Drama, Séries

13 Reasons Why: 2ª Temporada (2018)

• Verdade e consequências

Olha, vou direto ao ponto: minha função aqui não é ser psicólogo. Por isso, não esperem que eu dê conselhos e critique a forma com que os assuntos polêmicos desta série são tratados, eu tô bem longe de estar preparado para tal assunto. Vou me limitar somente a analisar 13 Reasons Why como série, como se fosse um entretenimento qualquer e não um universo que toda vez que é abordado gera polêmica. Agora que fiz essa introdução, vamo que vamo falar da segunda e desnecessária temporada do tesouro da Netflix.
Eu tava com medo pra caralho do que estava por vir. Quando terminei a primeira temporada, achei foda pra caramba e, embora eu tivesse ficado curioso pra saber qual seria o destino de cada um dos personagens, aquele era um desfecho mais do que perfeito. Quando a Netflix confirmou a continuação, rolei os olhos. Será que prestaria uma história que já tinha sido sugada por inteiro da obra original, exigindo que um novo roteiro fosse feito? Aquela expectativa pairou no ar por meses. O trailer enfim saiu e confesso que me surpreendi. Embora a ideia dos polaroides tenha soado como uma espécie de Fitas 2.0, não vou mentir e dizer que achei broxante. Fiquei interessado pelo que viria a seguir e o desânimo deu lugar à curiosidade. Quem sabe eles conseguiram transformar a trama em uma coisa realmente inteligente?, pensei comigo mesmo. E então fui com meu irmão mais novo maratonar 13 Reasons Why.
Um dos maiores pontos positivos da primeira temporada permaneceu em sua sequência: a capacidade de viciar o telespectador. Vi muita gente dizendo que ficou com sono durante os episódios, mas não foi isso que aconteceu comigo e com meu irmão. Cada capítulo nos instigou a começar logo o próximo, e no primeiro dia assistimos não menos do que seis episódios. Meu pai, que assistiria com a gente, ficou até assustado com a quantidade de coisa que ele teria que ver para nos alcançar. Porém, capacidade de prender o telespectador não quer dizer que se trate de um enredo bem escrito. Em diversos aspectos a temporada é bem inferior à primeira, vamos listar cada um deles.
Hannah Baker está de volta. No trailer, ela apareceu e gerou burburinho nos fãs. Cheguei até mesmo a ver teorias de que ela na verdade não tinha morrido e fui ficando cada vez mais apreensivo. Entretanto, a desculpa que a série dá para retornar com a personagem interpretada pela talentosa Katherine Langford não é essa, graças a todos os deuses. Isso, no entanto, não significa que a presença dela seja algo original. Hannah Baker volta para 13 Reasons Why não como uma personagem regular, na maior parte do tempo ela é simplesmente a consciência de Clay. No começo, dá até preguiça da escolha óbvia e sem originalidade do roteiro, mas o recurso acaba funcionando principalmente por causa da notória química entre os atores.
Outra escolha um pouco ruim foi a exposição de partes do passado de Hannah que nem chegaram a ser mencionadas na primeira temporada. Eu entendi o que os produtores quiseram fazer, mostrar que toda história possui dois lados e tudo mais, só que a impressão que ficou é que eles introduziram algumas coisas na vida dela simplesmente como plot twists pra manter o interesse do público, não duvido dessa ter sido a intenção original. E já que estamos falando de elementos da trama, 13 Reasons Why até tenta, mas não consegue chegar perto da força dos arcos envolvendo as fitas. A segunda temporada parece um eco da primeira, introduzindo as polaroides que inclusive possuem uma conclusão um tanto quanto decepcionante e mantendo os dilemas dos personagens. Alguns deles são pertinentes e funcionam, como todo o sofrimento envolvendo Jessica, mas outros perdem fôlego e não agregam no resultado final.
Contudo, o maior problema para mim não é nenhum destes elementos listados acima. O que mais inferiorizou tudo foi a tentativa da Netflix de fazer justiça social a todo momento. Bom, devo ter cuidado a partir de agora para não ser mal interpretado, vamo lá. Temas como machismo, depressão, assédio e bullying são importantíssimos e devem ser discutidos. Isso foi feito de maneira excelente na primeira temporada, mas na segunda tudo parece forçado. Os diálogos com este fim parecem ter sido feitos por alguém do Twitter querendo lacrar e a investida que poderia ser extremamente produtiva acaba caindo no clichê. Nas Observações Spoilentas vou citar uma destas cenas para vocês poderem entender, mas aqueles que ainda vão assistir talvez entendam na hora do que eu tô falando.
No saldo geral, definitivamente 13 Reasons Why caiu a qualidade. O que salva a série e que me fez dar uma nota relativamente alta foi justamente a capacidade que 13RW teve de me viciar, algo que eu levo muito em consideração aqui no Pitacos. A interação entre os atores e os personagens que já conhecemos também surgem como pontos positivos, além da série conseguir desenvolver alguns arcos de modo satisfatório. A terceira temporada já está confirmada e eu sinceramente não sei o que esperar. Se eu achava que não havia conteúdo o suficiente para uma sequência da primeira, pois imagine agora. Não vou torcer contra, porque não quero assistir coisa ruim. Todavia, não é uma continuação que eu estou exatamente animado para ver. Um pouco curioso, talvez. Animado, com certeza não.

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Acho que a primeira coisa que eu tenho que comentar aqui é a chocante cena do último episódio, né. Puta merda, que pesado. Por algum motivo, eu não fiquei tão traumatizado assim, mas meu irmão ficou de queixo caído. Realmente não sei se os produtores fizeram o certo ao mostrar uma cena tão gráfica igual aquela, mas eles tocaram em um ponto interessante que quase nunca é abordado em filmes e séries: violência sexual com homens. Infelizmente, é algo que deve acontecer com MUITA frequência ao redor do mundo e ninguém nunca fala nada. Pelo menos eles deram início a essa discussão.
  • Gostei pra caramba da relação fraternal entre Clay e Justin, com certeza uma das melhores coisas da temporada.
  • Um que ficou bem mais sem gracinha foi o Alex, né. Era legal a relação dele com o Zach e tudo mais, sobretudo aquela cena em que ele tem a ereção (aliás, ele é bi?). Quanto ao restante de sua trajetória, pra mim ficou meio chatinha.
  • O que foi aquilo com a Hannah ter perdido a virgindade com o Zach??? Tipo, não fez nenhum sentido se for levar em conta o que havia sido construído até então, mesmo que tenha ficado legal. Com essa revelação, chego novamente à conclusão de que a Hannah foi bem cuzona com ele ao colocá-lo nas fitas. Poxa, o cara era super gente boa, o único defeito grande era defender o Bryce. Ainda assim, analisando sua personalidade, ele não poderia ser considerado como mais uma vítima? Com certeza ele foi um dos que mais sofreu com o suicídio dela.
  • Sobre as novas personagens Nina e Chloe: elas têm os seus momentos. Todas as decisões tomadas por elas são de fato muito reais, principalmente as da namorada do Bryce. Ela recuando no julgamento dele foi um ótimo marco, ainda que previsível.
  • Beleza que o Tony devia uma pra Hannah, mas mesmo assim pareceu uma justificativa meio nada a ver pra ela confiar as fitas pra ele. Sei lá, não me convenceu.
  • Courtney e Ryan pra mim tiveram redenção. Quanto ao Marcus, vai se foder.
  • Meio perigoso eles colocarem o Tyler representando os atiradores de escolas. Colocá-los como simples vítimas do sistema não é muito preciso, nada justifica matar pessoas inocentes. Resta saber como eles vão tratar deste assunto na temporada que vem, porque claramente vai ser um dos focos.
  • Muito triste ver que a Ana Bacon™ tinha uma lista de “Razões para Não Fazer”. Mais triste ainda pensar que esta última relação tinha menos tópicos.
  • E prêmio de casal mais sem química vai paraaaaa Clay e Skye!
  • MANO QUE COISA MAIS NADA A VER ELES TEREM DEIXADO O ALEX LEVAR O MONTGOMERY SOZINHO VEEEEEI QUE IDIOTA KKKKK IGUAL QUANDO O CLAY RESOLVEU DEIXAR A CAIXA DE FOTOS NO BANCO DO CARRO. DO CARRO, VELHO!!!! E AH, ALIÁS, AQUELE MONTGOMERY CONSEGUE SER PIOR QUE O BRYCE NÉ, PQP
  • Ah, sobre a cena que eu disse que ficou forçada na intenção de ser didática pro telespectador: aquela em que a Sheri explica pro Clay sobre como é ser mulher no mundo. Pô, não poderiam ter deixado as falas um pouco mais naturais não? É um tema que precisa urgentemente ser discutido, mas ficou muito abaixo do esperado. Detalhe que a série colocou toda a responsabilidade de alguém desinformado no Clay, meio que tirando boa parte da graça dele. Ai, ai.
  • Vai dar uma merda gigante aquele namorado da mãe do Justin observando ele… ai, meu coração.
  • Arrepiou pra caramba aquela cena de todo mundo abraçando o Clay. Digna de nota.
  • Será que o fdp do Bryce vai se dar mal em algum ponto da história?

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Justin Foley
De longe aquele que mais evoluiu e mais apresentou algo diferente na trama geral da temporada.

Dá vontade de abraçar ele

+ Melhor episódio: S02E12 (“The Box of Polaroids”)
Nenhum dos capítulos exatamente se destacou, todos tiveram momentos bons e ruins. Este aqui, no entanto, talvez tenha sido um pouco mais marcante em alguns elementos.

Meu cabelo fica desse jeito de manhã

+ Maior surpresa: Kevin Porter (menção honrosa a Zach Dempsey)
Eu realmente não esperava que ele fosse reagir desse jeito depois de toda a polêmica com as fitas. Foi uma surpresa agradável em relação à primeira temporada. Courtney e Ryan também entram nesta lista.

Harry Porter e a Câmera Secreta

+ Maior decepção: Clay Morrow
É com peso no coração que eu dou este prêmio ao meu personagem favorito da primeira temporada. Devido a algumas decisões erradas do roteiro, o protagonista de 13RW ficou meio chato, com ações desinteressantes e irritantes. Em alguns momentos lampejos do antigo Capacete apareciam, mas nada que salvasse a queda brusca do personagem.

Nunca pensei que veria um band-aid numa argila

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).