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AnáliseRicardo #14 – Elementos e a difícil jornada para se conectar

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• Interação e conexão

Muita gente fala que temos uma geração que se conecta em todas as redes sociais, mas não consegue se conectar com as pessoas a nossa volta. Eu não gosto de concordar com essas frases de tiozão, mas, definitivamente, isso faz sentido.

Só que, mesmo fazendo sentido, essa frase não é sobre algo geracional e também não é algo específico a um grupo de pessoas. Às vezes temos esses processos de falta de conexão em obras cinematográficas ou televisivas.

Então quer dizer que Elementos é um filme específico feito para um público específico? Eu não acho isso, mas para fazer sentido vou precisar de um pouco mais de tempo, então vamos mergulhar no filme de hoje.

Para começo de conversa, não vejo problema e quem seria eu para ver problema de uma obra ser produzida para um grupo específico, certo?

Dito isso, o cinema já é algo que tem o seu nicho bem específico, mas, recentemente, eu tenho começado a ver muitas produções se fechando em si e tentando abraçar o seu público-alvo.

O problema nesse cenário, para mim, é que você coloca uma dificuldade a mais para as pessoas que não são fechadas com esse tema ou são fãs de algo. Foi o que eu senti na série de Percy Jackson. Definitivamente eu não sou fã e, com o pouco que eu vi, parecia que não estava muito a fim de conversar com outras pessoas além de seus fãs. E o que aconteceu? Eu nem senti vontade de ver a série.

Acredito que é isso que essas produções específicas acabam despertando em algumas pessoas. Repito, não quer dizer que isso torne o filme horrível ou acabe com ele, só quer dizer que o debate sobre ele fica um tanto quanto divisivo e temos pouco para conversar sobre.

E é aqui que eu acho que Elementos se encaixa, porque o filme não consegue entrar nessa roda. O filme tem uma animação incrível, incrível mesmo, desde os cenários da Element City aos designs dos personagens. Mas o que se destaca, pelo menos para mim, é como cada personagem interage com os elementos da cidade e com os outros personagens.

Alguns exemplos disso são os momentos da Faísca interagindo com a areia e a transformando em vidro da melhor forma. Também tem as cenas dela interagindo com os cristais, que também são de tirar o fôlego. Mas o melhor exemplo do que eu disse aqui é dela interagindo com o Gota. Ela traz tanto de coloração quanto de interação dos elementos, na sua forma de evaporar, ferver e tudo mais.

O trabalho de iluminação que essas cenas traz é bizarro de bom, e olha, estamos falando do que foi feito em uma animação, não em uma fotografia real.

Mas, o que joga contra esse filme tá em dois, eu diria que em três pilares que não conseguem se conectar.

Faísca e Gota

Para começar, a montagem desse filme quebra seu clima diversas vezes. Eu disse algo parecido quando falei de Nimona, mas há uma cena tocante e uma cena que precisa de urgência. Tem uma cena de urgência que termina em uma cena de urgência de novo… É difícil respirar e parece que as coisas saem de uma situação para a outra muito rápido.

E isso nos leva ao segundo pilar: o roteiro. Criar essas situações e desenvolver os personagens é uma das tarefas mais conhecidas que o roteiro faz. Quando esses cenários, esses avanços não acontecem ou acontecem de forma truncada, a gente pode colocar uma parcela de culpa no roteiro sim.

Embora o roteiro tenha esses deslizes, ele tem sim seus momentos. Os diálogos e os arcos dos personagens, embora truncados às vezes, acho que são bons sim e têm sua relevância.

E andando de mãos dadas nesses altos e baixos, a direção é o terceiro pilar que sustenta os problemas desse longa. O diretor dele é o Peter Sohn, que estava no seu segundo longa-metragem da Disney. O primeiro é o Bom Dinossauro, também da Disney. Nesse longa a gente já via a dificuldade de guiar e conectar os sentimentos que as cenas pedem. Aqui, esse sentimento de desconexão entre temas, personagens e sentimentos está novamente presente e, eu acho que por ter um potencial tão grande para trabalhar essas diferenças, fica ainda mais evidente que Elementos tem alguns probleminhas.

Elementos é um bom passatempo, se você quer verdadeiramente ver o tempo passar. Acredito que, dessa temporada de Oscar, muitos outros filmes mereceriam mais a sua atenção, como Suzume ou até mesmo Tartarugas Ninjas, mas eu ainda digo para você assistir e me contar o que você achou dele. 

 

Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema

 

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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.

Publicado por Ricardo Gomes

O cara que mais perde tempo assistindo TV e escrevendo sobre, segundo Michelle (minha gata).