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AnáliseRicardo #18 – Pearl tinha potencial pra ser maior e melhor

pearl ricardo

• Abraçando o drama

Acho que, se você chegou até esse filme e essa crítica, você já deve saber que esse filme é uma prequela de X – A Marca da Morte. Eu diria que você já deve até saber que ambos foram lançados no mesmo ano. O que você não deve saber é a minha opinião sobre Pearl e por que eu o acho inferior a X.

Eu falei na crítica de X – A Marca da Morte sobre como esse filme se mostrou importante e pode se mostrar mais importante ainda para o slasher atual. Lá eu também falei que muito desse meu argumento foi pela estreia e também pela apresentação da assassina da vez, nos trazendo para o filme de hoje.

Uma das coisas que furou a bolha do slasher foi Pânico e acredito eu que, além da reviravolta no final, o fator “humano perturbado” foi o que deixou esse vilão ainda mais marcante. Eu digo mais “humano” pelo fato de ele não ser um super vilão imortal como o Jason ou ter superpoderes em sonhos como o Freddy.

Em X, nós somos apresentados a uma assassina que não só parece, mas também tem suas fraquezas. A questão é que ninguém espera que ela vá ser aquela assassina impiedosa que ela mostra ser, o efeito surpresa nela é que permite que ela faça isso. Seja para abusar de uma das jovens no filme anterior, seja para assassinar brutalmente as pessoas.

E, com tudo que vemos em X, podemos admitir que a Pearl reprimia seus sentimentos na maior parte do tempo. Seja em relação ao sexo, seja em relação ao estrelato que ela buscava.

Já que isto está posto em tela, o que se pode explorar nesse filme?

À primeira vista, explorar as origens de um slasher em um dos três primeiros filmes é a clássica representação de uma franquia slasher que o próprio diretor havia falado que estava tentando criar. Só tem uma coisa que, para mim, joga contra esse filme aqui: o conceito.

Não que seja uma ideia ruim, mas há um problema no externo a isso, na expectativa e desenvolvimento do projeto. É claro que não se pode controlar as expectativas das pessoas e muito menos falar de seus gostos, o que estou tentando falar aqui é que a espera por algo “diferente” e “autêntico” é o que permeia os filmes da A24 e isso é o que fez X – A Marca da Morte perder um pouco de força e realçar esse sentimento quanto a Pearl.

No entanto, eu acho que pela fala do próprio diretor, produtor, montador e roteirista desses filmes, Ti West, a ideia nunca foi fazer algo totalmente único, e sim criar a sua própria franquia de slasher. Isso entra em concordância com o que eu falei um pouco na crítica de X, realçando a ideia de que a escolha das coisas foram mais propositais ainda naquele longa.

Aqui, o que chama a atenção são as cores, o ritmo, a atuação e principalmente o conceito de analogias. As cores fazem sentido com a própria analogia que tenta fazer com os filmes da década de 50, assim como o espelhamento que tenta fazer sobre os “filmes de mulher” que se tinha nessa época em Hollywood. 

Diferentemente de X, que faz suas analogias com o que é o próprio cinema e sua ideia “voyeur”, Pearl tenta fazer isso com os filmes. Não vou mentir e dizer que não consegue, mas eu acredito que fazer isso pela estética ou pelo conceito fica vazio se comparado com o que X fez.

Mia Goth, em uma brilhante atuação

Mas esse filme não tem só lado para se criticar não, até porque, como eu falei, a atuação da Mia Goth e o ritmo do filme são tão bons quanto o primeiro, se não melhores. 

A atuação da Mia Goth é melhor, isso pode ser dito tranquilamente. Aqui o filme é projetado para que ela brilhe, principalmente por se tratar de uma história de uma personagem que ela demonstrou entender perfeitamente em X. Essa loucura da personagem e essa repressão, que a própria mãe fala que vê nos mínimos detalhes ou quando a Pearl acha que tá sozinha, faz com que a atuação da nossa protagonista seja gigantesca.

Já o ritmo, antes mencionado por mim, novamente é um dos pontos de destaque. A crescente acompanha a protagonista que parece ser uma bomba-relógio. Com isso, a tensão vai crescendo, pouco a pouco. É um trabalho muito bom de montagem feito pelo Ti West novamente.

Pearl tem muita coisa interessante e, para mim, é mais ou menos o que fez Furiosa neste ano, realçando o filme que vem depois na cronologia dos fatos.

É longe de ser ruim, mas abraçar o drama e deixar um pouco de lado o terror é o que mais me desanima quando eu penso em Pearl, até porque potencial tinha para ser maior e até melhor.

 

Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema

 

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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.

Publicado por Ricardo Gomes

O cara que mais perde tempo assistindo TV e escrevendo sobre, segundo Michelle (minha gata).