• Tudo de uma vez só
Depois de curtir a noite em uma balada, Victoria pega sua bicicleta pra ir embora, mas é parada por quatro jovens na rua e decide passar uma noite imprevisível com eles.
Não tem como o assunto principal da crítica não ser o fato de que Victoria é filmado em um único take. Sim, mais de duas horas de conteúdo sem cortes, como se fosse uma peça de teatro a céu aberto. A minissérie Adolescência fez isso recentemente, mas eram episódios de no máximo uma hora. Em questão de duração, Victoria exigiria o dobro de esforço. Porém, em comparação a Adolescência, este filme não consegue ir tão além de sua proposta estrutural.
Victoria tem uma boa história e uma sequência de eventos que prendem a atenção. As atuações são dignas de nota, mas inegavelmente o mais incrível é como a equipe conseguiu fazer aquilo tudo de uma vez só. E é aí que talvez entre o problema do filme. Se não fosse por essa característica de não ter cortes, ele não teria “nada demais”.
Apesar disso, eu gostei do que vi. Por mais que eu não tenha me identificado a nível pessoal com nenhum dos personagens, dá pra compreendê-los. Temos alguém que sente tanta falta de uma vida social que vai além dos limites pra suprir essa ausência; outra pessoa tão leal aos seus amigos que se compromete a arriscar a própria vida; um homem tão machucado pelo passado que se vê sem escolhas; e por aí vai.
Contudo, ainda que o filme tenha uma boa base e ótimos elementos, falta substância. Como eu coloquei nas curiosidades deste pitaco, o roteiro teve apenas 12 páginas e o resto foi composto só por improvisações. É muito difícil isso funcionar em grande escala. Por mais que o elenco de Victoria seja talentoso e cumpra muito bem os desafios propostos, seria necessário um calibre raro pra conseguir, além de interpretar, conduzir mais de duas horas de trama com um fio condutor bem fino.
Victoria é tecnicamente impressionante e vale muito a pena assisti-lo pelo diferencial de ser um longa-metragem sem cortes. Mas, ao contrário de exemplos recentes como Adolescência, falta um texto melhor pra ele alcançar um outro patamar de qualidade.
CURIOSIDADES
- A equipe precisou de 3 tentativas pra filmar o longa. O corte final foi do 3° take, gravado em tempo real entre 4h30 e 7h do dia 24 de abril de 2014, nos bairros de Kreuzberg e Mitte, em Berlim.
- Em uma parte do filme, a atriz Laia Costa errou o caminho enquanto dirigia e causou pânico no elenco e no diretor, que estava dentro do carro e começou a gritar o trajeto (o áudio foi removido na edição).
- O roteiro original tinha apenas 12 páginas. A maioria dos diálogos ao longo do filme é fruto de improvisações. Por causa disso, os roteiristas são creditados pela história, mas não pelo roteiro.
- Apesar das avaliações positivas por parte da crítica, Victoria foi desqualificado da disputa por indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016 devido à alta porcentagem de diálogos em inglês.
FICHA TÉCNICA
Nome original: Victoria
Duração: 2h18
Países: Alemanha, França, EUA
Direção: Sebastian Schipper
Elenco principal: Laia Costa, Frederick Lau, Franz Rogowski, Burak Yigit, Max Mauff, André Hennicke, Eike Frederik Schulz, Hans-Ulrich Laux
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