• Os dois grupos opostos
Um tema recorrente aqui no blog tem muito a ver com a apreciação da arte. Como julgar a qualidade de um filme? Qual a melhor maneira de assistir a algo? Existem regras quando o assunto é cinema? Todos esses são tópicos que eu já elaborei várias vezes em outros artigos ou até mesmo em críticas. Hoje eu tô aqui pra falar sobre as principais diferenças entre os posicionamentos do “público casual” e dos “ilustres críticos”.
Filmes de Oscar e filmes pipoca
Muito se fala sobre filmes que só o público gosta ou que só a crítica gosta. Normalmente, as pessoas utilizam o Rotten Tomatoes como principal fonte de informação nesse sentido, como se público e crítica fossem entidades que vivem uma espécie de simbiose, na qual todos os membros do mesmo grupo concordam entre si. A realidade não é bem assim, mas dá pra entender por que há essa ideia.
Antes de mais nada, é necessário ter consciência de que cada pessoa aprecia a arte de um jeito diferente, através de contextos diferentes. Tem gente que gosta de ir ao cinema pra pensar, pra se sentir intelectualmente desafiado. Alguns preferem uma diversão mais honesta, sem responsabilidade com uma história muito elaborada. Outros gostam do meio-termo, curtindo tramas bem construídas, mas que também servem ao propósito do entretenimento.
O senso comum é de que a crítica especializada gosta apenas dos chamados “filmes de Oscar”. O nome já diz: são aquelas obras que se destacam nos aspectos técnicos, seja no roteiro, na direção, na trilha sonora, na fotografia, na direção de arte ou em tantos outros aspectos que são contemplados na principal cerimônia cinematográfica do mundo. Por outro lado, o público especializado é aquele que gosta dos “filmes pipoca”, que não passam de produtos enlatados com enredos reciclados e orçamentos milionários. Mas quais são as características reais que os dois grupos possuem e os diferenciam tanto um do outro?
O poder da argumentação
Vou utilizar este parágrafo pra contar um pouco da minha jornada pessoal com o cinema. Em 2016, eu criei o Pitacos do Leleco porque queria falar sobre filmes e séries de maneira descontraída, sem precisar ficar analisando as coisas a fundo. Pra mim não importava se tal história era repetitiva ou se determinadas atuações eram sofríveis. Se eu gostei do filme, isso que valia. Desde então, eu passei por muitas fases – e acho que isso acontece com todo cinéfilo. Eu também vivi a época de achar que certos filmes pipoca eram vazios e que os filmes de Oscar eram cinema de verdade. Hoje, tento ser mais equilibrado.
Pra responder melhor a pergunta que eu levantei no título e ao longo de todo esse texto, a diferença entre a crítica e o público mais casual não tem a ver com um senso de superioridade. A diferença, e isso eu posso dizer com clareza agora que acompanho o cinema há mais tempo e com a mente um pouco mais madura, é que o papel da crítica é analisar algo além da superfície.
Tudo que eu acho sobre um filme, preciso saber argumentar. Se eu achei emocionante, devo explicar melhor como aquilo me tocou. Se eu achei entediante ou sem graça, é minha função justificar o porquê daquela experiência não ter funcionado. Além disso, o bom crítico não quer fazer você mudar de opinião e determinar o que presta ou o que não presta, e sim expandir os seus horizontes para algo além da visão básica.
A relação com outros críticos
Pra seguir em frente, é necessário saber separar as coisas. Eu posso reconhecer as virtudes de um filme e não gostar necessariamente dele. Já aconteceu incontáveis vezes comigo, e o contrário também é válido. Porém, na hora de fazer a crítica, eu não posso elaborar meu texto tomando como base apenas um desses critérios. No meu caso, pra desenvolver meu raciocínio, eu analiso friamente os aspectos técnicos e o que considero sobre cada um deles, e junto com a minha própria experiência pessoal.
O meu perfil é de dar mais importância pra experiência pessoal, porque pra mim é o que mais vale no final das contas, quando estamos falando de apreciação de arte. A arte é dependente da conexão. Você pode se conectar com algo que não tenha me fisgado, e não tem problema! Eu já vi muita gente achar que tem a obrigação de concordar com o crítico favorito, ou então seguir uma opinião altamente difundida através do efeito manada.
Eu acompanho muitos críticos diferentes. Os principais são o Otávio Ugá, o Waldemar Dalenogare e o Tiago Belotti. Também acompanho o PH Santos e de vez em quando me aventuro por outros profissionais, como Carol Moreira, Max Valarezo e Isabela Boscov. A opinião que mais costuma se alinhar com a minha é a do Otávio, e já falei sobre isso no meu primeiro artigo. Eu nunca leio ou vejo uma crítica de algo que ainda não escrevi a respeito, justamente pra não influenciar o meu texto. Mas, sempre que eu termino de escrever e vou assistir aos vídeos sobre um filme específico, já abro sabendo que provavelmente vou concordar com quase tudo que o Otávio elaborar.
Isso significa que eu devo levar a ferro e fogo tudo o que o Otávio ou qualquer outro crítico fala? É claro que não. Eu também já discordei das opiniões do Otávio antes. Um dos meus filmes preferidos da vida é Interestelar, e eu sei bem que ele desgosta bastante. O que acontece na minha relação com a crítica do Otávio é que temos visões de mundo parecidas, e é legal quando ele consegue tirar algumas palavras da minha boca. Mas a crítica não é só isso, e é por esse motivo que eu gosto de ver tantas outras, justamente pra observar diferentes experiências.
Pra fechar, a crítica não tem uma opinião mais válida do que o público geral, e o inverso também não ocorre. Um grupo não é mais importante do que o outro, cada um tem o seu papel e a sua identidade dentro da bolha cinematográfica. Eu, como crítico amador de cinema, tento mostrar por que eu gosto ou não do que assisto, dar recomendações e fazer vocês verem coisas que talvez tenham passado batido. Afinal, toda experiência é única, ainda mais quando falamos de arte.
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Luiz Felipe Mendes
Criador do Pitacos do Leleco e crítico de maior autoridade no mundo do cinema