• A pior polícia do universo
O nosso tempo de vida é tão curto. Quando a gente menos espera, percebe que já se passaram dias, semanas, meses, anos. Gradativamente, nos tornamos pessoas diferentes à medida que o relógio da natureza avança. Como não sabemos até quando continuaremos vivos, o melhor a se fazer é aproveitar enquanto estamos respirando. Toda essa filosofia foi somente pra chegar até um ponto específico: por que diabos eu perco meu precioso tempo com séries ruins? A resposta é fácil e inevitável pra alguém como eu, que simplesmente não consegue deixar coisas inacabadas. Sim, eu sou sistemático e costumo terminar o que começo, não importa o que seja. Gotham segue a mesma lógica. A primeira temporada é bem mais ou menos, mas a segunda foi boa. A terceira descarrilou e a quarta chegou ao fundo do poço. Aliás, não sei qual das duas é pior, mas basta dizer que não são agradáveis. E eu continuo assistindo.
Sinopse
É difícil fazer sinopse de uma temporada com mais de 20 episódios. A trama que sustenta o início dificilmente se mantém até o fim, só sobrevive caso seja MUITO sólida. Não é o caso. Bom, depois de ter derrotado a ameaça do hipnotizador Jervis Tetch, James Gordon está na ativa contra um novo velho inimigo. Com a lacuna de poder em Gotham, Oswald Cobblepot resolve tomar as rédeas do submundo e impor um novo sistema. Com o nome de Pax Penguina, todos os atos ilícitos da cidade são fiscalizados pelo nosso amigo dos pés tortos. Funciona da seguinte maneira: para se cometer um crime, o meliante precisa ter uma autorização escrita do Pinguim que o permita continuar com aquilo. Aqueles que tiverem o passe livre não serão presos pela polícia, a qual em troca se vê perante uma Gotham com menos baderna e dentro de uma relativa calmaria. Tudo vai “bem” até que Gordon resolve fazer algo a respeito, pois julga que não pode existir nenhum tipo de crime, autorizado ou não. A partir daí, o império de Oswald passa a ser desafiado por figuras como um assassino que se veste como um porco, a sucessora de Carmine Falcone e outros lunáticos como Jerome Valeska.
Crítica
Não sei por onde começar. Eu deixei bastante explícito na minha crítica da terceira temporada que Gotham deveria entender que televisão não é quadrinho. Algumas coisas que funcionam em HQs simplesmente não se encaixam nas mídias audiovisuais. São poucos os arcos críveis da série, tudo é tão absurdo que não consegue convencer. Em Arrow, por exemplo, há uma quantidade abundante de exageros, mas o tom da obra é despretensioso e até meio adolescente. Gotham se leva a sério e age como se fosse um produto de roteiro talentoso. Não é. Vamos listar alguns problemas. Primeiramente, a incompetência da polícia. Aqueles que não são corruptos são tão inaptos pro cargo que não dá pra acreditar que o Gordon é o único que tenta fazer algo bom. Constantemente, vilões entram na delegacia, que parece ser a única da cidade, com um descaramento impressionante. Não é incomum a galera entrar no antro de policiais sacando armas de fogo e bombas. Segundamente, a série não explica por que Gotham é tão decadente. Em Coringa, que se passa no mesmo local, dá pra sentir o descaso das autoridades de forma orgânica. Sei que é covardia comparar, mas serve como reflexo de como é importante apresentar uma realidade mais tangível. Terceiramente, os personagens são tão caricatos que chegam a ser risíveis. E eu não consigo aceitar o fato de que ninguém mete um tiro na testa dos vilões. Os caras assassinam milhares de inocentes e os policiais sempre agem de maneira não letal, até quando não faz sentido essa abordagem.
Eu citei apenas alguns dos defeitos de roteiro. As questões técnicas também não são lá essas coisas. Algumas atuações são sofríveis, a transição de cenas sempre mostrando prédios é preguiçosa, as coreografias são extremamente amadoras e a quantidade de episódios só amplifica tudo de ruim que a série expõe. Pra ser justo, Gotham também tem seus lados positivos. James Gordon aparece em seu melhor momento até então e o núcleo de Sofia Falcone é interessante pois foi bem desenvolvido. O Pinguim tem seus altos e baixos, o Jerome é bom, mas fazem uma cagada imensa com ele, e o Pyg entretém se ignorarmos algumas coisas ridículas. Eu só fico triste porque a série não aproveita direito um de seus melhores aspectos, a relação entre Bruce e Selina.
Veredito
Os fãs da DC que me perdoem, mas Gotham é definitivamente ruim. São muitos capítulos inúteis, acontecimentos que entediam e uma mania péssima de sempre promover ressuscitações sem nenhuma função prática, se livrar de personagens com potencial e apostar naqueles que já foram espremidos à exaustão. A série não parece interessada em investir em elementos genuinamente bons, como a parceria entre Bruce e Selina, a curiosa aproximação do Charada com uma certa pessoa, a amizade mirim do Pinguim, a ascensão de Sofia e a loucura contagiosa de Jerome. Se a quarta temporada tivesse se concentrado mais nessas partes e deixado de lado o que houve de desagradável, talvez não tivesse sido tão fraquinha. Nota final: 1,9/5.
>> Crítica da 1ª Temporada de Gotham
>> Crítica da 2ª Temporada de Gotham
>> Crítica da 3ª Temporada de Gotham
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Como a temporada é imensa, dividi os tópicos em arcos. Falemos primeiro sobre o Gordon. Apesar de ter sido o melhor personagem, não teve um núcleo particularmente ótimo. Tivemos sua guerra à submissão policial, sua caça ao oinc oinc nefasto, seu romance com uma mafiosa e as consequências de tal ato – coisas bem James Gordon.
- Já o arco do Pinguim teve muita coisa. Ele começou a temporada como o bambambam do balacobaco, e foi perdendo força. Teve a amizade magnética com Martin que eu achei muito fofinha, apesar das circunstâncias. Sua rivalidade com Sofia também foi boa. No final, sua parceira com o Butch zumbi foi meio chatinha, mas foi louco vê-lo matando seu ex-companheiro. Quero até ver qual vai ser o destino de Solomon Grundy.
- Nygma e Lee: por que diabos ISSO deu certo? Sério, não consegui entender. Morri de preguiça da dualidade do Charada sendo testada, mas houve química com a doutora. Ela foi totalmente desconstruída, e vamo ver se vai ter morrido mesmo ou aquilo tudo foi só um bait.
- Ra’s al Ghul e Barbara: que sooooono. Sério, eu não aguento mais esse bagulho de Ra’s al Ghul. E tudo que circunda a Barbara fica ruim. Pra ser justo, nesta temporada ela tava mais aceitável, mas ainda assim tem muita forçação de barra. As atitudes de suas seguidoras tornaram tão óbvia a estratégia de formar um bloco feminino, mas não houve nenhuma sutileza. E aquele menino que o Ra’s mata logo antes de ser esfaqueado pelo Bruce teve mais carisma do que várias pessoas da série, pena que foi despachado cedo.
- Eu não consigo gostar do Bruce Wayne participando de todas as investigações. Todo o sentido dele ser um bom justiceiro é que ninguém desconfia. Um bilionário playboy viciado em bebidas e mulheres mascara a persona violenta do Batman, e não dá pra sentir essa vibe em Gotham. Teve aquilo dele se afastar do Alfred e tudo mais, só que se distanciou demais do Bruce Wayne criado na série. O erro foi lá atrás.
- Que merda foi aquela com os irmãos Valeska? Eu não achava o Jerome sensacional, mas ele era funcional como um futuro Coringa. O seu irmão Jeremiah é uma bosta, vamo combinar. Sem um pingo de personalidade própria e se ele for o Joker eu vou ficar muito puto. Por que Gotham se livra de personagens legais e fica com os ruins?????
- O Pyg foi um vilão secundário até decente, apesar de soar meio patético em múltiplas ocasiões. Pirei na decisão de matarem-no, até porque é um antagonista do Batman. Mas como eu conheço a série, daqui a pouco ele tá de volta.
- Sofia Falcone mil vezes melhor que Carmine Falcone. Fez o inferno na vida do Pinguim, matou o Pyg… e eu curti pra caralho ela levando um tiro na cabeça por parte da Lee, fechou bem todo o ciclo. Porém, resolveram estragar tudo ao fazerem-na SOBREVIVER àquilo. Ai, ai.
- Acho que tá na hora do Zsasz andar com as próprias pernas, não acham? Chega de ser capacho do Oswald.
- Todo mundo tem bazuca em Gotham, incrível.
- Pararam pra pensar no quão doentia é a caracterização da Ivy adulta? Tipo, tecnicamente ela é mais nova do que a Selina, uma adolescente. Então a Ivy é no máximo uma pré-adolescente. Agora analisa toda a sexualização em cima dela. Não sei o que é pior nessa personagem, sinceramente.
- O único momento que realmente me empolgou bastante surgiu nas últimas cenas da temporada. Todo aquele rolê da cidade ficar sem energia com caras do mal ocupando territórios trouxe muito a vibe dos jogos da saga Arkham. Se tiver pelo menos metade da qualidade dos games, a quinta e última temporada pode terminar por cima.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: James Gordon
Por incrível que pareça, é a primeira vez que ele ganha esse prêmio. Os anteriores tinham sido concedidos a Oswald Cobblepot, Edward Nygma e Jervis Tetch, respectivamente. De maneira inédita, o mocinho de Gotham brilha mais do que os antagonistas.
+ Melhor episódio: S04E10 (“Things That Go Boom”)
Eu nem acreditei quando terminei de ver. Foi de fato um bom capítulo na bagunça da série. Conseguiu me surpreender e três personagens conseguiram se destacar em uma tacada só, dois deles caras novas.
+ Maior surpresa: Sofia Falcone
Ao lado de Gordon e Martin, uma adição infantil, foi a única personagem a apresentar algo de diferente. Eu quase a elegi como Melhor Personagem, mas como o policial aguentou a barra por mais tempo, acho que ele merece. Mas foi por pouco.
+ Maior decepção: Harvey Bullock
Eu quase o classifiquei como Mais Inútil, só não fiz isso porque deu uma recuperada na reta final. Contudo, não o suficiente pra salvá-lo da Maior Decepção. Um cara que era tão bom ficou reduzido a um personagem esquecível e sem graça. Até a sua química com James Gordon diminuiu. Ele nunca foi o meu favorito, mas perdeu praticamente todo seu brilho ao ponto de se tornar dispensável.
+ Mais subestimada: Selina Kyle
Totalmente mal aproveitada nesta temporada. A futura Mulher-Gato sempre funcionou como alguém que trabalha sozinha, e aqui ficou muito na sombra de duas personagens que nem são tão boas assim, como a Tabitha. As melhores partes envolvendo Selina foram quando compartilhou tela com Bruce Wayne, um bom caminho pra trajetória de ambos ficar mais cativante.
+ Pior personagem: Ivy Pepper
Quando criança, era uma personagem fofinha, com uma certa personalidade retraída. Assim que cresceu magicamente, se tornou terrível. Agora, a Hera Venenosa resolveu passar por mais uma reformulação, com uma terceira atriz assumindo o papel. E tá pior do que nunca.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?