Ficção científica, Séries

Fringe: 1ª Temporada (2008/09)

• As fronteiras da ciência

Há pouco mais de um ano, eu, meu irmão mais novo e minha namorada começamos a assistir The Walking Dead. Eu já tinha visto tudo até a nona temporada, ela havia chegado até o final da sexta e ele nunca começara. Acabamos chegando a um combinado: cada um sugeriria uma série dali pra frente. Como a ideia de iniciar TWD tinha sido minha e da minha namorada, o acordo era que a obra seguinte seria selecionada pelo meu irmão. Ele optou por Fringe, uma série que assistira há alguns anos com meu pai e meu irmão mais velho, e que tava querendo reassistir. Quando ele lançou a ideia aqui em casa, o programa deixou de ser somente de três pessoas e virou de seis – até minha mãe entrou na jogada. É verdade que ela viu só o primeiro episódio e depois desistiu, mas ainda assim fez parte. Demoramos um pouco a terminar a temporada, porque nem sempre todo mundo conseguia assistir aos episódios mais ou menos ao mesmo tempo, mas eventualmente fomos capazes de concluir.

 

Sinopse

Olivia Dunham trabalha para o FBI. A competente agente é convidada a trabalhar na Divisão Fringe a partir do momento em que passa a se envolver com casos mais estranhos do que o normal, e se mostra preparada para assumir a responsabilidade. A fim de resgatar o seu amante John Scott, à beira da morte em circunstâncias extremamente misteriosas, Olivia entra em contato com um homem chamado Peter Bishop, filho de um cientista genial. O problema é que o revolucionário Walter Bishop viveu os últimos 17 anos em um hospício, distanciando-se da realidade e demonstrando dificuldades em sintonizar-se com o mundo. Porém, é o melhor que Olivia tem no momento, e com a ajuda de seu sério chefe Phillip Broyles, do obstinado Charlie Francis e da voluntariosa assistente Astrid Farnsworth, a agente busca salvar a vida de seu par romântico e parceiro profissional.

A Agente da Voz Rouca

Crítica

O primeiro episódio é uma loucura que só. A introdução de 1h21min, praticamente um filme, coloca as cartas na mesa do jeito mais habilidoso possível pra que o espectador sinta-se imediatamente conectado ao universo de Fringe. Como era costume principalmente na década passada, a temporada possui uma quantidade absurda de episódios (20 no total), e aqui ainda temos um agravante: cada capítulo tem quase 1 hora de duração. Apesar de contar com muitos fillers, ou seja, episódios que não necessariamente avançam a trama principal, a série consegue torná-los interessantes ao apostar na criatividade dos casos e o absoluto carisma da maioria do elenco. Em relação ao primeiro tópico, temos acontecimentos envolvendo bebês que se desenvolvem tão rapidamente que chegam à velhice em questão de horas, pessoas visitando memórias alheias e estranhos homens carecas observando todas as ocorrências sem jamais interferir, isso pra citar somente alguns exemplos. Quanto ao segundo fator, temos personagens que trafegam entre a comicidade, o drama, a autoridade e o senso de amizade. É uma série, em muitos aspectos, completa em sua estrutura.
Isso não quer dizer que Fringe não possua defeitos. Apesar do explosivo piloto, a insistência com os famosos “casos da semana” podem tornar a experiência um pouco enjoativa no começo. A princípio, eu encarei os fillers com afinco, mas à medida em que fui percebendo a lentidão com que o arco central se desenrolava, bateu um pouco de desânimo. Para piorar, a estrutura bem estabelecida passou a se tornar repetitiva. Em todo episódio praticamente, alguém aleatório morria no começo, o Broyles puxava o saco da Olivia antes mesmo de ela demonstrar um diferencial notável, o Walter acertava todos os palpites relacionados aos casos, traçando paralelos com estudos feitos em seu passado, o Peter fazia algum comentário ácido, mas não divertido, e a empresa Massive Dinamic surgia, sempre presente nas ocorrências. Essa repetição de recursos me fez ser atingido por uma sensação de potencial desperdiçado, como se a série tivesse desistido no meio do caminho de alcançar o patamar que poderia.
Contudo, Fringe consegue recuperar esse potencial na segunda metade da temporada, sobretudo a partir do décimo quinto episódio. Os carismáticos personagens são expostos a situações que os tornam multifacetados, a trama principal avança com mais velocidade, e o último episódio deixa um gancho gigantesco pra segunda temporada. É impossível ver a última cena e não ficar no mínimo curioso pelo que vem em seguida.

O Malandro Piadista

Veredito

Um começo arrasador, personagens marcantes e um final promissor. A primeira temporada de Fringe mostra que a série não está para brincadeira e tampouco quer ser apenas mais uma no mercado. Desenvolvida por J.J. Abrams (diretor de Lost, Star Wars VIII e IX, Cloverfield e Star Trek), a criatividade é sem dúvidas a sua maior qualidade, e o mais importante defeito é a constante repetição de elementos. É como se os roteiristas tivessem aprendido a fazer uma comida deliciosa, a qual ficou tão boa que eles passaram a fazer todo dia a mesma receita. Ela continua gostosa, mas acaba enjoando um pouco com o tempo. Antes que fosse tarde demais, os cozinheiros lembraram-se de que possuem talento na culinária e decidiram testar novas receitas. A história principal é recheada de territórios a serem explorados no futuro, e os casos paralelos abusam da inventividade para que eles não pareçam mais do mesmo. No resumo da ópera, Fringe é um delicioso ensopado de ficção científica, com pitadas generosas de humor e mistério e uma tendência estimulante de evolução. Nota final: 4,1/5.

O Policial Ardiloso

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Observador (Observer), Criança (Child), Doente (Aeger), Rebelde (Rogue), Onda (Surge), Células (Cells), Códigos (Codes), Capturados (Taken), Voz (Voice), Negociação (Trade), Salvos (Saved), Bishop, Aviário (Avian), Olivia, Walter, Peter, Belly, Oito (Eight), Visão (Vision) e Túmulo (Grave). Essas foram, na ordem, todas as palavras ocultas nos episódios da primeira temporada, quando aparecem aqueles símbolos estranhos em momentos oportunos. Para quem não sabe, cada símbolo é correspondente a uma letra, formando palavras relacionadas aos temas dos capítulos. Tentei traduzi-los de modo que fizessem sentido, levando em consideração os acontecimentos da série.
  • É muito bom os nomes que o Walter chama a Astrid. Asterix, Astro, Asterisk… nunca perde a graça. E é excelente também quando a Divisão Fringe se depara com algum caso estranho e lá vem o Walter dizendo que isso lhe fez recordar de um acontecimento parecido no verão de 1982.
  • O melhor é que os meus irmãos e meu pai nem se lembravam direito do arco do John. Por isso, quando ele morreu no acidente de carro, eu não fiquei exatamente surpreso. O que me surpreendeu foi a presença constante do personagem ao longo da temporada. Ele não parecia ser grandes coisas, mas achei muito bom eles tratarem o luto como algo difícil de se desvencilhar. Normalmente, quando nos deparamos com mortes em séries, as suas consequências tendem a durar pouco tempo emocionalmente falando, mas Fringe fez isso muito bem com alguém que nem sobreviveu por tempo suficiente para que pudéssemos nos afeiçoar.
  • Fazendo uma breve recapitulação dos episódios, tivemos, respectivamente: um pouso de avião no qual ninguém chegou vivo; um bebê que ficou velho em questão de horas; um homem que recebe sinais de comunicação pela mente; um sujeito careca em busca de um cilindro; um pobre coitado capaz de afetar a eletricidade de maneira descontrolada; uma mulher que mata a partir de microondas no cérebro; uma informação tirada a partir de um cara morto; uma equação que carrega o segredo de atravessar coisas sólidas; um alucinógeno produzido por rãs; um ladrão que se fundiu com a parede de um banco; uma lesma que assassina pessoas por dentro; um vírus de computador que derrete cérebros (a série tem alguma coisa contra cérebros, pelo jeito); um monstro em outra aeronave; uma toxina que fecha orifícios e um desarme de bombas utilizando luzes; um mini-Observador que ficou fechado no subterrâneo por quase um século; um híbrido animal que deixa ovos no Charlie, mas tudo acaba dando certo; sonhos que se tornam realidade, com indivíduos morrendo; uma sífilis que leva uma moça infectada a drenar as espinhas de outrem; uma mulher que pega fogo no meio da rua; uma abertura de portal para outro universo. Ufa!
  • É tão óbvio que a Olivia vai acabar ficando com o Peter, né? A série ainda tentou dar uma despistada fazendo o Peter aproximar-se um pouco da Rachel, irmã da Olivia, mas todos sabemos como isso acabará.
  • Aquele maldito Mitchell Loeb enganou praticamente todo mundo. Ele ainda deve aparecer no futuro, né? O que importa é que o Sanford Harris morreu. O cara além de ter cometido uma série de assédios sexuais, pelo que a Olivia investigou, ainda queria atrapalhar o trabalho de geral. Sorri bastante quando a moça lá usou o seu poder contra ele através do vidro.
  • Depois que foi revelada a informação de que a Olivia foi testada com Cortexiphan, começou a fazer mais sentido ela ser a protagonista. Durante a primeira metade da temporada, eu sinceramente não via algo tão especial assim na personagem. Sim, era uma boa agente, mas não a ponto de justificar todo o luxo do Broyles e de praticamente todos em relação a ela. Tô curioso pra ver se vão aparecer mais pessoas expostas a esse medicamento, aliás.
  • Pensei que o David Robert Jones fosse durar mais, talvez como um dos antagonistas principais. Todo o rolê de se teletransportar, sentir na pele as consequências de tê-lo feito… assim que ele foi cortado ao meio no fechamento do portal, fiquei tipo “ué, ok”.
  • Como assim o Peter daquele universo na verdade morreu e o Peter que conhecemos é de um mundo paralelo???? Quando apareceu o túmulo do Peter e o Walter chorando, minha cabeça ficou girando. Antes que eu conseguisse chegar à conclusão óbvia, meu pai foi mais rápido do que eu e já mandou um “lembra quando ele disse que tinha ido buscar algo importante no outro universo?”, então não deu nem tempo de eu alcançar a revelação por conta própria. De qualquer forma, fiquei chocado, isso vai dar uma treta gigantesca no futuro. Se bobear, vai ser o motivo da guerra entre os mundos.
  • Torres gêmeas, William Bell junto à Olivia Dunham em uma realidade desconhecida? Ok, segunda temporada, pode vir com tudo.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Walter Bishop
O cientista está pelo menos uns dez degraus acima de todos os outros. O ator John Noble entrega uma performance brilhante, interpretando alguém cuja sanidade está comprometida, ao mesmo tempo que carrega uma genialidade fora do comum. Olivia começa um pouco em baixa, mas termina a temporada em alta. Os personagens de apoio, como Broyles, Astrid e a poderosa e evasiva Nina Sharp, exercem suas funções de maneira competente. Peter Bishop acaba sendo o elo fraco, mas não chega a ser ruim.

O Cientista Maluco

+ Melhor episódio: S01E15 (“Inner Child”)
Esta é uma escolha que pode vir a gerar polêmica. O episódio piloto faz muito bem o papel de conquistar adeptos para o mundo de Fringe, e entrega um enredo inteligente e magnético. Entretanto, o décimo quinto capítulo é uma gratíssima surpresa e um divisor de águas, de certa forma. Depois de passar por momentos um pouco inferiores em comparação aos episódios iniciais, “Inner Child” confirma de vez a volta por cima da temporada e traz aspectos únicos, tal qual a figura de uma criança enigmática.

O Chefe sem Sorrisos

+ Mais subestimado: Charlie Francis
É compreensível que a história dê mais enfoque a Olivia, John, Peter e Walter, mas Charlie é um personagem que poderia ter sido melhor aproveitado. Nas partes em que ganhou espaço, não decepcionou.

O Leal Companheiro

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).