Ficção científica, Séries

Fringe: 2ª Temporada (2009/10)

• Igualdades paralelas

Em sua primeira temporada, Fringe impressionou por misturar ficção científica, humor e drama em um só pacote, com personagens carismáticos e multifacetados, além de um enredo instigante e recheado de ramificações que, ao mesmo tempo em que respondem uma pergunta, criam outros dois questionamentos. Um dos pontos negativos foi uma característica bastante comum no universo da TV há alguns anos, mas que está diminuindo com o passar do tempo: temporadas com muitos episódios. O problema em si não é ter vários capítulos, mas sim dedicar mais ou menos metade deles para histórias secundárias que às vezes sequer contribuem com a trama central. Aqui, isto acontece de maneira um pouco diferente. No geral, a segunda temporada se mostra um pouco menos inspirada do que a anterior em alguns aspectos, mas a reta final faz valer muito a pena.

 

Sinopse

Depois de ser levada por William Bell ao universo paralelo no final da temporada anterior, Olivia Dunham passa um tempo desaparecida de sua realidade original. O retorno acaba ocorrendo, mas não sem repercussões – a agente do FBI é literalmente arremessada para dentro de seu universo e não consegue lembrar o que aconteceu. Aos poucos, ela tenta se recuperar de sua amnésia parcial, enquanto a Divisão Fringe se preocupa com uma nova ameaça: os shapeshifters, ou metamorfos. Essas criaturas podem assumir o corpo de qualquer um, e suas intenções são desconhecidas. No topo disso tudo, Walter Bishop fortalece sua relação com Peter, mas começa a se ver atormentado pelo segredo de que o filho não pertence àquele lugar.

Olivia Através do Espelho

Crítica

A primeira impressão que eu tive da segunda temporada foi de que ela seria mais direta. Ao contrário da temporada anterior, aqui temos poucos episódios que são realmente fillers, pois até os que apresentam o formato de “caso da semana” avançam ligeiramente na história principal. Enquanto a primeira temporada preparou o terreno para o desenvolvimento do conceito de outro universo e incidentes decorrentes das viagens entre realidades, a segunda parecia ter um quê de pré-guerra. Conhecemos finalmente a figura de William Bell e tivemos o primeiro vislumbre do universo paralelo, com as Torres Gêmeas ainda de pé, então o mínimo que eu esperava era ver muito mais desse lado da trama.
Não foi bem o que rolou. Os capítulos iniciais introduzem questões importantes para a continuidade da série, mas logo param por aí. O avanço se torna mais lento do que o necessário para que o enredo consiga se desenrolar em um espaço de 23 episódios, sendo que um deles é na verdade um episódio da primeira temporada que não foi ao ar. Além disso, o roteiro está um pouco mais desleixado do que de costume. O peso do luto, um dos destaques da primeira temporada, não é bem trabalhado, e isso culminou em fatores que me desanimaram um pouco ao longo da maratona. A história desiste de caminhar em linha reta e resolve dar voltas e mais voltas antes de chegar ao seu objetivo, e, embora tenha mais material e bagagem para dar seguimento à trama central, a série decide focar muito no desenvolvimento pessoal dos personagens. Uma decisão com boas intenções, mas não tão bem executada.
Fringe retoma as rédeas da situação a partir da segunda metade, mais especificamente após o décimo quinto capítulo. A história é posta novamente nos trilhos e tudo começa a acontecer freneticamente, seja por meio de acontecimentos lineares ou por flashbacks, os quais nos ajudam a ter uma visão mais abrangente dos assuntos trazidos. Dali para a frente, só destaco um episódio fora da curva ascendente da história principal, o vigésimo. Ele é 95% filler e conta com uma ficção dentro da ficção e o direito a um musical, mas não posso dizer que não foi divertido assistir.

Quando eu penso que tô bonito e me deparo com a realidade

Veredito

O começo instigante e o final explosivo salvam (muito bem, por sinal) a segunda temporada de Fringe, apesar do miolo arrastado. A série tinha tudo pra engrenar uma trama acelerada e centrada em sua temática fundamental, mas optou por reduzir a marcha e desenvolver um pouco mais os personagens antes de colocar em prática o seu plano principal. Uma decisão arriscada e que serviu para dar um pouco mais de profundidade ao enredo, mas que também fez com que a temporada se mostrasse um pouco inferior à primeira. Além disso, Fringe lidou com um acontecimento pra lá de importante com uma certa displicência, o que me deixou bastante desapontado. Por outro lado, os oito últimos episódios são todos acima da média – até mesmo o musical – e deixaram possibilidades infinitas para a terceira temporada. Nota final: 4,0/5.

Você vê que o cara exala poder quando consegue te fazer congelar só com o olhar

 

>> Crítica da 1ª Temporada de Fringe

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Torre (Tower), Espelho (Mirror), Enterro (Burial), Memória (Memory), Traição (Betray), Dejavu, Chegar (Arrive), Praga (Blight), Escondido (Hidden), Portal, Vingar (Avenge), Mutação (Mutate), Janela (Window), Pai (Father), Revelação (Reveal), Peters, Energia (Energy), Segredo (Secret), Ponte (Bridge), Coração (Heart), Retorno (Return), Arma (Weapon), Weiss. Tá aí a lista de todos os glifos da segunda temporada, na ordem de seus respectivos episódios.
  • Ok, agora precisamos falar sobre a morte de Charlie Francis. Que merda foi aquela? Eu não me importo quando as séries matam personagens importantes. Na verdade, não é que eu não me importe, só acho um recurso extremamente válido, principalmente pra adicionar mais verossimilhança a algo. Em uma série na qual ninguém morre, eu não sinto medo pelos personagens justamente porque sei que nada de grave vai acontecer com eles. Acho muito ousado quando uma obra se livra de alguém bastante relevante, mesmo que eu lamente pela morte de tal pessoa. Entretanto, isto é válido apenas quando é algo bem trabalhado. A morte do Charlie foi jogada, sem cuidado. O metamorfo matou ele, e foi isso. A Olivia ficou enlutada por um episódio e depois a vida seguiu. Na temporada passada, a série passou quase o tempo inteiro focando na morte do John, que nem era um personagem que havia criado vínculo com o público. Achei uma falta de consideração despacharem o Charlie e não darem o devido valor pra ele. Na minha opinião, foi o maior erro de Fringe até o momento.
  • Vamos fazer aquela breve recapitulação dos capítulos: Olivia é jogada de volta pro universo, os metamorfos começam a fazer estrago e o Charlie é morto; Sam Weiss (será que veremos mais dele?) ajuda a Olivia no seu processo de recuperação, e um bebê com DNA de escorpião aterroriza um local; agentes dos Observadores explodem aleatoriamente; metamorfos encontram uma cabeça que precisavam, e a Olivia mata o Charlie do Mal; sonhos são roubados, o médico era o culpado; foco no Broyles no caso de uma entidade que rouba a radiação das pessoas e no final é enviada pro espaço sideral porque simplesmente não morre; um moleque tem o poder de controlar mentes e tinha um monte de clone dele na Massive Dynamic (isso ainda vai ser abordado?); o August, um Observador, salva uma mina da morte no estilo Premonição porque se apaixonou por ela. Ele morre no processo; bichos parasitas ficam dentro do corpo das pessoas em uns barcos; Newton, o líder dos metamorfos, rouba pedaços dos cérebros de certos indivíduos e colocam-nos na cabeça do Walter, que vira o antigo Walter por alguns segundos e revela como conseguiu atravessar universos; a energia de um cara possui uma garota; em uma cidade onde todo mundo é deformado por causa de uns testes, o FBI opta por manter o segredo no fim; um vírus maluco infecta o Peter e uma renca de gente, mas a Divisão Fringe consegue a cura; um nazista tá matando minorias e a gente descobre que o pai do Walter trabalhou infiltrado no Eixo durante a Segunda Guerra, e que na verdade seu sobrenome é Bischoff e o Walter é descendente de alemães; um prédio do outro universo aparece neste universo, a Olivia salva geral e descobre que o Peter é de lá; Walter conta a história do Peter (amei a abertura retrô, inclusive); um cara transmite câncer pelo toque; outro cara volta no tempo pra salvar a noiva e não consegue; o Walternativo chega no universo dos nossos heróis, e o Peter salva todo mundo e descobre de onde realmente é; Walter conta uma historinha noir pra Ella, sobrinha da Olivia; Peter passa um tempo numa cidadezinha (adoro premissas assim), investigando uma mulher que teve partes do cérebro arrancados; todos no universo paralelo tentam resgatar o Peter e são parcialmente bem-sucedidos, porque a Olivia Paralela substituiu a Olivia Normal sem o povo saber. Não foi uma recapitulação tão breve, mas beleza.
  • Meghan Markle apareceu como alguém aparentemente importante, mas depois sumiu do mapa. Ok, né.
  • Aquele cara que ficou com várias pernas e braços quando os dois universos se colidiram foi uma das coisas mais bizarras que já vi na televisão.
  • De fato o William Bell era meio cuzão, mas ele deixou o Walter daquele jeito por escolha do próprio Walter e ainda usou sua própria energia pra mandar todo mundo pro outro universo. Queria ter visto mais dele.
  • Sobre a história do Peter, foi espetacular. É muito louco pensar que, se não fosse pelo Observador chegando bem na hora em que o Walternativo tava conseguindo a cura pro filho, o Walter não teria ido buscar o Peter naquele universo (ou será que teria?). De qualquer forma, o Peter seria importante de qualquer jeito segundo os Observadores, só me pergunto de que outra maneira.
  • O Walter recebendo a tulipa branca no desfecho daquele ótimo episódio com o viajante do tempo foi emocionante, mas eu sabia que o Peter descobriria da pior maneira. Só achei que foi meio forçado o modo que aconteceu. Naquela hora, lá na ponte, em que o policial foi obliterado e o Peter ficou intacto, eu pensava que fosse porque a onda tinha sido direcionada de alguma forma, e não porque o Peter era de outro universo. Achei que ele ligou os pontos de maneira dedutiva demais, poderiam ter caprichado melhor nisso.
  • Foi massa demais ver os Vingadores das Fronteiras se reunindo pra adentrar no universo paralelo. É uma pena que um morreu de câncer, um foi baleado e a outra entrou em combustão espontânea, mas isso é detalhe.
  • O Walternativo é assustador, a outra Olivia Dunham é intrigante, o Broyles me soou menos rígido, a Astrid foi o contrário e o Charlie é tão bom quanto o do nosso universo. E achei legal também ver o cientista da Nina Sharp, Brandon, trabalhando do outro lado em uma função mais elevada. Tô ansioso pra ver mais deles no futuro.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Walter Bishop
Pela segunda temporada seguida, o legítimo cientista maluco não decepcionou. É o personagem com mais camadas, o mais carismático, o mais engraçado, o que mais faz a história andar e a fundação na qual Fringe se sustenta. Excelente trabalho do ator John Noble.

O sorriso de quem tá pensando no que comeu no café da manhã

+ Melhor episódio: S02E22 (“Over There (Part 1)”)
Este episódio me deu uma vibe muito boa, sinceramente. Parecia que os Vingadores estavam se reunindo pra uma missão ou algo do tipo. Até agora, foi a ocasião em que eu mais fiquei empolgado em Fringe.

Esta aí não dá o braço a torcer

+ Maior evolução: AstroAsterix Astrid Farnsworth
Ela começou como uma personagem bem secundária, mas aos poucos ganhou uma posição de coadjuvante frequente durante a primeira temporada. Na segunda, Astrid pôde participar mais ativamente dos casos e virou alguém com muito potencial de evolução. E ah, sua relação com o Walter vem sendo uma das coisas mais legais de Fringe. Melhor dupla da série, fácil.

Só queria que o Waltinho acertasse meu nome

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).