Drama

Ted Lasso: 2ª Temporada (2021)

ted lasso 2

• Além das quatro linhas

Nesses dias pra trás, o YouTube me recomendou o canal de um cara que eu ainda não conhecia, cujo nome é Jurandir Gouveia. Um dos vídeos dele me chamou a atenção: “como Hollywood alterou sua moral”. Na capa, havia uma foto do Ted Lasso ao lado de Thomas Shelby, de Peaky Blinders. Eu ainda não assisti a essa segunda série, mas sei que o protagonista é meio que um anti-herói, pra dizer o mínimo. O outro, por sua vez, é a definição de um homem bom e íntegro. No vídeo, Jurandir disserta sobre como figuras como Ted Lasso estão muito em falta no mundo do entretenimento, e devo dizer que concordo. Eu sou fascinado por personagens complexos, com uma bússola moral variável e que fogem do idealismo barato de alguém sem defeitos. No entanto, alguém como Ted surge como um sopro de ar fresco, sem perder a complexidade, mostrando que é possível retratar a bondade sem cair na utopia.

 

Sinopse

Depois de um ano futebolisticamente fracassado, em que o AFC Richmond acabou sendo rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Inglês, o time está de volta pra buscar o retorno à elite nacional. Contudo, a temporada começa com consecutivos empates, algo que o treinador principal Ted Lasso considera como uma punição divina por ter torcido por uma igualdade no último jogo da competição anterior. O maior problema no clube, porém, passa a ser a situação mental dos jogadores, que começam a sofrer com falta de confiança, motivação e problemas externos.

Trio parada dura

Crítica

No meu pitaco da primeira temporada, eu salientei a característica de que Ted Lasso não é feita apenas pra quem gosta de futebol. É claro que o esporte é o panorama central, mas a alma da série está nas relações humanas desenvolvidas a partir de um vestiário. Nesse sentido, a segunda temporada vai além, pois em alguns momentos dá até pra gente esquecer que partidas de futebol estão sendo disputadas.

A grande diferença entre as duas primeiras temporadas é justamente essa. A primeira soube equilibrar melhor a emoção do jogo e o drama das pessoas, enquanto a segunda optou por deixar um pouco o futebol de lado a fim de abordar novas questões que fogem das quatro linhas. Eu, particularmente, gostei um pouco menos dessa estratégia, sobretudo porque alguns arcos não me agradaram tanto quanto antes.

Sam, por exemplo, começa a temporada sendo o principal destaque. Porém, ele é colocado em um núcleo que soa meio deslocado e arbitrário, o que o faz perder força ao longo dos episódios (explicarei com mais detalhes nas Observações Spoilentas). O próprio Ted também acaba ficando meio apagado, perdendo um pouco da sua presença em determinados momentos, e só volta a crescer mais pra reta final. Além disso, a série paga o preço de se arriscar, saindo do lugar comum, escorregando ligeiramente em algumas investidas.

Uma coisa, contudo, permanece. Ted Lasso continua sendo extremamente viciante. Eu fiz um sistema que funciona perfeitamente com esta série. Quando eu comecei a primeira temporada, assisti todos os episódios em uns três dias. Depois disso, parei de ver por algumas semanas antes de retomar. Novamente, vi a segunda temporada inteira em um curto espaço de tempo, talvez uns cinco dias. Na sequência, interrompi minha maratona por algum tempo e agora estou escrevendo este pitaco. Assim que terminar, darei play na terceira temporada, e provavelmente a devorarei como uma ceia de Natal bem servida.

Apesar de algumas quedinhas aqui e ali, Ted Lasso não perde o charme em sua segunda temporada. Pra falar a verdade, não chega nem perto disso. Em geral, o alto nível se sustenta, sendo capaz de misturar drama e comédia em uma vitamina de emoções. Na primeira, havia mais comédia. Na segunda, o foco está maior no drama, e na tentativa de fazer algo novo pra não deixar a história cair no mais do mesmo. A Apple TV+ está de parabéns por apresentar um ótimo conceito e não deixar a peteca cair. Pelo que eu vi, a terceira temporada é a última, então espero que tenha sido mantida a mesma régua de critérios de qualidade.

Rebecca com a mini Ashley Johnson

Veredito

Em sua segunda temporada, Ted Lasso envereda por novos caminhos e deixa um pouco de lado o campo de futebol pra viajar através dos problemas internos dos ótimos personagens que foi capaz de introduzir. A série se recusa a ficar parada e insere uma trama acelerada e dinâmica, que não perde a oportunidade de capturar a nossa atenção e nos deixar com aquele gostinho de quero mais. Acima de tudo, Ted Lasso oferece uma ambientação confortável, credenciando-se como algo fácil e gostoso de assistir, que soa familiar e fortalece aquela sensação de pertencimento que a filosofia do AFC Richmond tanto prega. A primeira temporada ainda é um pouco melhor, pelo fato da segunda escorregar em algumas escolhas, mas o nível praticamente se mantém. Nota final: 4,3/5.

A exata expressão constante de quem assiste Ted Lasso

 

>> 1ª Temporada de Ted Lasso

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • No pitaco da primeira temporada, eu disse que o Nathan era um personagem que “não dava pra odiar”, embora eu tivesse achado que apareceu excessivamente em certas situações. Na segunda temporada, ele tá simplesmente insuportável. É uma verdadeira pena tudo que ele passou, a necessidade constante de se provar, e eu entendo que ele exploda com certas pessoas ou em determinados momentos. Porém, aquele discurso contra o Ted foi de uma loucura absoluta. Foi o Ted que o promoveu a assistente, antes ele era “apenas” o funcionário que cuidava dos equipamentos e ninguém sabia o nome. Foi o Ted que o ajudou a encontrar sua voz e identidade, e foi uma baita ingratidão tudo que ele falou. Isso sem mencionar a arrogância do Nate contra aquele novato, né.
  • Bom, eu realmente não esperava que o homem misterioso da Rebecca seria o Sam, fui pego completamente de surpresa. Eu gostei da reviravolta, e gostei mais ainda da série não ter caído no óbvio e iniciado um romance entre ela e o Ted. Rebecca e Sam é uma ideia que poderia funcionar no papel, se não fosse por um problema. Não, não é a diferença de idade entre eles, porque a gente vê o contrário acontecendo direto em filmes e séries. O problema é que os personagens simplesmente não têm química, então toda aquela tensão romântica não funcionou pra mim e eu me vi torcendo pra que terminassem logo o relacionamento.
  • Por falar em relacionamento, novamente eu agradeço aos roteiristas por não pegarem o caminho mais fácil. Digo isso na questão da Keeley. Ela funciona muito bem com o Roy, mas nenhum casal é perfeito. A inserção do Jamie nessa equação é só pra colocar aquele bom e velho triângulo amoroso, mas eu acho sinceramente que Keeley e Roy vão ficar juntos.
  • Já que eu mencionei o Jamie, não tem como não gostar dele nesta temporada. Sim, no fundo ele ainda continua meio babaca, mas todo aquele rolê com o pai me fez simpatizar um pouco mais com o seu caminho de redenção.
  • Gostei muito da relação entre a Rebecca e a afilhada, acho que funcionou muito bem com o clima da temporada. Aquele episódio do velório do pai da Rebecca deixou tudo isso bem claro. Até a Sassy ficou mais legal.
  • Até agora eu não sei o que eu achei do episódio do Beard. Uma parte de mim gostou, a outra nem tanto. Por um lado, eu admiro a criatividade e a coragem de fazer um capítulo inteiro centrado em um personagem relativamente secundário, dando mais camadas a ele e trazendo uma vibe diferente pra série. Por outro, acho que esse tipo de episódio deixa a temporada mais empacada, quebrando um pouco do ritmo. The Walking Dead fazia muito isso, inclusive. No final, eu jurava que o Beard morreria, dando um maior propósito pra tudo aquilo, mas nem isso. Ainda bem, diga-se de passagem.
  • Eu falei do Sam lá em cima, que não gostei muito do romance dele com a Rebecca, mas foi bom demais ele se recusando a jogar com aquele patrocínio e ainda recusando a proposta do bilionário de Gana.
  • Nada me tira da cabeça que o Trent Crimm só foi demitido pros roteiristas poderem fazer a piada com “Independent”. De qualquer forma, ficou perfeito.
  • Cara, que pesada toda aquela história do pai do Ted e de toda a infância dele. Me fez admirá-lo ainda mais como pessoa, reforçou aquele argumento de que personagens bondosos podem sim ser complexos. E a interação dele com a Sharon foi uma das melhores coisas da temporada.
  • Só Ted Lasso mesmo pra começar a temporada com um cachorro sendo atingido por uma bola em uma cobrança de pênalti, e ainda assim conseguir inserir momentos que nos fazem chorar. E ainda teve um episódio de Natal um pouco diferente do habitual!

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Roy Kent
Sam Obisanya chegou muito perto de faturar este prêmio, pois começou a temporada de maneira explosiva. Todavia, foi um pouco sabotado pela própria série, dando espaço pro bem-humorado Roy Kent crescer, que se mostrou mais completo e com uma maior variação de temas.

Tenho pena do animal que ousasse enfrentar Roy Kent em uma batalha

+ Melhor episódio: S02E08 (“Man City”)
Provavelmente o capítulo mais emocionante da série até agora. Destaco também o episódio 5 (“Rainbow”), que simulou brilhantemente um clima de comédia romântica.

Trent Crimm, The Independent

+ Maior evolução: Jamie Tartt
De maluco insuportável pra um cara necessário e de coração aberto. Grande evolução do nosso Baby Shark.

Jamie Tartt, tchuruduruduru, Jamie Tartt, tchuruduruduru

+ Maior surpresa: Sharon Fieldstone
A terapeuta ocupa um espaço essencial pro funcionamento da temporada, encaixando-se na proposta como uma engrenagem primordial que se conecta com várias pessoas diferentes. Ela foi tão boa que passou bem perto de ser a Melhor Personagem, ao lado de Roy e Sam.

Ted tentando ensinar como fazer um gol de bicicleta

+ Mais subestimado: Leslie Higgins
Eu não curtia tanto o Higgins na primeira temporada, achava o personagem dele meio caricato demais. Nesta segunda, as suas participações estão bem mais naturais, o que deu um novo brilho pra mim.

Três cachorrinhos em uma mesma foto

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).