• A virada de chave da Disney
Opa, bão?
Hoje a gente vai conversar sobre um filme que mudou a minha vida, não é pra pouco e nem exagero da minha parte.
Primeiro, uma coisa que parece bizarro. No começo do século, a Disney não tava tão bem das pernas porque suas produções não faziam tanto sucesso assim. Eu tô ficando doido?
Escuta esses nomes aqui: O Galinho Chicken Little, Atlantis: O Reino Perdido, Nem Que a Vaca Tussa, Bolt: O Supercão e Fantasia 2000. Eu trouxe esses nomes que tem alguns fãs aqui e ali, no entanto, não eram lá sucessos absolutos de público e crítica.
Nessa Pós-Renascença da Disney, período que condiz entre 1999 e 2008, mais ou menos, vimos o estúdio passear por diversos gêneros do cinema sem ter muita certeza do que poderia explorar.
Quer ficção científica? Tem A Família do Futuro.
Quer western? Tem Nem que A Vaca Tussa.
Quer aventura? Temos Irmão Urso pra você.
Nenhum desses títulos eram unanimidade e, como dito às vezes pelo professor Philippe Leão para tratar desse tema, no capitalismo as coisas tendem ao monopólio. Com isso, em 2006, a Disney comprou um estúdio de animação que estava estourando e conversando com o público e a crítica: a Pixar.
Eu sei que os estúdios já trabalhavam juntos desde Toy Story, mas essa compra seria um marco pra história das animações pela quantidade de dinheiro.
Dito tudo isso, Ratatouille chegou após Carros e um ano antes de Wall-E e Up: Altas Aventuras. Essa época foi meio que uma virada de chave para a empresa que estava cambaleando. É claro que o mérito é mais da Pixar e, depois de todo o período de adaptação entre estúdio, começamos a ver que a Disney Pixar tá voltando a passar por essas crises de novo.
Mas por qual razão eu tô falando disso e não de Ratatouille?
Ratatouille conta a história de que qualquer um pode cozinhar, mesmo você sendo um rato vindo do interior.
Se pegarmos essa estrutura e trouxermos para a história nesse cenário, o filme ganha ainda mais estofo para entrar na conversa.
Carros conversou com o esporte e fez muita gente falar “Katchon!”. Up fez muita gente chorar no seu começo, mesmo que não consiga manter o mesmo impacto adiante.
Ratatouille vem com uma história sobre desafios, sobre seus gostos e como você consegue fazer o que te move.

Eu já falei aqui sobre eu ser um cara do interior de Rondônia. Dificuldades pra entender o básico no ensino médio, as palavras, como as pessoas agiam… isso tudo eu encarei quando cheguei aqui.
Assim como o Remy, minha paixão pelo cinema era menosprezada por muita gente onde eu morava como se o meu nariz estivesse farejando algo novo, mas no fim das contas era usado só pra um teatro na igreja ou algo do tipo, assim como ele foi usado como detector de veneno.
Hoje eu tenho um canal pra falar sobre cinema não porque eu queria e pronto.
Assim como o Remy, eu fiquei longe dos amigos e familiares por um tempo e nesse período, o cinema foi uma das minhas bases. No momento em que eu saí um pouco do subsolo, foi como se a internet fosse a cidade de Paris para o Remy, uma oportunidade de ver algo incrível e novo.
Por isso eu tô aqui, porque é algo que eu gosto e que eu amo. Ratatouille é gigante pra mim.
Isso tudo que eu falei é por conta de outra coisa que aprendi com esse mesmo filme.
A tal da “mais simples porcaria que pode ser mais significativa do que a nossa crítica”. Ratatouille não é uma obra de arte inalcançável, chato seria se fosse. O filme não é nem unanimidade para muitos.
Eu lembro que na minha época, eu era o único realmente empolgado com o filme por onde eu morava. Droga, eu tinha até um caderno de Ratatouille.
Eu lembro que o meu sentimento era de que tinha algo novo em mim com aquela história, por mais que as pessoas ali perto não percebessem.
Eu adorava o ar de estrangeiro que o filme passava. A trilha sonora busca emular um pouco disso, o design dos personagens também traz um pouco das características das animações europeias. É claro que hoje sabemos que é só uma maquiagem, mas funciona para nos colocar naquele mundinho.
O roteiro, aí já não se pode elogiar tanto porque é praticamente a mesma coisa de sempre, até os dias de hoje eu ainda diria. Brad Bird soube explorar muito bem esses cenários que foram propostos, acho até que o mérito do filme está mais por causa da direção do que qualquer outra coisa.
Mas o fato é que de vez em quando um crítico se arrisca quando descobre uma novidade. Hoje não parece tanto assim, mas isso era uma novidade.
Uma novidade para os filmes da Disney, com uma consolidação desses sucessos de crítica. E uma novidade para um garoto do interior de Rondônia que depois de mais de 15 anos decidiu abrir um canal de críticas por conta desse filme.
“O mundo costuma ser hostil aos novos talentos, às novas criações. O novo precisa ser incentivado. Ontem à noite experimentei algo novo. Um prato extraordinário — de uma fonte inesperadamente singular. Dizer que tanto o prato, quanto quem o fez desafiam minha percepção sobre gastronomia, é extremamente superficial. Eles conseguiram abalar minha estrutura.” – Anton Ego, em Ratatouille.
Ricardo Gomes
O Sharkboy que se formou em Jornalismo e ama o cinema
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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e não necessariamente está alinhado às ideias dele.