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AnáliseRicardo #37 – Noites Brutais é subversivo (para o bem e para o mal)

noites brutais ricardo

• Começo impecável, fim questionável

Opa, bão?

Hoje a gente vai falar sobre um filme que chegou meio quietinho, mas que foi um achado: Noites Brutais.

Eu lembro bem quando Noites Brutais começou a circular nos streamings alternativos. Na época, ninguém tava falando muito dele, mas eu corri pra ver. E ainda bem que eu fiz isso!

Esse é um daqueles filmes que, se você assistir só pela trama, já vai ser uma experiência intensa, mas se parar pra pensar no subtexto, vai ver que tem camadas ali que, sinceramente, afetam mais algumas pessoas do que outras. E isso ficou claro quando assisti ao filme novamente, dessa vez com a minha namorada.

Ela é super empática, e com 30 minutos de filme, soltou uma frase que mudou completamente a forma como eu via a história: “isso poderia acontecer de verdade, e é isso que dá mais medo”. E, olha, a partir desse ponto, tudo que já era tenso ficou dez vezes pior.

A história de Noites Brutais começa com uma situação simples, mas cheia de tensão: Tess, nossa protagonista, aluga uma casa e descobre que já tem outra pessoa hospedada lá. Bill Skarsgård faz o papel desse hóspede, e desde o começo a gente sente que tem algo estranho.

E aí é que entra o brilho do roteiro e da direção do Zach Cregger. Ele sabe que nós, espectadores, já estamos desconfiados do personagem do Bill. A situação toda parece suspeita, e o filme joga com essa nossa desconfiança. Tem até uma cena em que o Bill oferece um chá pra Tess, e a câmera sai da xícara pra mostrar o olhar desconfiado dela.

Mas o roteiro vai além e subverte essa expectativa. O personagem sabe que ela tá desconfiada, então oferece vinho em vez de chá. Tudo parece calculado, o que deixa a tensão ainda maior.

Bill Skarsgård em Noites Brutais

Mas aí, depois desses primeiros 40 minutos impecáveis, o filme toma um rumo que, pra mim, acabou sendo seu maior defeito. Noites Brutais começa a exagerar nas viradas de roteiro, e introduz dois personagens que são… no mínimo asquerosos.

Esses dois caras contrastam completamente com Tess, e o filme parece brincar com a ideia de que talvez eles não recebam o que merecem, algo bem realista até. Só que aí o filme exagera, introduz uma vilã quase cartunesca, e a gente começa a torcer mais por ela do que pelos outros personagens. Isso me tirou um pouco da imersão.

Agora, não dá pra negar que a direção do Zach Cregger foi inteligente em vários pontos. Ele conduz Justin Long como um cara bobalhão, totalmente alheio à gravidade do que tá acontecendo, e o Bill Skarsgård, com aquele jeitão que é compreensível, mas ao mesmo tempo precisa provar sua “masculinidade”.

E aí vem a Georgina Campbell, que é simplesmente fantástica. Ela carrega o filme nas costas e faz uma alusão direta às “final girls” clássicas do terror. A atuação dela me deixou com vontade de ver mais trabalhos dessa atriz.

Noites Brutais é bom, mas poderia ter sido excelente. O primeiro ato do filme é, sem dúvida, um dos melhores que vi no terror de Hollywood nos últimos anos. Mas a vontade de subverter acabou sendo maior do que o necessário.

Mesmo assim, recomendo. Se você curte filmes de terror com um clima tenso e cheio de reviravoltas, esse aqui vale a pena.

 

Ricardo Gomes
O Sharkboy que se formou em Jornalismo e ama o cinema

 

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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e não necessariamente está alinhado às ideias dele.

Publicado por Ricardo Gomes

O cara que mais perde tempo assistindo TV e escrevendo sobre, segundo Michelle (minha gata).