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AnáliseRicardo #05: A dificuldade de Oppenheimer e Christopher Nolan

oppenheimer nolan

• A obra-prima de Nolan

Okay, Christopher Nolan é um diretor um tanto quanto superestimado para mim, pelo menos até esse filme aqui. Eu adorei Oppenheimer e agora a gente conversa sobre ele.

Eu te confesso que tenho meus problemas com o Nolan, nenhum sobre sua capacidade de reger os trabalhadores da parte técnica de seus filmes, seja com os fotógrafos, montadores e principalmente os atores.

Logicamente, existem vários de talento único como Leonardo DiCaprio, Hans Zimmer e Hoyte Van Hoytema, esse último que estava presente nesse longa aqui, mas o foco é que para mim, Nolan e sua trupe jamais estiveram tão alinhados assim, eu acho.

Tudo parece uma dança muito bem ensaiada e, para isso acontecer, é preciso que se tenha uma música de qualidade, certo?

Ludwig Göransson, compositor das trilhas dos filmes do Pantera Negra e da série The Mandalorian, faz com que os sentimentos do Oppenheimer, um cara que brigava para se expressar, estivesse sendo exposto através da música. É uma ponte construída que casa muito bem com a atuação do Cillian Murphy.

Okay, muito do que se tem do Robert Oppenheimer é só depois que a bomba nuclear foi lançada, aquele olhar distante e um tanto quanto sem vida. Muitos dos que relatam a vida vivida ao lado do cientista contam da sua inquietude e de como ele era um cara que parecia estar escondendo o jogo. De que ele era mais inteligente do que ele aparentava ser… E não é que o Cillian Murphy fez isso de forma primorosa?

Eu gosto muito desse tipo de atuação, acho que essa é até a mais difícil de ser feita, por ser silenciosa e pouco expressiva, mas o fato é, quando você olha para um bom ator e ele está em silêncio ou muito quieto, isso é sinal de que ele tá passando muitas coisas para você de outras formas que não a falada.

E muito disso se dá através da forma como o diretor consegue levar a sua equipe, por isso que digo que esse é o principal trabalho de Nolan. Porque, por mais que tenham cenas com efeitos especiais e outras de efeito prático, até a fotografia de Hoyten Van Hoyteman, parceiro de longa data do cara, parece saber como passar os sentimentos de Oppenheimer.

Mas agora falando de um dos defeitos do longa, vamos conversar sobre algo que eu não tinha percebido e ganhou ainda mais força nesse último filme, principalmente com alguns comentários no pós filme. Nolan tem muito problema em retratar personagens femininos.

Por conhecer um pouco da história desse personagem, eu esperava um pouco mais de duas personagens que foram primordiais na vida de Oppenheimer. O que mais me atiçou a ficar empolgado para ver as personagens foi o fato de que Florence Pugh e Emily Blunt estariam interpretando Jean Tatlock e Kitty Oppenheimer, respectivamente.

Isso abriu um precedente gigantesco por conta da importância das duas personagens em questão. Mas ambas as personagens perdem o peso e a relevância delas para com a trama, reduzindo seus papéis a coadjuvantes apenas, diferente do que acontece com Robert Downey Jr..

O ator, aclamado por seu trabalho como Tony Stark, mostrou como aproveitar cada segundo de tela como Lewis Strauss e acredito que isso tenha sido um dos principais pontos para que o Nolan se voltasse para o personagem dele e a sua atuação.

Mas é isso que eu tinha para falar, Nolan conseguiu chamar a minha atenção para o seu trabalho. Mesmo que isso não mude a vida do diretor, acredito que a minha vá mudar, para estar mais atento aos diretores que têm seus trabalhos muito bem direcionados, e como eles deslizam em terrenos escorregadios.

Não digo: vá e se divirta com esse filme aqui; mas vá, vá e curta essa experiência sensorial que é assistir Oppenheimer.

Um exemplo de experiência sensorial

 

Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema

 

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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.

Publicado por Ricardo Gomes

O cara que mais perde tempo assistindo TV e escrevendo sobre, segundo Michelle (minha gata).