Ficção científica, Séries

Orphan Black: 5ª Temporada (2017)

• No topo da cadeia evolutiva

Foi bom enquanto durou. Teve clones e mais clones, aventuras, comédia, nomes estranhos, genética e ainda mais clones. A jornada incrível de Orphan Black enfim chegou ao seu desfecho; não de um modo incrível a exemplo da primeira temporada, mas de um modo decente o suficiente para nos deixar um pouco órfãos* da série.
Para fazer a minha crítica da quinta e última temporada, é necessário voltar às origens. O pontapé inicial da obra produzida pela BBC America e recentemente distribuída pela dona do mundo, também conhecida como Netflix, foi uma das melhores introduções que eu já vi na minha breve vida. A ideia de ver alguém se suicidar na sua frente já é bastante louca por si só, agora ver alguém que é EXATAMENTE IGUAL a você se suicidar na sua frente é no mínimo insano. Assim começou a crônica de Sarah, uma garota londrina (da Inglaterra, não do Paraná) rebelde e punk, a qual tem uma filha especial e um irmão adotivo que rouba a cena na maioria das vezes – ou costumava fazer isso, pelo menos. A história se desenrola e Sarah descobre sobre o paradeiro do que viu na estação de trem, ingressando num mundo de conspiração, ciência e interesses.
Alison, Cosima, Helena, são inúmeras as clones interpretadas pela espetacular Tatiana Maslany. É inegável que a atriz é o ponto alto do seriado, pois representa diferentes personalidades ao mesmo tempo que nos faz acreditar que quem está ali é mais de uma atriz, sendo que na verdade é só ela fazendo todo o trabalho. A única atuação ruim dela foi com Tony, um clone transsexual que foi tão mal escrito que a série até desistiu de investir no personagem. Fora isso, as melhores representações de Tatiana são com as faces de Alison, Helena e Rachel, mas é até injusto com as outras que também são sensacionais, como a própria Cosima e clones menos badaladas, como a Krystal. Na última temporada isso se mantém, e a presença da camaleoa é a única característica da série a nunca perder a qualidade.
Quando seguimos a linha dos personagens, é possível notar algumas quedas. Comecemos por Felix. O divertido irmão de Sarah foi introduzido com uma grande individualidade, e não somente por ele ser engraçado e espontâneo, mas sim por sua coragem, lealdade e uma certa solidariedade. Porém, a partir da terceira temporada mais ou menos, Orphan Black optou por voltar as atenções para as partes científicas da trama, deixando de lado todo aquele elemento frenético e abrindo mão de pessoas como Felix. Essa abdicação de um ritmo acelerado de enredo prejudicou o andamento da série, e os episódios passaram a ficar menos interessantes, sobretudo para alguém que não assistiu a todas as temporadas uma logo após a outra. Se você acompanhou enquanto ela era lançada, provavelmente sentiu dificuldade em decorar os difíceis nomes e a história complexa, e a série poderia pelo menos ter feito um resumo mais elaborado de tudo que acontecera até ali.
É claro que não tinha como a obra seguir a mesma cadência do primeiro ano de produção. Se fosse um filme, talvez seria possível, mas em uma série é preciso dosar os momentos de ação e dar um tempo pra explicar o background. A segunda temporada faz isso bem, dando sequência à história interessante que estava sendo criada, mas depois da terceira as coisas ficaram mais lentas – e não de um modo bom. Os produtores nos apresentam um plot twist imenso ao descobrirmos que a Neoevolução desenvolveu clones masculinos, e dá continuidade de modo muito bem feito com uma personagem hermafrodita, Kendall Malone. No entanto, a temporada não empolga. Mesmo com tantas premissas boas, a temporada não empolga. A quarta foi um pouquinho melhor, mas longe de ser tão legal quanto as duas primeiras. A quinta é praticamente do mesmo nível que a anterior, mas esbarra em erros bobos e desenvolvimentos preguiçosos de enredo. Algumas dessas falhas vou listar melhor nas Observações Spoilentas lá embaixo, pra não soltar spoiler. Sim, eu sou legal assim. O que dá pra afirmar aqui é que um dos pontos negativos foi o vilão principal, que não gera nem um pingo de ameaça mesmo sendo o chefão final da porra toda, uma espécie de Shao Kahn da ciência.
Além disso, algumas decisões que a obra toma são um tanto quanto anti-climáticas. Alguns momentos que poderiam ter sido muito mais emblemáticos perdem brilho, e isto é fruto de uma falta de interesse causada por uma história complexa demais pra ser acompanhada sem recapitulações. Adicione isso ao fato de que tudo na temporada final parece um tanto apressado, como a terceira de Penny Dreadful. O último episódio amarra quase todas as pontas, faz a gente ter uma certa nostalgia. Porém, se for comparar com season finales de outras séries, a de Orphan Black parece que perde destaque. Até a de Dexter, tão criticada pela comunidade, foi capaz de transmitir mais emoções, ainda que em sua maioria tenham sido de ódio.
A verdade é que Orphan Black foi uma série de momentos. Deixando um pouco de lado o Método Lelecos de avaliação, pra mim é como se a série tivesse começado com uma nota 10, caído pra 6,5 e terminado com um saldo final de 7, ou pelo menos algo do tipo. É uma obra que em nenhum momento ficou ruim, mas que poderia ter sido muito melhor do que foi devido ao seu potencial. Não sei se a BBC teve que apressar o final da série para que ela não fosse cancelada, até porque não é uma temática que fisga todo mundo. Se esse foi o caso, eu entendo o fato de algumas falhas nesta temporada final, mas não justifica muito os erros do passado. De qualquer forma, Orphan Black não termina tão bem quanto começou, mas entrega aos fãs uma conclusão boa o bastante para darmos um adeus digno a esse mundo repleto de clones.

 

*Não faço ideia se essa é uma expressão usada por todo mundo, mas aqui em casa, quando terminamos uma série, um jogo ou um filme, costumamos dizer que ficamos “órfãos” daquilo que a gente finalizou. Só tô deixando isso aqui pro trocadilho fazer sentido.

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Cara, a morte da MK foi brutal. Ela não era uma personagem favorita minha, mas seu jeito era muito legal. Sobre a maneira como ela partiu, nunca tinha visto aquilo sendo feito em uma série ou filme antes, alguém ser pisoteado daquela maneira. Confesso que me transmitiu um pouco – um pouco – da sensação que tive com aquela morte na quarta temporada de Game of Thrones. O Ferdinand é um fdp de marca maior. Eu nunca tinha prestado muita atenção nele ao ponto de me importar com o que ele fazia. Entretanto, não satisfeito depois de assassinar a MK, o cara vai e mata uma das personagens mais queridas da série. Porém, deixa isso para um outro tópico.
  • A Kira Revoltada™ pode ser um pouco irritante, mas era de se esperar. A Sarah fica tão focada em fugas que às vezes não percebe o mal que isso faz para a filha, mesmo que ela o esteja fazendo pelo bem da própria. Por isso, não julgo nossa querida criança especial.
  • O terceiro episódio foi muito bom por se tratar de uma redenção. Talvez não tenha sido o mais importante pra história, mas o modo como o capítulo aborda os dramas e as inseguranças de Alison foi bonito de se ver, pois se estivéssemos na cabeça dela, possivelmente também nos sentiríamos inúteis diante de companheiras tão fortes. E foi legal também os flashbacks da Ainsley e do Chad, ficou bem com clima de final de série.
  • Impressionante como na cena em que a Alison tá chorando pro Donnie é como se os trejeitos dela estivessem parecidos com os da Cosima. O mais impressionante é que é só uma atriz, que pela atuação fica parecendo mais de uma, e às vezes é como se desse pra perceber traços de umas nas outras e aaaa não sei explicar direito.
  • Donnie vomitando no balde pareceu muito o Rony Weasley em Harry Potter e a Câmara Secreta kkk
  • Felix pintando pelado e voltando da Europa deu indícios daquele antigo Felix, assim como no episódio da exposição artística. Queria que não tivessem deixado ele tão pra escanteio com o passar do tempo.
  • Aquele “monstro” na ilha da Neovolução foi bem decepcionante. O clima de suspense foi criado de modo perfeito, me fazendo esperar um bagulho bem louco. Aí os caras me vêm com um cara doido e careca. Não dá, né?
  • E por falar nele, tenho que pelo menos dar os créditos em uma coisa. Apesar da apresentação de Yanis (ou Laurel?) ter sido anti-climática, todo o negócio envolvendo a sua morte foi comovente. E aproveito esse tópico para deixar meu Descanse em Paz para personagens menores, como a garota Aisha e Gracie, que na terceira temporada foi bem importante, além do fim dos clones Castor.
  • A Mud é muito fofinha, vontade de botar ela num pote. Apesar de sua ingenuidade, eu curti a personagem, e fiquei novamente com uma impressão anti-climática depois da série simplesmente ignorá-la e nem mostrar seu paradeiro. Pra mim isso foi um defeito enorme.
  • P.T. Westmorland é o cara mais hipster do mundo, velho. Até o nome do cara é diferentão. Eu ainda pensei em fazer algumas piada com o Partido dos Trabalhadores presente em seu nome, mas certeza que alguém levaria pro lado de ideologia política e eu morro de preguiça desse assunto. Melhor deixar pra lá.
  • A participação da Krystal, embora pequena, foi muito boa. E aqui vai um fun fact pra vocês: o ator que interpreta o peguete dela naquele episódio, Tom Cullen, é o namorado da Tatiana na vida real.
  • Agora vamos falar da morte de Siobhan. Infelizmente, o acontecimento não teve impacto nenhum pra mim – mas dessa vez foi culpa minha. Certo dia, eu estava assistindo à série com meu pai, e eu não havia dormido muito na noite anterior. Por isso, falei para ele que só aguentaria um episódio, e ele disse que estava na mesma situação. Esse foi o pacto inicial, mas o capítulo 7 inventou de terminar com a Rachel arrancando o próprio olho, nos deixando ansiosos pelos próximos acontecimentos. Eu sabia que era melhor eu ir deitar, mas não tinha sentido sono até ali, e não quis acabar com a graça do meu pai que já estava clicando no próximo episódio. Segui o fluxo. No começo fui assistindo de boa, mas foi então que os olhos começaram a pesar. Toda a sequência da exposição de arte foi como um borrão, eu consegui captar o principal mas pescava toda hora. Quando não podia ficar pior, o episódio vai e acaba com aquele embate entre a Sra. S e o Ferdinand, e nem enquanto ela morria meu sono deu uma trégua. Logo depois daquilo, deixei o celular pra carregar e desabei na cama, perdendo todo o choque que eu poderia ter tido com o acontecimento. Uma pena. De qualquer forma, eu já sabia que alguém importante iria morrer por causa do meu irmão, mas isso já é outra história.
  • Exemplo de roteiro preguiçoso: Helena quase se matou pra proteger os bebês, cortou os pulsos e começou a sangrar loucamente. Quando parecia que não tinha salvação, Sarah simplesmente chega e tudo fica bem, ainda que aparentemente a Helena tivesse cortado uma artéria. Outro exemplo foi a situação da Mud que mencionei ali em cima, o fato dela ter sido completamente deixada de lado.
  • Confesso que fiquei revoltado com o fato deles nem terem mencionado o Cal, pai da Kira. Ponto negativo. E por falar nisso, alguém sabe o que aconteceu com o Dizzy, da temporada passada? Não tô lembrado.
  • 14 clones brasileiras no mundo, aehooooo
  • Pode parecer meio idiota o que vou perguntar, mas por que nenhuma clone é gordinha? Tem alguma parte na genética delas que obriga todas a terem o mesmo peso, ou isso foi feito simplesmente porque seria difícil de representar na série? Fica o questionamento.
  • Ponto positivo: a cena do parto da Helena. E olha que eu tenho agonia de cena assim, principalmente por causa da situação em que ela se encontrava.
  • Nada como um final feliz pra abrandar as mortes da temporada. Só fiquei tristão pela Rachel, que teve o fim mais amargo das clones. E ah, a Sarah foi tipo eu no Enem, só que no meu caso eu fiz foi não passar mesmo. Duas vezes.
  • Ainda não entendi por que a história da Helena se chama “Orphan Black”, mas beleza kkk talvez tenha algo a ver com a Sarah ser a ovelha negra e teoricamente uma órfã, sei lá. Se alguém souber me ajuda aí nos comentários.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Rachel Duncan
Com sua fome de poder e vontade inabalável, Rachel é uma das clones mais fortes da série, mesmo que suas ações gerem revolta em algumas ocasiões. Na temporada final de Orphan Black, ela é disparadamente a melhor, nenhuma outra chega sequer perto dela.

Tá aí um puta comprimido grande

+ Melhor episódio: S05E07 (“Gag or Throttle”)
Bom, sei que a maioria das pessoas achou o 8 melhor, e não julgo. No entanto, por razões que foram explicadas nas Observações Spoilentas e pelo fato desse capítulo trazer vários acontecimentos relevantes e poderosos, fico com ele. Menção honrosa ao 8 e ao 3, este último bastante delicado e desenvolvendo uma personagem que merecia o espaço concedido a ela.

Ela é a Kira da mãe, né?

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).