• Pais e filhos
Eu não entendo por que a Netflix inventa de dividir suas temporadas ao meio. Quer dizer, é óbvio que a empresa faz isso pra segurar os assinantes e criar aquela expectativa, mas esse sistema não faz sentido algum. Se o desejo é deixar os fãs ansiosos pelo episódio seguinte, por que não lançar um por semana então? Em vez disso, resolveram lançar os cinco primeiros capítulos da terceira temporada de The Witcher, e um mês depois os três últimos capítulos, sem nenhuma razão criativa a não ser a avareza. Impressionante como a Netflix segue dando tiros no próprio pé. Independentemente disso, eu sou rebelde e decidi assistir a tudo de uma vez, começando a primeira parte apenas quando foi lançada a segunda. E tenho certeza que é melhor assim.
Sinopse
Geralt, Yennefer e Ciri são uma família feliz. Ok, talvez isso seja um exagero. Geralt e Yennefer estão brigados, porque a Yennefer sequestrou a Ciri. Mesmo assim, a Ciri precisa da Yennefer pra poder ensiná-la a como controlar sua magia, e o Geralt sabe disso. Portanto, esse trio desajustado passa a viajar pelo Continente, se escondendo de todas as pessoas ávidas por encontrar Ciri, ao mesmo tempo em que tentam prepará-la para o futuro. No entanto, uma guerra se aproxima, envolvendo Nilfgaard, os Reinos do Norte e diferentes raças, e a família feliz não poderá escapar de seu destino pra sempre.
Crítica
Eu sou apaixonado pela primeira temporada de The Witcher. A apresentação daquele universo, o elenco, a narrativa não-linear e a introdução à política foram muito bem feitos, uma das melhores coisas que eu vi nos últimos anos. A segunda temporada, por outro lado, é bem abaixo. Embora tenha seus méritos, mostrou-se dispersa e menos interessante do que a anterior. A terceira temporada não se decide se quer aproximar-se mais da primeira ou da segunda, flertando com a mediocridade e a grandeza.
Através de um olhar macro, a terceira temporada de The Witcher dá as mãos para a grandeza. A fotografia está belíssima, algo que eu pude perceber ainda mais porque comprei uma televisão de 55 polegadas (não que eu esteja me exibindo, é claro) e as locações escolhidas são bonitas pra caramba. A trilha sonora continua boa, e as atuações estão bem mais encaixadas do que na temporada anterior. A trama principal se move da maneira que deve ser, e ouvi falar que é a temporada mais próxima do conteúdo original dos livros, ainda que eu não possa confirmar tal informação por mim mesmo pois ainda não os li.
O problema é que a terceira temporada peca nos detalhes. Se fossem poucos, seria algo perdoável, mas eles são frequentes e importantes. Muito disso se deve à maneira como os episódios são editados, dando a impressão de que faltou refinar o processo na pós-produção. Em certos momentos, o roteiro fica desleixado, e os personagens executam algumas ações não condizentes com as próprias personalidades. Isto inclui o Geralt deixando de matar um vilão que estava literalmente ao seu lado, apenas pra que essa decisão se torne um elemento narrativo que a série utiliza pra chegar onde deseja. Em outras palavras, facilitações narrativas que extrapolam a função a partir do momento em que abrem mão da coerência.
Está aí uma palavra que define muito bem o terceiro ano de The Witcher: incoerente. Inconsistente também seria uma boa, mas eu não posso ser injusto. Há muito mais momentos bons do que ruins, e eu não me senti desmotivado a continuar, como aconteceu em certas partes da segunda temporada. As falhas da terceira temporada são irritações pontuais pra quem se importa com uma história bem amarrada (o meu caso), mas quem assiste mais na superficialidade provavelmente vai se impressionar.
Infelizmente, o principal legado desta temporada é que será a última de Henry Cavill no papel de Geralt, o que eu considero um baita infortúnio. Pode ser que o ator substituto, Liam Hemsworth, nos surpreenda. Sendo bem sincero, eu espero que isso aconteça. Agora, deixar o ator que interpreta o protagonista sair ao fim do terceiro ano é de um amadorismo absurdo, sobretudo se considerarmos que ele saiu provavelmente porque a criadora se recusava a levar os livros a sério, como dizem os rumores. Se o Cavill interpretasse alguém secundário, seria uma coisa, até porque isso ocorre o tempo todo na indústria, mas confesso que nunca tinha visto o protagonista deixar uma obra na metade.
Veredito
A terceira temporada de The Witcher dá um notável salto de qualidade em relação à segunda, em praticamente todos os sentidos. Os personagens estão mais encaixados, a série é empolgante e bonita de se ver, as tramas políticas são bem mais compreensíveis e instigantes. O roteiro, porém, parece ter alergia aos detalhes, não dando a devida atenção para a narrativa, justamente a característica que angariou tantos fãs quando a obra lançou a sua primeira temporada. Na superfície, o terceiro ano do Bruxeiro da Netflix pode ser definido como excelente, mas se analisarmos mais a fundo, é possível ver algumas rachaduras. Nota final: 4,2/5.
>> 1ª Temporada de The Witcher
>> 2ª Temporada de The Witcher
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Certo, vamos lá. Por que diabos o Geralt não matou o Rience no momento em que quebrou as mãos dele? O cara tava totalmente entregue ao destino e o Geralt ainda estava com a espada ao passar do lado. Vai me dizer que ele teria perdido o portal se tivesse dado um golpe de literalmente um segundo pra cortar a cabeça do vilão? Mas nããão, em vez disso, ele deixa o cara vivo e usa isso como desculpa pra se separar da Ciri e da Yen. Pra piorar, nos próximos episódios ele simplesmente PAROU de se preocupar com o Rience, que sumiu do nada e só voltou pra morrer. O único lado positivo disso tudo foi que a cena da Yen lançando a espada pro Geralt cortar a cabeça do Rience foi muito boa.
- Gostei bastante dos monstros desta temporada, especialmente aquele do segundo episódio. Um monstro formado por membros humanos, sem uma cabeça? Me lembrou o Rei dos Ratos de The Last of Us. Fiquei amarradão naquele design, bem sombrio.
- Radovid e Jaskier formam o casal que não sabíamos que precisávamos. Bom, falando sério, eu gostei da dinâmica dos dois, tanto separados quanto juntos. Acho que foram dois personagens que enriqueceram a temporada, e agora teremos pela frente o Rei Radovid, o que deve mudar bastante a relação com o bardo.
- Já que toquei nesse assunto, era ÓBVIO que o Dijkstra e a Philippa matariam o Rei Vezemir em algum ponto, né? Não sei se era porque eu joguei o jogo e sabia que o Radovid seria rei, mas acho que, mesmo se não tivesse jogado, isso teria ficado bem claro pra mim. Por outro lado, não esperava que o Gallatin seria assassinado daquele jeito pelo Cahir, levei um susto. Acabou que o coitado era apenas um trampolim pro retorno do soldado nilfgaardiano.
- Incrível como maternidade e paternidade são temas bem recorrentes na temporada, né? Ciri e Geralt, Ciri e Yennefer, Ciri e Ehmyr, Tissaia e Yennefer…
- Ok, embora tenha sido meio nada a ver o poder fodástico motherfuckin’ foderoso da Tissaia ser bloqueado por simples escudos mágicos, ver a ira no rosto da feiticeira foi sensacional. Ela fará muita falta, acredito que era um dos grandes pilares de The Witcher, principalmente no arco pessoal da Yennefer. Por outro lado, isso agora abriu espaço pra que a Yen vire de vez a líder que ela mostrou ser, ao lado das outras remanescentes.
- Será que o Stregobor morreu ou ainda sobreviveu apesar de tudo? Inclusive, muita doideira o Geralt e a Yen concluírem que ele era o traidor simplesmente por não gostar da Yen e saber trabalhar com ilusões. Exemplo perfeito de provas circunstanciais. A bem da verdade, a minha aposta era na Sabrina ser a principal traidora. Eu até tinha considerado o Vilgefortz no começo da temporada; ele sempre me deixou com a pulga atrás da orelha, e aquela joia que deu de presente pra Tissaia me deixou em alerta. Só que, depois de tantos momentos fofinhos dele, achei que estivesse enganado. E o cara simplesmente destruiu a Tissaia, da pior maneira possível. Ainda pensei que ele fosse tentar convencê-la a se juntar à causa, mas o maluco usou e abusou da feiticeira. Tomara que termine de perder o resto do rosto, não apenas a metade.
- Mano, confesso que me deu um pouco de preguiça toda aquela parte da Ciri no deserto, ainda mais porque veio logo depois de uma batalha épica. Não me importo com episódios assim, mas acho que enrolaram demais e ficou muito esticada aquela parte, fui perdendo o interesse. E queria que tivessem explicado melhor a história daquela Falka.
- Sinceramente, eu esperava mais da Lydia. Do jeito que foi construída, com todas aquelas conversas por telepatia, não imaginava que ela fosse ser morta facilmente pela Triss e pela Yennefer. Mas fazer o quê, né. O Ehmyr também é outro que tá devendo. Fiquei curioso pra saber como é que ele colocou as mãos naquela sósia da Ciri (será que a feiticeira e o lobisomem que a protegiam morreram?), quais são seus objetivos e o futuro da sua aliança com o Vilgefortz. Muita coisa pra rolar ainda.
- Alguns furinhos de roteiro, só pra concluir: a Ciri usando uma máscara a três metros do rosto pra se disfarçar no primeiro episódio, com permissão de Geralt e Yen, sendo que Ciri era a pessoa mais procurada do Continente; Ciri reclamando de um monstro enjaulado e dizendo que era um absurdo, apenas para matar o bicho na primeira oportunidade; Ciri pegando um cavalo e fugindo da Yen sem que a feiticeira desse a mínima e nem tentasse ir atrás dela, e a Ciri deu foi sorte que o Geralt por acaso a encontrou no caminho, senão poderia ter acontecido algo pior. Por que a maioria dos atalhos narrativos são relacionados à Ciri? Não dá pra entender.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Yennefer de Vengerberg
Depois de uma segunda temporada bastante apagada, Yennefer voltou a brilhar, assim como na primeira, e se solidificou como a melhor personagem da terceira. Não posso deixar de mencionar o Geralt de Henry Cavill, em suas últimas aparições, mas aqui ele ficou um pouco atrás de sua amada.
+ Melhor episódio: S03E06 (“Everybody Has a Plan ‘Til They Get Punched In The Face”)
Todo mundo tem um plano até levar um soco na cara. Só pelo nome, esse já deveria ser o melhor episódio. Mas, além disso, o capítulo é recheado de ação e parece muito um final de temporada, deixando a gente empolgado e com os olhos grudados na tela.
+ Maior evolução: Sigismund Dijkstra (menção honrosa a Philippa Eilhart)
Dijkstra e Philippa Eilhart são dois personagens que eu gosto no jogo, mas eles ainda não tinham me conquistado na segunda temporada. Na terceira, fiquei bem mais fisgado por suas maquinações políticas, com um leve destaque para as espionagens de Dijkstra, que me lembrou o Varys de Game of Thrones.
+ Maior surpresa: Radovid
Eu odeio esse maluco no jogo, mas não vou negar: o ator e o personagem da série me conquistaram. A presença de Radovid adicionou um tempero a mais na temporada.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?