Mistério, Séries

Safe (2018)

• Amigos da vizinhança

O mercado podia começar a investir um pouco mais em minisséries.
Atualmente, está claro que as séries de televisão estão em alta, muito por causa da nossa queridinha Netflix. A cada cinco minutos uma nova temporada é criada, dizem estudos. Você vai no banheiro e pá, uma série nova tá lá no catálogo. Você tira um cochilo e eita, três novas obras foram adicionadas. Com uma quantidade cada vez maior de opções, às vezes fica difícil acompanhar tudo que tá na moda, ainda mais porque muitas produtoras insistem em alargar histórias que já estão desgastadas.
Safe vai na contramão deste raciocínio. Com apenas oito episódios e uma trama fechadinha, o enredo é desenvolvido pelo autor estadunidense Harlan Coben, especialista em livros sobre crimes. Eu particularmente não conhecia nenhum trabalho dele, até porque tô meio sumido do segmento literário. Porém, procurei saber sobre o cara à medida que maratonava os episódios e fiquei sabendo que ele é meio que uma Agatha Christie, com mistérios em que nunca descobrimos quem é o culpado até os instantes finais. Isso me agrada bastante. Bom, lá estava eu em um belo dia, deitado na minha caminha, contemplando a TV. Minha vontade era de começar alguma série, mas tava com preguiça de acompanhar algo com 200 temporadas ou ter que ficar ligado em uma produção ainda inacabada. Me deparei com Safe e tomei logo a minha decisão. Esse estilo de suspense está em falta na televisão, um dos motivos pelos quais a obra saltou aos meus olhos. A outra razão para eu querer começar a assistir foi que o personagem principal, o médico Tom Delaney, é interpretado por Michael C. Hall, o nosso eterno Dexter Morgan. Vê-lo em um papel em que não é um psicopata serial killer causou estranheza no começo, mas foi legal percebê-lo em outro universo.
O enredo é o seguinte: Tom, pai de duas garotas, uma adolescente e uma criança, vive em um condomínio de classe média alta, em que cada habitante possui um núcleo intenso e oculto e onde todo mundo parece suspeito. A filha mais velha de Tom, Jenny, é aquela típica jovem rebelde que se sente deslocada e que não obedece muito o pai. Seu comportamento vai se tornando mais compreensível ao longo do tempo, quando descobrimos que sua mãe faleceu alguns anos antes. Quando a série dá seu pontapé inicial, Jenny está em um relacionamento com Chris Chahal, um cara que vive no mesmo condomínio que ela. Em certa ocasião, ela combina com ele de ir para uma festa na casa de Sia Marshall, uma riquinha popular, quando os pais desta resolvem fazer uma viagem. Ah, adivinhem? A família dos Marshall também vive no mesmo condomínio, então acho que já ficou claro que tudo acontece naquela bagaça, né.
O conflito central de Safe surge quando Jenny Delaney e Chris Chahal simplesmente desaparecem no dia seguinte à festa. No começo, parece ser apenas um ato de pura teimosia por parte da garota, algo que até mesmo Tom considera como a opção mais provável. Porém, as coisas vão ficando mais misteriosas quando ela não responde aos chamados do pai, que por sua vez começa a investigar por si próprio o caso, apesar de ter o apoio de sua grande amiga que trabalha na polícia, Sophie Mason. No entanto, seu maior companheiro na campanha em busca da filha é Pete Mayfield, alguém que ele conheceu no Exército e que se tornou seu melhor amigo e colega de trabalho. E ah, já sabe, né? Ele também mora no condomínio, assim como Sophie. É uma cidade pequena, fazer o quê.
Dois pontos positivos se destacam em Safe. O primeiro é a qualidade das atuações, lideradas pelo protagonista. Todos os personagens são muito bem ambientados, o que fica ainda mais claro quando não sabemos se confiamos ou desconfiamos de alguns. E é aí que eu entro no segundo mérito da série. Todo mundo naquela caralha parece que tem envolvimento com o desaparecimento de Jenny. Além daqueles que eu já mencionei, várias outras personalidades nos são apresentadas, como Josh Mason, o ex-marido alcoólatra de Sophie, Henry, o filho deles, a família Marshall, os pais de Chris, Zoé e Neil, a policial Emma Castle e diversos outros rostos que vão aparecendo durante a história, quase todos eles moradores do condomínio. Eu, por exemplo, só fui descobrir quem era o culpado no último episódio, e isso só porque eu tinha lido uma teoria assim que terminei o penúltimo, porque se não tivesse o feito provavelmente teria demorado ainda mais pra sacar.
Os defeitos não são muitos, mas definitivamente estão lá. Como toda a trama se passa no total de oito episódios, esperava-se que Safe tratasse de captar o interesse do começo ao fim, mas não é o que acontece. Nos primeiros capítulos, a série parece que não se aproxima da gente, são tantos personagens apresentados ao mesmo tempo que temos um pouco de dificuldade de nos simpatizarmos com eles. Com o passar do tempo, esta característica vai sendo alcançada, mas acaba perdendo um pouco do impacto, até porque quando parece que finalmente temos certeza de quem está envolvido com o sumiço da Jenny, a série trata logo de quebrar essa possibilidade, acabando com um pouco do mistério imediato. Quando faz isso, os personagens que antes eram os principais suspeitos subitamente perdem uma importância absurda. Outro problema tem relação com as atitudes de algumas pessoas, as quais soam exageradas só pra dar a impressão de que elas são culpadas, tudo “pelo bem do suspense”.
O resultado final de Safe é bastante agradável. Da metade para a frente a obra nos conquista e prende nossa atenção, deixando tudo cada vez mais frenético. A música de abertura, “Glitter & Gold”, gruda na cabeça mesmo se não quisermos. Não é a melhor história que eu já acompanhei dentro do gênero, mas é claramente bem feita e nos surpreende nas conclusões. Talvez tenha faltado aquele salzinho pra resultar em algo digno de 5 Lelecos, mas deixo registrado que gostei pra caramba e recomendo.

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Cara, eu desconfiei do Pete, dos Marshall, dos Chahal, de TODO MUNDO nessa budega, os únicos que nem considerei foram Tom e Sophie. O primeiro por razões óbvias, né, até porque seria meio nada a ver o pai ficar a história inteira correndo atrás da filha apenas para no final ele ser o culpado (se bem que isso daria uma trama interessante…). A segunda foi porque Sophie parecia tão honesta, tão protetora, sei lá. Palmas para a atuação de Amanda Abbington.
  • Eu tava torcendo tanto pro Pete não ser culpado, sério. Acho que por ter curtido tanto a lealdade do personagem fiquei ainda mais felizinho quando ele reagiu bem ao fato da Emma ser sua filha, fiquei com um puta medo dele ser cuzão ou algo do tipo. Acho que esse é o meu fraco – relacionamentos entre pai e filha. Já tô até vendo que vou ser super babão no futuro.
  • Cara, beleza que a Jenny descobriu um puta negócio tenso, envolvendo um incêndio responsável pela morte de várias crianças, mas achei meio doido o jeito que ela agiu. Se tivesse a idade de sua irmã, Carrie, suas atitudes teriam feito mais sentido, mas não teria sido muito mais seguro ela ir direto ao pai dela ou algo do tipo? Não sei, me pareceu um pouquiiiinho forçado ela ter se escondido durante tanto tempo, embora o ritmo da série faça parecer que este período foi maior ainda.
  • Ah, e já que mencionei o incêndio, tava bem claro que seria uma parte importante da trama, né. Em enredos envolvendo mistério, qualquer detalhezinho pode ser essencial para a sequência dos fatos, e aqui não foi diferente. E reforço novamente a surpresa que tive por Sophie ser a culpada de tudo, ela não tem cara de assassina e muito menos o jeito de uma, se é que isto existe.
  • Na opinião de vocês, qual família é mais fodida, a dos Marshall ou a dos Chahal? Porque dá uma briga boa. De um lado, temos um pai disposto a mentir repetidas vezes para proteger a casa, uma mãe aterrorizada pelos acontecimentos e uma filha pra lá de manipuladora. Do outro, temos um filho que morreu por ter sido genial o suficiente para confrontar alguém sem nenhuma pessoa em volta além dos dois, um pai agressivo que tentou incriminar a própria esposa, que também não é a pessoa mais certinha do mundo. De fato daria uma briga boa.
  • Aquele Bobby sim tem cara de psicopata. A Crowthorne também, assim como o Pratchett. Se bem que o Mason também não parecia ser muito bom das ideias. Acho que isso resume bem o elemento “todos são suspeitos” da obra.
  • Confesso que fiquei confundindo aquele Henry Mason com o Ioan Fuller durante mais tempo do que quero admitir.
  • Podemos, por favor, ter um spin-off que mostra a Emma indo atrás de criminosos e o Pete fazendo cirurgias? Eu assistiria.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Tom Delaney
Embora eu tenha me afeiçoado pra caramba ao seu amigo Pete, um dos meus favoritos, a gente meio que vai sentindo a agonia crescente de Tom, alguém que não desiste de seu objetivo de encontrar a filha. Além disso, Michael C. Hall fez um excelente trabalho.

Quando o Uber fala que chegou e só tem você na rua

+ Melhor episódio: Episode 7 (E07)
Isso é que é um nome brilhante pra um episódio. De qualquer forma, este é o capítulo que encaminha as coisas para seu desfecho, contando inclusive com um momento bastante tocante.

Se preparando para um confronto de torcidas

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).