Mistério, Séries

Broadchurch: 2ª Temporada (2015)

• Até que se prove o contrário

Dois detetives opostos entre si, uma otimista e o outro pessimista. Um padre estimado pela comunidade. Um dono de banca de jornais cansado. Um grupo de jornalistas despreocupados com o bem comum e focados somente nos próprios benefícios. Uma senhora enigmática, dona de um cachorro simpático. Um pré-adolescente arredio e cheio de segredos. Um pai infiel, uma mãe enlutada. Uma irmã nebulosa, namorada de um garoto mais velho. Uma avó conciliadora. Uma dona de hotel acolhedora. Como era de se esperar em uma história de mistério e investigação, a morte da vítima, especificamente Danny Latimer, é sucedida por diversas variáveis. Broadchurch utilizou artifícios conhecidos do gênero e os modelou num sistema britânico e soturno, entregando o fardo sangrento nas mãos de um personagem com culpa imprevisível. Após a definição do criminoso ao final da primeira temporada, a segunda se trata de seu julgamento.

 

Sinopse

Normalmente eu nem faço isso por ser algo meio óbvio, mas vou ressaltar só pra não estragar a experiência de ninguém. Aqui no blog, eu não dou spoilers da temporada ou filme que estiver escrevendo, mas caso sua sinopse dependa de algum acontecimento mostrado anteriormente na obra, os abordarei em abundância. Em outras palavras, não tem como falar da segunda temporada de Broadchurch sem comentar sobre o que foi mostrado na primeira. Dito isso, vamos em frente.
Joe Miller estrangulou Danny Latimer até a morte. Pouco importa se o enfermeiro o sufocou sem querer ou se ele estava realmente apaixonado pelo menino. O que importa é que Danny Latimer está morto, e uma fragmento da cidade faleceu junto. Sua confissão ao detetive Alec Hardy poderia ter concedido uma espécie de encerramento aos familiares. Entretanto, em vez de se responsabilizar por seus atos, Joe resolve se declarar inocente para o tribunal e arrastar todo o caso para julgamento, contrariando o que ele mesmo havia decidido pouco antes. A decisão traz muita dor para os envolvidos, e a família da criança assassinada procura por uma talentosa advogada aposentada, Jocelyn Knight, para representá-la e obter um senso de justiça.

Belo cabelo, srta. Knight

Crítica

Eu não tinha tanta certeza de que estender o caso Danny Latimer faria bem a Broadchurch. A verdade é que tudo tinha acabado de um jeito decente na temporada anterior, com o culpado confessando seu crime e sendo preso por isso. A segunda poderia começar como um epílogo de sua antecessora, mostrando os traumas adquiridos pelos personagens, e eventualmente apresentar uma nova problemática na cidade. O terreno seria irregular de qualquer jeito, pois dizer que dois crimes grandes ocorreram dentro de um curto espaço de tempo, em um lugar que não estava acostumado com nada do tipo, poderia ser irreal em demasia. Optar por retomar o assassinato de Danny seria um terreno ainda mais irregular, pois correria o risco de cansar o telespectador.
Para tentar contornar esse risco, a temporada escolhe abordar duas histórias principais ao mesmo tempo. De um lado, o julgamento se transcorre. Do outro, Alec Hardy é confrontado pelo seu passado quando o caso de Sandbrook volta à tona. Aí se deu o maior erro da temporada. A beleza do passado de Alec era justamente por ser vago e mal explicado de propósito, não precisava cutucar a ferida de modo tão explícito. E se fosse para fazê-lo, pelo menos que nos apresentasse uma trama instigante. Broadchurch acaba desenvolvendo um enredo desinteressante, capitaneado por novos personagens sem um pingo de carisma. Quando volta as atenções para o julgamento, consegue ser bem-sucedido até escorregar em outro defeito: os absurdos do tribunal. O roteiro faz de tudo pra que o júri fictício acredite nas mentiras contadas pela advogada de Joe, Sharon Bishop, e não de um jeito natural. Eu tive a impressão de que Sharon poderia alegar qualquer coisa e todo mundo no tribunal acreditaria.
O grande ponto positivo da segunda temporada de Broadchurch é, de longe, a química entre os atores. David Tennant e Olivia Colman estão muito entrosados, e suas interações são sempre divertidas. O amadurecimento de Ellie é notável, assim como o crescimento da amargura de Alec. As aflições da família Latimer também são bem trabalhadas. O conjunto poderia ter sido melhor, no entanto, caso a série tivesse lidado melhor com as saídas de algumas peças do elenco. A avó de Danny, o namorado de Chloe e o vidente Steve Connelly, por exemplo, são excluídos da história – a primeira ao menos teve uma explicação, os últimos sumiram sem mais nem menos.

E se o meu cliente na verdade foi abduzido por um alienígena e convencido a estrangular Danny? #pensenisso

Veredito

Broadchurch foi capaz de se destacar em sua estreia porque reconheceu a repetição de sua premissa, e apostou em uma ambientação diferente e um desfecho improvável. Ah, e no absurdo talento de seus dois atores principais. Ao se aventurar por uma segunda temporada, agarrada firmemente a conceitos que deveriam ter ficado para trás e não trazidos mais uma vez à luz, a série abaixou um pouco o seu nível e perdeu pontos no quesito originalidade. Por outro lado, o desenvolvimento dos personagens é acertado e eu poderia tranquilamente assistir a horas de Alec e Ellie se provocando sem parar. Para não dizer que fui injusto, a temporada é concluída de maneira digna, mesmo tendo encarado alguns percalços pelo caminho. Só não vale voltar a falar de Danny Latimer e Sandbrook na terceira e última temporada, ok? Nota final: 3,3/5.

O uso mais certeiro de uma imagem para Veredito em toda a história do Pitacos do Leleco

 

>> Crítica da 1ª Temporada de Broadchurch

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Eu simplesmente amei a Ellie dando uma surra verbal no filhote em meio à multidão; deixou o moleque caladinho. Eu entendo o fato dele querer defender o pai, mas pelo amor de Deus, né? A mãe lá sofrendo mais do que tudo, e ele preocupado só com o pai. Aliás, o sofrimento da Ellie é muito subestimado pela galera de Broadchurch. A detetive vai precisar lidar para sempre com o fracasso de não ter percebido o que acontecia embaixo de seu nariz, sem mencionar a perda de um dos pilares de sua vida pra algo pior do que a morte.
  • Senti aquele romance entre a Jocelyn e a Maggie vindo de longe. Nem me surpreendi quando elas se beijaram. No momento em que a advogada mencionou que perdera a oportunidade de ficar com o amor da vida dela para o Alec, eu percebi que seria uma mulher. Era só ligar os pontos. Espero que sejam felizes juntas.
  • Cadê o vidente da cidade? Poderia ter previsto o resultado do julgamento, né.
  • Argh, que preguiça do rolê de Sandbrook. Claire e Lee sendo um casal nada saudável me fez rolar os olhos. A resolução do caso com o pai da menina tendo sido responsável pelo assassinato da babá e o Lee “obrigado” a matar a garota por ela saber demais foi legalzinha, eu confesso. Achei só que tudo ficou um pouco confuso. Eu só fui entender quem era quem totalmente no último episódio, antes disso minha cabeça tava girando com os nomes. Não conseguia nem chutar direito quem teria a culpa.
  • Olha, eu gostei da dinâmica das advogadas. No começo, eu desejei que tivesse sido o contrário – a aprendiz representando a família Latimer, e a veterana representando o Joe. Acabei aceitando que a inversão dos papéis seria algo original, mas os argumentos da Sharon poderiam ter sido melhores. Sinceramente, ela dizia a todo momento que o júri precisava levar em conta as provas, e a todo momento levantava suposições que não tinha como provar. E não sei por que a juíza invalidou a confissão de Joe, era só a Jocelyn ter sido um pouco mais incisiva no raciocínio de uma Ellie enfurecida como esposa, e não como policial. Afinal de contas, foi compreensível a agressão da detetive, ainda que ela não devesse ter cometido tal erro.
  • Aquele jornalistinha é chato pra caramba, hein? Como se já não tivesse feito merda suficiente com o Jack Marshall, ele continua insistindo em cobrir o caso dos Latimer por meio das redes sociais. Supera, amigo.
  • O Nige tem uma mãe tão fofa, né, o acusando no meio de um julgamento que não tem nada a ver com ele *—-*
  • Se tem alguém culpado pela declaração de inocência de Joe, esse alguém é o Mark. O cara fez merda atrás de merda, ficou se encontrando em segredo com o filho do assassino de seu próprio filho, mentiu para a polícia, mentiu para a esposa e criou um perfil perfeito de pai abusivo para a defesa. Parabéns, Mark.
  • Queria ter visto mais da relação entre os assistentes das advogadas. Tinha potencial ali, percebi isso depois que o Ben falou pra Abby que ela é uma pessoa má.
  • A ex-esposa do Alec é bem legal, né? Ela foi quem estragou tudo no caso Sandbrook e ainda fica com uma pose de superior ao ex-marido. Quanta audácia.
  • Gostei da decisão do Miller sendo declarado inocente, embora eu ache que as circunstâncias do julgamento foram um tanto quanto ridículas. E gostei também dele sendo expulso da cidade pela população, inclusive o padre Paul Coates que tentou absolvê-lo espiritualmente de seus pecados. O destino de Joe Miller agora é ser esquecido e ter sua existência desprezada pela natureza. Se tivesse se arrependido plenamente e lidado de frente com o peso de ter matado uma criança, era possível encontrar a redenção. O jeito que enfrentou a situação, contudo, disse muito sobre quem ele realmente era. Alguém digno de pena.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Ellie Miller
Quanto crescimento! A detetive amadureceu sua personalidade e tornou-se tão durona quanto seu chefe Alec, com a diferença de ser menos impaciente e, cá entre nós, uma policial mais competente.

Entre as policiais da cidade, ela é A Favorita (2018)

+ Melhor episódio: S02E08 (“Episode 8”)
É como se a temporada tivesse oscilado entre uma nota 6 e 7, e terminado com um sólido 8. Apesar do miolo aquém do esperado, a reta final é o ponto alto.

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Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).