DC (DCEU)

DCLeleco #09: Mulher-Maravilha 1984 (2020)

mulher-maravilha 1984

• Querer não é poder

É difícil rebater o argumento de que não sou marvete, caso alguma pessoa venha pra cima de mim dizendo isso. Eu acompanho fielmente todos os lançamentos da Marvel, entre filmes, séries e animações. Com a DC, não é a mesma coisa. No entanto, não é por eu ser hater ou algo do tipo, já falei isso aqui. A desorganização desse universo estendido me desanima totalmente, não vou mentir pra vocês. Como eu disse no meu pitaco de Liga da Justiça de Zack Snyder, o saldo total do DCEU é mais positivo do que negativo. Os únicos filmes que realmente acho ruins são Liga da Justiça Esquadrão Suicida. Mesmo assim, a falta de rumo dos responsáveis pela franquia me deixou meio descrente de continuar acompanhando. Além disso, as críticas negativas a respeito de Mulher-Maravilha 1984 e a pandemia da Covid-19 me fizeram demorar a ver. Finalmente, decidi dar o play nessa bagaça, com as expectativas lá embaixo. Não posso dizer que valeu a pena.

 

Sinopse

Quase 70 anos depois dos eventos de Mulher-Maravilha, a sequência se passa na saudosa década de 1980, em vez da soturna Primeira Guerra Mundial. Diana Prince vive às margens da sociedade, tentando se misturar e ocasionalmente salvando a vida de algumas pessoas aqui e ali, mas sem chamar muita atenção. Tudo muda quando a super-heroína se depara com a figura de Max Lord, um empresário desesperado pelo sucesso comercial, que descobre uma forma de realizar os desejos das pessoas. Com isso, Diana se vê frente a frente com uma figura de seu passado, um acontecimento que ganha sabor agridoce a partir do momento em que as empreitadas de Max começam a ir longe demais.

Foge, foge, Mulher-Maravilha

Crítica

O primeiro ato é entretenimento puro. Somos transportados para Themyscira pra acompanhar uma gincana mitológica com Diana ainda criança, buscando fincar seu nome entre as amazonas. Somente depois dessa longa e empolgante sequência, o filme começa a se desenrolar dentro do cenário que deseja contar a história. Ainda que esse começo fique quase totalmente deslocado do restante do enredo, é provavelmente a melhor parte de Mulher-Maravilha 1984.

A verdade é que o filme começa divertido, prossegue mediano e termina de forma ruim. Caramba, Leleco, onde é que eles erraram tanto? Bom, pra responder essa pergunta, precisamos passar por vários aspectos da obra. Em primeiro lugar, a parte mais importante: o roteiro. Eu comprei e achei legal a história se passar na década de 80, não é algo muito comum em filmes de super-herói. O antagonista Max Lord também parecia promissor, embora o alicerce da trama não fosse lá essas coisas. Todo mundo sabe que “realizar desejos” não é uma narrativa exatamente original no cinema e na televisão, mas eu gostei da forma como trabalharam essa habilidade. O vilão demora a revelar por que deve ser tratado como um vilão, e isso é geralmente um bom sinal.

No entanto, aconteceram alguns percalços pelo caminho. A história começa a ficar cada vez mais caricata e o filme passa a pecar nos detalhes. Contudo, são tantos detalhes insatisfatórios que eles deixam de ser detalhes. Uma coisa que pode parecer besta, mas que me afetou: não consigo ver sentido na roupa da Mulher-Maravilha. Aquilo era pra ser uma armadura? Porque, falando na prática, não tem nenhum motivo pra ela colocar aquelas vestes antes de uma luta. O traje não protege, e não serve pra mascarar a sua identidade, porque ela fica com o rosto à mostra. Portanto, realisticamente, não faz sentido algum. E, quando um filme se preocupa mais com a questão visual do que com a usual, isso tende a ser um obstáculo.

Mulher-Maravilha 1984, inclusive, se preocupa até demais com a parte visual. Vou dar o braço a torcer e dizer que a diretora Patty Jenkins diminuiu consideravelmente a quantidade de slow motion, afetando muito menos as cenas de ação. Mesmo assim, eu não sou fã da maneira com que são feitos alguns closes, que dão um tom de breguice a determinados momentos. Isso, sem falar na física da personagem. Não o físico, mas sim a física. Sei lá, me parece muito estranho em tela quando Diana Prince se locomove como se estivesse sendo arremessada numa catapulta. Como viés de comparação, o Hulk faz algo parecido em Os Vingadores, dando longos saltos. Com ele, essas cenas parecem mais críveis, enquanto com a Mulher-Maravilha tudo soa muito artificial.

As decisões criativas são deploráveis. A inserção de Steve Trevor na trama é, pra dizer o mínimo, de mal gosto. Antes que me acusem de estar falando um spoiler ao dizer que o personagem dele volta, eu me apoio no fato de que Mulher-Maravilha 1984 revelou isso nos trailers e imagens promocionais. De qualquer forma, não vou me estender nisso, apenas dizer que estragaram uma relação que tinha sido construída de forma muito competente em Mulher-Maravilha. A química entre eles é desconexa, sobretudo por conta de uma decisão criativa pra lá de questionável.

As atuações também não me agradaram. Pedro Pascal é o que mais entrega algo de diferente, dando um mínimo de profundidade a um personagem sem graça. Se não fosse por ele, provavelmente seria um antagonista ridículo. Gal Gadot está protocolar em sua função de protagonismo, enquanto Kristen Wiig vive Barbara Minerva, uma personagem estereotipada e que não diz a que veio. O filme, aliás, parece não justificar a sua existência – nem como filme em si, tampouco como peça do Universo Estendido da DC.

Hans Zimmer não estava em seus melhores dias quando liderou a trilha sonora de Mulher-Maravilha 1984. É apelativa e esquecível. Por fim, o filme todo é uma experiência desnecessariamente longa. Não vou mentir, quando ele se encontrava no terceiro ato, eu pausei várias vezes pra checar quanto tempo faltava pra acabar. Nem Esquadrão Suicida teve esse efeito em mim. E isso é dizer o bastante.

“Ain, o Steve Trevor tá muito estiloso com essa roupa”. Beleza, mas cê já deu uma olhada no cara de bigode ali?

Veredito

A DC errou feio com Mulher-Maravilha 1984. O filme tem um roteiro fraco, decisões criativas de pouca inspiração, construções mal feitas de personagens e o longa sequer aproveita dignamente seu cenário oitentista. A obra não justifica a sua própria existência, e ainda tenta enganar o espectador ao fornecer pedaços de fanservice que não são o bastante pra aumentar o nível geral. O pior de tudo, no entanto, é que WW84 não é ruim de uma forma divertida e vergonhosa, como Esquadrão Suicida. Ele é ruim de uma forma entediante e cansativa, como Liga da Justiça. Os primeiros minutos, justamente os que se afastam da proposta central, são os melhores, com alguns poucos lapsos de qualidade no decorrer da história. É um dos piores e mais decepcionantes filmes do DCEU, uma mera sombra do seu antecessor.

Essa parte foi legalzinha, vai

 

Aviso: Tem uma cena pós-créditos.

 

>> Batman vs Superman: A Origem da Justiça

>> Mulher-Maravilha

>> Liga da Justiça

>> Liga da Justiça de Zack Snyder

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Pra não ser totalmente injusto, tiveram algumas cenas de ação que foram boas, embora com alguns tons de breguice. Aquela sequência na estrada no Egito é um exemplo. Do lado positivo, foi legal ver a Diana correndo atrás de geral. Do outro, alguns zooms em sua cara incomodaram. Além de tudo, acho que o meu HBO Max estava com problema, porque a tela ficou travando enquanto rodavam as cenas. O som estava normal, mas a imagem ficava congelando. Até pensei que fosse questão de estilo, como o granulado da fotografia, mas não vi ninguém reclamando. Então, acho que foi só por aqui mesmo.
  • Até quando Hollywood vai continuar com esse estereótipo da nerd de óculos e cabelo na altura dos ombros? Sinceramente, foi muito vergonha alheia ver a Barbara sendo “alvo” de desprezo por parte das outras pessoas, porque aquilo é muito descolado da realidade. Talvez fosse de fato a realidade em 1984, mas o filme é feito pro público de 2020. E não sei se foi proposital, mas todo mundo sentiu um clima meio romântico entre ela e a Diana?
  • O primeiro ato inteiro foi só pra mostrar que a Diana não trapaceia, ecoando essa fala no final? Bicho, que desculpa tosca kkkk mas pelo menos foi divertida a gincana à la Fall Guys, como apontou minha namorada.
  • Vejam bem, a ideia de conceder desejos é pra lá de batida. Contudo, eu gostei do Max Lord não ficar com um item que concede desejos, mas ele mesmo se tornar o condutor desse poder. Admito que foi um ponto positivo, pra mim.
  • Certo, agora vamos voltar a criticar. Que diabos foi aquilo de todo mundo desistindo de seus desejos no final do filme, pelo bem da humanidade? Que bagulho mais patético. O filme quer mesmo me fazer acreditar que um terrorista visando justamente o caos não acharia aquilo tudo legal? Ou que uma pessoa que de repente ficou rica não iria querer aproveitar antes que aquilo tudo acabasse? Sem falar na resolução final da Mulher-Maravilha pra derrotar o Max Lord. Só faltou falar que aquele era o poder da amizade.
  • Ok, como é que Diana e Steve não se incomodaram de basicamente ter utilizado o corpo de um cara aleatório como brinquedo? Pô, se pararmos pra pensar bem criticamente, o fato de eles irem juntos pra cama não configuraria um estupro, já que o dono do corpo não estava lá pra escolher alguma coisa? E, além disso, não era mais fácil o roteiro ter trazido o Steve de volta à vida? Os desejos de todo mundo estavam se realizando, trazer uma pessoa do mundo dos mortos e reconstituir seu corpo não seria tão absurdo de se considerar dentro da mitologia do filme. Deixaria toda a relação bem mais sensível.
  • Como é que o Max Lord achou o filho, Alistair, tão rápido no meio do nada após desistir de dominar o planeta? Deve ser a mesma lógica da Diana e do Steve topando com os vilões no Egito, por acaso, no meio da estrada. Destino!
  • Não consegui aproveitar aquela cena da Mulher-Maravilha voando, simplesmente porque os efeitos visuais estavam terríveis. E olha que eu passo muito pano pra isso. Sobre a aparência da Mulher-Leopardo, prefiro nem comentar.
  • Qual foi o sentido da Diana colocar aquela roupa com asas no final, quando já tinha recuperado sua força e sendo que enfrentaria apenas uma adversária? Sem falar que aquelas asas eram úteis no contexto em que foram criadas, pra proteger de golpes de dezenas de soldados, e não em um duelo. Puro fanservice mal colocado. O do jato invisível eu até valorizo um pouquinho, pois foi um aceno inesperado pros fãs dos quadrinhos e rendeu uma cena bonita com os fogos de artifício. Mesmo assim, o meu lado racional ficou pensando: e se um rojão atingisse o jato, sei lá? Não seria meio perigoso? Talvez eu esteja sendo chato demais.
  • A cena pós-créditos foi boa, com a Lynda Carter dando as caras pros mais saudosistas. Pra quem não sabe, a atriz interpretou a Mulher-Maravilha na década de 1970. Será que ela de fato vai ganhar sequência como Asteria no DCEU?

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Max Lord
Os poucos momentos de respiro agradável em Mulher-Maravilha 1984 são por causa dele. Porém, não se engane: não é por se tratar de um personagem espetacular, mas sim porque o carisma de Pedro Pascal é tão grande que consegue elevar o patamar de um vilão conceitualmente medíocre.

Sim, eu sou cadelinha do Pedro Pascal, vai chorar?

+ Pior personagem: Barbara Minerva
Eu não culpo nem um pouco a Kristen Wiig por isso, porque o roteiro a sacaneou. A personagem parece um amontoado de estereótipos datados que poderiam até funcionar se o filme tivesse sido produzido em 1984. Quase 40 anos depois, não me desceu.

Ain, eu sou tão nerd, ninguém me entende :'(

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).