• Os piores sobreviventes do mundo

Na introdução da minha crítica da 1ª temporada de Fear The Walking Dead, eu mencionei que tinha começado a ver The Walking Dead: World Beyond, mas parei porque estava muito ruim. Pois é, depois que eu finalizei a 2ª temporada de Fear com a minha namorada, decidimos que seria melhor voltarmos à outra série pra que não perdêssemos ainda mais o pique. Tenho a filosofia de nunca abandonar uma série, não importa o quanto a sua qualidade seja duvidosa. Então se prepare, porque este texto será recheado de rancor e julgamento.

Sinopse

Iris e Hope Bennett são duas irmãs que vivem em uma colônia protegida dos perigos do mundo infestado por zumbis. Elas nunca tiverem contato direto com os monstrengos, assim como a maior parte daquela comunidade. Preocupadas com o paradeiro do pai, um cientista brilhante que deixou o local para ajudar a misteriosa República Cívica, as adolescentes fogem e são acompanhadas pelos garotos Silas e Elton.

Crítica

Quando eu estava dando uma olhada na proposta de cada spin-off de The Walking Dead com meu pai, vi que World Beyond tinha essa pegada mais juvenil. Essa abordagem não o agradou, mas eu não tive nenhum problema com isso. Ora, uma série com foco em adolescentes não necessariamente precisa ser boba ou até mesmo infantil, e foi com esse pensamento otimista que eu comecei a assistir.

Vou começar falando do que eu gostei na 1ª temporada de World Beyond, porque cabe tudo em um só parágrafo. Eu curti a atmosfera meio Life is Strange (aquele jogo de videogame) e adorei a abertura personalizada de cada episódio, com o nome da série aparecendo na tela em diferentes cenários. Além disso, depois de uns oito capítulos horrorosos, confesso que a história dá uma melhorada a partir do momento em que há uma reviravolta. Não que a trama tenha alcançado um alto nível, mas não ficou tão torturante de assistir na reta final.

Ok, já falei das coisas boas. Agora, vamos falar das ruins. O principal problema está nos personagens. Caricatos, artificiais e sem um pingo de carisma, eles ficam ainda piores porque os atores e atrizes que os interpretam seriam reprovados em uma aula de teatro na escola do meu bairro. Alguns são melhores do que outros, mas em geral as atuações são sofríveis, pra dizer o mínimo. Isso fez com que eu não me importasse nem um pingo com 90% dos personagens e começasse a torcer pelos zumbis.

World Beyond se esforça demais pra criar uma identidade otimista a partir do ponto de vista da inocência adolescente naquele contexto. O problema é que o roteiro parece ter sido escrito justamente por um adolescente. Diálogos vazios e esquisitos, um enredo com incontáveis furos e decisões idiotas dos personagens… É tudo muito brega! Em vários momentos, parece que tô vendo a palestra de algum coach motivacional. E a direção não é muito melhor: as cenas são mal editadas, os flashbacks são mal encaixados, quebrando constantemente o ritmo da história e, tendo como base a nossa bagagem com The Walking Dead e Fear The Walking Dead, acreditar que a galera de World Beyond sobreviveu por tantos quilômetros, sem conseguir sequer derrotar os zumbis direito, é muito difícil.

A série é tão ruim que até os erros de continuidade e lógica ficam mais evidentes. Em uma série boa, a gente acaba perdoando algumas coisas porque tá muito ocupado se interessando pelo que tá rolando. Como isso não acontece em World Beyond, os defeitos nos detalhes saltam ainda mais aos olhos e fica difícil ignorá-los. Em certo ponto, eu e minha namorada começamos a fazer comentários a cada dois minutos, apontando o que havia de errado nas cenas em questão. Quem me conhece sabe que eu normalmente gosto de assistir a filmes e séries calado, apenas com algumas observações pontuais aqui e ali. Nesta série, falar em voz alta sobre os defeitos dela era quase uma estratégia de sobrevivência.

Pra piorar, ainda é uma temporada de dez episódios com cerca de 45 minutos cada, em média. Isso significa que eu perdi mais de sete horas da minha vida só com World Beyond, quando poderia estar vendo algo que realmente vale a pena. É, eu sei que isso é parcialmente culpa minha de insistir em uma série que eu tô odiando, sendo que eu poderia simplesmente abandoná-la, mas eu não consigo. Afinal de contas, como crítico de filmes e séries, não posso me dar ao luxo de assistir apenas a coisas que eu gosto. É preciso passar por algumas provações.

Veredito

Fazia tempo que eu não assistia a algo tão indigno da minha atenção. A 1ª temporada de The Walking Dead: World Beyond tem uma premissa razoável e algumas estilizações bacanas, mas é só. O restante é simplesmente amador. Os personagens não parecem pessoas de verdade, a história não possui um bom senso de passagem de tempo e é desenvolvida porcamente, e os diálogos poderiam ter sido gerados por inteligência artificial. Eu entendo que queriam deixar a narrativa um pouco mais leve por causa dos adolescentes que protagonizam a trama, mas os roteiristas se esqueceram de que eles estão em um apocalipse zumbi? Não dá pra ser tão idealista e ingênuo em um mundo assim.

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

• Pô, meio forçado o Elton ter encontrado por acaso o chifre que procurava, depois do Silas ter tropeçado nele em uma rua aleatória de um trajeto gigantesco de milhares de quilômetros. Quais são as chances daquilo acontecer? Pelo amor de Deus, né.
• Bicho, eu gostei muito da backstory da Hope tendo matado a mãe grávida do Elton, mas trabalharam muito mal esse arco. Fiquei a temporada inteira esperando pelo confronto entre Hope e Elton. Aí quando ela resolve contar pra ele, a série sequer mostra o diálogo completo! Tivemos que ver a Hope contar a história completa pra Huck e quase completa pra Iris e não tivemos a oportunidade de ver a mesma coisa com a principal pessoa envolvida? Não dá pra entender, parece que a série se sabota.
• Acho que daria pra fazer um tópico inteiro só com decisões idiotas de personagens. De cabeça, eu consigo pensar no grupo dormindo perto de um monte de fumaça em vez de recuar e buscar um abrigo com ar mais respirável; a Hope jogando fora um isqueiro em vez de usá-lo e guardá-lo pra outra ocasião; isso sem falar nos ridículos enfrentamentos dos personagens contra os zumbis. E não entendi aquela cena em que o Elton derruba um deles pra salvar o Percy e o zumbi simplesmente continua deitado no chão. Ele desmaiou, por acaso?
• Um negócio que eu genuinamente não entendi, vamos ver se fui o único. Por que o pessoal da República Cívica não falou a verdade pra Hope desde o começo? Tipo assim: então, Hope, o seu pai tá trabalhando em algo ultrassecreto e falou sobre algumas coisas geniais que você fez quando criança. O que acha de viajar conosco pra se juntar a ele no laboratório e ajudar a salvar o mundo? Eu tenho certeza de que a Hope teria aceitado. Caso ela não tivesse aceitado, aí sim dava pra partir pro plano B. Em vez disso, arriscaram demais em deixar a garota fugir, sem experiência, em uma jornada inacreditavelmente longa a pé, com o perigo de ela morrer logo nos primeiros metros. Não faz sentido.
• Inclusive, todo esse rolê da Hope supostamente ser super inteligente veio muito do nada na temporada. Tudo bem que ela soube fazer sozinha uma bebida alcoólica improvisada, mas isso não seria uma habilidade muito específica? E só porque a garota conseguiu montar um computador quer dizer que ela vai ser boa em biologia? Não são áreas completamente diferentes? Dava pra série ter trabalhado melhor isso, ter dado mais pistas da inteligência da Hope. Do nada, ela conseguiu sozinha decifrar a cifra lá da República Cívica e era pra gente se convencer de que ela era a nova Marie Curie?
• A Huck ser a traidora deu um gás novo pro final da temporada, não vou negar. Ela virou uma personagem mais interessante, até por causa do seu passado em que matou soldados pra não assassinar inocentes. No início, ela só ficava com aquelas caras e bocas a todo instante, repetindo incessantemente frases como “o (a) garoto (a) tem razão”. Ainda bem que melhorou.
• Pra encerrar, não sei pra que tanta cena pós-créditos na temporada. Se tivessem inserido melhor essas cenas nos próprios episódios, talvez eles teriam sido até mais legais de assistir. Eu quis saber mais sobre a Elizabeth e o que ela estava tramando, mas a série nunca deu a devida importância a isso. Uma pena.

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

+ Melhor personagem: Felix Carlucci
Lembra que eu falei que não me importava com 90% dos personagens de World Beyond? Pois é, Felix faz parte dos 10%. Acredito que ele seja o único personagem daqui que se encaixaria bem em The Walking Dead e Fear The Walking Dead. Não que seja um personagem no nível de um Rick Grimes ou um Daryl Dixon, mas as partes com ele eram um alento diante de tanta gente ruim. Também gostei ligeiramente de alguns momentos do Silas e da reta final da Huck, após um início de temporada bem fraco da personagem.

+ Melhor episódio: S01E09 (“The Deepest Cut”)
Não é um episódio bom no sentido mais amplo da palavra, mas eu tinha que eleger algum aqui, né? E esse tem alguns momentos legais, não dá pra negar.

+ Pior personagem: Iris Bennett
Essa categoria é uma verdadeira briga de foice no escuro. Eu poderia colocar pelo menos uns três aqui neste posto, e no final reduzi pra apenas dois: Elton e Iris. Achei o Elton simplesmente insuportável; é como se ele fosse um Eugene adolescente, sem carisma e com atuação ruim. Porém, acabei escolhendo a Iris porque, além de todos os seus defeitos, ela é meio que a protagonista da história, o que significa que tem mais tempo de tela e um maior potencial de me irritar.

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?