Documentário

Receiver (2024)

receiver

• Segurando firme

Às vezes, eu queria não gostar de futebol americano. Eu continuo preferindo o futebol da bola redonda, mas o da bola oval fica em segundo lugar na minha lista de esportes favoritos. O motivo pelo qual eu preferiria não gostar tem mais a ver com a comunidade da NFL do que com a modalidade em si. Como é que o estadunidense pode ser tão xenofóbico, cara? Estou escrevendo esse pitaco um dia depois do São Paulo Game entre Eagles e Packers, na Neo Química Arena, e eu nunca vi tanta ignorância sendo destilada assim. Por causa disso, eu queria não dar o gostinho da audiência e da relevância pro futebol americano. Infelizmente, é uma paixão que adquiri, e cá estou eu pra comentar sobre a série Receiver, da Netflix.

 

Sinopse

Na temporada 2022/23 da NFL, a Netflix acompanhou o dia a dia dos quarterbacks Patrick Mahomes (Kansas City Chiefs), Kirk Cousins (Minnesota Vikings) e Marcus Mariota (Atlanta Falcons). Na temporada 2023/24, a plataforma de streaming decidiu voltar os holofotes pra outro setor do campo, o de recebedores. Com isso, esta série documental mergulhou nas vidas dos wide receivers Justin Jefferson, dos Vikings, Deebo Samuel, do San Francisco 49ers, Amon-Ra St. Brown, do Detroit Lions, e Davante Adams, do Las Vegas Raiders, além do tight end George Kittle, também dos 49ers.

Esse uniforme é bonito demais, sem clubismo

Crítica

Durante os meses que sucederam o Super Bowl 57, fiquei curioso pra saber quais seriam os próximos quarterbacks de uma eventual 2ª temporada na Netflix. Havia muitas histórias interessantes em potencial, desde atletas mais gabaritados a calouros prestes a iniciar suas carreiras na NFL. Porém, o que vi foi um jogador atrás do outro recusando o contato da Netflix, talvez por medo da exposição e da repercussão. Por isso, eu tive a certeza de que a série não teria uma continuidade, e fiquei surpreso quando vi o anúncio de Receiver.

Por se trataram de duas séries baseadas no mesmo contexto e produzidas pela mesma plataforma, é inevitável que haja comparações entre ambas. Vou tentar não me alongar neste assunto, mas é possível sim identificar algumas diferenças. A mais importante e óbvia delas é a quantidade de personagens centrais. Em Quarterback, eram três; em Receiver, cinco. Antes mesmo de dar play no primeiro episódio, eu tinha medo de que isso gerasse excesso de informação, e o fato de termos dois jogadores do mesmo time poderia deixar algumas partes meio repetitivas – além disso, é meio estranho ter quatro WRs e um TE. Qual foi o critério, sobretudo quando tínhamos o Travis Kelce na jogada?

De fato, acho que a série é um pouco prejudicada pela própria decisão de aumentar a quantidade de narrativas e manter o mesmo padrão de oito episódios. O resultado disso é um foco maior do que o normal na parcela esportiva da vida dos jogadores. Quarterback foi especial porque conseguiu balancear o lado pessoal e o profissional dos atletas. Receiver não consegue fazer isso muito bem, provavelmente porque havia muita coisa pra ser contada dentro de campo.

A sorte da série, inclusive, é ter escolhido personagens que estiveram no centro das atenções na temporada passada da NFL. Teve lesão, polêmica, demissão, vitória, derrota, playoffs, eliminações, êxtase, decepção – como se fosse uma série ficcional, e não documental. Por causa desse fator, Receiver se torna especial porque acompanha de perto histórias que renderam muito entretenimento para os fãs de futebol americano. E, pra quem conhece pouco desse universo, acredito que deve ter sido interessante ver narrativas tão singulares e diferentes umas das outras.

Eu li alguns comentários no Reddit de pessoas dizendo que boa parte do conteúdo de Receiver vem na verdade de cenas filmadas pela própria NFL, e que o dedo da Netflix tá mais nas partes dos atletas em suas casas. Não sei até que ponto isso é verdade. Se for, talvez a série tenha sido um tanto quanto decepcionante pra quem tá mais imerso nos bastidores do campeonato. Pra mim, não fez muita diferença, embora eu tenha acompanhado a temporada completa.

Justin Jefferson tentando ouvir quantos Super Bowls os Vikings têm no total

Veredito

Receiver pode não ser tão polida e completa quanto a sua antecessora Quarterback, mas ostenta o mesmo formato de mesclar vida pessoal e profissional em um conjunto de histórias ricas em dificuldades e superação. Se você é fã da NFL, vai ter novas perspectivas a respeito de jogadores pra lá de conhecidos na liga; no meu caso, passei a enxergar vários deles com novos olhos. Caso a sua familiaridade com o futebol americano não seja tão grande, ainda assim esta é uma série que pode agradar espectadores que gostam de documentários com pegada esportiva.

Davante, Vingadores!

 

>> 1ª Temporada de Quarterback

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Se você é fã da NFL, colocar isso aqui tudo como Observações Spoilentas não faz muito sentido, mas fiz essa escolha porque tem gente que nunca nem viu futebol americano e pode ter se interessado por essa série. Se eu fosse ver um documentário de beisebol, por exemplo, que eu não acompanho nem um pouco, não iria querer saber qual time terminou campeão, pois quebraria o elemento de surpresa na história. Enfim, vamos em frente.
  • Como torcedor dos 49ers, foi bem legal assistir às vidas privadas de Kittle e Samuel, mas confesso que foi pra lá de complicado relembrar de certos acontecimentos. Aquela temporada era pra ter sido nossa, pqp. Um ataque absolutamente incrível, uma boa defesa e um quarterback que vem saindo melhor do que a encomenda, tudo isso dentro de um ótimo esquema do Kyle Shanahan. É uma pena que enfrentamos duas vezes um extraterrestre chamado Patrick Mahomes, que não perdoa erros adversários.
  • Cara, a melhor história familiar foi de longe a do Amon-Ra, foi a parte que mais me cativou. Mas sei lá, cês também não ficaram com o pé atrás em relação ao pai dele? Eu sei que acabou dando certo pro jogador dos Lions, mas sei lá, é muita pressão pra se colocar nos filhos. Além disso, achei meio estranho a maneira como tratou a namorada do Amon-Ra, que claramente ficava de saco cheio dele às vezes.
  • Sobre o Justin Jefferson, achei muito massa o fato de ele ter meio que um alterego, não sabia disso. Eu gosto de NFL, mas também não sou esse cara que sabe de todos os detalhes. Pareceu algo meio Bruce Wayne e Batman, sei lá. O cara é bom.
  • Pra finalizar, foi engraçado ver as reclamações do Davante Adams, que claramente tava querendo xingar o Jimmy Garoppolo (não julgo, lembro bem desse maluco no meu time). Ainda assim, de vez em quando parecia muito que ele estava mais interessado no ganho pessoal do que no ganho do time em si. Acho muito louca essa cultura dos atletas da NFL, inclusive, de não ter um “amor à camisa” como muitas vezes acontece (e é exigido pelos torcedores) no futebol da bola redonda.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Amon-Ra St. Brown
Eu estava muito inclinado a colocar o George Kittle neste posto, porque ele é responsável pela maior parte do carisma da série, ao lado do Justin Jefferson. Porém, acabei optando pelo Amon-Ra St. Brown por causa de alguns fatores. No aspecto da parte familiar, a do wide receiver é de longe a mais interessante das cinco. Além disso, à medida que os episódios passam, Amon-Ra vai ganhando novas camadas, ao contrário do Kittle, que aparenta ser exatamente o que a gente vê dele nos jogos.

O Rei-Sol

+ Melhor episódio: E07 (“Don’t Have a Choice”)
Por circunstâncias que a série não era capaz de controlar, a história fica mais centrada a partir deste capítulo e com mais espaço pros personagens brilharem. E beleza, agora vou ser clubista: a minha torcida pelos 49ers talvez tenha pesado na decisão de eleger esse como o melhor episódio, e não o último.

Será que ele terá mais alguma vingança?

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).