• O trabalho icônico de Hitchcock
Fala, pessoal! Hoje vamos falar de um clássico absoluto do cinema: Psicose (1960), de Alfred Hitchcock. Como não falar desse trabalho icônico, né?
Discutir filmes clássicos ou marcantes para o cinema é sempre uma armadilha. À medida que a gente estuda e consome outros tipos de filmes, começa a identificar aqueles pontos que tornam certos filmes históricos. Mas a armadilha está em destacar demais o trabalho técnico e esquecer do motivo real pelo qual ele foi feito.
Hoje, vou tentar um exercício: não exaltar tanto o filme, mesmo que ele mereça. Bora falar de Psicose, um filme que moldou o cinema de suspense.
Pra começar, minha experiência com Psicose é curiosa. Assisti pela primeira vez em 2015, no início da minha jornada cinéfila. E, na época, eu confesso, fiquei um pouco decepcionado.
Como assim Psicose é considerado o melhor filme de terror da história se eu nem achei assustador?
Eu tinha acabado de ver filmes como Invocação do Mal e A Entidade, cheios de jumpscares, e não tinha ainda a maturidade pra entender o que realmente fazia de Psicose um marco do terror.
Agora, nove anos depois, decidi revisitar Psicose e outros clássicos. E o primeiro ponto que me chamou a atenção foi a montagem do filme. O jeito como o longa se divide em duas histórias e como seu ritmo é definido tanto na construção do universo quanto na resolução dos conflitos é brilhante.
A montagem, claro, se apoia no roteiro para dar velocidade à narrativa depois do primeiro grande ponto de virada. Mas, mais do que isso, parece que cada aspecto técnico do filme tem uma intenção por trás, alguém guiando o que fazer.
Se tem um elemento técnico que se destaca, é a trilha sonora. Todo mundo conhece a música da famosa cena do chuveiro, mas a tensão vai crescendo bem antes.
A trilha é utilizada na cena em que a protagonista é seguida pelo policial, na banheira e até quando a irmã dela chega na casa dos Bates.
A música aqui não é só um detalhe, ela faz parte da narrativa, assim como a direção de Hitchcock conversa com o restante do filme.

E esse talvez seja o maior mérito do filme. Hitchcock manipula o espectador desde a primeira cena. Um detalhe interessante é que a abertura de Psicose é uma provocação direta à censura dos EUA na época, o famoso Código Hays. Eu recomendo que vocês pesquisem sobre essa relação entre o filme e o código, porque é fascinante.
Essa cena inicial é só uma de muitas maneiras com as quais Hitchcock driblou as regras da época. O público daquela era provavelmente ficou chocado, primeiro com a morte da protagonista no meio do filme e depois com Anthony Perkins no papel de Norman Bates, algo inesperado para o queridinho da Universal.
Hitchcock, sempre à frente do seu tempo, até diminuiu a circulação do livro que inspirou o filme para garantir que o público fosse surpreendido no cinema.
Ele construiu suspense não só no set de filmagem, mas também fora dele, criando expectativa antes, durante e até depois do lançamento.
Psicose é, sem dúvidas, uma das maiores obras-primas da história do cinema. Não digo isso por exagero. O trabalho de produção, que foi feito em tempo recorde, e as histórias por trás das filmagens mostram como Hitchcock era um gênio.
As atuações de Janet Leigh e, especialmente, Anthony Perkins, marcaram o cinema como um todo, não só o gênero de terror.
Muita gente fala que o final do filme é expositivo demais, mas, sendo sincero, a gente precisa contextualizar um filme na época em que foi feito para entender suas escolhas. Mesmo assim, Psicose é um filme tão atemporal que continua nos mostrando a força que tem e o quanto Hitchcock foi brilhante em todos os aspectos dessa produção.
Ricardo Gomes
O Sharkboy que se formou em Jornalismo e ama o cinema
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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e não necessariamente está alinhado às ideias dele.