A Saga Crepúsculo, Fantasia

A Saga Crepúsculo #01 a #05 – Entre Vampiros e Lobos (2008-12)

a saga crepúsculo

• Sangue frio

Quando pensamos em vampiros, lobisomens e outras criaturas fantásticas, o primeiro pensamento que vem à mente tem a ver provavelmente com histórias de terror, sangue e combates viscerais. A autora Stephenie Meyer decidiu pegar esses monstros e inseri-los em um universo de triângulos amorosos, amor e amizade. Na época em que esses filmes foram lançados, entre o final da década de 2000 e o início de 2010, a Internet se dividiu entre adolescentes apaixonadas pela saga e pessoas revoltadas com a ideia de vampiros brilhando e coisas assim. Não vou negar, eu fazia parte do segundo grupo. Depois de mais velho, assisti à franquia inteira, e agora vi pela segunda vez pra poder escrever um pitaco completo, assim como fiz com Harry Potter Jogos Vorazes. Pros desavisados, o texto a seguir contém spoilers de A Saga Crepúsculo.

 

Crepúsculo – A aluna nova

Crepúsculo é um inquestionável clássico do cinema adolescente e independente. Sim, o filme tem algumas atuações sofríveis, direção um pouco brega e cenas que chegam a ser cômicas. Mas, na moral? É um filme que possui um certo charme que o credencia como uma produção deliciosa de assistir, depois que aprendemos a ignorar determinados elementos.

A estrutura de Crepúsculo é bem comum para obras do gênero. A protagonista Bella Swan age como ponte entre o filme e a gente. O universo de Forks, onde estão inseridos vampiros e lobisomens, é até então desconhecido para ela, assim como é para nós. Desta forma, Bella vai conhecendo aquela realidade ao mesmo tempo que os espectadores, criando uma imediata conexão e nos fazendo se sentir na pele da personagem.

O filtro esverdeado é inicialmente estranho aos olhos, mas, novamente, faz parte do charme. O uso da câmera dá a impressão de que estamos vendo algo de baixo orçamento, e eu digo isso no bom sentido, por incrível que pareça. Afinal de contas, o primeiro filme contou com um “modesto” custo de $ 37 milhões, arrecadando mais de $ 400 milhões e credenciando-se como um produto de muito lucro.

Eu genuinamente me divirto com Crepúsculo. Tenho uma opinião que com certeza vai na contramão dos fãs, mas as melhores partes pra mim são quando Edward e Bella ainda não estão nutrindo um romance mais forte. Os maiores méritos do primeiro filme estão na adaptação de Bella em Forks, a tentativa de se ajustar no colégio e aquela incerteza a respeito de quem Edward realmente é. Ali pra metade, o longa perde um pouco da força, mas termina bem após a batalha com os outros vampiros. E, obviamente, não podemos deixar de mencionar a sequência do jogo de baseball, ao som de Supermassive Black Hole. Aquilo é cinema em seu estado mais puro.

Onde tudo começou…

A Saga Crepúsculo: Lua Nova – Trupe das bermudas

Em alguns aspectos, a sequência de Crepúsculo é melhor. Em outros, é pior. Não gosto muito da primeira parte, justamente por conta do foco excessivo no romance entre Bella e Edward. A partir do momento em que Edward sai de cena e o Jacob ocupa um espaço maior nos holofotes, o filme melhora muito.

Agora sem filtro esverdeado, Lua Nova não possui o mesmo charme de outrora, mas parece exalar mais seriedade. Sim, é meio vergonha alheia o traje oficial dos lobisomens ser bermuda e tênis, porque eu só consigo ficar pensando no tanto que o guarda-roupa deles deve ser abarrotado dessas duas peças, já que elas se rasgam sempre que se transformam. Ainda assim, o clima mais sóbrio da trama ajuda a diferenciá-la de sua antecessora, o que eu acho uma baita qualidade.

Sobre o triângulo amoroso, eu tenho algumas considerações pessoais. A Bella é uma pessoa extremamente egoísta, e o Edward é possessivo. Eu gosto do Jacob neste filme em específico. Ele também apresenta um lado meio problemático, mas a relação com a Bella é muito mais saudável do que o romance tóxico dela com o Edward, pelo menos neste ponto da história. Não, eu não acho que a Bella deveria ficar com o Jacob quando levamos em conta a narrativa, mas a relação parasitária com o Edward faz muito mal a ambos.

O último ato de Lua Nova é um dos meus favoritos da saga, embora eu o ache meio corrido. O conceito dos Volturi é muito promissor, mas ele é pouco utilizado e de forma muito tardia no filme. Ainda assim, o momento em que Edward está quase se revelando ao mundo e é impedido por Bella é bastante icônico, assim como a descoberta por parte dos Volturi de que a Bella é mais do que aparenta, já que os poderes deles não funcionam sobre ela.

O Professor Lupin correria assustado

A Saga Crepúsculo: Eclipse – Um triângulo amoroso

Assim como a passagem de Crepúsculo pra Lua Nova, a transição pra Eclipse transmite uma sensação bem grande de novidade. Dá até aquela impressão de que liberaram mais grana pra fazer o filme, com uma fotografia mais bonita. No entanto, este é o capítulo que eu menos me lembrava. De certa forma, é o menos “impactante”, tomando como base o cenário maior da trama.

No primeiro filme, tivemos toda uma apresentação do universo da saga, com foco nos vampiros. No segundo, o roteiro optou por trabalhar mais a questão dos lobos, dando uma nova roupagem à história. O terceiro mescla os dois elementos, mas não há muita progressão. Muito acontece, mas pouco muda. As únicas coisas realmente relevantes são a morte da Victoria e os Volturi demonstrando ter algum objetivo oculto. Fora isso, Eclipse é um filme de desenvolvimento e exposição do triângulo amoroso.

Se eu tanto elogiei o Jacob em Lua Nova, aqui ele tá um porre. Tudo bem que ele tava apaixonado e tal, mas a sua insistência chegou a níveis um tanto quanto alarmantes, inclusive beijando a Bella à força. Por outro lado, acho bem legal as cenas de diálogos entre Jacob e Edward, em um misto de rivalidade, ciúmes e um quase-companheirismo. O Jasper e a Rosalie ganham mais importância com suas histórias de origem, mas a Alice segue não mostrando a que veio. Pra alguém que supostamente seria a melhor amiga da Bella, nem acho a relação das duas tão memorável assim.

Eclipse é provavelmente o longa mais esquecível da franquia, mas tem seus momentos e serve como ponto de ligação entre a primeira parte da trama (apresentação de vampiros e lobisomens) com a segunda parte (preparação de uma guerra inevitável que ainda não conhecemos, nesse ponto). Ele é um filme meio disperso, que tá tão concentrado no triângulo amoroso que insere uma batalha genérica só pra ter algum arco de ação. Pelo menos os combates são interessantes de ver.

Bella e o meu herói

A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 1 – Lua de mel

Eu não sei exatamente por que eu gosto de Amanhecer: Parte 1 mais do que os outros. Talvez seja porque o filme foge um pouco à fórmula estabelecida. Nos três filmes anteriores, há uma mesma estrutura: introdução, conflitos amorosos e uma batalha final pra colocar um pouco de ação. Neste penúltimo capítulo, isso não acontece, ou pelo menos não de forma tão óbvia quanto nos demais.

Acho que é válido o argumento de que, durante pelo menos metade do filme, Amanhecer: Parte 1 parece não andar pra frente. É muito tempo gasto nos preparativos do casamento e na cerimônia em si, de Bella e Edward, e também na lua de mel dos dois. Mas sei lá, eu gosto da vibe construída, e o “empacamento” da história pra mim não é um incômodo, muito pelo contrário. Além do mais, não é todo dia que a gente vê o Robert Pattinson falando português, né.

O Jacob novamente está insuportável durante a maior parte do tempo, o que me faz questionar o fato de eu gostar dele em Lua Nova. O Edward pode ser meio chato e agir como o Rei da Coitadolândia muito frequentemente, mas ele possui um certo desprendimento que rende pontos. O Jake, por outro lado, tá cada vez mais obsessivo, pelo menos até o momento em que tem um imprinting com a pequena alienígena Renesmee. Essa parte, aliás, me deixou verdadeiramente surpreso quando vi pela primeira vez. Eu não esperava.

Um elemento que eu curto também em Amanhecer: Parte 1 é o quanto a Bella tá acabada e cadavérica. Não que eu goste de vê-la assim, pelo amor de Deus, mas deu um senso de seriedade na saga que não existia antes. Minha única crítica pesada tá na Bella querendo batizar a criança em homenagem a Edward e Jacob, enquanto o reizinho Charlie tá quase comprando passagens pra Suíça pra checar se ela realmente não está doente – meu personagem favorito e o verdadeiro rei da franquia.

Nada como uma grande família feliz

A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2 – Os pálidos Vingadores

Eu já falei várias vezes aqui no site que efeitos visuais ruins não costumam afetar a minha experiência, a não ser quando o filme depende disso ou quando a produção tem dinheiro pra fazer algo bom, mas entrega um resultado pífio (alô, Marvel!). Em Amanhecer: Parte 2, eu simplesmente não consegui levar a história a sério em alguns momentos por conta de um elemento: Renesmee.

Acredito que a ideia dos produtores de encher de tecnologia o rosto da filha de Bella e Edward tinha como base representar uma menina que tivesse, ao mesmo tempo, cara de criança e adulto. A tentativa deu terrivelmente errado. Renesmee parece uma personagem de videogame, com efeitos tão horrorosos que não consegui me conectar nem um pouco a ela. Pelo contrário, esse defeito transbordou e eu precisei relevar muita coisa pra conseguir prestar atenção na trama, contrastando muito com o filme anterior.

Além disso, Amanhecer: Parte 2 parece tudo, menos a conclusão de uma franquia. O pior é que a culpa nem é dele em si, porque a Saga Crepúsculo contou com narrativas muito episódicas, as quais não ostentam um destino final em comum. Em Harry Potter, tínhamos a ameaça de Voldemort. Em Jogos Vorazes, a rebelião contra a Capital. Aqui, existem as figuras nebulosas dos Volturi, mas eles quase não são construídos como vilões, mais como anti-heróis ou algo do tipo.

O último filme da saga até tenta construir um negócio épico, convocando diferentes vampiros como se fossem os Vingadores. O problema é que a gente não liga pra 90% deles. A batalha final tinha tudo pra ser anticlimática, mas quando Carlisle e Jasper começaram a morrer, eu fiquei de queixo caído, sem acreditar que a franquia teria toda aquela coragem. Quando tudo não passou de uma visão da Alice, até me senti aliviado pelos personagens, mas também me senti enganado. Ainda assim, há méritos naquela sequência.

Capitão América, Viúva Negra e Homem de Ferro à frente dos demais

+ Veredito
A Saga Crepúsculo tentou surfar na onda de franquias de fantasia recentes, mirando um público-alvo bem diferente e uma história rasa, com foco em romances complicados e impossíveis. Há uma trama cheia de inconsistências e coisas bobinhas, mas nem tudo precisa ter substância. Eu assisti a todos os quatro filmes pela segunda vez e me diverti com a identidade adolescente. Se você conseguir deixar a mente aberta, topará com uma experiência bem legal, nem que seja pra criticá-la. O meu favorito é Amanhecer: Parte 1, o qual realmente acho que possui qualidades não só dentro do contexto da série. Os outros oscilam, mas possuem momentos que ficam na memória, de um jeito ou de outro.

Romeu e Julieta da nova geração

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê acha dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).