Fantasia

Once Upon a Time: 1ª Temporada (2011/12)

once upon a time

• Contos de fadas no século XXI

Eu sempre achei legal histórias que são adaptadas diante de uma nova realidade. Mais legal ainda é quando o enredo não se dispõe apenas a colocar uma certa história em um formato diferente, mas sim fazer uma verdadeira releitura do conteúdo que tem em mãos. É o caso de Once Upon a Time. Eu nunca fui o maior fã de contos de fadas durante a minha infância e adolescência. Tinha familiaridade com a Branca de Neve, a Cinderela e afins, mas não era algo que me cativava muito. Inclusive, acho que falei sobre isso na minha série especial DisneyPrincesas. De qualquer modo, a premissa de todas as fábulas coexistirem em um contexto moderno do século XXI me chamou a atenção, e confesso que me surpreendeu positivamente.

 

Sinopse

Emma Swan está vivendo tranquilamente em meio ao seu aniversário de 28 anos. De repente, um garotinho chamado Henry a encontra e diz ser seu filho, pedindo para que ela o leve de volta para a cidade onde mora, Storybrooke. Reticente, Emma concorda e de repente se vê em um lugar com habitantes um tanto quanto peculiares: todos eles são personagens de contos de fadas congelados no tempo, amaldiçoados e aprisionados pela Rainha Má, prefeita do local e madrasta de Henry. Ainda que Emma duvide de tudo isso, cabe a ela cuidar do filho e ajudar a salvar todo mundo.

Casos de Família

Crítica

E se contos de fadas fossem reais? Once Upon a Time não só brinca com essa possibilidade, como entrelaça e dá uma nova forma às histórias. A Branca de Neve está ligada com a Cinderela, que por sua vez conhece a figura maligna de Rumplestiltskin, o qual possui ligação com a Bela e a Fera… e por aí vai. Todas as fábulas coexistem em um mesmo universo fantástico, e é divertido tentar adivinhar quem é quem no mundo de Storybrooke.

A principal qualidade de Once Upon a Time é exatamente essa: pegar histórias que conhecemos desde a infância e dar uma nova roupagem a elas, alterando detalhes que transformam a experiência em algo novo, mesmo que sustente elementos familiares. Além disso, a própria personalidade de várias personagens é alterada. A Branca de Neve, por exemplo, é muito mais do que aparenta ser, e o Príncipe Encantado não é um cara aleatório que estava passando pela floresta e beijou uma adolescente morta. Por mais bizarro que isso possa parecer, era exatamente o que acontecia na animação de 1937. 

Quanto aos efeitos visuais, não assista pensando que o nível de produção será semelhante a Game of Thrones, com cenários realísticos em um contexto de fantasia. O CGI de Once Upon a Time é modesto. Portanto, para “aceitar” a proposta da série, é importante que você consiga ignorar essa questão e comprar o que o enredo quer mostrar no texto. Eu consigo ignorar isso tranquilamente, a não ser que se trate de um obra que tenha alto valor de produção e dependa da qualidade dos efeitos visuais, o que não é o caso aqui.

As atuações, pra mim, estão em um nível honesto. Quase ninguém possui uma interpretação extraordinária, a bem da verdade. Lana Parrilla, que dá vida a Regina, a Rainha Má, e Robert Carlyle, o Rumplestiltskin, são os que mais se destacam. Os demais cumprem o propósito estabelecido de forma digna, ainda que alguns deles (Eion Bailey, o August, é um dos exemplos) acabem rendendo um pouco menos do que o esperado.

De qualquer modo, como eu já ressaltei, o grande trunfo de Once Upon a Time está em sua proposta. A série é bobinha em vários momentos, mas é algo compreensível, porque ela tenta ser sombria somente até certo ponto. Alguns limites não são ultrapassados pelo roteiro, e é simplesmente questão de “linha editorial”, como chamamos no Jornalismo. Acima de tudo, é uma série não recomendada para menores de 12 anos, o que significa que grande parte do seu público é adolescente ou jovem adulto. Por isso, não dá pra esperar que a obra seja recheada de sangue espirrando pelas paredes e coisas do tipo.

Ainda assim, Once Upon a Time trabalha muito bem com o que tem em mãos e é capaz de inserir um tema delicado aqui e ali, que acaba dando mais peso à trama. Eu gosto de histórias que se arriscam, mesmo quando são “limitadas” pelo público-alvo, e é exatamente o que esta série faz. A grande quantidade de episódios às vezes prejudica, considerando que são sete temporadas no total. A primeira termina com um gancho óbvio, mas a sensação que eu tive é de que daria pra ter concluído a história principal aqui com tranquilidade. Contudo, como estou escrevendo sobre a primeira temporada, preciso julgá-la como tal.

Por incrível que pareça, nesta série essa cena é fofa

Veredito

A primeira temporada de Once Upon a Time me pegou de surpresa. Quando eu olhava pra fachada desta série por aí, a minha impressão é de que seria apenas mais um conteúdo em meio a um aglomerado de romances envolvendo príncipes e princesas. Para o meu deleite, é mais do que isso. Sim, a história é recheada de repetitivas mensagens de amor verdadeiro e coisas do tipo, mas me agrada demais a reconstrução dos contos de fadas, que dá uma sensação de novidade e evita que a narrativa fique engessada ou maçante. É uma série que comete excessos, possui um formato novelesco que cai insistentemente na sensação de um passo para frente, dois pra trás, e exige muita suspensão de realidade da nossa parte, mas é uma excelente diversão que vale a maratona. Nota final: 4,1/5.

Quando você e sua (seu) irmã (o) acordam de madrugada pra pegar algum doce na geladeira

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Emma e Henry: como são muitos episódios, vou dividir essas Observações Spoilentas por personagens. Gostei muito da Emma e achei que as suas ações foram condizentes com as de uma pessoa naquela situação. Eu vi muita gente comentando que ela era cabeça-dura e burra por não acreditar no Henry e por isso colocar tudo a perder. Mas, sinceramente, quem é que acreditaria que a sua mãe é a Branca de Neve e o seu pai, o Príncipe Encantado? Pensando na perspectiva dela, era mais provável que considerasse que a cidade inteira enlouqueceu do que acreditar na veracidade dos contos de fada. E o Henry demonstrou muita coragem em comer a torta de maçã da Regina. O moleque entende de sacrifício, ganhou meu respeito.
  • Rainha e o Gênio: não dá pra negar que a Regina teve uma história triste. Escravizada pela mãe, humilhada pelo marido e perdeu a única coisa que ela realmente estimava, aquele cavalariço. Mesmo assim, ela colocar toda a culpa na Branca de Neve, que era uma CRIANÇA quando “entregou” o mozão da Rainha Má, é difícil de digerir. A Regina tinha de ter destilado todo o seu ódio contra a mãe e o marido, exclusivamente. E sobre o Gênio, eu não gosto de usar muito esse termo, mas acho que não tem outra expressão melhor pra descrevê-lo: gado demais.
  • Branca de Neve e Príncipe Encantado: no começo, eu não estava gostando muito da Branca de Neve/Mary Margaret, parecia que ela era “pura” demais pro meu gosto, nem parecia uma pessoa de verdade. Aos poucos, foi me ganhando, ainda mais com o seu momento ladra e tudo mais. Apesar disso tudo, eu não torci pra que ela e o David ficassem juntos, eles eram um péssimo casal e muito tóxicos um pro outro, ainda mais porque o David mentia compulsivamente e era pra lá de covarde. Todo aquele rolê dele com a Kathryn, pelo amor de Deus. Por outro lado, a Branca com o Encantado são ótimos juntos, mesmo que o universo pareça querê-los separados.
  • Caçador: eu sinceramente não esperava que a série fosse se livrar do Caçador. Parecia que ele seria o par romântico oficial da Emma, com a sua importância também nas investigações, mas a Rainha foi lá e simplesmente amassou o coração do cara. E isso reforça o meu questionamento interno: por que ela não matou aqueles que poderiam gerar algum perigo pra ela, como o David? Não consigo entender a vilã matando um cara porque ele não queria mais dormir com ela, e manter vivas pessoas que podem acabar com todo o domínio dela.
  • Rumplestiltskin e Bela: eu jurava que o Rumple fosse uma entidade ou algo do tipo, e não um ser humano comum que se transformou no Sombrio. Só fiquei curioso pra saber o que aconteceu com o filho dele, depois de cair naquele portal. Onde será que esse menino tá? E achei interessante também como o Rumple era a Fera da Bela, e a história fracassada de amor entre os dois. É verdade que eu não botei muita fé naquele casal, confesso, mas pude ver que no fundo, lá no fundo, o Rumple tem coração. Se bem que, acima de tudo, o que ele mais deseja é o poder, como pudemos ver no final da temporada, quando ele escolheu a magia em vez do amor da sua vida.
  • Cinderela, João e Maria, Os Sete Anões: entre as histórias paralelas, não gostei muito da Cinderela, achei a trama meio fraquinha e a atriz também não me convenceu. Algo parecido ocorreu com João e Maria, mas a diferença é que, embora os dois não tenham tanta importância no quadro geral de Storybrooke, foi um bom enredo secundário. Os Sete Anões foram os mais legais, principalmente o Zangado/Leroy, e gostei também de que antes eram oito anões, antes do Furtivo morrer naquela fuga da prisão.
  • Grilo Falante: capítulo do Grilo Falante foi inesperadamente bom. O personagem do terapeuta não é dos meus favoritos, mas o passado triste com os pais gananciosos pesou o clima e me fez olhar pra ele com mais simpatia. Só não sei por que diabos a Fada Azul achou que seria uma boa ideia transformá-lo em um GRILO em vez de um animal mais convencional.
  • Chapeleiro Maluco: a melhor adaptação, com certeza. O cara ser condenado a passar a eternidade no País das Maravilhas, longe da filha, e sem conseguir fazer uma droga de cartola funcionar, faz a gente entender totalmente ele ter perdido a sanidade no caminho. Pelo menos, vingou-se um pouquinho da Rainha ao libertar a Bela e acabar com o trunfo da Regina.
  • August: eu achei legal a reviravolta do August não ser o filho do Rumple, mas acho que teria sido melhor se tivessem revelado que ele era o Pinóquio no mesmo episódio, e não no capítulo seguinte. Quando veio a revelação oficial, parece que a notícia perdeu um pouco da graça. Ainda assim, foi legal a história dele e do Gepeto.
  • Chapeuzinho Vermelho: pra concluir, que doideira o negócio da Ruby ser a Chapeuzinho e, secretamente, uma lobisomem (ou lobismulher? Existe essa palavra?). Eu juro que não estava esperando por aquela. E sobre a Vovó, eu entendo por que ela protegeu tanto a neta, mas teria sido muito melhor se tivesse contado a verdade. Inclusive, poderia ter poupado a vida de muuuita gente.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Rumplestiltskin
Fiquei em dúvida durante a temporada inteira sobre quem seria um melhor personagem: Rumplestiltskin ou Regina. O elemento que me fez pender para o lado do Rumple foi um simples fato: a superexposição de Regina, sobretudo em Storybrooke. Em várias cenas, eu me peguei revirando os olhos com a onipresença da Rainha Má. Sim, eu sei que ela é uma das personagens principais e é natural que apareça constantemente, mas me irritava um pouco a maneira como ela SEMPRE estava em todos os lugares importantes na hora certa, um artifício narrativo bastante frágil da série. O Rumple foi utilizado de maneira melhor, e é só por isso que ele leva o prêmio nesta temporada.

Eu ia fazer uma piada aqui e dizer que ele se parece muito com o Durza, de Eragon, e descobri que é o mesmo ator. Tudo faz sentido agora

+ Melhor episódio: S01E17 (“Hat Trick”)
É natural que o último episódio sempre seja o mais empolgante, e com Once Upon a Time não é diferente. No entanto, deixando o fator empolgação de lado, o 17º capítulo foi o que mais me chamou a atenção devido à história lúgubre que apresenta. É um episódio de tirar o chapéu.

Bucky Barnes antes de se alistar no Exército

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).