• Imor(t)alidade
O que exatamente é se acomodar no contexto de uma série? Ora, não é muito diferente do mundo real. Quando nos sentimos confortáveis com alguma situação, tendemos a abaixar as nossas defesas e aceitar aquele bom momento, não fazendo praticamente nada para ir além. The 100 era um grande exemplo de uma obra que recusava veementemente a acomodação. Entre a primeira e a quarta temporadas, a série só fez melhorar a cada ano que passava, uma das maiores evoluções que eu já vi no gênero. Na quinta remessa, já era possível ver um pequeno desgaste, e aqui na sexta ele fica escancarado.
Sinopse
Depois do sacrifício de Monty e Harper, os nossos remanescentes terráqueos ganharam mais uma chance de sobreviver (pelas minhas contas, é a 4957438753ª chance). Eles desembarcam em um planeta desconhecido, aparentemente com condições favoráveis para seres humanos. Com a maior parte da galera ainda congelada, os principais oficiais descem em terra firme com uma única e simples missão: testar o planeta a fim de saber se será possível morar lá. A princípio, eles ficam encantados com o local, até que alguns eventos desembocam no descobrimento de Sanctum, uma espécie de vilarejo onde a família Prime é reverenciada como deuses contemporâneos por outros seres humanos, frutos de incursões antigas.
Crítica
Desde o início de The 100, eu enxergo um gigantesco potencial desperdiçado. Apesar de uma trama baseada nos humanos como inimigos centrais ter suas qualidades, isso acaba sendo um pouco repetitivo. Se você parar pra pensar, a maioria das histórias pós-apocalípticas trazem a mesma abordagem. Mas e se a ameaça mais perigosa fosse a natureza? Na primeira temporada, isso poderia ter sido feito com os animais radioativos, mas o roteiro se limitou a mostrar umas borboletas brilhantes e um veado de duas cabeças. Dali em diante, o enredo convergiu em direção às diversas tribos e instalações ainda existentes na Terra.
Os nossos sobreviventes passaram por muita coisa, e essa era a hora de terem um sossego de outros inimigos da mesma espécie. Ora, o quão interessante seria se a nova ameaça fosse animal, ou climática, ou mística? A sexta temporada até flerta com alguns desses temas, mas nunca se arrisca o bastante para que eles sejam de fato colocados em prática. Assim, a história se torna repetitiva, a exemplo de alguns momentos de The Walking Dead ou qualquer obra pós-apocalíptica que se estende por tempo demais. Toda vez, os personagens chegam em um novo lugar e são enfrentados por inimigos com filosofias únicas, mas que, essencialmente, são tudo a mesma coisa.
Logo aí, a sexta temporada já perde grande parte do seu charme. Ela começa com um ótimo pontapé inicial, criando o mistério de maneira instigante, mas aos poucos o ambiente foi me parecendo… familiar. Ok, a premissa da família Prime era algo ainda não abordado na série, mas a dinâmica é pra lá de similar. Além disso, a trama sustenta um defeito recorrente na obra, mas que ganhou um novo expoente. Quando a série começou a embarcar em uma parada mais científica, sobretudo na terceira temporada, a história chegou a ficar um pouco confusa em alguns momentos devido à quantidade de nomes e enredos secundários. Na sexta temporada, o modo de contar a história escorregou frequentemente. Em várias partes, minha cabeça girou e eu fiquei meio sem entender, e a série não se esforçou em me explicar. Alguns acontecimentos importantes são pincelados por breves segundos e ganham um peso enorme, sem dar a chance de uma recapitulação.
Os diálogos seguem sem muita força. É verdade que o mérito de The 100 nunca foi esse, assim como as atuações jamais foram o grande destaque. Entretanto, como este é o sexto ano de existência da série, isso acaba incomodando mais. Eu já cansei de ouvir um personagem falando que “temos de ser melhores” ao se deparar com algum conflito, ou todo mundo culpando a Clarke sem motivo só porque ela é a única corajosa o bastante pra tomar a frente e fazer algo a respeito, sem falar nos personagens não hesitando em matar pessoas sem importância e ficando na dúvida se matam os chefões do mal. É um artifício tão usado, e tão idiota, se pararmos pra pensar. Se você não tem escrúpulos em tirar a vida de um soldado, por que deveria ter de tirar a vida de um general?
A pouca variação de cenário também me incomodou. Novamente, a série tinha em mãos um potencial infinito, mas na maior parte do tempo a história se concentra em apenas três cenários básicos: Sanctum, a nave e a floresta. Pô, tem um planeta INTEIRO a ser explorado e tudo o que podemos ver do local são árvores, alguns prédios de um só andar e uma nave que já conhecemos de outros carnavais. Parecia que a obra tinha uma falta de orçamento, e nem isso justificaria tamanha preguiça.
Sobre o enredo em si, a temporada alterna entre bons e maus momentos. O arco de Madi com o Sheidheda é chato e não me deixou nem um pouco interessado. Pra ser bem honesto, todo o rolê dos Wonkru já deveria ter acabado há duas temporadas, não faz mais sentido existir. A série também insiste em alguns personagens que já não rendem mais há bastante tempo, como Abby, e abre mão de desenvolver as suas joias, como Raven. Além disso, parece que os roteiristas só conseguem pensar em um tipo de núcleo pra cada personagem. Clarke sempre vai ser a líder renegada e incompreendida, Bellamy é constantemente o guerreiro ponderado, Murphy é o aliado ardiloso… e por aí vai.
Agora que eu já falei mal o bastante, vamos aos pontos positivos. Apesar de eu suplicar pela natureza como principal ameaça, reconheço que a premissa dos Prime é bem inteligente. Não vou escrever o que é exatamente pra deixar um gostinho de curiosidade na boca de vocês, mas digo que envolve vida eterna. No começo, toda essa trama me pareceu um pouco batida, mas a cada episódio que passava eu fui me surpreendendo. A série também consegue recuperar alguns personagens importantes, como Octavia e Diyoza, ao mesmo tempo em que apresenta novas adições que podem vir a agregar.
O desfecho da temporada dá uma margem boa de utilização no último ano da série. Embora uma boa parte de mim trabalhe com a ideia de que será a história mais diferente até então, o meu lado realista sabe bem que a obra não deve se arriscar tanto em sua reta final.
Veredito
The 100 sabe muito bem como fazer vingar a sua fórmula. Depois de consolidar o seu formato lá atrás, a partir da segunda temporada, a série decidiu seguir desenvolvendo o que já tinha dado certo, em vez de apostar em algo mais ousado. Isso funcionou por algum tempo, mas o desgaste causado pela frequente repetição passou a abaixar o nível da obra. Em sua sexta temporada, o roteiro pega uma premissa incrível e a transforma em uma história simplista, que não marca muito. A sensação que eu tive é de que, daqui a algumas semanas, a maior parte da trama vai ter se esvaído da minha mente. A sorte de The 100 é que os seus pontos fortes foram bem alicerçados no começo, e isso faz com que o enredo nos prenda o bastante pra permanecermos interessados. Resta saber se isso será o suficiente para a próxima temporada, a última dos Cem. Nota final: 2,9/5.
>> Crítica da 1ª Temporada de The 100
>> Crítica da 2ª Temporada de The 100
>> Crítica da 3ª Temporada de The 100
>> Crítica da 4ª Temporada de The 100
>> Crítica da 5ª Temporada de The 100
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Vamos começar pelo Kane. Ele era um personagem que eu não gostava no começo, mas que acabou subindo no meu conceito. No entanto, acho que o seu ciclo já havia se encerrado, e não consegui me sentir particularmente triste pela sua saída. Além disso, não gostei daquela bobeira de pegar outro ator pra interpretá-lo (ainda que faça sentido na trama), tirou o peso da sua morte. Em resumo, acho que estava na hora de ele sair, mas não daquele jeito zoado.
- Pior do que ele, era a Abby. Sinceramente, eu nunca gostei muito dela, mas tinha a sua importância narrativa. Desde a temporada passada, vinha achando ela meio nula. Por esse motivo, também não fiquei impactado com a sua morte, mas pelo menos ela saiu por cima, em uma crescente.
- Eu sei que dá pra compreender as razões pelas quais o Jordan é tão chato, mas ele não deixa de ser chato naquele rolê com a Priya. O cara ficou com a menina por uma noite ou duas e já a tratou como uma deusa (risos), mesmo com todo mundo explicando que ela tinha morrido. É o típico personagem que existe apenas pra fazer bosta.
- Por que diabos mantiveram o Russell vivo? É isso que não aceito. A galera não hesita em matar geral, por que não fizeram o mesmo com o líder dos Prime? Sério, qual a vantagem em deixá-lo vivo? Agora, vão ficar naquele dilema com os religiosos e aqueles em busca de sangue, e a história dos Prime não vai ter tido um ponto final. Totalmente desnecessário e bobo.
- Ainda bem que a Octavia voltou ao normal após a anomalia, na moral. Eu não aguentava mais aquele negócio de Blodreina, e fico feliz de ela ser novamente aquela Octavia de antes, mesmo tendo sido um recurso narrativo meio “fácil” demais. E o que será que aconteceu com ela?
- Não consigo entender a Echo, sinceramente. Tem um potencial imenso, como pôde ser visto em seu flashback revelando que seu verdadeiro nome sequer era Echo, mas de alguma forma a personagem não decola. Acho que o roteiro nunca a levou totalmente a sério, ou talvez seja por ela ser a namorada do Bellamy e o fandom inteiro querê-lo com a Clarke. Sobre isso, inclusive, não sinto mais aquela vontade de ver os dois juntos. Acho que o tempo já passou, agora a relação deles funciona muito mais como amizade.
- Gostei do Xavier, ou Gabriel Santiago para os íntimos. Não acho que seja um grande personagem ainda, mas pode vir a ser. Curti também a sua química com a Octavia, quem sabe role algo no futuro (considerando que esteja tudo bem com ela, é claro).
- Alguém no mundo já sofreu o mesmo tanto que a Raven Reyes? Pelo amor dos Prime. Quando eu penso que ela vai ser feliz, o Shaw vai lá e morre com radioatividade logo no primeiro episódio. É tenso.
- Por incrível que pareça, eu gostei da história envolvendo a Josephine. E a Eliza Taylor deu um show ao interpretar a Clarke, a Josephine, a Josephine fingindo ser a Clarke e a Clarke fingindo ser a Josephine.
- Será que a Diyoza vai voltar? Torço para que sim. E a Hope, hein? Finalmente o parto veio de vez?
- Não aguento mais Murphy e Emori se envolvendo em algum arco de traição. Já deu isso, velho. Não é possível que o único traço de personalidade deles seja a falta de confiabilidade, e fazê-los se redimir no último minuto não faz com que deixem de ser egoístas e covardes. Poderiam ser muito mais do que isso, mas quanto mais evoluem, mais regridem.
- Uau, estou tão curioso pra saber o que aconteceu com o Sheidheda após o backup da Chama ter sido feito em outro lugar. Mal posso esperar.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Clarke Griffin
Pela terceira vez na série, escolhi a protagonista como o grande destaque. Desta vez, foi muito por conta da atuação de Eliza Taylor, que realmente me surpreendeu de forma positiva. Bellamy é o meu favorito atualmente, mas ele acabou não brilhando tanto nesta temporada.
+ Melhor episódio: S06E11 (“Ashes To Ashes”)
Este capítulo foi o mais acima da média da temporada, de longe, com desenvolvimentos de vários arcos diferentes. E foi a estreia do ator Bob Morley, que interpreta o Bellamy, como diretor na carreira. Yay!
+ Maior decepção: Raven Reyes
Devo explicar aqui mais uma vez que nem sempre “decepção” significa que a personagem é ruim. Neste caso, Raven foi muito mal aproveitada e ficou para escanteio durante a maior parte do tempo, sem uma trama que fizesse jus ao tamanho dela.
+ Mais subestimada: Diyoza
Eu gosto muito do sarcasmo dela, acho que dá uma dinâmica única na série. Infelizmente, não foi tão aproveitada como deveria, assim como Raven, mas apareceu o bastante pra ganhar essa menção no pitaco.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?