Drama, Séries

Sons of Anarchy: 7ª Temporada (2014)

• Harley & Hamlet

Chega pra lá, Breaking Bad. Game of Thrones, sai do caminho um pouquinho. The Walking Dead, Grey’s Anatomy, seus lugares ficam mais pra aquele lado. Todos vocês, abram alas para a melhor série da história: Sons of Anarchy, pode subir ao palco!
Receba os aplausos por ter nos proporcionado uma viagem tão diferente. Por ter feito a gente sorrir com o ronco do motor de uma motocicleta, por ter feito nós praticamente pegarmos um chapéu de cowboy, um uísque, um violão, tudo isso por suas maravilhosas canções de folk. Receba as congratulações por ter misturado poesia com violência, arte com estrada, o rústico com o belo, o vinho e o pão. Obrigado por nos apresentar Jax Teller e seus tantos companheiros, de diferentes patentes e parentes, mas uma família essencialmente. Foi uma honra mergulhar em seu universo, Kurt Sutter. Foi uma honra participar e acompanhar uma trama tão simples e ao mesmo tempo tão complexa.
Depois de sete temporadas do mais alto nível, com deslizes aqui e ali, Sons of Anarchy conquistou o lugar mais alto na minha prateleira de favoritas. E é assim que eu começo a minha crítica.
No primeiro olhar, podemos enxergar SOA como a história de um bando de machões andando de moto e mexendo com crimes. Quando mergulhamos um pouco mais, percebemos a intensidade das tramas principais e paralelas, com romance, traição, lealdade – a coisa aí já começa a melhorar. Quando terminamos de imergir no oceano de Charming, percebemos que se trata de uma série muito mais complexa do que parece. Para construir de maneira bem feita essa complexidade é preciso muito estudo, planejamento e talento. Agora, adaptar um enredo aparentemente resumido a motoqueiros e encaixar em uma das peças mais conhecidas da humanidade tá longe de ser para qualquer um.
Ao fim do último episódio da temporada e da série, aparece na tela a seguinte frase, traduzida: “Duvides que as estrelas são fogo; duvides que o sol se mova; duvides que a verdade seja mentirosa, mas nunca duvides que eu amo”. A citação é de ninguém menos que William Shakespeare, em sua obra mais famosa, Hamlet. Pode parecer um mero acaso, uma frase bonitinha com que Sons resolveu finalizar, mas é mais profundo que isso. Como o próprio Kurt Sutter, criador da série, já confirmou, a jornada de Jax Teller é uma espécie de Hamlet contemporâneo. Infelizmente, eu não sou gabaritado o suficiente pra apontar quais são todas as semelhanças entre as duas ficções, até porque eu nunca cheguei a ler Hamlet de fato. Porém, deem uma olhada na sinopse principal da criação de Shakespeare. Na Dinamarca, o rei Hamlet morre envenenado por Claudius, seu próprio irmão, que tentou fazer com que parecesse um acidente. Em seguida, Claudius se casou com Gertrude, a viúva de Hamlet. O filho do rei com Gertrude, príncipe Hamlet, vive tendo que lidar com o fantasma de seu falecido pai, eventualmente sendo movido por vingança.
Essa história é familiar? Não? Substitua o Hamlet pai por John Teller, o filho por Jax, Cassius por Clay e Gertrude por Gemma. Melhorou? Ainda tentei achar alguma relação maluca com o Muhammad Ali, batizado com o nome de Cassius Clay, mas eu teria que estar sob efeito de muitos tóxicos pra conseguir estabelecer um paralelo legal. Em sua base, Hamlet Sons of Anarchy são obras irmãs. É muita pretensão dizer que a produção de televisão se equipara à obra literária, mas não é loucura dizer que as duas são gigantes dentro de suas próprias gerações.
A sétima e última temporada de SOA é uma obra-prima que encerra uma obra-prima. Não é o melhor ano da série, com o quarto e o quinto ainda em um nível de qualidade um pouco acima. Aqui não temos aquele amontoado de descobertas, revelações e intrigas que tornaram tudo tão instigante, temos uma abordagem diferente: em um clima cada vez maior de desfecho, a série se preocupa em fechar todos os arcos, não deixar nenhuma ponta solta e concluir tudo que introduziu até então. Não é que isso seja pior, é apenas foda de um jeito diferente. Contudo, normalmente reviravoltas sempre prendem mais a atenção, contanto que sejam feitas da maneira correta. Talvez por isso eu considere a quarta e a quinta melhores. E com certeza também é um pouco pelo fato de suas antecessoras. Antes da quarta, Sons era uma série muito boa. Depois da quarta, manteve o alto nível até o fim. Então tem todo aquele aspecto de surpresa e tudo mais, a famosa expectativa.
Em resumo, eu não tenho medo de dizer que pra mim é a melhor série já produzida. Claro que eu não assisti todas, né, mas das que eu assisti foi de longe a mais completa. Adicione a trilha sonora mais espetacular feita em algo televisivo e a receita final não poderia sair ruim. Coloque atuações convincentes e um roteiro fechadinho e o resultado só poderia ser positivo. Quando alguém me pede recomendação, eu sempre vou começar com Sons of Anarchy. E deve permanecer assim por um bom tempo.

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • A equipe de Kurt Sutter deve ter algum poder paranormal pra músicas. Eles simplesmente acharam as canções perfeitas pra cada momento. Abrir a temporada com uma versão alternativa de “Bohemian Rhapsody” nos momentos violentos de Jax, a morte da Gemma com “Make It Rain” e a sequência final com “Come Join The Murder”. Uma salva de palmas pro time responsável.
  • Velho, eu nunca fiquei tão puto com um personagem igual eu fiquei com a Gemma. A “Mãe da Anarquia” fazia com que eu ficasse com raiva sempre que aparecia na tela, méritos para o roteiro e para a própria atriz Katey Sagal. Todavia, vê-la morrer pelas mãos do próprio filho foi tenso. E foi poético demais ela ter sido descoberta pelo neto, uma das únicas pessoas em quem ela não conseguiria causar nenhum mal.
  • Sobre a morte do Bobby: precisava sofrer tanto? O cara teve os dedos arrancados, o olho e ainda terminou assassinado. Ainda bem que o Jax meteu bala naquele otário do Marks.
  • Sobre a morte do Juice: todo mundo sabia que aquele momento chegaria, né. Foi um misto de sentimentos que ao mesmo tempo fez com que eu não sentisse nada. É como se eu estivesse olhando para um pé de manga, sabendo que a fruta madura iria acabar caindo. Era algo inevitável.
  • Sobre a morte do Eli: vacilo, ele já estava mais perdido do que tudo.
  • Sobre a morte do Unser: um personagem que adicionava peso à série e que sinceramente durou mais do que a gente esperava. Um cara com câncer terminal e na função de policial em uma cidade sangrenta até durou mais do que eu pensava. E morreu da maneira mais condizente com ele mesmo – protegendo a pessoa que mais amava no mundo.
  • Sobre a morte do Jury: a maior prova da paranoia de Jax, instituída por Gemma. Engraçado como, apesar do Teller ter uma grande parcela de culpa por ceder aos seus sentimentos mais impulsivos, a maioria das perdas de Sons of Anarchy tem culpa direta ou indireta da Gemma.
  • Sobre Tig e Venus: melhor casal.
  • Sobre Chibs no comando e Tig como o vice-presidente: não poderia ser mais perfeito.
  • Sobre o plano de Jax: foi triste vê-lo queimando o legado seu e de seu pai, mas no fundo a gente sabe que foi o melhor para os seus filhos. Ainda assim, o Abel sempre teve uma pinta de que não teria um futuro limpo, vamos dizer assim. É como se o menino tivesse uma sede de sangue lá dentro, sei lá. Levando isso em conta, provavelmente vai virar soldado dos EUA.
  • Sobre a despedida de Jax: quem não se emocionou com ele dando adeus para seus companheiros e fazendo o sacrifício pelo grupo não tem coração. E que cena foda ele em sua moto com 9839434 viaturas de polícia logo atrás, apenas para assisti-lo ser atropelado pelo mesmo caminhoneiro que deu carona para sua mãe pouco tempo antes.
  • Fica o questionamento: será que a Wendy vai ser uma boa mãe?
  • Ah, curti a participação do Marilyn Manson. Combinou bastante com a atmosfera de SOA.
  • Qual a interpretação de vocês acerca da mendiga andarilha? Segundo o criador, se trata de Jesus Cristo. Outros consideram-na como o “Mr. Mayhem”, a Morte em pessoa. Ai, como eu amo elementos misteriosos.

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

+ Melhor personagem: Jax Teller
O Hamlet do Folk, o Rei Arthur dos Tênis Brancos, o Príncipe da Simbologia, o Mestre da Retaliação e o Presidente de Samcro.

Todos saúdam o rei!

+ Melhor episódio: S07E13 (“Papa’s Goods”)
O encerramento perfeito de uma série praticamente perfeita.

Anarquia, a mãe de todos os Filhos

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).