Séries, Super-Heróis

Gotham: 5ª Temporada (2019)

• Oportunidade perdida

O desperdício final de algo com imenso potencial. Eu amo o universo do Batman. O Homem-Morcego é um excelente personagem, e os seus antagonistas são ainda melhores. Coringa, Pinguim, Charada, Mulher-Gato, Hera Venenosa, Bane, Espantalho, Ra’s al Ghul, Arlequina, Duas Caras. Fala sério, qual super-herói tem uma galeria de vilões tão recheada? Eu citei “apenas” dez deles, e ainda assim deixei incontáveis nomes importantes de fora, como o Sr. Frio e Hugo Strange. Como um todo, o universo do Batman é o mais completo dos quadrinhos e capaz de render um material praticamente infinito em todas as mídias possíveis, seja na televisão, nos games ou nas próprias HQs. Por esse motivo, Gotham poderia ter sido um produto espetacular. Imagina falar dos problemas de Gotham City a partir do momento em que Bruce Wayne viu seus pais serem assassinados na sua frente? Putz, só o pensamento já me deixava animado. É uma pena que a série não soube aproveitar a sua maravilhosa premissa.

 

Sinopse

Gotham está mergulhada na escuridão. As pontes que ligavam a cidade ao continente foram destruídas, isolando-a do restante da população. O local, conhecido por abrigar figuras das mais estranhas e perversas, tornou-se ainda pior quando o governo abandonou seus próprios habitantes à mercê de bandidos e da escassez de recursos. Sem expectativa de ajuda externa, James Gordon e a polícia de Gotham City têm a missão de proteger os inocentes dos perigos que lá existem, para assim convencer as autoridades de que a cidade vale a pena ser salva. Por outro lado, os chefões do crime desejam aproveitar a fragilidade dos mocinhos para impor de vez sua superioridade, em uma ilha dividida em territórios e comandada por sombras.

Zorro Total

Crítica

Eu não gostei muito da quarta temporada. Os roteiristas começaram a viajar na maionese™ e entregaram uma história chocha, capenga, manca, anêmica, frágil e inconsistente. Pra compensar, o final me deixou estranhamente empolgado pela quinta e última temporada. O cenário de uma Gotham mergulhada na escuridão e com vilões comandando regiões específicas, em um sistema parecido com uma guerra de gangues, me deu uma vibe muito Batman: Arkham City, um dos jogos que eu mais gosto. Tinha muita coisa a ser explorada ali, e a quantidade reduzida de episódios poderia dar a oportunidade de uma trama mais redondinha.
Como era de se esperar, Gotham mais uma vez desperdiça o seu próprio potencial. Os personagens continuam caricatos, a polícia permanece ridícula de ruim, e o enredo não dá uma sensação de realidade – algo bem comum nas crônicas do Batman. É possível transformar a ficção em algo crível, como a trilogia dirigida por Christopher Nolan. Gotham, no entanto, teima em querer se assimilar demais à formula quadrinhesca e acaba ficando boba.
As coreografias são terríveis. Em algumas lutas, eu pude ver claramente que os golpes não acertavam seus alvos, e ainda assim os atingidos caíam no chão em acrobacias exageradas. A profundidade das cenas é quase nula, elas duram poucos minutos e a direção insere toda hora uma imagem da cidade como passagem. Chega a ficar enjoativo. Algumas ações são inexplicáveis, como mudanças súbitas de personalidade e policiais hesitando em atirar contra criminosos em situações extremas, e a imortalidade de alguns personagens é irritante. Os diálogos não são nada inspirados e totalmente clichês.
Então como diabos a quinta temporada foi classificada como Bom Entretenimento, ó Leleco dos Pitacos?
Claramente, a série tenta apagar algumas cagadas da temporada anterior. O Coringa ter um jeito soturno e sério, a Lee firmar um relacionamento com o Nygma e ser líder do Narrows… entre outras. As tentativas de consertar esses erros não são feitas de maneira natural, mas valeu mesmo assim. Além disso, a reta final da série faz valer a pena. Até a sua metade, eu teria classificado tranquilamente a temporada como Mais ou Menos, mas os últimos episódios conseguiram ser bem-sucedidos na proposta de fechar um ciclo e iniciar outro, ainda que tenha escorregado em futilidades do roteiro.

A Gata e o Morcego

Veredito

A quinta temporada de Gotham é como um aluno que passou de ano raspando (no colégio do Leleco, a média é 2,5 em um total de 5). Repete os mesmos erros do passado, mas consegue corrigir outros e acabou não me cansando como as temporadas anteriores, um mérito dos episódios a menos. Sim, a série poderia ter sido lendária e eu pessoalmente tenho algumas ideias de arcos que poderiam ter sido explorados. Se eu fosse o roteirista principal, teria ignorado a maioria dos vilões do Batman e pensado em novos. Eu manteria Carmine Falcone como um dos antagonistas, reduziria a quantidade total de episódios e deixaria a história um pouco mais próxima da nossa realidade. Bruce Wayne teria sido um personagem terciário, ganhando importância somente nas últimas temporadas. É uma pena que Gotham não tenha feito isso. Em seus últimos suspiros, a série foi capaz de mostrar um pouco do seu potencial, divertindo e entretendo à medida que foi se aproximando de sua conclusão. Passou longe de chegar no nível Vale a Pena, mas me agradou o suficiente para acabar com uma avaliação mais positiva do que negativa. Nota final: 2,6/5.

Quebra da quarta parede

 

>> Crítica da 1ª Temporada de Gotham

>> Crítica da 2ª Temporada de Gotham

>> Crítica da 3ª Temporada de Gotham

>> Crítica da 4ª Temporada de Gotham

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Por que diabos o Gordon fica protegendo os bandidos, tipo o Zsasz, um assassino pra lá de confesso? Resolveria tantos problemas se ele simplesmente fizesse o seu trabalho de vez em quando.
  • Ok, eu entendo que o Hugo Strange é foda e pode curar qualquer um, mas não foi meio forçado o Edoardo ter ficado com uma barra de ferro atravessada em seu peito por horas e ainda assim estar vivo quando foi resgatado pela Nyssa al Ghul?
  • Não adianta, o Jeremiah nunca vai morrer. Somente nesta temporada, ele foi apunhalado e derrubado em um tanque de materiais químicos, onde poderia ter morrido queimado, afogado ou corroído. Foi uma piada ele ter sobrevivido. Entenderam? Piada?
  • Ah, então a Ecco no final das contas não era a Arlequina, da mesma forma que o Jerome não era o Coringa. Uau, que impressionante.
  • O Nygma descobrindo sobre a gravidez da Barbara ao perceber que ela “estava brilhando” foi patético, vamo combinar. Tudo bem que ele é inteligente, mas que eu saiba o cara não é mágico.
  • Não entendi por que a Sofia Falcone sobreviveu a um tiro na cabeça se nem lembraram disso na quinta temporada. Não era mais fácil terem matado ela, como fizeram com o Scarface/Ventríloquo?
  • Hoje eu tô mais esquecido do que a Magpie. Sério, eu passei a temporada inteira achando que ela era a mesma personagem da Ecco. Somente quando o Pinguim a alvejou e depois a Ecco apareceu com o Jeremiah que eu fui entender direito.
  • Eu e meu pai começamos a rir quando Gordon e Barbara deixaram a Nyssa fugir, depois de ambos resolverem acudir o general que tinha dado um tiro na própria cabeça. Os dois sequer foram atrás da Nyssa! Quanta idiotice.
  • Qual era o plano do Gordon quando ele e seu grupinho se puseram na frente das armas do Bane e do exército? Se a Barbara não tivesse voltado com o restante da galera, os outros teriam simplesmente morrido. Qual foi o sentido?
  • Sinceramente, não entendi a Lee ficando de boas com o Gordon tão rapidamente. Não foi ela que na temporada passada ficou o tempo todo revoltada com ele? Nesta temporada, além de topar com um Gordon engravidando uma mulher que tentou matá-la, a médica ficou apaixonadinha de uma hora pra outra. Eu queria que Lee e Gordon tivessem ficado juntos, mas poderia ter sido de um jeito mais natural.
  • A Barbara Gordon, futura Batgirl/Oráculo, não deveria ser um pouco mais velha no momento em que o Batman deu as caras pela primeira vez? Pergunta sincera, não conheço muito sobre a personagem.
  • Não vou nem entrar no mérito do Nygma construindo um motherfuckin’ submarino. Acho que não vale a pena.
  • Impressões do último episódio: odiei a caracterização dos personagens, quase nenhum me deu a impressão de que tinham se passado dez anos. Adorei a piadinha do bigode do Gordon, dele tirando e afirmando que não havia funcionado a tentativa. Achei muito bom o mistério por trás do retorno de Bruce Wayne, pareceu o Bruce Wayne dos filmes do Nolan. A nova atriz da Selina Kyle foi bem escalada, pareceu demais uma versão mais velha da atriz original. Sobre o visual do Batman, achei ok.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Barbara Kean
Eu nunca pensei que isso aconteceria, mas aconteceu. Barbara Kean foi a melhor personagem da temporada, senhoras e senhores. No começo, eu a achava somente uma personagem sem graça, posteriormente comecei a ter agonia do fato de tentarem transformá-la em uma Arlequina sem grife. Com uma postura mais conservadora aqui, ela me convenceu e brilhou sobretudo nos episódios finais. Bruce Wayne também foi bem, o segundo melhor da temporada.

Quem te viu, quem te vê, Barbarita

+ Melhor episódio: S05E11 (“They Did What?”)
Tirando uma tosqueira específica que ocorreu em um certo ponto, pra mim este capítulo acabou sendo o melhor. Pareceu genuinamente que a série acabaria ali, e poderia ter acabado tranquilamente.

O Casal que Nunca Aconteceu

+ Maior surpresa: Bane
Eu gosto muito desse vilão, e não pensava que seria trazido pro universo de Gotham tão tardiamente. A série conseguiu e ainda foi capaz de fazer com que ele fosse um bom personagem.

Muito Bane, conseguiu não desagradar

+ Mais subestimado: Victor Zsasz
Esse prêmio é mais pelo conjunto da obra. O ator Anthony Carrigan claramente sempre se entregou ao papel, e a série nunca conseguiu extrair o melhor dele. É um ótimo alívio cômico e esbanja personalidade.

Esta foto é da quarta temporada, mas quem liga?

+ Mais inútil: Ecco
Sinceramente, se removêssemos esta personagem da série, não faria a mínima diferença. Uma tentativa fajuta de dar vida à Arlequina, Ecco foi basicamente uma parceira maluca de Jeremiah. Pensei também em colocar a Magpie nesta categoria, mas pelo menos ela teve uma certa importância no destino do Pinguim. Se tivessem investido no Silêncio (um dos meus favoritos dos quadrinhos) ao invés das duas, teria sido mais sucesso.

Margot Robbie chora ao ver tal representação

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).