• A calma depois da tempestade
Sabe quando a gente vive um momento muito intenso, e depois precisa parar um pouco para respirar? A terceira temporada de Orange Is The New Black segue a mesma lógica. A temporada anterior havia sido preenchida com uma carga pesada de emoções, capitaneada pelas tensões criadas por Vee. Com aquele arco finalizado, a série precisava pegar um pouco mais leve em sua sequência, pelo menos no início, para que não fôssemos arrebatados por mais um peso emocional. Bingo! A terceira temporada de OITNB é consideravelmente mais leve, possui uma trama geral mais tranquila e um desfecho bem mais ameno. Isso faz dela boa? Vamos saber agora.
Sinopse
Quem não ama o Dia das Mães, né? Uma celebração bonita, homenageando as pessoas que trouxeram cada um de nós ao mundo. Ok, maternidade encarcerada não é a ideal, mas as detentas também merecem a homenagem. E assim começa a terceira temporada. Joe Caputo é agora o administrador da Penitenciária Litchfield e quer fazer diferente de Natalie Figueroa, ou seja, seu desejo é de humanizar um pouco a prisão. Uma celebração de Dia das Mães é a maneira perfeita de alcançar esse objetivo. Embora os ânimos se mostrem um pouco mais tranquilos, é claro que aquele momento não estava fadado a durar. Alex Vause está de volta ao local. Red decide encerrar seus empreendimentos secretos na estufa. Uma infestação de percevejos invade os quartos. A administração opta por fechar a cadeia. Acho que deu pra entender o que estou dizendo.
Crítica
Um dos grandes méritos de Orange Is The New Black é o seu senso de humor. A obra consegue misturar muito bem o seu lado dramático com um viés cômico, sem que nenhum dos dois apareça mais do que o outro. É claro que em alguns momentos eles precisam aparecer mais do que o outro, mas isso é justificado na própria narrativa. Em geral, o equilíbrio costuma ser encontrado com maestria pelo roteiro.
A primeira temporada mesclou bastante os dois elementos. Na segunda, tivemos arcos dramáticos mais acentuados. Aqui, na terceira, o enredo é bem humorado em seu princípio, fazendo-nos embarcar com suavidade nos núcleos criados dentro da trama. O episódio inicial é um grande aglomerado de desenvolvimentos de personagens. A história não avança no sentido literal de tempo, mas cada ação serve a um propósito: dar mais profundidade a cada uma das peças da obra. Até quando pensamos que a série está apenas enrolando em vez de desdobrar acontecimentos, há um sentido para aquilo tudo. Se nos aproximamos das personagens, identificamo-nos com suas dores e torcemos ou não por elas, é porque o desenvolvimento foi bem feito.
Depois de um começo mais tranquilo, o terceiro ano resolve colocar suas cartas na mesa. Entram na área temas como tráfico de drogas, violência sexual e tensões administrativas. Pelos olhos de Caputo, ganhamos um agente infiltrado que nos informa de como a coisa toda funciona no alto escalão, pois, até o momento, tínhamos visto tudo apenas pela perspectiva das detentas. Pelos olhos de Tiffany Doggett, a nossa Caipira, temos vislumbres de como surgem os abusos de autoridade, sobretudo os provenientes de policiais, carcereiros e agentes da lei. Pelos olhos de Healy, percebemos a insegurança de uma pessoa que nunca aprendeu como agir com pessoas, e que ironicamente acha que está sempre fazendo o certo.
Essa troca de perspectivas é uma das qualidades que tornam Orange Is The New Black tão boa. Combinada ao humor ácido e um enredo que se recusa a ficar tedioso, a característica credencia a série como uma excelente maratona. Os flashbacks permanecem e nos dão ainda mais percepção a respeito da experiência pessoal de cada personagem, e como suas vivências as transformaram naquilo que são hoje. Os arcos secundários são divertidíssimos, como o da Suzanne escrevendo contos eróticos. Eu fico impressionado em como a narrativa consegue, ao mesmo tempo, falar seriamente sobre comportamentos nocivos e dar tempo de tela a um bando de detentas incomodadas com insetos invadindo suas camas.
Obviamente, nem tudo é impecável. Na temporada anterior, os protagonismos estavam muito mais fortes, e ficava bem claro quais eram as melhores personagens. Neste ano sobre o qual eu escrevo, a série perdeu um pouco a mão. Piper Chapman, por exemplo, já havia se afastado um pouco dos holofotes para dar mais espaço a suas companheiras de prisão, mas aqui ela se afastou também do público. Sua personagem está irreconhecível, e eu particularmente achei que a mudança ocorreu rápido demais. A série também desperdiça tempo com núcleos não tão interessantes assim, como os de Caputo tentando resolver os problemas com os chefões de Litchfield. Quando a obra se concentra no que tem de melhor, ou seja, suas prisioneiras, dificilmente erra. Entretanto, o enredo devaneia em excesso e às vezes se perde na sua própria proposta.
Em relação à primeira temporada, a terceira entrega mais atributos. Porém, faltou um pouco da solidez e a emoção latente da segunda, algo que não conseguiu ser repetido na sequência. De qualquer forma, não dá pra assistir à terceira temporada e não rir, se emocionar, refletir e se divertir.
Veredito
Com uma proposta mais dispersa do que na temporada passada, o terceiro ano de Orange Is The New Black é recheado de bons momentos. Cenas engraçadas, histórias divertidas e dramas bem trabalhados de personagens consolidadas são alguns de seus grandes méritos. Alguns arcos, no entanto, não funcionam tão bem quanto o esperado, e a narrativa peca um pouco ao desnivelar sua trama, mais ou menos como na primeira temporada. A história às vezes fica sem foco, sem algo em comum que una todos os núcleos e forneça um ligamento sólido. Faltou algo. Faltou dar uma maior sensação de mudança de filosofia em algumas personagens, pois algumas mudaram drasticamente o jeito de ser por conveniência, sem muita explicação do roteiro. Ainda que tenha um enredo geral um pouco mais fraco, a sensação de entretenimento e divertimento é a mesma, algo que sempre sobra em OITNB. Nota final: 4,2/5.
>> Crítica da 1ª Temporada de Orange Is The New Black
>> Crítica da 2ª Temporada de Orange Is The New Black
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Vou dar um resumo do relacionamento entre Piper e Alex pra vocês: Alex faz uma merda com a Piper, a Piper se apaixona por ela e depois descobre a merda. Piper se vinga, Alex se apaixona por ela e depois descobre a merda. Alex se vinga… ciclo vicioso.
- Foi bom ver que a Taystee e as garotas voltaram ao normal após toda aquela chatice delas com a Vee. Gostei também do arco da Taystee sendo a “mãezona” delas, mas senti falta de um pouco mais de aprofundamento nela, de saber como ela lidou pessoalmente com toda a questão da mãe adotiva ter fugido e morrido no processo. Além disso, gostaria de ter recebido mais informações da Rosa e da maneira com que as detentas reagiram a tudo o que aconteceu.
- A Suzanne escrevendo contos eróticos foi sensacional. Eu amo quando Orange Is The New Black introduz essas histórias bobas e divertidas, igual com Nicky e Boo na temporada passada. Ver todo mundo na prisão comentando a respeito da ficção da Crazy Eyes foi engraçado demais. E será que ela vai conseguir um relacionamento com a Kukudio?
- Senti muita pena do Caputo. O cara assumiu um filho que não era dele e ainda levou um pé na bunda. Sempre foi ridicularizado a vida toda, apesar de ser essencialmente uma pessoa boa. Conseguiu “salvar” Litchfield, e ainda assim não foi reconhecido. É verdade que deixou o poder subir à cabeça, mas confio no Caputaço.
- Gostei bastante da evolução da Soso na temporada, e fiquei com medo de ela ter morrido. Acho que ela e a Poussey formariam um belo casal <3
- É sério que o Bennett simplesmente fugiu e não vai voltar mais? Acho que tem caroço nesse angu.
- A história da Chang foi sensacional. Sempre fiquei curioso pra saber o passado que ela escondia. A mulher mandou arrancar a VESÍCULA BILIAR de um cara que a maltratou. Rainha demais (não que eu aprove a remoção de órgãos, ok?).
- Também achei bem legal a backstory da Norma e ela ter jogado aquele cara hippie da colina. E foi perfeita a explicação de ela ter problema de dicção, fez total sentido.
- O arco das calcinhas foi muito bom, mas é uma merda pensar no tanto que aquilo é mão de obra barata e acaba sendo um ótimo negócio pra todos os lados, mas especialmente para os responsáveis pela administração da prisão.
- A história da Leanne pra mim foi a mais fraquinha, mas talvez seja porque não curto tanto a personagem. Em compensação, adorei ver a Angie dando uma de Joãozinho sem braço e saindo da penitenciária por um tempo, apenas para ser buscada pelo Caputo.
- Mal posso esperar pra ver a Judy King interagindo com as demais detentas. Vai, Nina Sharp!
- Pô, a Flaca não fez nada de errado ao vender uma droga que na verdade não era droga. Errado foi o cara lá que achou que tava doidão e pulou de um prédio. #JusticeForFlaca
- Odeio a maioria daqueles novos guardas, sinceramente, e espero que aquele Coates se ferre de uma vez pelo que fez à Doggett. E quero logo a volta dos guardas das antigas, eles eram os melhores.
- Healy é um dos tipos de pessoa que eu mais detesto, agindo como se fosse o ser humano mais bonzinho do universo. Gelei que a Red teria um romance com ele, ainda bem que não foi o caso. E ele ter meio que sido responsável pela saída da Birdie foi muita sacanagem, simplesmente por ela saber fazer o trabalho dela e ele não.
- A Cindy se convertendo ao judaísmo foi a coisa mais improvável que eu poderia imaginar na série, sinceramente.
- É engraçado como todas as detentas agem como se não tivessem culpa de nada. Aleida, você teve uns 30 anos pra ser uma mãe decente pra Daya, não adianta ficar chorando agora. Gloria, a Sophia foi mó gente boa em oferecer carona pro seu filho e tinha todo o direito de não querer dar mais, pois afinal de contas estava fazendo um favor. O que você fez foi de um mau-caratismo absoluto, e, se quer tanto ver seu filho, vê se da próxima vez tenta não ir pra PRISÃO.
- PIREI na Piper armando pra cima da Stella e a fazendo ir pra segurança máxima. Por essa eu não esperava, de verdade.
- Desculpem, mas eu comemorei bastante quando o Cesar foi preso. Como criar crianças em um ambiente tóxico daqueles?
- O final foi bem fofinho, jurei que aconteceria alguma merda. É só uma pena que Sophia e Nicky não puderam aproveitar, a primeira por ter sido mandada pra solitária por “proteção” e a segunda por ter ido à segurança máxima por conta de drogas. Mas elas vão voltar firmes e fortes, eu acredito.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Joe Caputo
Na temporada passada, ele bateu na trave e ficou ranqueado como Maior Evolução. Nesta temporada, ele não teve a melhor trama, mas foi o personagem de maior impacto e o mais interessante de se acompanhar. Entre sua firmeza e insegurança, conseguimos conhecer melhor os dilemas da hierarquia.
+ Melhor episódio: S03E13 (“Trust No Bitch”)
Gostei bastante do décimo primeiro capítulo, mas a season finale foi um encerramento totalmente diferente do que eu imaginava, e de um jeito bom.
+ Maior evolução: Tiffany Doggett
Pennsatucky brigou ferrenhamente com Joe Caputo pelo posto de Melhor Personagem. Senti uma empatia por ela que eu não esperava, e seu arco foi um dos mais fortes da série até hoje.
+ Maior decepção: Piper Chapman
Eu pensei que seria exagero colocá-la aqui, mas depois concluí ser algo justo. Não gostei muito do que fizeram com a Piper. Tudo bem que muita coisa mudou desde que ela entrou em Litchfield, mas algumas evoluções não pareceram naturais. É claro que o desenvolvimento de uma personagem significa alterar alguns aspectos de sua personalidade, baseado nas experiências acumuladas. O problema foi que eu não reconheci nada da Piper de antes.
+ Mais subestimada: Boo
Eu não gostava taaanto dela no início, mas confesso que foi crescendo no meu conceito. Teve aquela aposta com a Nicky de quem ficava com mais mulheres na temporada passada, e agora sua relação com a Caipira foi um dos pontos altos da trama.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?