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Mickey é um trabalhador cuja única função é morrer. Cada vez que isso acontece, sua consciência é transferida para uma outra versão do próprio corpo. Durante uma expedição, a confusão impera quando uma nova versão sua é criada antes que a anterior fosse destruída.

Eu não acho que Mickey 17 seja impecável, mas é reconfortante ver uma produção em que o diretor arrisca algo de diferente, sem medo de cair no formulaico. Bong Joon Ho tem pleno controle do que deseja contar, e constrói de forma detalhada o mundo fictício onde a história se passa, tornando aquele lugar vivo e criando conexões genuínas com quem assiste.

Mickey 17 é belíssimo. A fotografia esbranquiçada e, ao mesmo tempo, sombria de Nilfheim e da nave espacial cria uma sensação constante de desconforto, que naturalmente é intensificada pelo protagonista morrendo e voltando. O primeiro ato é esticado, justamente pra que a gente mergulhe na história, entenda o que está acontecendo e, mais importante do que isso, se importe com o que está prestes a acontecer.

Além da construção de mundo e da excelente direção, a atuação de Robert Pattinson é bizarra de boa. Interpretar mais de um personagem em um mesmo filme não é algo novo no cinema, mas não é menos desafiador por isso. Através da expressão corporal e principalmente da voz e do sotaque, o ator nos convence de que estamos vendo duas pessoas bem diferentes, sem cair na armadilha da caricatura.

O meu problema com Mickey 17 é o rumo que a trama toma a partir da segunda metade. Eu gostei dos animais de Nilfheim quando eles serviam como parte do cenário. Contudo, quando ficaram no centro do enredo, confesso que o filme se tornou bagunçado e a minha atenção se dispersou depois de eu ter ficado tão imerso. Por causa disso, o fim acabou não sendo tão catártico quanto a promissora ideia inicial sugeria.

Mickey 17 é uma tacada certa pra quem procura por algo único e autoral. Há um senso de humor ácido e teatral, um elenco talentoso e uma forte experiência audiovisual. Mesmo eu não sendo fã do terceiro ato, não me arrependo nem um pouco de ter acompanhado essa história.

CURIOSIDADES

• O filme é baseado no livro Mickey7, de Edward Ashton. Em entrevista, o diretor Bong Joon Ho revelou que mudou o título para Mickey 17 pra que ele pudesse matar o protagonista mais 10 vezes.
• Este é o primeiro filme de Bong Joon Ho desde Parasita. Em Mickey 17, ele travou uma batalha de quase um ano com o estúdio sobre o corte final. O diretor venceu o entrave e sua versão foi lançada.
• Robert Pattinson foi a primeira escolha de Bong Joon Ho e aceitou participar do projeto assim que leu o roteiro. Uma das fontes de inspiração dele pro papel foi a atuação de Jim Carrey em Debi & Lóide.
• Bong Joon Ho insistiu que, em determinadas cenas, Robert Pattinson não soubesse qual personagem interpretaria até logo antes de filmar, pra criar uma sensação de confusão no ator.

FICHA TÉCNICA

Nome original: Mickey 17
Duração: 2h17
Países: EUA, Coreia do Sul
Diretor: Bong Joon Ho
Elenco principal: Robert Pattinson, Steven Yeun, Toni Collette, Mark Ruffalo, Naomi Ackie, Anamaria Vartolomei

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