Documentário, Séries

Last Chance U: 2ª Temporada (2017)

• Decisões ruins

Não tem momento melhor pra eu postar este pitaco do que hoje. Nesta quinta-feira, 10 de setembro, a NFL retorna com mais uma edição. O jogo de abertura entre o atual campeão Kansas City Chiefs e o sólido Houston Texans promete ser incrível, mas não estou aqui pra falar sobre o futebol americano profissional. Estou aqui pra falar da JUCO League. Em mais um ano seguindo a trajetória da East Mississippi Community College (EMCC), desta vez não temos mais as figuras conhecidas de Ronald Ollie, John Franklin III e DJ Law. Por isso, no começo você pode estranhar um pouco os novos jogadores, as novas histórias, os novos desafios. Porém, as duas primeiras temporadas possuem algo em comum: ambas valem muito a pena.

 

Sinopse

A premissa segue a mesma. Last Chance U acompanha uma vez mais a rotina de treinamentos e jogos do EMCC Lions na busca por uma vaga na disputa pelo campeonato nacional da categoria. Liderados por Buddy Stephens e aconselhados por Brittany Wagner, os jogadores precisam lidar com um problemão logo de cara: ninguém que esteve presente na briga do ano anterior poderá atuar na primeira rodada. Portanto, somente calouros e atletas recém-adicionados ao elenco poderão participar, mais ou menos metade do plantel inteiro não poderá sequer ir ao estádio. Além disso, os novos jogadores parecem não ter o mesmo talento de seus antecessores, e o nível de problemas emocionais aumentou. Será que os Lions vão conseguir superar os obstáculos?

All my homies love Brittany Wagner

Crítica

Apesar de manter a mesma estrutura da temporada passada, Last Chance U possui distinções importantes. Ninguém apresenta uma personalidade tão carismática quanto a de Ollie, por exemplo, e os episódios focam mais no lado esportivo e emocional dos jogadores, em detrimento da parte acadêmica. Na primeira temporada, os principais problemas estavam associados às notas dos atletas e suas inabilidades de conseguir as médias necessárias. Na segunda, os problemas estão na disciplina e na capacidade menor de realizar jogadas e se manter equilibrados em campo.
Consequentemente, um Buddy Stephens que inicia a temporada prometendo que tentará ser mais pacífico cria uma verdadeira panela de pressão no grupo. Por isso, os capítulos passam a se tornar mais incômodos de assistir, em alguns momentos até revoltantes. Os envolvidos na comissão técnica se mostram mais irritados com as câmeras, e a fisionomia dos profissionais aparenta estar mais cansada. Entretanto, essas diferenças não são um defeito da série; apenas indicam uma outra dinâmica. A cada vitória no ano anterior, o principal sentimento que me vinha era o de aquele time era o melhor dos EUA. Os jogadores eram praticamente uma família. Antes de jogar por eles mesmos, jogavam pelos companheiros. Isso foi em sua maioria benéfico para a atmosfera do clube, mas acabou sendo o que destruiu o sonho de alcançarem o campeonato nacional. Nesta temporada, os atletas estão bem mais desconectados. Grande parte demonstra estar preocupada apenas consigo, mesmo que isso signifique não estar nem aí para o resto do time. Quando ganham um duelo, o sentimento é de alívio por não terem perdido.
A série consegue capturar essas nuances de modo muito competente. Dá pra sentir a agonia, a dor, os sentimentos expostos em cada expressão. As análises dos passados de cada pessoa trazem proximidade aos personagens, e toda a produção é muito bem feita. A trilha sonora é acertada. A fotografia extremamente próxima do rosto de cada indivíduo ajuda a transmitir a sensação de que o vestiário está prestes a explodir. Às vezes, a câmera ficava tão perto de alguém claramente à beira de um colapso nervoso que dava pra sentir a reclamação vindo.
A única coisa que torna a segunda temporada um pouco inferior à primeira é justamente o elenco, o que não é exatamente culpa da série. No papel de destrinchar um grupo pressionado a cada minuto, Last Chance U foi praticamente perfeita.

Primeiro eu odiei, depois eu tolerei, e então acabei gostando?

Veredito

Last Chance U é um presente pra quem gosta de futebol americano, mas não se limita somente a esse público. Se você não é muito adepto do esporte, ainda assim pode adorar a série, pois ela vai muito além. Para falar a verdade, o futebol americano é só o cenário no qual acontece a história, o verdadeiro investimento está nos questionamentos acerca de segundas chances e caminhos para a redenção. Por expor acontecimentos reais de forma tão cru, em algumas partes a temporada pode se tornar um pouco maçante, sobretudo porque os jogadores não possuem o mesmo carisma dos anteriores. Não acho que seja uma obra própria para maratonas. Todavia, é um detalhe ínfimo se considerarmos as qualidades por trás de uma narrativa bem amarrada com contos paralelos que podem parecer pequenos, mas que são essenciais para a compreensão de cada ser humano exposto ali. Nota final: 4,4/5.

Para exorcizar o passado

 

>> Crítica da 1ª Temporada de Last Chance U

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Já começo dizendo que o Isaiah Wright foi muito injustiçado. O cara era claramente o melhor running back e atleta do time (além de todo o background foda com os irmãos), mas o Buddy nunca foi com o cara dele. Teve a hora que o Isaiah deu o chilique depois da concussão, realmente não fiquei do lado dele. Mas depois que machucou o tornozelo, o jeito que o Buddy o tratou foi inadequado demais. Começou a implicar com tudo que o moleque fazia, até quando ele tava rindo com os companheiros no banco. Sim, o Isaiah respondeu mal o Buddy algumas vezes, mas foi muita hipocrisia do técnico, considerando o tópico abaixo.
  • O Kam Carter era muito pior que o Isaiah. Ele ficava com a cara fechada o tempo todo, caçando encrenca, chegou a empurrar o Davern! Sério, se eu fosse o head coach naquela hora, teria dado um esporro fodido nele. Mas não, o Buddy o chamou pra conversar em particular e tudo foi resolvido. Que porra foi aquela? Quando o Isaiah respondeu mal, o Buddy apelou geral e desmotivou o jogador. Quando o Kam agrediu um técnico, o Buddy passa pano? Dois pesos, duas medidas? Desculpa, mas não concordo.
  • A história do De’Andre é muito complexa de se analisar. Não acho que deve ser considerado como um simples “erro” ou uma “decisão errada” o que ele fez, o cara agrediu uma mulher. De qualquer forma, ele pagou pelo ocorrido e a partir daí tentou de tudo para se tornar alguém melhor. Não é isso o que reabilitações devem ser? Se alguém comete um crime e vai pra cadeia, não deve ser largado lá pra apodrecer. O sentido da prisão é fazer com que uma pessoa aprenda com o que fez e volte à sociedade de um jeito melhor. Senão, não tem por que manter presídios sem função aparente, sendo que bandidos saem de lá ainda pior do que entraram. Putz, fiz um discurso sociológico aqui agora
  • O Vijay Miller deveria investir na carreira de running back, não acham? O cara só entrava pra fazer touchdown corrido. Ah, e gostei dele só por ter aparecido com a camisa do Brasil.
  • Melhor momento da temporada foi o Ollie dizendo “fuck that guy” pro Buddy. Em uma cena, ele foi melhor que a maioria dos outros personagens na temporada inteira. E gostei demais da reunião da Brittany com o DJ, o John, o Wyatt. Deixou o coração quentinho.
  • Foi de certa forma fofo de ver o apego do Chauncey à mãe. E que raiva de ver o Buddy tentando expulsá-la do jogo. O William Tim Bonner também foi legal, com aquele jeitão disperso pra caramba. Mas bom mesmo foi o Dakota Allen, nem dá pra acreditar em seu antecedente. Um cara centrado, inteligente e que parece finalmente ter se encontrado. Tomara que tenha sorte na vida.
  • A história de Coahoma foi pra lá de inspiradora. Eu fiquei o episódio inteiro achando que eles ganhariam dos Lions, mas acabou que a conclusão foi ainda melhor: vitória pra EMCC, mas um triunfo e a quebra da maldição pra Coahoma no jogo seguinte. Gostaria de ver mais deles no futuro.
  • Eu não tinha nada contra os cidadãos do restaurante, mas quando eles comemoraram a vitória do Trump eu lembrei que a série se passa no Mississippi. Era de se esperar.
  • Se formos sinceros aqui, os Lions não mereciam uma vaga no campeonato nacional. É claro, se não fosse pela punição eles teriam ganhado o primeiro jogo e ficado invictos, provavelmente estacionando entre os dois primeiros colocados. Porém, aquele time era descontrolado demais, ainda que tivesse talento. Acho que o título estadual ficou de bom tamanho.
  • A Brittany indo embora deu uma sensação de encerramento. Não fazia mais sentido a série continuar em Scooba mesmo. O técnico dos quarterbacks vazando, o coordenador ofensivo assumindo um papel administrativo… acho que eu tenho curiosidade apenas de ver rapidamente em um episódio como ficou o ambiente por lá. Agora eu tô mais ansioso pra ver como é a terceira temporada.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Isaiah Wright
De todos os jogadores, ele foi o que mais me apeguei. O seu arco foi uma montanha-russa de emoções, e capaz de gerar infinitas reflexões. Buddy Stephens foi bastante marcante também, ainda que tenha sido pelo lado negativo. Brittany Wagner é ótima, mas nesta temporada ficou um pouco apagada pelas circunstâncias do enredo.

Passei tanto pano pra ele que o chão virou porcelana

+ Melhor episódio: S02E01 (“Half a Team”)
Foram vários momentos incríveis ao longo da temporada, e o segundo capítulo foi excelente. Fico com o primeiro por conta da sensação de superação dentro das adversidades. Até me emocionei no final.

Yes, we Kam!

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).