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AnáliseRicardo #03: A inteligência e artificialidade de Resistência

resistência ricardo

• Originalidade desperdiçada

As inteligências artificiais vão conseguir deixar os seres humanos?

Uma ideia original pode fazer com que um cineasta conte uma história completamente original, uma adaptação tem seus momentos e toques de originalidade… seria possível então uma inteligência artificial criar uma história completamente nova e colocar alguns toques de originalidade nessas histórias?

Essa é uma pergunta que a legislação dos Estados Unidos já respondeu que não, inclusive essa foi uma das pautas mais importantes do ano passado em Hollywood. É, estou falando sobre a greve dos roteiristas e também da greve dos atores, mas essa com algumas outras diferenças.

Mas tá, por que raios eu estou falando sobre originalidade?

A resposta é bem simples, a premissa desse filme não parece ter tanta originalidade assim, mas de forma intrigante, esse Resistência tem alguma coisa que ainda assim parece original.

Joshua, interpretado por John David Washington, é um ex-agente das forças especiais que vive um luto pelo desaparecimento da sua mulher, vivida por Gemma Chan. O Joshua é recrutado para caçar e matar um tal Criador, o arquiteto principal de uma arma misteriosa com o poder de acabar com a guerra… e com a própria humanidade.

Olhando assim, não dá para ver o toque de originalidade, mas pela forma como a história se desenvolve você consegue pegar pontos que parecem ter algo para contar e você consegue entender o quão atual e original esse filme pode ser. O problema, na minha visão, é que ele fica nesse “pode ser”.

O principal ponto de originalidade nisso tudo é o fato do filme colocar as inteligências artificiais como uma raça, trabalhando assim a xenofobia como tema principal.

Eu, nos breves momentos que tenho para pensar sobre as histórias, há uns 3 ou 4 anos, tinha pensado: como uma história sobre as inteligências artificiais sendo as “vítimas” ainda não tinha ganhado tanto espaço assim no cinema? O mais perto que chegamos disso talvez fosse em Blade Runner. Acho que por isso eu fiquei ainda mais indignado quando o filme expôs essa ideia, mas não conseguiu ir adiante com ela.

O que me deixa ainda mais cabisbaixo é o fato de que a parte técnica estava completamente alinhada com essa obra. Aqui se tinha alguns dos grandes profissionais do cinema Hollywoodiano, eu tô falando de Hans Zimmer na trilha sonora, tinha Greig Fraser na direção de fotografia, ambos com trabalhos incríveis e que mereciam seus destaques.

Tínhamos Joe Walker, vencedor do Oscar por Duna e indicado por 12 anos de Escravidão e A Chegada, assim como Hank Corwin de Vice e A Grande Aposta na montagem do filme. Aqui, na montagem de Resistência, eu consigo ver alguns problemas, principalmente no ato final onde a história começa a correr sem muita direção e a montagem parece se perder enquanto corre atrás dessa história.

Outro ponto técnico que merece destaque está nas categorias de efeitos visuais e também no design de produção.

Normalmente quando o design de produção entrega algo incrível, nós temos o comentário “que filme lindo” saindo em todas as páginas que falam sobre filmes.

Quando se tem um CGI muito bom então… aí é dito que o filme é “incrivelmente lindo”. Aqui, essas duas sentenças não só devem ter sido utilizadas a rodo, como elas fazem jus ao que nos foi entregue. Acredito que elas merecem e devem ser lembradas no Oscar justamente por toda a concepção e a entrega do trabalho em Resistência.

Minha maior crítica ao filme está em suas ideias e falta de coragem para explorar a sua originalidade. Não tenho que negar que o que envolve o longa é muito belo, muito bem feito, mas o centro, o que muitos chamam de “coração do filme”, parece ter problemas para pulsar, para se expor.

Eu sei, parece que eu estou fazendo o papel dos Estados Unidos nessa crítica, olhando para o filme como os norte-americanos olhavam para as inteligências artificiais, como se lhes faltasse algo para ser um filme. Isso me faz pensar que eu deveria voltar nesse longa daqui uns anos para revê-lo, mas até lá, eu acho que esse filme tem ótimas ideias, mas falta a coragem para utilizar a sua originalidade e contar a sua história.

Allison Janney também faz parte do elenco de Resistência

 

Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema

 

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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.

Publicado por Ricardo Gomes

O cara que mais perde tempo assistindo TV e escrevendo sobre, segundo Michelle (minha gata).