Marvel

Loki: 1ª Temporada (2021)

• O ápice do narcisismo

Eu nunca vi um estúdio ter tanta consistência assim. Posso soar como um legítimo marvete alienado agora, mas é impressionante o que essa empresa faz. A Marvel simplesmente não erra. Ok, podemos argumentar que alguns filmes foram mais fracos do que a média, como O Incrível Hulk e os dois primeiros filmes de Thor. Ainda assim, são erros esparsos, que não afetam a qualidade geral do universo cinematográfico. Da mesma forma que a Marvel acumulou mais falhas em seus primeiros filmes, seria compreensível se acontecesse a mesma coisa nas primeiras séries. Porém, logo de cara eles nos agraciaram com WandaVision, entregaram um sólido Falcão e o Soldado Invernal e agora lançaram um maravilhoso Loki. Uma vez mais, a Marvel acertou na mosca.

 

Sinopse

O fato de Hulk odiar escadas foi o que proporcionou a existência dessa história. Depois de o Tesseract se oferecer para ser coletado, um derrotado Loki pós Batalha de Nova York se mandou para algum lugar desconhecido do mundo. Ao se teletransportar com a Joia do Espaço, o asgardiano logo foi notado pela Autoridade de Variância Temporal, ou AVT para os íntimos. A questão é que aquilo não deveria ter acontecido, e o simples ato de ele ter fugido de NY se tornou um evento paradoxal tão grande que a única saída seria a destruição daquela linha do tempo inteira. Loki então é levado para ser julgado pelos seus crimes, mas um dos agentes, Mobius, decide utilizá-lo como consultor na busca por um outro Loki transgressor do espaço-tempo.

Nem a agência controladora do maldito tempo escapa da burocracia

Crítica

Loki possui muito mais semelhanças com WandaVision do que Falcão e o Soldado Invernal. Como assim, Leleco? Bom, vamos lá. Nas críticas das séries em questão, eu mencionei que a primeira se parecia muito mais com um filme dos Vingadores, enquanto a segunda se assemelhava muito mais a um capítulo das trilogias do Homem de Ferro ou do Capitão América. Em outras palavras, a trama de WandaVision tem proporções bem mais massivas, enquanto Falcão e o Soldado Invernal é essencialmente mais local.

Era de se esperar que Loki fosse mais espetacular, no sentido de que obviamente abordaria mais coisas do macro do que do micro. Afinal de contas, tinha uma Joia do Infinito e uma possibilidade de multiverso na jogada, considerando que o Loki desta série não é o mesmo Loki assassinado por Thanos em Guerra Infinita. Nessa linha de raciocínio, Loki entrega exatamente o que se espera. Logo de cara, o enredo já nos apresenta conceitos que fazem a gente se sentir pequeno. A importância da AVT é tão grande que faz a batalha em Sokovia parecer uma queda de braço entre alunos da 5ª série que desejam provar a sua imensa força física.

A tendência do MCU é justamente essa, de aumentar cada vez mais a proporção das ameaças, fazendo com que inimigos anteriores se tornem triviais. Loki faz isso muito bem, e fica estampado no rosto do protagonista a mesma sensação que a obra deseja nos passar, de que as possibilidades são infinitas e somos relativamente insignificantes quando pensamos no tamanho do universo. Ao mesmo tempo em que aplica essa ideia, a série é capaz de manter os pés no chão e salientar a importância desses acontecimentos que podem parecer minúsculos.

Os primeiros episódios são bastante explicativos. O roteiro abdica momentaneamente da ação para que possamos ter um panorama melhor do que vem a seguir. O conflito principal é introduzido aos poucos e, à medida que o tempo passa, ele vai se transformando em uma verdadeira bola de neve. Os personagens ganham camadas, e Loki sabe muito bem os momentos de pisar no freio e as partes em que deve acelerar. A marcante trilha sonora dá uma sensação de alerta constante, como se algo esplendoroso fosse ocorrer a qualquer momento. Assim como em WandaVision, aqui há um toque de urgência na história. Porém, enquanto na série anterior a urgência era mascarada pelo mistério, em Loki a urgência é expandida pelo contexto criado no roteiro.

A originalidade da obra também é digna de nota. Ao mesmo tempo em que trabalha conceitos familiares, com os momentos tão característicos de alívio cômico, há muita coisa singular em Loki. Nenhuma outra produção da Marvel tinha aumentado tanto o alcance das histórias. É claro que houveram muitos marcos como a primeira incursão espacial e o primeiro contato com diferentes linhas do tempo, mas Loki deixa bem claro que pode acontecer de tudo no MCU. Ora, se existem infinitas versões das mesmas pessoas, existem infinitas histórias para serem contadas. Enquanto em Ultimato eu fui atingido por um sentimento de que não tinha mais para onde o MCU ir sem se tornar repetitivo, Loki me provou que é possível desenvolver literalmente qualquer coisa, em qualquer época e em qualquer lugar.

Ao contrário da maioria das opiniões que eu li na internet, eu não fui muito fã do final. Achei que o último episódio foi o mais fraco da temporada, e que a série enrolou demais um momento que poderia (e deveria) ter sido muito mais épico do que realmente foi. A construção do clímax de Loki foi perfeita, mas o auge esteve justamente no processo, e não no resultado. Se isso tivesse acontecido nos minutos finais do último episódio, sem problemas. Porém, como a experiência acabou sendo esticada, não senti nem de perto o peso que o capítulo deveria ter tido. A perspectiva da futura ameaça não me pegou, pois não tivemos nenhum vislumbre de quais possíveis consequências serão postas em prática.

Também enxerguei alguns outros problemas na temporada. Pode não ser uma opinião muito popular, mas pra mim erraram um pouco a mão no próprio Loki. A evolução do personagem aconteceu de forma muito rápida pro meu gosto. Se o protagonista fosse o Loki pós Ragnarok, teria sido perfeito. Contudo, este Loki presente na série é o Loki maluco, genocida, sedento pelo poder. O seu ponto de virada não foi totalmente amadurecido. Além disso, o roteiro coloca um dilema muito preguiçoso, cada vez mais comum na cultura popular e em sua tendência de “humanizar os vilões”. Não me entendam mal, eu acho isso uma excelente ideia, mas não quando é feito de maneira expositiva.

Desde o primeiro Thor, era mais do que óbvio que Loki era daquele jeito por conta dos seus tramas, a sensação de não pertencimento. A série fez questão de falar isso com todas as letras, martelando constantemente sobre as motivações do personagem, que já tinham sido mais do que trabalhadas anteriormente. Isso acabou diminuindo o brilho do protagonista. Na primeira metade da temporada, dava pra sentir que aquele era o Loki. Na metade final, a minha visão foi de um vilão se transformando em um herói, e não um vilão se convertendo em anti-herói. Loki foi tão humanizado que perdeu as principais características que o deixavam tão bom, como a sua imprevisibilidade. É claro que ele poderia ter evoluído e mudado o comportamento eventualmente, mas o Loki dos últimos episódios não tinha quase nada que o identificasse como o Loki que conhecemos desde a Fase 1 do MCU.

Um presidente melhor do que o Trump

Veredito

Antes do lançamento de Loki, ela era uma das séries que eu estava menos empolgado. Pra mim, o ciclo do personagem já havia se encerrado, e trazê-lo de volta poderia ser um erro. Queimei minha língua. A primeira temporada mostrou que ainda há muito potencial a ser desenvolvido, sem sacrificar o legado deixado ao longo do MCU. A história é envolvente, expande o universo da Marvel em sua maior escala até o momento e cria as primeiras ambientações para o futuro da saga. A obra tem os seus defeitos, com algumas escolhas criativas caindo no senso comum, mas consegue superá-los com uma identidade notável e um ritmo contagiante. A apresentação de conceitos é o grande mérito, e Loki marca seu nome como um dos estágios mais importantes do Universo Cinematográfico da Marvel. Nota final: 4,4/5.

E vamos continuar nosso bingo! A próxima pedra é… B-15!

 

>> Crítica de WandaVision

>> Crítica de Falcão e o Soldado Invernal

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Cara, a Marvel vai ter que explicar muito bem essa parada de linhas do tempo e realidades alternativas. Como um graduado em Fringe, as duas coisas podem ser diferentes, e eu não faço ideia de qual rumo o MCU vai tomar. Existem diferentes universos, e diferentes linhas do tempo dentro deles? Ou as diferentes linhas do tempo já são universos diferentes? Pelo que entendi, eles trataram ambos como a mesma coisa, mas se for isso, então já havia confirmação de multiverso lá em Ultimato. Tô só esperando pra ver agora.
  • Gostei muito da amizade entre o Mobius e o Loki, só gostaria de ter visto o nosso querido agente da AVT andar de jetski.
  • Muito massa o fato de todos os agentes serem na verdade Variantes, mas eu ainda não consigo entender por que só existem humanos naquele lugar. Pô, estamos falando de um local que controla TODAS AS LINHAS DO TEMPO DO UNIVERSO, e ainda assim todos os agentes são humanos? Confesso ter ficado um pouco desapontado com isso.
  • O Loki bêbado em Lamentis e quebrando a caneca no chão igual ao Thor foi o melhor fanservice possível.
  • Você acha que o Thanos é o ser mais poderoso do universo? Ou a Capitã Marvel, ou talvez a Feiticeira Escarlate? Calma lá, todos sabemos que o ser mais majestoso é a Miss Minutes, e nada vai fazer eu dizer o contrário.
  • Sobre a bissexualidade do Loki: faz total sentido com o personagem. Eu sempre o imaginei mais ou menos como um Jack Harkness de Doctor Who, então foi uma revelação agradável.
  • Não vou dizer que fiquei surpreso com os Guardiões do Tempo serem fakes, estava mais do que na cara. Porém, jurei que a Juíza Renslayer seria a verdadeira controladora de tudo. Ainda bem que não fizeram isso, teria sido óbvio demais.
  • Choose your fighter: Loki presidente, Lokinho, Loki Clássico, Loki Jacaré… qual o seu favorito? Eu gostei demais do Loki Clássico, e tenho quase certeza de que ele ainda tá vivo após a luta com o Alioth no Vazio. Afinal de contas, o cara enganou o Thanos, isso ali seria fichinha pra ele.
  • Não sei vocês, mas eu acho genial o Loki ter se apaixonado pela Sylvie, uma versão alternativa de si mesmo. Não tem nada mais Loki do que isso, sinceramente.
  • A parte do início no último episódio, com as falas de vários personagens importantes do MCU… aquilo ali foi sacanagem.
  • Ok, agora vamos falar sobre o Conquistador. Se eu fosse um fã mais casual da Marvel, nada sobre o novo personagem teria me dado uma ideia de próxima ameaça futura do MCU. Não fiquei nem um pouco impressionado com a aparição dele, sinceramente. Em alguns momentos, consegui enxergar um potencial ali escondido, como no momento em que ele subitamente ficou sério e ralhou duramente com a Sylvie, mas em geral me pareceu um vilão bem genérico. Também não curti o detalhe de ele ser da Terra, mesmo que isso faça parte da origem do personagem. Faz o universo parecer contraditoriamente pequeno. Em compensação, a ideia de ter vários Kangs diferentes, com personalidades diferentes e espalhados pelo mundo… isso eu quero muito ver.
  • Muito louco pensar que foi a Sylvie quem deu início a uma nova guerra temporal. E é bom demais imaginar que ela matando Aquele Que Permanece foi fruto dos seus traumas passados, que existiram exatamente por conta do sistema do próprio Kang. É o ciclo se fechando.
  • Ah, pronto, agora ninguém lembra de nada na AVT. Mobius, B-15… Loki terá muito trabalho pela frente.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Sylvie
Ao lado do nosso Deus da Trapaça, quem rouba a cena é ela. A sua dinâmica com o protagonista, as cenas de luta e sua motivação estão entre as maiores qualidades da temporada.

Um salve à Sylvie!

+ Melhor episódio: S01E05 (“Journey Into Mystery”)
O apogeu da série pode ser encontrado aqui. Tem tudo que poderíamos pedir: ação, drama, revelações, conflitos, cenas poderosas, humor e, é claro, fanservice.

Uma Noite no Museu 4: O Inimigo Agora é Outro

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).