Drama, Séries

House of Cards: 6ª Temporada (2018)

• A ruína do castelo de cartas

Claire Underwood sempre foi uma personagem fantástica. Se você leu os meus outros pitacos de House of Cards, sabe que em muitos momentos eu a achei mais intrigante do que o próprio Frank. Porém, ela nunca foi protagonista. Com o tempo, suas aparições foram ficando cada vez mais importantes para a trama geral, a ponto dela ter se tornado presidente dos Estados Unidos ao final do quinto ano de produção. As rédeas naturalmente iriam passar para suas mãos, mas aí é que tá: naturalmente. Ela nunca foi protagonista. E a última temporada prova que não deveria ter sido, não daquele jeito.

 

Sinopse

Depois de toda a polêmica envolvendo Kevin Spacey, com diversas acusações de assédio sexual pesando em suas costas, a Netflix tomou a decisão de demitir o ator principal de sua série principal. Naquela altura, as filmagens já estavam sendo realizadas, mas a saída de Spacey fez com que elas fossem interrompidas mais ou menos no terceiro episódio. E aí, o que fazer com esse dilema? Bom, o número de episódios caiu de 13 para 8, Frank Underwood foi dado como morto e House of Cards teve sua temporada final confirmada.
Dessa forma, a elegante Claire Underwood – ou Hale – ficou com a responsabilidade de carregar no colo uma história que conquistara milhões de fãs ao redor do mundo. O enredo gira em torno do falecimento de Francis e das consequências de sua esposa ter ficado “isolada” em sua presidência, já que Doug Stamper está internado em uma clínica de reabilitação para se recuperar psicologicamente. Claire agora precisa enfrentar não apenas o desafio de governar sem nenhum tipo de auxílio ou influência, mas também os obstáculos de ser mulher em um cargo tão emblemático e as investidas de Bill e Annette Shepherd, dois empresários com muita força política na Casa Branca.

O trio mais chato de House of Cards

Crítica

Para suprir a saída de um personagem principal, o mínimo que se podia fazer era colocar alguém pelo menos tão bom quanto no papel. Apesar de Claire nunca ter sido o centro dos acontecimentos, não havia por que pensar que Robin Wright não conseguiria entregar uma interpretação que nos faria pelo menos aceitar melhor a ausência de seu marido na série. Mesmo tendo ouvido críticas pesadas sobre o desfecho de House of Cards, comecei os episódios deixando o preconceito de lado, tentando genuinamente gostar do encerramento. Deus sabe que tentei.
Os dois primeiros capítulos são um pouco desconfortáveis. Tem algo na figura de Claire que parece não se encaixar. Ela conversa mais com a gente, à la Frank, mas tudo parece muito fora do lugar. A quebra da quarta parede era incrível justamente porque não aparecia toda hora, e a ironia constante de Underwood nos fazia ficar vidrados naquelas cenas. Com Claire, em nenhum momento eu me senti hipnotizado por suas palavras, apenas… desconfortável. Ela não parecia feita para aquilo. Aliás, toda a personalidade de Claire foi distorcida a ponto de eu ter impressão de que era uma personagem diferente. Ela sempre exalou poder, elegância, força, energia, vitalidade, tudo isso sem precisar se reafirmar em nenhum momento. Ela era foda porque ela era, não porque ela dizia ser. A sexta temporada de House of Cards insiste muito em pontuar toda hora o fato dela ser mulher dentro de um universo dominado por homens, e não de uma maneira boa. A cada cinco minutos, o roteiro a fazia soltar frases como “você não diria isso se eu fosse um cara”, isso sem falar no desenvolvimento de sua relação com o falecido Frank. Eles alteram a dinâmica do casal de tal maneira que parece que a gente não entendia absolutamente nada dos dois, o que acaba causando uma certa frustração.
Continuando, os dois primeiros capítulos realmente causam estranheza, mas eu decidi perdoar aquilo porque era algo quase que inevitável, já que tinha me acostumado demais à presença do Frank. O terceiro, por outro lado, me deixou interessado, e o quarto fez com que eu enxergasse a temporada com outros olhos. “Talvez todas as críticas negativas tenham sido provenientes da falta de vontade de alguns fãs em considerar uma série sem o Francis”, pensei. Contudo, a temporada volta a cair e não levanta mais. Assassinatos são banalizados, a influência dos Shepherd parece ter vindo de outra série e nenhuma conclusão de arco é satisfatória. Além disso, recursos clichês são usados, como flashbacks e plot twists previsíveis. A última cena me deixou com um gosto amargo na boca, como se eu tivesse acabado de comer um chocolate muito gostoso, mas descoberto que tinha uma uva lá dentro. Decepção total.

Eu assistindo aos fechamentos de alguns arcos

Veredito

Foi um pouco difícil chegar à uma nota porque fiquei com medo do final me cegar. Como ele foi provavelmente o pior desfecho que eu já vi em séries (e olha que vi How I Met Your Mother e Dexter), tentei ao máximo analisar a temporada como um todo, e por isso avaliei em Lelecos cada episódio. Os dois primeiros ganharam 2,5. O terceiro 4, e o quarto 4,5. O quinto, o sexto e o sétimo mereceram no máximo 3, enquanto o oitavo valeu 0,5. Fazendo a média, deu 2,8 e uns quebrados. Pela lógica, eu arredondaria pra cima, só que o fator decepção abaixou a nota mais um pouquinho. House of Cards deixará saudades por tudo que mostrou ser capaz de apresentar, mas infelizmente foi finalizada sem nem um pingo de cuidado e inspiração.

A história foi tão boa que eu terminei de assistir não tem nem duas semanas direito, e nem lembro mais o nome desse cara

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Qual foi o sentido da Cathy Durant ter sobrevivido apenas pra morrer pouco depois? Não era mais fácil ela ter partido logo não? Aquilo foi só uma estratégia fajuta de dar mais peso pras ações da Claire. E aliás, estragaram um dos elementos mais legais da série. Os assassinatos de Peter Russo e Zoe Barnes foram espetaculares porque foram únicos, surpreendentes, necessários naquele ponto. A morte de LeAnn Harvey foi inferior, mas serviu pra mostrar a deterioração dos atos de Frank. Agora, mataram a Jane, o Hammerschmidt e a Cathy só pra poderem mostrar que a Claire era implacável. Ah, nem.
  • O Mark guardou o corpo do Tom mesmo, sério? Acabou que aquilo não serviu pra nada, né. Essa temporada foi recheada de acontecimentos que não tiveram desdobramento nenhum, incluindo toda aquela treta com os Shepherd, que nunca haviam sido mencionados e do nada viraram os reis da cocada preta. Acabou que o destino de nenhum deles ficou claro.
  • Ok, legal ter sido o Doug a matar o Frank, mas que coisa mais ridícula aquela cena com a Claire na Sala Oval. Pra mim, os dois poderiam ter morrido. Entendi o paralelo da última fala com a sequência inicial da série, na qual o Frank mata um cachorro, mas blé.
  • Sobre a Claire ter ficado grávida, vou fingir que isso não existiu. Foi tão patético e uma tentativa tão bosta de deixar um drama que nem levarei em consideração.
  • Inseriram a Corte das Corujas em House of Cards e eu nem vi. A galera planeja o assassinato de uma presidente como se combinassem o café da manhã do dia seguinte.
  • Agora até o Doug conversou com a câmera. Daqui a pouco até a Linda, que ressurgiu das cinzas no “funeral” da Cathy, vai começar a quebrar a quarta parede.
  • Nathan Green e Janine Skorsky: os personagens que sempre estiveram envolvidos, e ainda assim conseguiram sair vivos. Palmas pra eles.
  • Qual foi o sentido daqueles flashbacks? Pareciam os de Arrow, não tiveram nenhuma função prática. Pensei que fosse ter pelo menos alguma revelação ou algo do tipo.
  • Seth Grayson virou o cara mais irrelevante do planeta. Se tivesse desaparecido igual à Jackie Sharp e o Remy Danton, não teria feito falta. Só colocaram ele pra trabalhar com os Shepherd como desculpa pra mantê-lo no elenco, ter uma cara familiar naquele núcleo.
  • Foi só eu que achei meio micão a cena do gabinete feminino se apresentando? Tinha tudo pra ser um momento memorável, mas foi tããããão forçado que nem sei.
  • Tô com medo de fazer alguma coisa errada e aparecer do nada a Melody Cruz me criticando na TV. Tá complicado.
  • Bem que o Doug podia ter disponibilizado os áudios do Frank num canal do YouTube ou no Spotify, sei lá. É uma pena que ele era totalmente descontrolado. Será que a Claire conseguiu realmente se safar de tudo?

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Tom Hammerschmidt
Se for parar pra pensar, mesmo procurando sempre pela verdade e arriscando tudo, ele conseguiu a façanha de sobreviver sendo uma grande pedra no sapato do governo. Francamente, ninguém merece o prêmio de Melhor Personagem nesta temporada, mas, como eu li em algum lugar que não consigo me recordar, o Hammerschmidt foi o que mais se aproximou de uma pessoa real, com exageros de estereótipos na personalidade dos outros. Olha o nível da temporada, com Hammerschmidt sendo o melhorzinho

O massa é que esse camarada da esquerda nem apareceu na temporada

+ Melhor episódio: S06E04 (“Chapter 69”)
O único capítulo que lembrou um pouco a qualidade das temporadas anteriores, com vários personagens importantes reunidos em um mesmo local.

Se tivessem feito a temporada final focada só nele, teria sido 1000x melhor

+ Maior evolução: Mark Usher
Cara, gostei dele. Na segunda metade da temporada, ele perde muita força, mas demonstrou um bom potencial de evolução que infelizmente nunca veremos em tela.

Ele realmente envelheceu muito de uma temporada pra outra ou eu que tô louco?

+ Maior decepção: Claire Underwood
Se tivessem acertado a mão, ela poderia ter substituído Frank com dignidade. A excelente Robin Wright até tenta, mas o roteiro não ajuda.

Eu queria ter colocado ela mostrando o dedo do meio, mas não achei em qualidade boa, desculpa

+ Pior personagem: Seth Grayson
Não acrescenta em nada na história, é totalmente inútil.

Eu reclamando no Twitter imediatamente depois de maratonar

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).