Ficção científica, Séries

Doctor Who: 8ª Temporada (2014)

• Voltando às origens

Nova cara, novos planos, nova temporada. Esse mantra já virou rotina para nós fãs de Doctor Who. Ainda assim, parece que nunca conseguimos nos acostumar. Toda vez é a mesma coisa, a gente começa desconfiado com o novo ator protagonista, acaba gostando e depois sofre com sua saída como se ele fosse um filho nosso mudando de cidade. Quando Peter Capaldi foi anunciado como o 12º Doutor, a BBC deu uma cartada arriscada. Na série clássica, grande parte dos Doutores, incluindo o Primeiro de William Hartnell, foram representados por alguém mais velho e experiente. Na atual, a estratégia foi de colocar atores mais jovens para conquistar um novo público, até porque a maior parte dos admiradores deste específico universo de ficção científica era a galera que acompanhou os primórdios do Doutor lá nos anos 1960.
Peter Capaldi vai na contramão desse pensamento. Christopher Eccleston tinha 41 anos quando interpretou o Nono. David Tennant estava no auge dos seus 35 quando deu vida ao Décimo. Matt Smith era ainda mais novo quando ganhou o papel do Décimo Primeiro, com 26 aninhos quando foi lançada a quinta temporada. Peter Capaldi, por sua vez, estreou em DW com 56 e um característico cabelo grisalho. Esse fato pode parecer bobo, mas poderia gerar estranheza a um público que se identificou com uma representação jovial do Doutor, mesmo que isso soe meio sem sentido. O novo rosto de fato causou impacto e os fãs ficaram divididos – alguns afirmavam que era interessante ver o Time-Lord com um jeito diferente enquanto outros preferiam que tivesse sido simplesmente mais do mesmo. Devo confessar que fiquei entre os dois lados, pendendo um pouco para o primeiro.
O Décimo Segundo Doutor é bem distinto dos anteriores. Mesmo com o Nono sendo um pouco mais sério que os outros dois, ainda assim ele era bem brincalhão. O Décimo Segundo não faz esse estilo. Seu humor se manifesta através do sarcasmo, ele não possui bordões como os antecessores e suas maneiras são as de alguém meio carrancudo. Clara Oswald segue como sua companion e seu dilema é bastante pertinente: como continuar acompanhando alguém que tecnicamente é a mesma pessoa, mas ao mesmo tempo tão oposta daquela que aprendeu a gostar tanto? Este questionamento moral que ela constantemente faz a si mesma permanece em basicamente toda a temporada, mas não quer dizer que seja o único arco envolvendo-a. E é aí que entra o primeiro novo personagem que devo tomar nota.
Danny Pink é um veterano de guerra e professor de matemática comunzão que se torna amigo e eventualmente interesse amoroso de Clara. Sua normalidade, levando em conta as fronteiras fantásticas de Doctor Who, é bem apresentada e ganha potencial para ser desenvolvida. Porém, ele é um saco. Desculpa, gente, mas tenho que falar. O cara é um porre, não sei bem se por culpa do roteiro ou do ator Samuel Anderson. Com exceção de alguns momentos isolados, suas participações simplesmente não me desceram, e é aí que entra um contraste no formato de outra nova personagem, a qual pra mim foi a melhor deste oitavo (depende do ponto de vista) ano de Doctor Who.
Missy é uma mulher misteriosa que começa a aparecer no final dos episódios. Seu núcleo capta a atenção rapidamente. Na vida, pessoas tendem a morrer, certo? Calma que não tô dando uma de Platão, tô só explicando a situação. Nossas almas, se é que existem de verdade, são levadas para algum lugar desconhecido ou simplesmente desaparecem no cosmos, certo? Tá, tá, talvez eu tenha dado uma de Platão. O que você precisa saber é que alguns personagens secundários que partiram dessa pra melhor durante os capítulos subitamente aparecem em um lugar convenientemente chamado de “Afterlife” – Vida após a Morte, em tradução livre feita por mim. Confusas, essas pessoas e seres eram recebidos por essa tal de Missy, a qual parecia contar com uma personalidade especial. Ela vai ganhando cada vez mais importância e acaba terminando a temporada com o maior estilo possível.
Analisando sob um prisma geral, a oitava temporada começa com uma peculiaridade única. Desta vez, o Doutor está mais confuso do que o normal, perguntando sobre a cor dos seus rins, incapaz de pilotar a TARDIS (pra falar a verdade ele nunca soube direito né, a River provou isso) e meio que sem saber exatamente o que tava acontecendo. A máquina foderosa que viaja entre tempo e espaço desembarca na Londres Vitoriana, em que algo bem comum e corriqueiro está acontecendo. A porra de um DINOSSAURO simplesmente tá lá, andando pelas ruas como se fossem um Jurassic Park versão 1800. Alguns elementos possuem a marca registrada de uma obra, não concordam? Essas aleatoriedades absurdas são umas das coisas que eu mais amo em Doctor Who. E não para por aí. Temos também a singela participação de Robin Hood, um roubo a banco intergaláctico, uns bichos assustadores em uma escola, Danny Pink fazendo piruetas (esta é a mais bizarra), uma múmia e muitos outros inimigos do tipo. Além deles, temos os clássicos, é claro, mas vou deixar essa informação no ar.
O que eu achei da nova temporada e do novo Doutor? Bom, vários capítulos são muito bons. Gostei da relação entre a personalidade um tanto dócil da Clara com o mau-humor do Décimo Segundo, a atitude que emana experiência do protagonista com seus monólogos bem escritos e a trama principal envolvendo Missy e os mortos-vivos. Porém, talvez tenha sido o Doutor que menos me cativou em suas respectivas temporadas de estreia. Se você ainda não assistiu e isso te desanimou um pouco, deixe eu compartilhar algo contigo. Como Doutor, o meu favorito acabou se tornando o Capaldi, sabiam? Pra mim, ele é tudo que alguém como ele deveria ser, mas vou deixar os detalhes pros pitacos da nona e décima temporadas. Só tô deixando isso claro para que você saiba que vale a pena assistir e insistir, não simplesmente pular o momento do Décimo Segundo, que melhora consideravelmente.
Ah, novamente me dirijo a você que ainda não assistiu e por acaso deu uma passada aqui na minha casa travestida de blog. Se o rosto de Peter Capaldi lhe parece familiar dentro da própria série, saiba que até esse fato os roteiristas conseguiram explicar. Não sei se tinham essa intenção desde o começo, só sei que foi uma jogada muito bem feita. Curiosidades à parte, a oitava temporada não é melhor que nenhuma do período de Matt Smith, época de ouro de DW. No entanto, é um bom ponto de partida pra um novo Doutor com ótimas histórias que acontecem aqui e uma perspectiva de incontáveis outras que virão por aí.

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Olha, eu jamais ficaria feliz pela morte de alguém, mas não me incomodei em ver o Danny se despedindo da série. Me chame de cruel, mas tava tenso. Contudo, fiquei surpreso com a maneira como ele morreu do nada, sendo ATROPELADO. Em uma série com infinitos universos e espécies, Danny Pink conseguiu morrer ao ser ATROPELADO. Eu amo as ironias da vida.
  • Não pisque, não respire, não esqueça, não pense. Basicamente não viva se você estiver em Doctor Who.
  • Quando eu achava que a Missy não poderia ser mais foda, ela vai e me revela que é o MESTRE em uma de suas melhores representações. Sério, que personagem maravilhosa.
  • Aquele episódio do “roubo do tempo” é muito bommmm, adorei muito. Curto pra caramba tramas envolvendo roubos, não que isto signifique que eu seja um ladrão. Por favor, Polícia Federal, eu não roubei nada, eu juro
  • Clara se achando a pika das galáxias ao jogar a chave da TARDIS fora e o Doutor vai lá e mostra que ele é um pouquinho mais esperto que ela. Inocente mesmo.
  • Os ferozes Skovox Blitzer não são nada perto de Danny Pink, o homem que deu um mortal e acabou com a ameaça. Isso é que é um homem de verdade.
  • Ver o Décimo Primeiro aparecendo rapidamente naquela ligação da season premiere mexeu com meu coraçãozinho frágil.
  • A Clara não deve curtir muito os daleks, né. Impossível fazer isso levando em conta o histórico dela.
  • Rigsy, aquele grafiteiro secundário do episódio 9, teve mais química com a Clara em um capítulo do que com o Danny na temporada inteira. ACHO QUE DEU PRA PERCEBER QUE NÃO CURTI MUITO O PERSONAGEM DELE NÉ, RS.
  • A piada envolvendo o “are you my mummy?” no episódio que se passa no Expresso do Oriente foi ao mesmo tempo tão simples e tão genial. Eu amei.
  • Olha só, o Brigadeiro Lethbridge-Stewart apareceu!! Seria uma pena se eu nunca tivesse visto a série clássica e não soubesse de quem se tratava :/ precisei pesquisar sobre ele pra entender melhor.
  • Clara agarrando o pé de um jovem Doutor e sendo a responsável por seu medo futuro foi demais.
  • Sempre desconfiei que a Lua era um ovo! Sempre soube e nunca duvidei!

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Missy
Ainda não é aqui que o Doutor de Peter Capaldi brilha, até porque Missy rouba todos os holofotes.

Eu consigo claramente ver isto estampando uma capa de álbum de rock alternativo

+ Melhor episódio: S08E04 (“Listen”)
Olha, o capítulo que eu mais me diverti assistindo e de certo modo mais me manteve entretido foi o “Time Heist”, quinto da temporada. Porém, “Listen” é o mais poderoso. Ponto positivo também para o 11, com a maior revelação da trama.

Quando o professor me chamava pra resolver uma questão no quadro e eu conseguia

+ Pior personagem: Danny Pink
Olha, eu não curto muito esse negócio de apontar algo ou alguém como ruim porque estranhamente eu me sinto culpado. Faz tempo desde que assisti à essa temporada, mas de uma coisa eu me lembro: eu morria de preguiça das participações dele.

Clara Oswaldo e Daniel Rosa

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).