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AnáliseRicardo #40 – Saint Maud é uma reflexão sobre extremismo religioso

• Além do susto

Opa, bão?!

Hoje eu trago um terror indie que talvez não tenha aparecido na sua lista, mas deveria: Saint Maud. E, olha, se você curte filmes que mexem com a sua cabeça e te fazem refletir sobre religião e extremismo, fica comigo que esse filme é para você.

Bom, se a gente já conversou sobre A Bruxa, você deve lembrar como aquele filme foi um marco pra mim. Na época, eu estava bem envolvido com a religião, e muitas vezes me disseram que coisas ruins aconteciam porque eu não estava “dentro da igreja” o suficiente. A Bruxa me impactou de uma forma que, sinceramente, me fez repensar muitas coisas.

Mas, se eu tivesse assistido Saint Maud lá pra 2015 ou 2016, acho que teria ficado ainda mais perturbado do que fiquei com A Bruxa. Vamos entender o porquê? 

Saint Maud começa como um típico terrorzinho indie, parecendo ser sobre duas mulheres, mas logo se revela como uma história focada no desenvolvimento de uma só: Maud.

Ela é uma cuidadora de pessoas à beira da morte, e também é extremamente religiosa. Sua paciente, uma artista provocadora, desafia Maud tanto intelectual quanto fisicamente. E aí começa a provocação.

A história vai mexendo com a gente, nos levando a refletir sobre o perigo de uma religião tão fervorosa a ponto de cegar a pessoa para o que acontece ao seu redor.

E aqui eu faço uma pausa para dizer: não estou criticando ter uma religião ou exercê-la, mas o perigo surge quando a religião faz a pessoa ignorar a sociedade e a liberdade individual dos outros. Se a sua crença te isola ao ponto de te fazer esquecer que vivemos em comunidade, talvez seja hora de repensar.

Morfydd Clark, no papel de Maud

Acredito que foi isso que levou a diretora Rose Glass a escrever Saint Maud. A protagonista está isolada, tanto física quanto mentalmente, e isso vai sendo construído com precisão ao longo do filme.

Para Maud, tudo que não vem diretamente de Deus é coisa do tinhoso, um pensamento extremista que ressoa bastante com o meio evangélico, onde é comum pensar que ou você está com Deus ou está perdido no mundo.

Mas a sociedade não é preto no branco, e Saint Maud nos faz refletir sobre como esse extremismo religioso pode ser perigoso.

Agora, preciso falar da atuação de Morfydd Clark, que está simplesmente incrível. Você talvez a conheça como a protagonista de Anéis de Poder, da Amazon Prime, mas aqui é onde ela realmente brilha.

A personagem Maud acabou de sair de uma alta psiquiátrica, e o filme nos deixa constantemente questionando: estamos vendo uma fanática religiosa ou alguém com sérios problemas que não deveria ter saído do hospital?

A atuação de Clark revela isso aos poucos, construindo uma tensão crescente até culminar em uma das cenas mais perturbadoras que eu já vi. Aliás, se você assistiu Missa da Meia-Noite, vai reconhecer uma vibe parecida — e não me surpreenderia se essa cena tivesse se inspirado em Saint Maud.

Saint Maud é um filme que explora o extremismo religioso de uma forma brilhante, mostrando o terror psicológico que ele pode causar tanto na pessoa quanto nas pessoas ao seu redor. Dá pra abrir um debate gigante sobre o impacto desse extremismo na vida de uma mulher, e eu acredito que essa discussão seria ainda mais rica na voz de uma mulher.

Mas, enfim, Saint Maud é um filmaço. Se você ainda não viu, coloca na sua lista agora e, quem sabe, até pule na frente de outros terrores que você tem em mente. É um filme pra quem gosta de pensar além do susto.

 

Ricardo Gomes
O Sharkboy que se formou em Jornalismo e ama o cinema

 

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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e não necessariamente está alinhado às ideias dele.

Publicado por Ricardo Gomes

O cara que mais perde tempo assistindo TV e escrevendo sobre, segundo Michelle (minha gata).