faltaram mais elementos dramáticos.
- Outra coisa que gostei foi a morte de Owen e Mel. Sim, eu acho que a temporada deveria ter tido mais episódios pra construir melhor toda aquela sequência de eventos. Por exemplo, não faz sentido os serafitas terem deixado a Ellie viva, sendo que era só dar um golpe no peito dela. Mesmo assim, o desespero da Ellie ao ver a Mel grávida foi até melhor do que no jogo, arrisco dizer.
- Queria que o Jesse tivesse sido mais desenvolvido. Essa temporada precisava ter tido 10 episódios, até pra desenvolvê-lo melhor. Quando ele começou a ganhar mais espaço, no último episódio, morreu. Mesmo assim, deu pra sentir a perda.
- E aí, pessoal que nunca jogou o game, o que esperam da 3ª temporada de The Last of Us? Acham que vão conseguir simpatizar com o lado da Abby na história? Quem vocês acham que levou o tiro no final da 2ª? Saberemos em 2043, provavelmente.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?